quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O sabor da Excelência

As redes de fast-food na Itália não pegaram muito entre os nativos. Entre numa lanchonete dessas em Roma, Florença ou Milão e verá que, sim, estão cheias – mas de turistas que foram comer barato e fazer xixi. Os italianos em geral torcem o nariz para aquelas matérias insípidas colocadas num pão, rodeadas de alface murcha e lambuzadas em molhos de composição duvidosa.

Cozinheiros da Toscana estão atentos ao aperfeiçoamento do paladar da meninada. E antes que as crianças sejam abduzidas pelos sanduíches produzidos em série, tomaram uma iniciativa genial. Voluntários estão montando mesas nas praças das pequenas cidades e convidando as famílias e suas crianças para animadas degustações gastronômicas.

Dessa forma, os chefs vão mantendo a cultura de seus tataravós e – mais importante – cuidam da saúde dessa geração, mostrando a diferença colossal entre alimentos de qualidade, saudáveis e nutritivos, e porcarias feitas em série. É um padrão da excelência.

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho anterior”. Popular na internet, a frase é atribuída a Einstein, mas há controvérsias. Na mesma época, o poeta e catedrático Sir Oliver Wendell Holmes disse algo idêntico: “A mente humana, uma vez ampliada por uma nova consciência, jamais retorna à sua dimensão original”.

Não importa quem foi o autor da frase; ambos já tinham percebido a essência da Excelência, com letra maiúscula.


O ser humano só se transforma por essa via do “ótimo” superando o “bom”; do “novo” superando o “velho”. E padrões melhores não se restringem à cozinha. Estão aí, a toda hora, apontando caminhos para a evolução, a saúde, o convívio, a realização profissional, a gestão pública, o prazer de fazer bem feito – a sabedoria, enfim.

Valorizá-los é uma tarefa urgente da educação num país como o nosso, em casa e nas escolas. As asneiras correm fácil. Bastam alguns minutos de TV ou internet para perceber que os exemplos do mal e do pior atacam incansáveis pelos flancos – nos comportamentos, nas artes, na glamourização do grotesco.

Engraçado: lembrei-me do exemplo dos cozinheiros italianos ao ouvir as novas propostas econômicas para o país. Show de bola, é a materialização do mote “mais Brasil e menos Brasília” do ministro Guedes.

A descentralização do poder não é novidade, faz parte da estrutura de nações que deram certo. Além dos efeitos positivos na gestão, com ela despencam também cabides dos coronéis, dos lobistas; alguns esquemas asquerosos que vinham atrasando o país como bolas de ferro nos pés de presidiários.

Que venha o novo, o melhor, o diferente – que têm, como inimigos, os partidários do atraso, os vampiros da miséria que perdem seus discursos apocalípticos e seus votos.

Hoje à tarde, o STF dará um passo com repercussões profundas. A imagem desses senhores não anda lá essas coisas, porém valerá a lei; tal decisão terá efeitos práticos no comportamento geral dos cidadãos.

Usando a costumeira verborragia e as firulas incompreensíveis aos mortais, o Supremo terá que definir se: a) a lei é igual para humildes e poderosos ou b) a balança continuará pendendo para o lado mais rico.

Só isso, fim de papo. Ou vamos em frente, ou a velha senhora Justiça permanecerá refém dos donos da grana e de seus advogados de luxo.

O que será posto hoje na mesa também envolve a diferença entre o bom e o ruim. Ainda que aquelas Excelências tentem revestir o malfeito com sabores artificiais e rebuscados, não conseguirão enganar nosso paladar. O brasileiro já está sentindo um pouco do novo sabor da excelência.

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