domingo, 2 de junho de 2019

Será que vai dar certo?

O governo Bolsonaro chegará ao final? Questão suscitada pelas tensões, idas e vindas desses cinco meses de administração. Não vislumbro resposta convincente. No limite, aponto o “Senhor Imponderável dos Anjos” como assíduo visitante em nosso roçado político-institucional.

Mas a ciência política ensina como medir a viabilidade de um governo e a possibilidade de se sustentar. Pinço as alavancas que o cientista político chileno Carlos Matus usa para apontar quatro eixos que balizam respostas à pergunta acima. São elas: a) a viabilidade política; b) a viabilidade econômica; c) a viabilidade cognitiva; e d) a viabilidade organizativa.


A primeira diz respeito à índole dos políticos e sua disposição de endossar ou não a agenda do Executivo; isso depende muito da articulação do governo. Imbróglios obscurecem o horizonte político. Ao dizer que não se submete à “velha política”, Bolsonaro coloca imensa barreira entre o governo e o Parlamento.

A articulação do governo é dispersa, com protagonistas múltiplos – general Santos Cruz, Onyx Lorenzoni, o próprio presidente e líderes do governo no Congresso. Afinal, quem é o responsável? A própria base governista é um amontoado sem rumo. O PSL vive em querelas constantes, enquanto o governo precisa convencer políticos (até da oposição) para aprovar as reformas.

A segunda viabilidade requer dados e contextos econômicos alinhados sob a tese que se quer demonstrar. No caso brasileiro, a recessão já dá sinais de que pode voltar. Sem a reforma da Previdência, não haverá como pagar aposentadorias. Ao contrário, com as reformas, as projeções mudam de rumo. O país cresceria de 2% a 3%, segundo o relator da PEC da Reforma Tributária, o competente ex-deputado Luiz Carlos Hauly.

Os inputs econômicos se assentam sobre base racional, e não emotiva. Sob ameaça do retorno da recessão, o risco é que o país volte às brumas do passado.

O terceiro eixo é o cognitivo, área do conhecimento sobre as matérias pautadas. Sem ampla divulgação dos temas, não haverá convencimento do corpo parlamentar. Da mesma forma, a sociedade precisa ser bem informada para que faça pressão sobre seus representantes. Conhecimento se transporta pelos meios de comunicação: interpessoais, grupais ou coletivos, reuniões, debates, rádio, TV, jornais, redes sociais etc.

Mas a comunicação do governo é falha. Há estruturas, um porta-voz general, redes usadas pelo presidente e seus filhos. A dispersão desorienta e gera balbúrdia.

Por último, a viabilidade organizativa, conjunto de meios e instrumentos – ministros, estruturas, articulação política – que influencia a circulação rápida de ideias. Sem coordenação, o fracasso ocorrerá.

Os quatro eixos devem ser ajustados para alcançar metas e objetivos. A análise acurada de cada viabilidade abrirá sinais e referências para se construir uma resposta adequada à pergunta que encabeça este texto.

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