Se em um passado não tão distante as tolices eram descartadas em segundos, apenas assentindo com a cabeça ou soltando um "complicado", um "que coisa", ou algo que o valha, a técnica ficou mais "complicada" em se tratando de um presidente da República.
Com isso, organizaram-se debates, simpósios, palestras, congressos, campanhas, investigações, relatórios, dossiês, reportagens, documentários e um sem-fim de esforços humanos para provar que jamais houve fraude comprovada em urnas eletrônicas, que remédio para malária e lombriga não cura a Covid e que o nióbio não é a chave para transformar o Brasil no novo El Dorado mundial.
Apesar de Bolsonaro não ser mais presidente, seu legado continua vivo, prova é que nesta quarta (26) o Congresso dá início a uma CPI mista para investigar as responsabilidades pelo 8 de janeiro.
Obra do bolsonarismo, que pretende emplacar a desavergonhada tese de que não foram eles quem entupiram QGs de Exército de golpistas, criados e cultivados após anos de meticulosa pregação antidemocrática, nem os moveram rumo ao golpe —haveria um sujeito oculto por trás da tramoia, e veja só, é o atual governo.
Mais uma vez mover-se-ão incalculáveis recursos humanos para "provar" em até 180 dias —o possível prazo da CPI— que a Terra não é plana, ou seja, que não há responsável maior pela lambança toda do que ele mesmo, Jair Messias Bolsonaro.
Qualquer outro erro de segurança no 8 de janeiro é gota d'água no oceano de culpa do ex-presidente.
Todo esse trabalho, porém, de nada adiantará para o bolsonarismo. Dialogar com esse grupo, como ensina a conhecida metáfora, é como jogar xadrez com pombos. Eles defecarão no tabuleiro, derrubarão as peças e ainda sairão batendo asas gritando vitória.
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