sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Adeus aos salvadores da Pátria
De passagem pelo Brasil, um dirigente espanhol do Podemos, Rafael Mayoral, afirmou que a esquerda não vai salvar as pessoas e o essencial é fortalecer a sociedade para que ela possa controlar qualquer governo no poder. Não vi o restante do seu discurso. Mas até onde li, concordo. De certa forma, tenho usado esse argumento com novos grupos que querem a mudança no Brasil.
Muitos deles estão legitimamente preocupados com a falta de alternativas na eleição presidencial. Mas, ainda assim, afirmo que a descoberta de um nome não é tão importante quanto fortalecer a sociedade para que possa monitorar ativamente o governo.
No fundo, o objetivo maior deve ser a construção de um controle social tão preciso, diria até tão virtuoso que possa tornar mais amena a constatação de que não elegemos anjos, mas pessoas de carne e osso. Isso é válido para qualquer sociedade, mas no Brasil parece que somos mais intensamente de carne e osso.
De certo modo, já exercemos algum controle sobre o governo Temer. Duas medidas foram revertidas por pressão social: a abertura de uma área de mineração na Amazônia e o abrandamento da lei que pune o trabalho em condições análogas ao de escravo. Mas esse esforço de controle só tem surgido em grandes temas. Estamos tratando como normais e cotidianas várias aberrações que nos transformam num país virado de cabeça para baixo.
Um exemplo que me espantou foi o pedido oficial de Geddel Vieira Lima para saber o nome e o telefone de quem o denunciou. No apartamento ligado a Geddel foram encontradas as malas com R$ 51 milhões. Até agora não sabemos, e creio que a polícia também não, de onde veio o dinheiro atribuído a Geddel. Mas ele quer saber quem o denunciou. Se a polícia desse o nome e o telefone de quem denunciou, Geddel iniciaria uma prática internacionalmente nova: quebrar o anonimato dos informantes, para serem devidamente assassinados.
Raquel Dodge negou o pedido de Geddel. Mas o fato de ter existido e circulado como uma notícia normal revela como o País, no cotidiano, foi posto de cabeça pra baixo.
No caótico Estado do Rio de Janeiro, outra dessas barbaridades que quase passam em branco: o governador Pezão indicou um deputado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o mesmo cujos membros foram presos. Questionado na Justiça, Pezão chamou o procurador Leonardo Espíndola para defendê-lo. Impossível, disse o procurador, sua decisão é inconstitucional. Ato contínuo, Pezão demitiu Espíndola. Felizmente, o indicado por Pezão caiu nas garras da Polícia Federal antes de tomar posse no TCE. É acusado de corrupção, ao lado do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jorge Picciani.
São só dois fatos cotidianos. Há algo comum em sua origem. Nascem de políticos do PMDB envolvidos em corrupção. Um quer o nome de quem o denunciou, o outro considera defender a Constituição algo incompatível com o serviço público.
E a vida continua. Engolindo alguns sapinhos no cotidiano, nosso estômago é preparado para os grandes sapos de fim de mandato.
Um deles, que está sendo preparado nos bastidores, é a derrubada da prisão em segunda instância. As articulações correm no Congresso e no próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto ministros do Supremo como parlamentares veem nisso uma saída para neutralizar não só a Lava Jato, como todas as operações que envolvam políticos corruptos.
Enunciado apenas como uma tese jurídica, o fim da prisão em segunda instância é palatável. Todos são inocentes até que a sentença seja confirmada pelo STF. Na prática, resultará em impunidade geral. Todos terão direito a uma trajetória semelhante à de Paulo Maluf, que de recurso em recurso vai tocando sua vida, exercendo seus mandatos e até defendendo outros acusados de corrupção, como Michel Temer.
No momento em que as aberrações se acumulam, a tendência é criar um País monstruoso. Algo que já tentei definir num discurso, no alto de um caminhão, em protesto de rua: um País onde os bandidos fazem a lei.
Enquanto essas coisas acontecem, o debate entre os que querem a mudança tende a concentrar-se no perfil do líder que nos vai salvar. Em que rua, em que esquina vamos encontrá-lo? No Acre, em Alcácer Quibir?
Enquanto não aparece, creio ser necessário fortalecer as organizações que trabalham com a transparência. Estão surgindo de vários pontos. Hoje se investiga como os partidos gastam seu dinheiro. Há um grupo que cuida exclusivamente de despesas de parlamentares. A intensa busca da transparência fortalece a sociedade. Da mesma maneira, ela ficará mais forte se todos os grupos que buscam a mudança se unirem num esforço comum.
Nem todos pensam da mesma maneira, estamos cansados de saber. Mas é preciso um mínimo de maturidade, na situação dramática do País, para encontrar pontos de convergência.
Não importa tanto se um grande líder vai emergir dos escombros. Mesmo se aparecer, não será um anjo. Não elegeremos anjos em 2018. Nunca o faremos, creio eu.
A fronteira do pessimismo não nos deve desesperar. Há algumas instituições funcionando, há grupos trabalhando na busca da transparência, há a possibilidade real de que todos os que querem mudança encontrem pontos de contato, um denominador comum.
Como o poeta que fabrica um elefante de seus poucos recursos, a sociedade brasileira terá de construir seu sistema de defesa. Alguns móveis velhos, algodão, cola, a busca de amigos num mundo enfastiado que duvida de tudo – o elefante de Drummond é inspirador.
Quem sabe, como em Portugal, conseguiremos construir nossa própria geringonça? Prefiro essa visão modesta e realista a esperar dom Sebastião. Curado de sua megalomania, talvez o Brasil aceite, finalmente, tornar-se um grande Portugal.
Muitos deles estão legitimamente preocupados com a falta de alternativas na eleição presidencial. Mas, ainda assim, afirmo que a descoberta de um nome não é tão importante quanto fortalecer a sociedade para que possa monitorar ativamente o governo.
No fundo, o objetivo maior deve ser a construção de um controle social tão preciso, diria até tão virtuoso que possa tornar mais amena a constatação de que não elegemos anjos, mas pessoas de carne e osso. Isso é válido para qualquer sociedade, mas no Brasil parece que somos mais intensamente de carne e osso.
