Tudo no rio Amazonas é desmedido. Seu principal trecho tem cerca de 2.000 quilômetros até a foz no Atlântico, em um estuário com mais de 300 quilômetros de largura. Mas ainda há outros 5.000 quilômetros até o extremo oposto, a nascente nos Andes peruanos, onde correm seus principais afluentes. Alguns, como o Madeira, o Negro ou o Japurá estão entre os 10 maiores rios do planeta. A Bacia Amazônica cobre uma área de 6,1 milhões de km2, 12 vezes maior que a Espanha. E a água que flui pelos rios amazônicos equivale a 20% da água doce líquida da Terra.
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Os rios não são apenas água. Também carregam grandes quantidades de sedimentos que arrancam de um lado e depositam no outro. Esses sedimentos são o substrato mineral da vida numa enorme região de mais de um milhão de km2, entre zonas úmidas e planícies de aluvião. Em seu último trecho, o Amazonas transporta anualmente entre 800 milhões e 1,2 bilhão de toneladas de lama, areia e argila e pelo menos a metade disso acaba no oceano. Em cada barragem que surgir entre o rio e o mar, uma porcentagem desses sedimentos ficará presa no concreto.
“Lembrem-se do antigo Egito, que dependia dos sedimentos do rio que fertilizavam as terras da planície de aluvião”, diz o pesquisador da Universidade do Texas, em Austin (EUA), e principal autor do estudo, Edgardo Latrubesse. “O Nilo é hoje um rio totalmente regulado de maneira artificial por megarrepresas. É um caso típico que exemplifica os enormes impactos provocados por infraestruturas construídas há várias décadas, que produziram grandes impactos sociais, ambientais e econômicos”, acrescenta o especialista em geomorfologia dos rios. Não é a primeira vez que a situação do Egito moderno é relacionada com a alteração do curso do seu grande rio.
No caso que Latrubesse conhece melhor, o amazônico, o impacto combinado das barragens poderia provocar que mais de 60% dos sedimentos que o rio arrasta fique preso. “No Yangtzé [onde foi levantada a barragem das Três Gargantas], a retenção atualmente já é de mais de 75% e em outros rios, como o alto Paraná, no Brasil, a retenção é superior a 100%. Valores maiores que 70-90% são típicos no mundo. Esperamos algo semelhante no Amazonas se tudo for construído”, afirma.
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