sexta-feira, 1 de julho de 2016

Democracia é mais que um 'hastag'

O Brexit ainda não mudou minha vida. Mas sem a UE, eu não teria conseguido estudar tão facilmente no Reino Unido. Meus amigos se queixam agora sobre o resultado do referendo através das redes sociais. Mas colocar às centenas a mesma imagem de perfil em suas contas, por solidariedade? Não. Eles não chegam a tanto.

Somente no perfil de dois conhecidos encontrei a imagem de uma bandeira da União Europeia, na qual uma das 12 estrelas é substituída por uma lágrima. No mais, ninguém chora de forma simbolicamente relevante por causa da UE. Mas há petições, iniciativas e hashtags de protesto contra a saída dos britânicos, e pedem até mesmo um segundo referendo.


A juventude está decepcionada com a geração de seus pais e avós. Os jovens são os primeiros a serem beneficiados pelo projeto de paz europeu, pela liberdade de movimento, pelas oportunidades educacionais. "Vocês não querem nos permitir o acesso a essas conquistas" acusam os jovens britânicos, em direção aos mais velhos, porque foram estes que votaram predominantemente pela saída. "Bem feito", respondem, "quem mandou somente um terço de vocês ter ido às urnas."

Realmente, embora três quartos dos jovens britânicos tenham votado pela permanência na UE, a maioria dos jovens abaixo de 24 anos não foi votar. Mas a baixa participação do eleitorado jovem não é uma novidade na Europa. Por outro lado, somos muito empenhados e inovadores quando se trata de comentar assuntos políticos na internet. Quando, há um ano, a crise financeira da Grécia quase provocou a saída do país da zona do euro, um jovem britânico organizou uma campanha de arrecadação de fundos. No final, ele conseguiu apenas um milésimo da quantidade necessária, mas juntou 1,9 milhão de euros, o que não é nada mal.

Por que não podemos nos engajar da mesma forma em um dia de votação? O referendo teria tido outro resultado se aquele jovem britânico tivesse recolhido 1,9 milhões de votos, em vez de euros, pela permanência de seu próprio país na UE. Será que a urna é algo analógico demais para uma geração que cresceu com a internet? Será que temos que pensar seriamente em transferir decisões democráticas para a internet? Não, isso não.

Andar para um local de votação ou votar por correspondência pode ser algo que dá trabalho, mas com uma caneta na mão, a pessoa toma uma decisão de uma forma diferente do que com um clique. Pois sejamos honestos: não importa qual a idade das pessoas, às vezes o polegar para cima, a "curtida", é uma coisa fácil demais. A força de sedução das redes sociais há muito tempo foi descoberta pelos populistas. Não é à toa que comentários de incitação ao ódio se tornaram um grande problema na rede, e que os políticos alemães tenham se reunido com o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

Claro que o meio político também tem um problema. Sobretudo a UE não é tida como algo particularmente próximo do povo, servindo de motivo para piada devido a coisas como um decreto sobre o grau de curvatura dos pepinos. Mas mesmo defensores de carteirinha da UE, como o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, percebem isso agora. Na cúpula em Bruxelas nesta semana foi possível ouvir dele e de todos os chefes de Estado e governo presentes, em uníssono: "A UE quer mudar, ela tem que ser algo para o povo."

Para participar do debate, podemos, naturalmente, nos expressar na internet com hashtags e convocações. Mas nossa voz, nosso voto, ainda conta mais quando vem da cabine de votação. Esta falha dos jovens britânicos mudou agora a vida de muitos de nós. Por isso, não devemos esquecer, como europeus, que, no final, a cruzinha na cédula de votação é que decide – e não as muitas "curtidas" para a imagem de um perfil.

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