De certo modo, já exercemos algum controle sobre o governo Temer. Duas medidas foram revertidas por pressão social: a abertura de uma área de mineração na Amazônia e o abrandamento da lei que pune o trabalho em condições análogas ao de escravo. Mas esse esforço de controle só tem surgido em grandes temas. Estamos tratando como normais e cotidianas várias aberrações que nos transformam num país virado de cabeça para baixo.
Um exemplo que me espantou foi o pedido oficial de Geddel Vieira Lima para saber o nome e o telefone de quem o denunciou. No apartamento ligado a Geddel foram encontradas as malas com R$ 51 milhões. Até agora não sabemos, e creio que a polícia também não, de onde veio o dinheiro atribuído a Geddel. Mas ele quer saber quem o denunciou. Se a polícia desse o nome e o telefone de quem denunciou, Geddel iniciaria uma prática internacionalmente nova: quebrar o anonimato dos informantes, para serem devidamente assassinados.
Raquel Dodge negou o pedido de Geddel. Mas o fato de ter existido e circulado como uma notícia normal revela como o País, no cotidiano, foi posto de cabeça pra baixo.
No caótico Estado do Rio de Janeiro, outra dessas barbaridades que quase passam em branco: o governador Pezão indicou um deputado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o mesmo cujos membros foram presos. Questionado na Justiça, Pezão chamou o procurador Leonardo Espíndola para defendê-lo. Impossível, disse o procurador, sua decisão é inconstitucional. Ato contínuo, Pezão demitiu Espíndola. Felizmente, o indicado por Pezão caiu nas garras da Polícia Federal antes de tomar posse no TCE. É acusado de corrupção, ao lado do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jorge Picciani.
São só dois fatos cotidianos. Há algo comum em sua origem. Nascem de políticos do PMDB envolvidos em corrupção. Um quer o nome de quem o denunciou, o outro considera defender a Constituição algo incompatível com o serviço público.
E a vida continua. Engolindo alguns sapinhos no cotidiano, nosso estômago é preparado para os grandes sapos de fim de mandato.
Um deles, que está sendo preparado nos bastidores, é a derrubada da prisão em segunda instância. As articulações correm no Congresso e no próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto ministros do Supremo como parlamentares veem nisso uma saída para neutralizar não só a Lava Jato, como todas as operações que envolvam políticos corruptos.
Enunciado apenas como uma tese jurídica, o fim da prisão em segunda instância é palatável. Todos são inocentes até que a sentença seja confirmada pelo STF. Na prática, resultará em impunidade geral. Todos terão direito a uma trajetória semelhante à de Paulo Maluf, que de recurso em recurso vai tocando sua vida, exercendo seus mandatos e até defendendo outros acusados de corrupção, como Michel Temer.
No momento em que as aberrações se acumulam, a tendência é criar um País monstruoso. Algo que já tentei definir num discurso, no alto de um caminhão, em protesto de rua: um País onde os bandidos fazem a lei.
Enquanto essas coisas acontecem, o debate entre os que querem a mudança tende a concentrar-se no perfil do líder que nos vai salvar. Em que rua, em que esquina vamos encontrá-lo? No Acre, em Alcácer Quibir?
Enquanto não aparece, creio ser necessário fortalecer as organizações que trabalham com a transparência. Estão surgindo de vários pontos. Hoje se investiga como os partidos gastam seu dinheiro. Há um grupo que cuida exclusivamente de despesas de parlamentares. A intensa busca da transparência fortalece a sociedade. Da mesma maneira, ela ficará mais forte se todos os grupos que buscam a mudança se unirem num esforço comum.
Nem todos pensam da mesma maneira, estamos cansados de saber. Mas é preciso um mínimo de maturidade, na situação dramática do País, para encontrar pontos de convergência.
Não importa tanto se um grande líder vai emergir dos escombros. Mesmo se aparecer, não será um anjo. Não elegeremos anjos em 2018. Nunca o faremos, creio eu.
A fronteira do pessimismo não nos deve desesperar. Há algumas instituições funcionando, há grupos trabalhando na busca da transparência, há a possibilidade real de que todos os que querem mudança encontrem pontos de contato, um denominador comum.
Como o poeta que fabrica um elefante de seus poucos recursos, a sociedade brasileira terá de construir seu sistema de defesa. Alguns móveis velhos, algodão, cola, a busca de amigos num mundo enfastiado que duvida de tudo – o elefante de Drummond é inspirador.
Quem sabe, como em Portugal, conseguiremos construir nossa própria geringonça? Prefiro essa visão modesta e realista a esperar dom Sebastião. Curado de sua megalomania, talvez o Brasil aceite, finalmente, tornar-se um grande Portugal.
Quem sabe essa é a nossa chance?
Em 11 de julho de 2008 assinei aqui neste Blog um artigo sobre o Rio que, entre outras coisas, dizia o seguinte:
“Só não vê quem não quer: ruas sujas, esgoto a céu aberto, um cheiro de urina entranhado até nas esquinas do centro financeiro da cidade, que dirá em bairros afastados.
Ambulantes vendendo de comida a animais. Cartomantes e curandeiros. Pregões que incomodam, anunciando coisas do arco da velha. Moradores de rua fazendo tudo que as pessoas fazem em seu dia a dia, mas a céu aberto.
Carros abandonados e carcomidos pelo tempo. Casas desmoronando, sem telhado, pondo em risco os passantes. Animais zanzando, famélicos e imundos. Brigas, tumultos, bandidos à solta. Sexo, de todos os tipos, sendo vendido à luz do sol. Crianças dormindo nas ruas, sozinhas ou em bandos. Assaltos, rotina, não são exceção. A violência explode. (...)
Muitos não vêm isso que acabo de descrever. Ou porque não querem ver, ou porque vivem em ilhas da fantasia. Mansões cercadas por muros e grades, vigias armados, alarmes, holofotes. Quando têm que sair do castelo por motivo de força maior, vão em carros blindados, ou helicópteros, que ninguém é tonto. Não duvido que em breve inaugurem um condomínio com pontes levadiças.”
