Tropas de Juiz de Fora rumo ao Rio em 1964
Havia silêncio naquela manhã. Um silêncio armado que ficou
marcado no adolescente como um estado de guerra. Ouvia-se no rádio a marcha das
tropas, acompanhava-se a tomada da cidade. Um dia de trabalho quase de luto, um
feriado imposto pela movimentação militar, a incerteza em todos os rostos.
Maior ainda para quem estava começando uma nova vida estudantil, que
vivenciaria as inesquecíveis aulas de ordem unida, as de Organização Social e
Política Brasileira, e as do silêncio sobre política.
O telefone preto de discos ficara praticamente mudo. As
comunicações eram difíceis, às vezes quase impossíveis. Dia de ouvidos atentos
a toda informação, aos boatos, ao disse me disse. Se falava muito, bem baixinho
para não levantar suspeitas e trazer os tacões para seu lado. O silêncio triste
de inconscientemente saber que o mundo mudara, os dias não mais seriam por bom
tempo os mesmos de alegria e liberdade. Aqueles 50 anos em cinco ficaram lá
atrás, a vassourinha não varreu nada, o ano era de agitação das massas, das
reformas, que nunca viriam como se desejava. Havia mais marcha (orquestrada) clamando
liberdade, família, Deus para entusiasmar um povo que sentia incerteza. Só
poderia dar no que deu, sentava na sala o jovem sem o uniforme, de ouvido no
rádio. Naquele dia só se viveria pela informação. O mundo parou no país.
Havia tristeza, mudez e muito espanto no ar. As forças Aliadas
levavam alegria às cidades libertadas do nazismo, mas essas tropas de agora não
recebiam flores nem traziam esperança de liberdade. Eram vistas sem um gesto
que gostariam de libertação. Entravam mudas e recebiam o silêncio do medo. O
adolescente sentiu ainda mais que mudara seu mundo com as imagens pela
televisão, inesquecível ver o general Mourão Filho seguindo em direção ao Rio.
O país nunca mais foi o mesmo depois daquela Redentora, instaurada no dia seguinte (1º de abril). Foi
um outro Brasil que surgiu. Menos pobre, mas avacalhado, mentiroso já de nascença, hipócrita,
cretino, que só poderia resultar na mediocridade atual.
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