As Forças Armadas jamais admitiram que o golpe de 64 que derrubou o presidente João Goulart foi um golpe. E que a pretexto de salvar a democracia que nunca esteve ameaçada pelo comunismo, elas instalaram uma ditadura que durou 21 anos.
Nas academias militares ensina-se que o que houve foi uma revolução. O máximo de concessão que se faz, vez por outra, é rebaixar a dita revolução à categoria de movimento. Um movimento necessário porque a legalidade corria riscos.
Ensina-se que o artigo 142 da Constituição permite, em casos extremos, a intervenção das Forças Armadas para o restabelecimento da ordem. O Supremo Tribunal Federal lê o artigo de outra maneira, e é dele a última palavra.
O golpe planejado dentro do Palácio do Planalto para abortar a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder só ganhou ares de possível porque contou com o apoio de expressiva parcela da família militar – oficiais da ativa e da reserva, e seus parentes.
Eles ajudaram Bolsonaro a se eleger em 2018, por quatro anos avalizaram suas ações para enfraquecer a democracia e se empenharam em reelegê-lo. Se tivessem parado por aí, não tolerariam golpistas acampados em portas de quartéis.
E não teria havido a tentativa fracassada de golpe no dia 8 de janeiro com a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e da sede do Supremo. Se Lula tivesse convocado o Exército para debelar a insurreição, talvez a história, hoje, fosse outra.
O conteúdo do celular do tenente-coronel Mauro Cid dá uma pálida ideia do que esteve em curso entre o momento da derrota de Bolsonaro em 30 de outubro e o seguinte, em 30 de dezembro, quando ele fugiu para os Estados Unidos.
Para que nada parecido se repita, o mínimo exigido é a punição rigorosa de todos os militares ali citados como carrascos da democracia que balançou, balançou, mas não caiu.
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