Mudou alguma coisa nesses últimos nove anos?
Mudou, sim!
Estamos tendo a oportunidade de corrigir tudo que está errado.
Como?
Muito simples: os palácios governamentais estão vazios. Em compensação, as cadeias começam a ficar lotadas. A Cadeia Nova, graças à Operação Cadeia Velha, começa a nos livrar do pesado fardo que há muito carregamos!
Na Cadeia Nova estão o ex governador do Rio de Janeiro, e desde ontem a cúpula da Alerj, os Picciani e Cia Ltda lá estão a lhe fazer companhia.
Governador, vice-governador, secretários, todos calados. Diria mais, mudos!
Strictu Sensu, estamos à deriva, já que sem comando. Mas será que é permitido discordar?
Espero que sim, porque discordo. Não estamos à deriva. Estamos vivendo uma oportunidade de ouro: Pela primeira vez, desde que os índios tamoios comandavam este pedaço do Céu, podemos mandar em nossa cidade!
Não sei por quanto tempo essa situação ideal irá se prolongar. Espero que dê tempo para uma limpeza em regra e para que os cariocas retomem sua cidade e reorganizem sua vida. Espero que a Justiça fique mais lenta que de hábito para que o tempo corra a nosso favor!
Desculpem, esqueci de mencionar o Prefeito. Não foi por implicância, foi apenas porque não encontrei nenhuma nota sobre seu paradeiro, ontem, 16 de novembro.
“Só não vê quem não quer: ruas sujas, esgoto a céu aberto, um cheiro de urina entranhado até nas esquinas do centro financeiro da cidade, que dirá em bairros afastados.
Ambulantes vendendo de comida a animais. Cartomantes e curandeiros. Pregões que incomodam, anunciando coisas do arco da velha. Moradores de rua fazendo tudo que as pessoas fazem em seu dia a dia, mas a céu aberto.
Carros abandonados e carcomidos pelo tempo. Casas desmoronando, sem telhado, pondo em risco os passantes. Animais zanzando, famélicos e imundos. Brigas, tumultos, bandidos à solta. Sexo, de todos os tipos, sendo vendido à luz do sol. Crianças dormindo nas ruas, sozinhas ou em bandos. Assaltos, rotina, não são exceção. A violência explode. (...)
Muitos não vêm isso que acabo de descrever. Ou porque não querem ver, ou porque vivem em ilhas da fantasia. Mansões cercadas por muros e grades, vigias armados, alarmes, holofotes. Quando têm que sair do castelo por motivo de força maior, vão em carros blindados, ou helicópteros, que ninguém é tonto. Não duvido que em breve inaugurem um condomínio com pontes levadiças.”
Mudou alguma coisa nesses últimos nove anos?
Mudou, sim!
Estamos tendo a oportunidade de corrigir tudo que está errado.
Como?
Cadeia Nova, em Benfica |
Na Cadeia Nova estão o ex governador do Rio de Janeiro, e desde ontem a cúpula da Alerj, os Picciani e Cia Ltda lá estão a lhe fazer companhia.
Governador, vice-governador, secretários, todos calados. Diria mais, mudos!
Strictu Sensu, estamos à deriva, já que sem comando. Mas será que é permitido discordar?
Espero que sim, porque discordo. Não estamos à deriva. Estamos vivendo uma oportunidade de ouro: Pela primeira vez, desde que os índios tamoios comandavam este pedaço do Céu, podemos mandar em nossa cidade!
Não sei por quanto tempo essa situação ideal irá se prolongar. Espero que dê tempo para uma limpeza em regra e para que os cariocas retomem sua cidade e reorganizem sua vida. Espero que a Justiça fique mais lenta que de hábito para que o tempo corra a nosso favor!
Desculpem, esqueci de mencionar o Prefeito. Não foi por implicância, foi apenas porque não encontrei nenhuma nota sobre seu paradeiro, ontem, 16 de novembro.
Refundação do Estado
A questão do papel Estado é um divisor de águas e tende a estar no centro da disputa presidencial. As duas candidaturas populistas estão presas a modelos passados que perderam sentido e não respondem às necessidades do século 21. O Brasil de hoje é inteiramente diferente do que era nos tempos do varguismo ou do estatismo do presidente militar Ernesto Geisel. Mas a direita e a esquerda estatistas pensam ainda ser possível alavancar o desenvolvimento a partir do intervencionismo estatal. Não por coincidência, Lula e Bolsonaro são pródigos em elogios à era Geisel.
O Estado que aí está gerou o capitalismo de laços, levou o país à maior crise econômica de sua história. Mais: perpetuou iniquidades e privilégios de minorias incrustadas em seu aparato. Nele coabitam o patrimonialismo e o corporativismo, duas forças atrasadas e refratárias às mudanças.
São elas os principais entraves às reformas necessárias e à modernização da economia. Vide as resistências à reforma da Previdência e às privatizações da Eletrobrás e dos aeroportos, emblemáticas do espúrio casamento entre corporações de trabalhadores e patronais com o clientelismo político.
Na outra ponta, o Estado oferta serviços públicos de baixíssima qualidade, mesmo sendo financiado por uma carga tributária altíssima. A sociedade carrega um fardo pesadíssimo para sustentar um aparato ineficiente, burocrático, perdulário e frequentemente corrupto.
Esse Estado não serve ao Brasil. Não alcançaremos o crescimento sustentado, não seremos um país socialmente mais justo, não lograremos a equidade enquanto ele não for desconstruído.
O grande desafio do campo democrático alternativo aos dois extremos autoritários e regressivos é oferecer aos brasileiros um outro projeto de Estado, capaz de responder aos desafios de um mundo em intensa transformação e de colocar o país no patamar das sociedades modernas e desenvolvidas.
