segunda-feira, 2 de março de 2020

Um campeão de desemprego

O Brasil é o campeão do desemprego entre as dez maiores economias do mundo, mesmo com a criação de vagas no trimestre encerrado em janeiro. Convém lembrar esse fato antes de festejar a melhora. A desocupação baixou de 11,6% no período de agosto a outubro para 11,2% nos meses de novembro a janeiro. Um ano antes eram 12% os desempregados. Nesse intervalo mais longo, a população desocupada encolheu para 11,9 milhões, com redução de 712 mil pessoas. Se as condições do País forem comparadas com as de um número maior de economias, ainda assim o Brasil ficará muito mal. O desemprego brasileiro é mais que o dobro da média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa média ficou em 5,1%, em dezembro. Só um dos 36 sócios da organização, a Turquia, tinha situação pior que a brasileira, com desocupação superior a 13%.

Também no fim do ano, os desempregados eram 4,2% nas sete maiores economias, 6,2% na União Europeia e 7,4% na zona do euro – neste caso, por causa das altas taxas na Espanha (13,7%), na Itália (9,8%) e na França (8,4%).


Mas em qualquer desses países a condição dos desocupados é bem melhor e menos angustiante que a dos brasileiros, graças a redes de proteção social. É mais confortável também, pode-se acrescentar, e mais segura que a de muitos brasileiros com empregos precários ou ocupados por conta própria. No Brasil, nem sequer o Bolsa Família tem sido assegurada aos mais necessitados, como comprovou a fila de ingresso formada a partir de maio de 2019.

Não basta, para entender e avaliar a situação brasileira, acompanhar os números do desemprego e sua lenta redução. É preciso examinar os outros dados incluídos na Pesquisa Mensal por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Mesmo com alguma melhora durante um ano, as porcentagens e os números absolutos mostram um quadro desastroso.

Além de escassa, a ocupação é na maior parte insegura e de baixa qualidade. No trimestre encerrado em janeiro, 40,7% dos trabalhadores ocupados, ou 38,3 milhões de pessoas, estavam em situação de informalidade. Um ano antes eram 41%. A melhora, portanto, foi quase insignificante. O número dos subocupados por insuficiência de horas de trabalho, de 6,6 milhões, ficou estável na comparação interanual. O grupo dos desalentados, de 4,7 milhões, também ficou estável.

Somando-se os desocupados, subocupados e desalentados, chega-se a 23,2 milhões de trabalhadores. Se a cada um deles forem associadas, duas pessoas, a conta mostrará 69,6 milhões de brasileiros, cerca de um terço da população, em condições muito precárias. Na maior parte das famílias, um desempregado, desalentado ou subocupado é suficiente para complicar a situação do conjunto, já forçado a suportar más condições de moradia e serviços de saúde em geral deficientes.

A melhora lenta do mercado de trabalho reflete – e realimenta – o baixo ritmo de crescimento econômico. O governo pouco se ocupou desse problema em 2019, só estabelecendo algum incentivo ao consumo a partir de setembro. Mesmo esse pequeno incentivo produziu algum efeito positivo.

Mas a duração desses efeitos parece ter sido tão curta quanto a dos estímulos. O único impulso duradouro à atividade econômica tem sido proporcionada pelo Banco Central, com a redução de juros e de expansão dos canais de financiamento. A liberação de R$ 135 bilhões a partir de março, com a liberação de recursos bancários, poderá dar um novo empuxo às atividades.

Com o dólar caro e a vida ainda apertada, qualquer novo estímulo aos negócios dificilmente resultará, a curto prazo, em mais viagens de domésticas à Disney. Quanto a isso o ministro da Economia pode ficar tranquilo. Antes dessas viagens, maior crescimento produzirá mais impostos e ajuste mais rápido das contas públicas. Vale a pena o governo apostar nessa possibilidade.

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