Mesmo eu, que nada percebo de automóveis – embora os conduza há quatro décadas… -, reconheço que, ao longo dos anos, a indústria tem-se esforçado ao máximo para tentar garantir maior segurança aos condutores e ocupantes. Essa segurança não é obtida através de uma única solução, mas antes da soma de uma série de instrumentos tecnológicos e de procedimentos inovadores que, em conjunto, permitem reduzir a mortalidade em cada acidente. Sempre, parece-me, numa lógica de quanto mais melhor – além dos já citados, existem, por exemplo, muitas outras melhorias nos travões e em sistemas inteligentes de deteção de perigo. Tudo junto permite ter carros mais seguros e menos acidentes com vítimas mortais.
Ora, quando se trata de decretar medidas básicas de saúde, para fazer face à propagação de doenças, a solução mais rápida e antiga de todas é a do isolamento social – aquela que, no exemplo dos carros, poderíamos equivaler ao habitáculo do veículo. Logo a seguir, temos a descoberta feita por um médico húngaro num hospital de Viena, em meados do século XIX, de que lavar as mãos era uma medida essencial para prevenir contágios e infeções – neste caso, o equivalente ao cinto de segurança que, há várias décadas, passou a ser obrigatório em todos os automóveis.
Foram estas as duas medidas que, ao longo de meses, nos apresentaram como as mais indicadas para fazer face à pandemia de Covid-19. Nada a apontar, exceto de que, ao longo de todos este tempo, se foi também desvalorizando, entre nós, o terceiro eixo que, nos países asiáticos, onde o surto surgiu, também foi imediatamente acionado: o do uso de máscaras entre a população – uma espécie de airbag, para prosseguirmos na mesma analogia.
Os resultados estão à vista de todos e basta comparar o número de infetados e de vítimas mortais nos países onde o uso da máscara de proteção faz parte dos hábitos das populações ao mínimo sinal de alarme e aqueles onde essa utilização foi desvalorizada e apenas reservada a quem se sabia estar em contato direto com doentes. Ora, o problema é exatamente esse: quando já se percebeu que uma larga percentagem de doentes infetados com Covid-19 não tem quaisquer sintomas é impossível saber quando se está ou não em contato com alguém que pode propagar o vírus. Portanto, o uso de máscara deve ser aconselhado para as pessoas se protegerem como, acima de tudo, para impedir que alguém já contagiado mas sem sintomas possa, na sua ignorância, estar a infetar alguém.
Quem já andou pelo Japão, por exemplo, percebe isto: o uso da máscara é uma espécie de etiqueta exigida a quem, por exemplo, acordou de manhã constipado. Por precaução, deve usá-la mais para não prejudicar os outros do que para se proteger a ele próprio. A mesma prática é habitual, há muito tempo, noutros países asiáticos, em especial desde as epidemias SARS e MERS, já neste século – embora, tantas vezes erradamente, quando se viam fotos de populares com máscaras muitos pensarem que elas eram apenas uma proteção contra a poluição (nalguns casos era verdade, mas não na esmagadora maioria).
O mais grave é que foi preciso deixar a pandemia varrer a Europa e chegar, em força, aos Estados Unidos da América, para que a questão sobre o uso das máscaras entre a população chegasse a um consenso: penso que já ninguém tem dúvidas de que, embora não resolvam o problema – isso só a vacina -, podem ser mais um instrumento para ajudar a controlar o contágio, em conjunto com a lavagem das mãos e o isolamento social.
Ficamos, no entanto, com uma certeza: a gestão do dossier sobre o uso das máscaras, primeiro desaconselhadas e depois incentivadas, é o melhor exemplo de como o mundo não estava preparado para responder a uma pandemia. Foi preciso uma colisão frontal para muitos perceberem que, afinal, lhes faltava o airbag.
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