Felizmente, não partimos do zero na definição do Estado que queremos. Já há muita massa crítica e iniciativas que jogam luz no debate necessário. Todas elas convergem para a necessidade imperiosa da refundação do Estado, tese que permeou o seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação, promovido pelo ITV/PSDB e FAP/PPS, que está presente no manifesto dos intelectuais do PSDB e nas conclusões do Quarto Encontro da Roda Democrática – movimento suprapartidário do qual faço parte.
A pedra de toque é a redefinição de seu papel, no sentido da transformação de um Estado produtor e financiador da produção, em um Estado regulador e provedor de serviços públicos de qualidade.
Se no passado se fazia necessária a forte presença estatal na economia — como aconteceu nos anos 1950/60 -- hoje isso não se justifica mais. Em uma economia globalizada e de forte inovação tecnológica o motor do desenvolvimento são os investimentos privados, internos e externos. A inflexão se impõe também porque o Estado não tem pujança para alavancar os investimentos e ao mesmo tempo cumprir com suas obrigações sociais.
Ao Estado moderno compete desenhar o marco regulatório para a atração do capital privado, definir as normas de proteção dos consumidores e do meio ambiente, dar segurança jurídica aos investidores, assegurar a concorrência.
O esforço, portanto, deve ir na direção da abertura da economia brasileira e de realizar um ousado programa de privatização para que possa redirecionar seus recursos e energia para outras prioridades.
O Estado não é um fim em si mesmo, ou não deveria ser. Seu principal papel é o de ser o meio para a promoção da equidade, da igualdade de oportunidades.
Liberado de sua função de produtor e financiador da produção, suas prioridades seriam fornecer aos brasileiros educação de qualidade, saúde e segurança, entre outros serviços.
No caso da educação, o foco deve ser o ensino básico. As nações que conquistaram a equidade e o crescimento sustentado trilharam esse caminho. Não será diferente com o Brasil.
Na era da Quarta Revolução Industrial, da robotização e da inteligência artificial os países que não ingressarem no restrito clube da inovação tecnológica serão meros coadjuvantes no cenário internacional. Nessa área, o atraso do Brasil é gritante, motivo mais do que suficiente para revolucionar também a concepção do Estado.
Sem um novo pacto federativo, sem as reformas estruturantes -entre as quais a previdenciária-, sem o enxugamento do aparato estatal, o Brasil continuará refém de políticos parasitários e fisiológicos, de capitalistas de compadrio, de corporações sindicais e de servidores que não abrem mão de privilégios.
Refundar o Estado significa livrar o país destes grilhões e acabar com o patrimonialismo e o corporativismo.
Hubert Alquéres
O Estado que aí está gerou o capitalismo de laços, levou o país à maior crise econômica de sua história. Mais: perpetuou iniquidades e privilégios de minorias incrustadas em seu aparato. Nele coabitam o patrimonialismo e o corporativismo, duas forças atrasadas e refratárias às mudanças.
São elas os principais entraves às reformas necessárias e à modernização da economia. Vide as resistências à reforma da Previdência e às privatizações da Eletrobrás e dos aeroportos, emblemáticas do espúrio casamento entre corporações de trabalhadores e patronais com o clientelismo político.
Na outra ponta, o Estado oferta serviços públicos de baixíssima qualidade, mesmo sendo financiado por uma carga tributária altíssima. A sociedade carrega um fardo pesadíssimo para sustentar um aparato ineficiente, burocrático, perdulário e frequentemente corrupto.
Esse Estado não serve ao Brasil. Não alcançaremos o crescimento sustentado, não seremos um país socialmente mais justo, não lograremos a equidade enquanto ele não for desconstruído.
O grande desafio do campo democrático alternativo aos dois extremos autoritários e regressivos é oferecer aos brasileiros um outro projeto de Estado, capaz de responder aos desafios de um mundo em intensa transformação e de colocar o país no patamar das sociedades modernas e desenvolvidas.
Felizmente, não partimos do zero na definição do Estado que queremos. Já há muita massa crítica e iniciativas que jogam luz no debate necessário. Todas elas convergem para a necessidade imperiosa da refundação do Estado, tese que permeou o seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação, promovido pelo ITV/PSDB e FAP/PPS, que está presente no manifesto dos intelectuais do PSDB e nas conclusões do Quarto Encontro da Roda Democrática – movimento suprapartidário do qual faço parte.
A pedra de toque é a redefinição de seu papel, no sentido da transformação de um Estado produtor e financiador da produção, em um Estado regulador e provedor de serviços públicos de qualidade.
Se no passado se fazia necessária a forte presença estatal na economia — como aconteceu nos anos 1950/60 -- hoje isso não se justifica mais. Em uma economia globalizada e de forte inovação tecnológica o motor do desenvolvimento são os investimentos privados, internos e externos. A inflexão se impõe também porque o Estado não tem pujança para alavancar os investimentos e ao mesmo tempo cumprir com suas obrigações sociais.
Ao Estado moderno compete desenhar o marco regulatório para a atração do capital privado, definir as normas de proteção dos consumidores e do meio ambiente, dar segurança jurídica aos investidores, assegurar a concorrência.
O esforço, portanto, deve ir na direção da abertura da economia brasileira e de realizar um ousado programa de privatização para que possa redirecionar seus recursos e energia para outras prioridades.
O Estado não é um fim em si mesmo, ou não deveria ser. Seu principal papel é o de ser o meio para a promoção da equidade, da igualdade de oportunidades.
Liberado de sua função de produtor e financiador da produção, suas prioridades seriam fornecer aos brasileiros educação de qualidade, saúde e segurança, entre outros serviços.
No caso da educação, o foco deve ser o ensino básico. As nações que conquistaram a equidade e o crescimento sustentado trilharam esse caminho. Não será diferente com o Brasil.
Na era da Quarta Revolução Industrial, da robotização e da inteligência artificial os países que não ingressarem no restrito clube da inovação tecnológica serão meros coadjuvantes no cenário internacional. Nessa área, o atraso do Brasil é gritante, motivo mais do que suficiente para revolucionar também a concepção do Estado.
Sem um novo pacto federativo, sem as reformas estruturantes -entre as quais a previdenciária-, sem o enxugamento do aparato estatal, o Brasil continuará refém de políticos parasitários e fisiológicos, de capitalistas de compadrio, de corporações sindicais e de servidores que não abrem mão de privilégios.
