Num passe de mágica, a primeira
semana da Copa fez desaparecer tudo de ruim que assola o país. Os congressistas
entraram em recesso, já não há mais bandidagem à solta nas ruas (só circula no
momento nos sempre obscuros meandros políticos), nem se fala de problemas de
trânsito ou de educação, com tanto feriado para tirar os carros das ruas e as
crianças das escolas.
As mazelas brasileiras foram
sanadas pelo manto sagrado da Fifa. Os brasileiros ficaram curados de qualquer
mal estar e nem mais precisam se socorrer em hospitais. Basta continuar de olho
na tevê.
O país parece ser outro daquele
antes da Copa, quando fervilhava o noticiário com crimes dos mais diversos
tipos, engarrafamentos astronômicos, e um quebra-pau sem fim na política,
problemas mil de prisões de corruptos. Nem a presidenta sai em romaria para
suas inaugurações de obras incompletas, ou sequer há uma operação da Polícia
Federal contra qualquer colarinho branco mesmo que seja um chinelinho.
Tudo e todos ficam em frente à
telinha ou acompanhando os jogos por suas mídias móveis. Em suma, o país parou
no tempo com a mídia deslocando seus integrantes para comentar as maiores
barbaridades futebolísticas, realizando reportagens as mais estrambóticas. Com
tanto trabalho insano para mostrar a banalidade do momento, não resta ninguém
nas redações para desvendar aquele país que continua a viver e sobreviver
apesar do futebol.
O Brasil assim vive o momento
supremo tão almejado pela ditadura: um país pra frente, sem problemas e com um
povo feliz com as dádivas governamentais. Dias róseos, em que até a doença e o
sofrimento parecem ter feito uma pausa para glória do governo, que tanto
empenhou e se empenhou para que o Brasil passasse a imagem de paraíso. Mas
esquecem todos que o outro Brasil está apenas anestesiado, sob as fortes doses
de um patriotismo barato e de um hipócrita amor ao esporte, que serve apenas
para se fazer festa. O milagre da Copa tem prazo de validade. E as mazelas
continuam as mesmas, sob um manto de enfumaçado noticiário, não se enganem os
descuidados. O país tem mais o que resolver do que discutir se uma bola entrou
ou não. E essa parada pode ter um custo inimaginável quando tudo acabar e o
circo da Fifa recolher as lonas para se mandar para a Rússia. Aí as contas
ficarão aqui exigindo serem pagas a qualquer custo.
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