quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Desde o regime militar, não existe no Brasil planejamento de governo nem prioridades

Ao se analisar friamente a crise que o Brasil atravessa, constata-se que um dos principais problemas é a falta de planejamento do governo. Essa prática, que tinha sido adotada rotineiramente no regime militar, simplesmente foi desprezada após o restabelecimento das eleições diretas. Na verdade, desde a ditadura nenhum governo se preocupou em planejar o crescimento socioeconômico, sem instituir metas e estabelecer prioridades.

O último plano de governo foi elaborado quando o economista Reis Veloso era ministro do Planejamento, no governo Geisel, que terminou em 1979. Depois disso, não se planejou mais nada.

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A partir da gestão do general João Figueiredo, que foi o presidente da transição, todos os chefes de governo passaram a ser meros remendadores de criseS, sem qualquer preocupação com o futuro, a não ser a própria reeleição, instituída em 1997 pelo sinuoso Fernando Henrique Cardoso, cujo governo operava as privatizações “no limite da irresponsabilidade”, como confessou o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor da Banco do Brasil, ao ministro das Co­municações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, em ligação telefônica grampeada.

Os ministros do Planejamento de Figueiredo foram o economista Mario Henrique Simonsen, que ficou apenas cinco meses, e o general Golbery do Coutto e Silva. Esses realmente sabiam como planejar, mas não havia clima para os militares criarem um plano de governo a ser seguido pelos civis Tancredo Neves e José Sarney.

Como Tancredo estava muito doente e nem conseguiu tomar posse, quem tocou o governo foi o vice Sarney, que herdou os ministros de escolhidos pelo presidente eleito e fez um governo medíocre, que incluiu uma declaração de moratória da dívida externa e a maior inflação da História do Brasil, que chegou a 80% ao mês, capitaneada pelo ministro Mailson da Nobrega, que até hoje se julga um gênio e vive dando pitaco sobre economia na grande mídia.

Sarney entregou o bastão ao jovem Fernando Collor, vaidoso e fanfarrão, que teve de encarar uma crise violentíssima, sem ter experiência nem base aliada no Congresso. Acabou sofrendo impeachment e foi substituído por Itamar Franco, que fez um governo surpreendente e criou o Plano Real, reequilibrando as finanças nacionais, sem planejar nada. Foi nosso melhor presidente depois de Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas.

Seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, foi facilmente eleito e logo pediu que esquecessem o que ele havia escrito como sociólogo. Sem planejamento, seu governo foi um desastre, parece ter como prioridade o crescimento da dívida interna, muito pior do que a externa, devido à necessidade de juros altos para atrair os “rentistas” financiadores. Na Era FHC, os juros chegaram a 45% ao ano, com Gustavo Franco e depois, com Armínio Fraga.

Lula da Silva assumiu em 2003 e chamou Carlos Lessa e Darc Costa para dirigirem o BNDES. Lessa pediu-lhe o plano de governo, mas isso não eczistia, diria o Padre Quevedo. Indagou as prioridades e Lula disse que gostaria de reativar a indústria naval.

Lessa e Darc não somente recriaram a indústria naval, como também traçaram um plano de governo e usaram o BNDES para incentivar micros, pequenas, médias e grandes empresas, criar empregos na indústria, priorizar setores estratégicos e incrementar as exportações.

Foi com Lessa e Darc no BNDES que surgiu o fenômeno Lula, que fechou 2010 com PIB crescendo 7,5%. Em 2005, ao deixar o BNDES, Lessa avisou que a política econômica comandada por Palocci e Mantega seria “um voo de galinha” – ou seja, a economia iria subir e logo depois despencar. Não deu outra.

Depois veio a tragédia de Dilma Rousseff. No desespero, a gerentona do PT se limitou a conceder isenções fiscais, achando que os empresários usariam os bilhões para aumentar a produção e criar empregos, mas eles preferiram gastar o dinheiro em Miami e na Disneylândia, digamos assim.

A seguir, Michel Temer também assumiu sem nenhum planejamento e seu superministro Henrique Meirelles se limitou a criar um plano para ser cumprido em 20 anos, vejam que grande piada econômica, algo nunca visto em país algum.

Agora temos Jair Bolsonaro no poder, comandado sub-repticiamente por Paulo Guedes, uma espécie de Rasputin sem barbas, que não exibe plano algum e também trabalha como remendão de crises.

O maior desafio do país é a dívida pública, que consome os recursos a serem investidos em desenvolvimento. É um problema que só pode ser resolvido se houver superávit primário. Mas o próprio Guedes já anunciou que não haverá superávit no governo Bolsonaro, e isso somente poderia ocorrer depois de 2022, quem quiser que acredite.

O mais desanimador é que o atual governo tem número recorde de militares nos cargos de alto escalão. Infelizmente, porém, nenhum deles planeja nada.

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