Refundar o Estado significa livrar o país destes grilhões e acabar com o patrimonialismo e o corporativismo.
Hubert Alquéres
Todos à Cadeia Velha!
Esta tarde, quando os deputados Jorge Piciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB, forem soltos por decisão dos seus pares, o Rio de Janeiro se cobrirá outra vez de vergonha – à exceção de uma ilha, a Assembleia Legislativa, onde vergonha é uma mercadoria em falta.
Convocadas por meio de redes sociais, cerca de 15 mil pessoas haviam confirmado até ontem à noite sua disposição de cercar o prédio da assembleia para a protestar contra o que ali vem sendo tramado desde a última terça-feira. Imaginam que assim os três poderão continuar presos.
Que outro Estado pode se envergonhar de ter um ex-governador preso e condenado (Sérgio Cabral), outros dois processados (Garotinho e Rosinha), e o atual (Luiz Fernando Pezão) acusado de corrupção e ainda no exercício do cargo graças apenas a uma decisão provisória da Justiça?
Sem falar de ex-secretários de Estado presos, conselheiros do Tribunal de Contas afastados do cargo e, agora, o presidente da Assembleia no xilindró na companhia de mais dois deputados. Os que mandaram na política do Rio nos últimos 20 anos ou estão presos ou respondem a processos.
Se isso não for suficiente para que os cariocas troquem algumas horas de praia por uma ida, esta tarde, até o Palácio Tiradentes, onde no passado funcionou a Cadeia Velha, o que mais será preciso?
Convocadas por meio de redes sociais, cerca de 15 mil pessoas haviam confirmado até ontem à noite sua disposição de cercar o prédio da assembleia para a protestar contra o que ali vem sendo tramado desde a última terça-feira. Imaginam que assim os três poderão continuar presos.
Cadeia Velha, em 1919 |
Não custa tentar. Quando nada para mostrar indignação. Quantos milhares de cariocas não ocuparam as ruas em junho de 2013 para reclamar de tudo e de qualquer coisa? A espoleta daquelas manifestações foi o aumento do preço das passagens de ônibus, mas não só.
Quantos não engrossaram seguidas passeatas que em 2015 e 2016 em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff? A corrupção responsável em grande parte pela falência do Rio deveria ser razão de sobra para que os cariocas voltassem às ruas novamente.Que outro Estado pode se envergonhar de ter um ex-governador preso e condenado (Sérgio Cabral), outros dois processados (Garotinho e Rosinha), e o atual (Luiz Fernando Pezão) acusado de corrupção e ainda no exercício do cargo graças apenas a uma decisão provisória da Justiça?
Sem falar de ex-secretários de Estado presos, conselheiros do Tribunal de Contas afastados do cargo e, agora, o presidente da Assembleia no xilindró na companhia de mais dois deputados. Os que mandaram na política do Rio nos últimos 20 anos ou estão presos ou respondem a processos.
Se isso não for suficiente para que os cariocas troquem algumas horas de praia por uma ida, esta tarde, até o Palácio Tiradentes, onde no passado funcionou a Cadeia Velha, o que mais será preciso?
Campanha de Temer ataca privilégios de Temer
Michel Temer decidiu torrar R$ 20 milhões do contribuinte numa campanha publicitária sobre reforma da previdência. A campanha é cínica, inútil e desrespeitosa. O cinismo está no fato de que a peça critica privilégios dos quais Temer é beneficiário. A inutilidade decorre da evidência de que os parlamentares não condicionam seus votos a nenhuma propaganda, mas a tenebrosas transações. O desrespeito salta da constatação de que, sob Temer, o governo queima verba pública como se fosse dinheiro grátis.
O repórter Bruno Bhogossian informa que o mote da campanha será o ataque a privilégios dos servidores públicos. ''Tem muita gente no Brasil que trabalha pouco, ganha muito e se aposenta cedo'', diz o comercial. A carapuça ajusta-se perfeitamente ao cocuruto de Temer. Sua reforma propõe que a idade mínima para a aposentadoria dos homens seja 65 anos. Em 1996, aos 55 anos, Temer requereu sua aposentadoria como promotor do Estado de São Paulo. Recebe há mais de 20 anos uma pensão que, hoje, soma R$ 45 mil. A cifra precisa ser rebaixada para não ultrapassar o teto do funcionalismo, regulado pelos vencimentos dos ministros do SFT: R$ 33,7 mil.
Temer aposentou-se precocemente na mesma época em que atuava como relator de outra reforma da Previdência, trançada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Sobre sua atuação, FHC escreveu no livro Diários da Presidência: “…Ganhamos na Câmara, uma vitória de Pirro, ou seja, 352 votos contra 134, mas para ganhar o quê? A proposta Michel Temer. Muito pouco avanço. Trinta por cento do necessário…”
Noutro trecho, FHC anotou: “Temos que ir fundo na reforma fiscal, o que é difícil com o Congresso que aí está. A reforma da Previdência foi desfigurada, o Temer cedeu além de todos os limites, porque ele tem o voto de um ou de outro. Agora, eu vejo com espanto que os líderes pediram que o Abi Ackel redija o seu texto sobre estabilidade [dos servidores]. Ou seja: não querem enfrentar as questões reais. É muito difícil obter a modernização do país com este Congresso tão preso a coisas do passado.”
Na sua época, FHC mandou às favas a fama de político diferente. Escorando-se em Max Weber, trocou a moeda da “convicção” pela da “responsabilidade”, tapou o nariz e pagou o preço pelos 30% de reforma que o relatório de Temer foi capaz de produzir. Hoje, Temer não precisa fingir que é diferente. Ao contrário, torna-se cada fez mais igual a si mesmo para agradar aos aliados. À frente de um governo loteado e convencional, ele escancara os cofres por uma reforma que não sabe se terá. Se obtiver 10%, soltará rojões.
