O século XXI é um século de prestação de contas com a natureza. A humanidade sofre cada vez mais as consequências do aquecimento global causado pelos efeitos acumulados da atividade econômica que, há quase dois séculos, libera gases do efeito estufa à atmosfera.
No século XXI, toda política pública deve levar em conta o dilema climático. Esse problema exige uma nova consciência e uma nova postura dos seres humanos em relação à realidade e à natureza, desvinculada da lógica deletéria que nos trouxe até aqui. Mas uma nova consciência não parece emergir. Pelo contrário, num dos estágios mais críticos da humanidade, os políticos mais desqualificados ganham destaque e ascendem ao controle da máquina pública.Em um mundo minimamente decente e razoável, todo chefe de Estado deveria elaborar políticas ambientais que levem em conta o enfrentamento à emergência climática que assola a humanidade. Mas no capitalismo as coisas não funcionam assim. Ao invés da máquina pública ser administrada visando o bem coletivo, ela acaba sendo ocupada por interesses privados. A elite possui cabedal e fortuna o suficiente para utilizar seu dinheiro e poder econômico para se infiltrar na política em nome de seus interesses particulares.
Sabemos que, em nome das grandes propriedades de terras, a fronteira agrícola consome a vegetação nativa e instaura o pastoreio e a monocultura de soja. A exploração da Floresta Amazônica também conta com inúmeras mineradoras estrangeiras. Porém, no governo Bolsonaro a escala da destruição foi além. Os setores clandestinos da economia, como garimpeiros, grileiros e madeireiros, se sentiram empoderados e ganharam espaço com a conveniência do Estado que os livrou dos empecilhos causados pela fiscalização. Os incêndios aumentaram, o desmatamento acelerou e a violência se intensificou.
Bolsonaro opera na política sob uma visão de mundo em que o espaço físico e os recursos naturais devem ser explorados pelo agronegócio, pelas mineradoras e pelos setores clandestinos da economia. Ele contribui para a batalha deliberada contra o meio ambiente e o bem-estar coletivo, em nome da livre atividade do crime organizado.
A Floresta Amazônia, por exemplo, deve ser vista como fonte de muitas riquezas. Além de abrigar uma riqueza imaterial imensa, correspondente a uma variedade de espécies de plantas e animais – além de povos e comunidades tradicionais, sua transpiração e regime de chuvas irrigam a América Latina e impactam positivamente o clima em escala global. A vida que ali se ergue é um patrimônio imensurável, que pela própria grandeza tem o direito de permanecer onde está. Contudo, num país inserido de forma subalterna no mundo globalizado, cujo sistema econômico se configura para atender às demandas do mercado externo, toda riqueza natural é avaliada como um recurso a ser explorado para fazer dinheiro.
O assassinato de indígenas e outros defensores do meio ambiente ocorrem nesse contexto em que tudo é permitido em nome da exploração econômica da Floresta. O assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips é resultado de um projeto de governo, de uma situação elaborada pelo desmonte de políticas ambientais encabeçado pelo governo Bolsonaro. O próprio Bruno foi exonerado na Funai por Sergio Moro, depois de operações eficientes contra o garimpo.
Um governo que mina a eficiência do combate ao crime organizado é um governo que denuncia sua própria conveniência com ele. A impunidade e a falta de fiscalização decretada pelo governo empoderou os criminosos. O desmonte das políticas ambientais é a própria forma do governo declarar a permissividade às atividades clandestinas.
Não temos um Estado que se omite em relação à violência, ao crime organizado, à destruição da natureza, como muitos dizem. Na verdade, temos um Estado conveniente e apoiador desse tipo de crime, cujo próprio projeto de governo é facilitar a realização dessas atividades. A crise ambiental e humanitária enfrentada pelo Brasil conta com a colaboração ativa do governo.
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