segunda-feira, 4 de abril de 2016

Os ídolos são os mesmos

Eu queria entender que golpe é esse que não vai ter. Num dos comícios que tem feito no Palácio do Planalto, Dilma tentou explicar: “A forma do golpe está sendo a ocultação do golpe.” Bem, Dilma nunca foi muito boa de explicação, né? Então é o golpe oculto. Eu sempre tive dificuldade de encontrar o sujeito oculto nas análises sintáticas. O golpe oculto, então, não vou nem tentar. É melhor ouvir os ídolos da classe artística para ver se me esclarecem. Eles estão com a corda toda. Frequentam muito os comícios da Dilma no Palácio. Chico Buarque é mais povão. Não vai a palácios. Prefere subir em palanques no Largo da Carioca. Diz que está lá em “defesa intransigente da democracia”. Ah... tem isso também. Defende-se muito a democracia. Parece que ela está ameaçada. Milhões de pessoas vão às ruas pedir o impeachment de Dilma. No dia seguinte, milhões de outras pessoas também vão às ruas em apoio a Dilma. Não há repressão, não há brigas, não há ameaças. As ruas são abertas para que os manifestantes as ocupem. De um lado e de outro. É essa a democracia ameaçada?


Quem sabe Letícia Sabatella me explique o que está acontecendo. Ela também está no comício para os artistas no palácio. “Eu sou oposição ao seu governo, presidenta Dilma, mas eu tenho um contentamento em poder dizer isso na sua frente e dizer que vivo num Estado que se pretende utopicamente em realidade, em transformação, em exercício, nesse momento, nesse governo de ser um Estado democrático.” Bem, não entendi completamente. Duvido que alguém tenha entendido. Mas fiquei com a impressão de que Letícia pensa que Dilma foi quem inventou a democracia. Será?

Acho que Letícia foi só confusa. Ela disse que vive num Estado que se pretende “utopicamente” ser um Estado democrático. Então, Dilma só chegou utopicamente à democracia. Bem que ela avisou que fazia oposição. Mas confesso que me ofendi com as palavras de Aderbal Freire Filho. Acompanho a carreira de Aderbal desde o tempo em que ele se chamava Aderbal Júnior. Ele é tão boa gente que dá para relevar a condição de ator irremediavelmente canastrão. Mas é um grande diretor. Dos mais importantes que o Rio de Janeiro abriga. Suas palavras têm importância. Aí o Aderbal vai lá e diz que o que tem vivido é uma comédia de costumes de Molière que poderia se chamar “Os virtuosos ridículos”. A plateia riu, portanto deve ter entendido. Eu não sei bem a quem Aderbal se refere. Estaria Aderbal vindo contra os que têm combatido a corrupção? São esses os virtuosos ridículos? Certamente ele não está falando de Lula, Delúbio Soares, José Dirceu ou Silvio Pereira. Esses não têm nada de virtuosos. Não visto a carapuça, então, a graça de Aderbal não me ofende. Na verdade, só fiquei ofendido quando Aderbal, lentamente, falou que “a gente vê a grande imprensa manipulando”.

É a velha história da imprensa golpista. Conheço uma senhora que pensa assim. Fala mal do GLOBO, acusa o jornal de ser manipulador, diz que não o lê mais, garante que só as redes sociais são confiáveis, mas liga pra colunista daqui pedindo notinha sobre a turnê na Europa do marido artista. É uma certa incoerência, não é? Não, Aderbal não tem nada a ver com isso. É só o discurso que é igual. É até ingênuo. Como se O GLOBO ou outro órgão qualquer da grande imprensa fosse responsável pelo saque à Petrobras. Mas não adianta argumentar assim. Eles não gostam de falar de corrupção. Isso é assunto para virtuosos ridículos.

Vejo que Beth Carvalho também está ali no palco improvisado que a Dilma armou para seus defensores. Beth me emociona politicamente. Principalmente pela sua fidelidade quase canina a Leonel Brizola. O mundo pode acabar, mas Beth Carvalho sempre será brizolista. Diria que é um amor quase maior, se não for maior, do que o que ela sente pela Mangueira. Sei que Beth votou em Dilma, sei que seu amado PDT faz parte da base aliada, mas, mesmo assim, estranho quando ela participa desses atos. É que temo que, a qualquer momento, ela esbarre no ex-presidente e quase ministro Lula. Beth, como fazia Brizola, deve ter se referido a ele várias vezes como Sapo Barbudo. Vai que ela comece a rir quando o encontrar...
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A vida não está nada fácil. Se acho que crimes de responsabilidade cometidos por quem ocupa a Presidência da República devem ser punidos com o impeachment, sou golpista. Se acho que qualquer pessoa tem o direito de apresentar uma denúncia no Congresso pedindo o impeachment da presidente, sou fascista. Se acho que a corrupção não é justificada pelo ganho social, sou coxinha. Respiro fundo. E aplaudo Chico, Aderbal, Beth e Letícia por exercerem seu direito de se manifestar. Se depender de mim, ninguém vai ter exclusividade sobre o uso da democracia.
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No mais, é como diz a presidente Dilma, agradeço a todos e a todas.

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