Mario Henrique Simonsen costumava dizer: muitas vezes sai mais barato para o contribuinte pagar a propina e cancelar a obra. No caso da publicidade sobre a mexida na previdência, o governo deveria considerar a hipótese de pagar a comissão e esquecer a campanha cínica, inútil e desrespeitosa.
O repórter Bruno Bhogossian informa que o mote da campanha será o ataque a privilégios dos servidores públicos. ''Tem muita gente no Brasil que trabalha pouco, ganha muito e se aposenta cedo'', diz o comercial. A carapuça ajusta-se perfeitamente ao cocuruto de Temer. Sua reforma propõe que a idade mínima para a aposentadoria dos homens seja 65 anos. Em 1996, aos 55 anos, Temer requereu sua aposentadoria como promotor do Estado de São Paulo. Recebe há mais de 20 anos uma pensão que, hoje, soma R$ 45 mil. A cifra precisa ser rebaixada para não ultrapassar o teto do funcionalismo, regulado pelos vencimentos dos ministros do SFT: R$ 33,7 mil.
Noutro trecho, FHC anotou: “Temos que ir fundo na reforma fiscal, o que é difícil com o Congresso que aí está. A reforma da Previdência foi desfigurada, o Temer cedeu além de todos os limites, porque ele tem o voto de um ou de outro. Agora, eu vejo com espanto que os líderes pediram que o Abi Ackel redija o seu texto sobre estabilidade [dos servidores]. Ou seja: não querem enfrentar as questões reais. É muito difícil obter a modernização do país com este Congresso tão preso a coisas do passado.”
Na sua época, FHC mandou às favas a fama de político diferente. Escorando-se em Max Weber, trocou a moeda da “convicção” pela da “responsabilidade”, tapou o nariz e pagou o preço pelos 30% de reforma que o relatório de Temer foi capaz de produzir. Hoje, Temer não precisa fingir que é diferente. Ao contrário, torna-se cada fez mais igual a si mesmo para agradar aos aliados. À frente de um governo loteado e convencional, ele escancara os cofres por uma reforma que não sabe se terá. Se obtiver 10%, soltará rojões.
Mario Henrique Simonsen costumava dizer: muitas vezes sai mais barato para o contribuinte pagar a propina e cancelar a obra. No caso da publicidade sobre a mexida na previdência, o governo deveria considerar a hipótese de pagar a comissão e esquecer a campanha cínica, inútil e desrespeitosa.
A causa pública
O historiador José Murilo de Carvalho foi buscar em Aristides Lobo, propagandista da República, o desapontamento do povo que assistira bestializado à Proclamação da República, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar... E vai Carvalho referir a outra frase, tristemente famosa, de Louis Couty, sábio francês aqui residente: “O Brasil não tem povo”.
Ou o povo que tem, ao que parece, continua bestializado.
O brilhante José Murilo de Carvalho garimpa Artur Azevedo em O Tribofe de 1892:
O que fizemos da República, da gestão da coisa pública? O que há a comemorar nesta data que marca o fim da monarquia e o advento da república? As instituições em crise, o federalismo em risco, a nação e a soberania sob ameaça.
A república é verdadeiramente república quando a coisa pública se confunde com a causa pública, no interesse de todos os cidadãos na expressão máxima da cidadania, e não no assalto nada republicano de piranhas ávidas e interesseiras ao naco maior da coisa pública.
Neste momento, o jogo corre e a geral, indulgente, está de costas. As elites, nas cadeiras de cima, a tudo assistem desinteressadas de seu papel nos destinos do país; a classe média – ou o que dela restou – apega-se à bóia do salve-se quem puder enquanto foge do assaltante da esquina, já que não pode fugir dos assaltantes de palácios. O “geraldino”, com o que sobra, vai tomar um pega-pinto ali no Zé da Gruta.
Às vésperas dos 130 anos da República, fica-se entre a débil crença na capacidade das elites para as reformas e a esperança nas forças populares para um 15 de novembro que venha valer a pena.
Mas, como dizem os filósofos: sejamos otimistas, deixemos o pessimismo para tempos melhores...
Há aí, quando os caminhos se fecham e até o passado parece incerto, a oportunidade de se repensar o Brasil, repassá-lo a limpo, convocando, nos 30 anos da Constituição de 88, uma ampla Revisão Constitucional para 2022.
A prudência recomenda um freio de arrumação institucional antes que um novo Lampião venha iluminar a noite e tirar o povo da apatia na qual foi jogado por falta de escolha.
Ou o povo que tem, ao que parece, continua bestializado.
O brilhante José Murilo de Carvalho garimpa Artur Azevedo em O Tribofe de 1892:
“Das algibeiras some-se o cobre, como levado por um tufão:
Carne de vaca não come o pobre, qualquer dia não come pão.”
O que fizemos da República, da gestão da coisa pública? O que há a comemorar nesta data que marca o fim da monarquia e o advento da república? As instituições em crise, o federalismo em risco, a nação e a soberania sob ameaça.
A república é verdadeiramente república quando a coisa pública se confunde com a causa pública, no interesse de todos os cidadãos na expressão máxima da cidadania, e não no assalto nada republicano de piranhas ávidas e interesseiras ao naco maior da coisa pública.
Neste momento, o jogo corre e a geral, indulgente, está de costas. As elites, nas cadeiras de cima, a tudo assistem desinteressadas de seu papel nos destinos do país; a classe média – ou o que dela restou – apega-se à bóia do salve-se quem puder enquanto foge do assaltante da esquina, já que não pode fugir dos assaltantes de palácios. O “geraldino”, com o que sobra, vai tomar um pega-pinto ali no Zé da Gruta.
Às vésperas dos 130 anos da República, fica-se entre a débil crença na capacidade das elites para as reformas e a esperança nas forças populares para um 15 de novembro que venha valer a pena.
Mas, como dizem os filósofos: sejamos otimistas, deixemos o pessimismo para tempos melhores...
Há aí, quando os caminhos se fecham e até o passado parece incerto, a oportunidade de se repensar o Brasil, repassá-lo a limpo, convocando, nos 30 anos da Constituição de 88, uma ampla Revisão Constitucional para 2022.
A prudência recomenda um freio de arrumação institucional antes que um novo Lampião venha iluminar a noite e tirar o povo da apatia na qual foi jogado por falta de escolha.
Quando trabalhar já não salva da pobreza
Para María, a expressão "não chegar ao fim do mês" ainda não é precisa. "Não estamos nem no dia 10 e já não dá mais", diz, sem perder o sorriso. Em sua casa, os 900 euros (3.440 reais) que seu marido ganha como motorista e o pouco que ela consegue tirar ao dar uma mão em um bar saem tão rápido quanto entram. Só para o aluguel já são 750 euros. Esta cubana de 30 anos está entre os milhões de imigrantes que chegaram à Espanha no boom da construção e que mais tarde acabaram pagando pelos excessos daqueles dias. Desde então, sofrem com empregos precários e mal pagos. Seu perfil se encaixa perfeitamente com um fenômeno que, apesar de não ser novo, tem crescido em decorrência da crise: a dos trabalhadores pobres.
As estatísticas europeias mostram que este é um problema em alta em todo o continente, mas especialmente grave na Espanha, país que serviu de inspiração para a nova legislação trabalhista brasileira que entrou em vigor no sábado. Entre os espanhóis, 13,1% dos trabalhadores vivem em lares que não alcançam 60% da renda média. Só Romênia e Grécia têm números piores nesse triste indicador. E o risco de pobreza ameaça ainda mais os espanhóis que têm um contrato de trabalho parcial: neste grupo, a taxa dispara para 24,3%.
Mas, além das frias estatísticas, os que estão próximos dos mais desfavorecidos também notam a crescente importância do fenômeno dos trabalhadores pobres. Entre as pessoas ajudadas pela Cáritas em 2015, 40% moravam em lares em que ao menos um de seus membros estava empregado. "O trabalho perdeu a capacidade de integrar na sociedade que tinha até pouco tempo atrás", afirma Lucía Martínez, doutora em Bem-Estar Social da Universidade Pública de Navarra.
María –nome fictício: a protagonista não quer dar o nome real nem ser fotografada– é uma dessas pessoas que jamais pensou que pudesse precisar da ajuda de uma entidade beneficente. Mas acabou se vendo obrigada a recorrer a Cáritas de Madri. Quando chegou à Espanha há dez anos, pouco antes de a palavra crise se tornar onipresente, estava encantada com sua nova vida. Seu cargo como atendente de uma loja de roupa lhe permitia ganhar a vida com tranquilidade. "Trabalhava muito, mas me sentia muito bem. Cheguei a ganhar 1.800 euros por mês", afirma.
Mas as coisas mudaram rápida e radicalmente. A fase mais aguda da crise coincidiu com sua primeira gravidez. A loja fechou e comprovou em primeira pessoa as dificuldades de uma jovem mãe para encontrar um novo emprego. Desde então, já vendeu roupa, atendeu em restaurantes, fez substituições em uma portaria, limpou casas e agora ajuda em dias isolados em um bar, onde ganha de 15 a 20 euros por dia, dinheiro que vai direto para o supermercado mais próximo para comprar comida para ela, seu marido e seus dois filhos pequenos. Para ela, obter os produtos mais necessários é cada vez mais uma nova aventura. Assim como María, mais de 1,1 milhão de mulheres empregadas ganham menos que 710 euros por mês, segundo dados publicados nesta semana. Esta baixa faixa salarial afeta um número muito menor de homens: 400.000.
Para conhecer o mapa europeu dos novos pobres, primeiro é necessário desenhar seu contorno. A estatística da Eurostat fala da pobreza relativa, ou seja, daquelas famílias com receitas substancialmente inferiores à média, mas não de pobreza severa. Para determinar o percentual de trabalhadores pobres, não se mede o salário de uma pessoa concreta em um curto período de tempo, mas sim de um lar em seu conjunto ao longo de todo um ano. Essa amplitude é importante porque a precariedade do mercado de trabalho espanhol –com um altíssimo número de altas e baixas: neste verão se alcançou o recorde histórico de mais de dois milhões de contratos assinados em junho– engloba muitos trabalhadores em épocas de atividade e outras de desemprego. Se em 2007 um de cada seis contratos tinha uma duração igual ou inferior a uma semana, agora esta proporção é de um em cada quatro.
Esses novos pobres podem estar ocupados em curtos períodos de meses, semanas ou inclusive dias. A estatística de 2016 se faz, além disso, com os dados de receitas de 2015, de forma que têm uma certa defasagem temporal. "A situação pode ter melhorado graças à bonança atual, ainda que não de forma demasiada porque os salários não aumentam e a temporalidade aparece. Após quatro anos de crescimento econômico, era de se esperar uma maior recuperação salarial", afirma Florentino Felgueroso, pesquisador especializado em emprego do centro de estudos Fedea.
Francisco Lorenzo, coordenador de estudos da Cáritas, afirma que antes da crise, quase todas as solicitações de ajuda vinham de pessoas em situação de exclusão severa, que costumavam estar a margem do mercado de trabalho. Mas nos abrigos e restaurantes populares da Cáritas cada vez mais há pessoas que trabalham por um salário insuficiente para cobrir as necessidades básicas. "Sempre existiram os trabalhadores pobres. A diferença é que antes tratava-se de setores com uma vulnerabilidade extrema. E agora se estendeu para outros grupos, prejudicados por um mercado de trabalho muito díspar, em que convivem empregados de alta e de muito baixa qualidade", acrescenta a doutora da Universidade Pública de Navarra.
A pobreza no trabalho impacta com mais força os jovens. A porcentagem de trabalhadores pobres de 18 a 24 anos passou de 7% em 2007 para 21% em 2014, segundo o último levantamento sobre emancipação juvenil na Espanha (2016). Outros coletivos especialmente vulneráveis são as mulheres solteiras com cargas familiares ou as famílias numerosas. "As situações mais graves com vulnerabilidade de direitos trabalhistas continuam vinculadas principalmente aos setores de hotelaria, construção e limpeza de residências", acrescenta Lorenzo.
María recorda da agradável surpresa que encontrou quando chegou à Espanha. "Em Cuba muita gente vive do salário fixo. Aqui, por outro lado, quem se esforçava se saia bem", afirma. Dez anos depois, sua perspectiva mudou: "Agora me dou conta de que aqui não se pode ter filhos".
Fila em refeitório social em Madri |
Mas, além das frias estatísticas, os que estão próximos dos mais desfavorecidos também notam a crescente importância do fenômeno dos trabalhadores pobres. Entre as pessoas ajudadas pela Cáritas em 2015, 40% moravam em lares em que ao menos um de seus membros estava empregado. "O trabalho perdeu a capacidade de integrar na sociedade que tinha até pouco tempo atrás", afirma Lucía Martínez, doutora em Bem-Estar Social da Universidade Pública de Navarra.
María –nome fictício: a protagonista não quer dar o nome real nem ser fotografada– é uma dessas pessoas que jamais pensou que pudesse precisar da ajuda de uma entidade beneficente. Mas acabou se vendo obrigada a recorrer a Cáritas de Madri. Quando chegou à Espanha há dez anos, pouco antes de a palavra crise se tornar onipresente, estava encantada com sua nova vida. Seu cargo como atendente de uma loja de roupa lhe permitia ganhar a vida com tranquilidade. "Trabalhava muito, mas me sentia muito bem. Cheguei a ganhar 1.800 euros por mês", afirma.
Mas as coisas mudaram rápida e radicalmente. A fase mais aguda da crise coincidiu com sua primeira gravidez. A loja fechou e comprovou em primeira pessoa as dificuldades de uma jovem mãe para encontrar um novo emprego. Desde então, já vendeu roupa, atendeu em restaurantes, fez substituições em uma portaria, limpou casas e agora ajuda em dias isolados em um bar, onde ganha de 15 a 20 euros por dia, dinheiro que vai direto para o supermercado mais próximo para comprar comida para ela, seu marido e seus dois filhos pequenos. Para ela, obter os produtos mais necessários é cada vez mais uma nova aventura. Assim como María, mais de 1,1 milhão de mulheres empregadas ganham menos que 710 euros por mês, segundo dados publicados nesta semana. Esta baixa faixa salarial afeta um número muito menor de homens: 400.000.
Para conhecer o mapa europeu dos novos pobres, primeiro é necessário desenhar seu contorno. A estatística da Eurostat fala da pobreza relativa, ou seja, daquelas famílias com receitas substancialmente inferiores à média, mas não de pobreza severa. Para determinar o percentual de trabalhadores pobres, não se mede o salário de uma pessoa concreta em um curto período de tempo, mas sim de um lar em seu conjunto ao longo de todo um ano. Essa amplitude é importante porque a precariedade do mercado de trabalho espanhol –com um altíssimo número de altas e baixas: neste verão se alcançou o recorde histórico de mais de dois milhões de contratos assinados em junho– engloba muitos trabalhadores em épocas de atividade e outras de desemprego. Se em 2007 um de cada seis contratos tinha uma duração igual ou inferior a uma semana, agora esta proporção é de um em cada quatro.
Esses novos pobres podem estar ocupados em curtos períodos de meses, semanas ou inclusive dias. A estatística de 2016 se faz, além disso, com os dados de receitas de 2015, de forma que têm uma certa defasagem temporal. "A situação pode ter melhorado graças à bonança atual, ainda que não de forma demasiada porque os salários não aumentam e a temporalidade aparece. Após quatro anos de crescimento econômico, era de se esperar uma maior recuperação salarial", afirma Florentino Felgueroso, pesquisador especializado em emprego do centro de estudos Fedea.
Francisco Lorenzo, coordenador de estudos da Cáritas, afirma que antes da crise, quase todas as solicitações de ajuda vinham de pessoas em situação de exclusão severa, que costumavam estar a margem do mercado de trabalho. Mas nos abrigos e restaurantes populares da Cáritas cada vez mais há pessoas que trabalham por um salário insuficiente para cobrir as necessidades básicas. "Sempre existiram os trabalhadores pobres. A diferença é que antes tratava-se de setores com uma vulnerabilidade extrema. E agora se estendeu para outros grupos, prejudicados por um mercado de trabalho muito díspar, em que convivem empregados de alta e de muito baixa qualidade", acrescenta a doutora da Universidade Pública de Navarra.
A pobreza no trabalho impacta com mais força os jovens. A porcentagem de trabalhadores pobres de 18 a 24 anos passou de 7% em 2007 para 21% em 2014, segundo o último levantamento sobre emancipação juvenil na Espanha (2016). Outros coletivos especialmente vulneráveis são as mulheres solteiras com cargas familiares ou as famílias numerosas. "As situações mais graves com vulnerabilidade de direitos trabalhistas continuam vinculadas principalmente aos setores de hotelaria, construção e limpeza de residências", acrescenta Lorenzo.
María recorda da agradável surpresa que encontrou quando chegou à Espanha. "Em Cuba muita gente vive do salário fixo. Aqui, por outro lado, quem se esforçava se saia bem", afirma. Dez anos depois, sua perspectiva mudou: "Agora me dou conta de que aqui não se pode ter filhos".
A eficiência é progressista
Uma economia pode ser eficiente e não servir ao povo, mas uma economia ineficiente não serve ao povo.
A China entendeu isso ao sair da visão da esquerda tradicional e antiquada de que a justiça se faria pela intervenção na economia, mesmo ao custo de sua eficiência.
Antes, o Estado definia o produto a ser fabricado, os salários a serem pagos, a distribuição a ser realizada, mesmo que isso sacrificasse a eficiência da economia para produzir mais.
A própria palavra e o conceito de eficiência eram vistos pela esquerda como assunto burguês, reacionário.
O resultado dessa visão ideológica foi que a igualdade não serviu ao povo, porque, sem eficiência, pouco se distribuía.
A globalização, a robótica, a cooptação de parte dos assalariados no desejo e na possibilidade de alto consumo, o sonho de liberdade individual — inclusive para o consumo — e os limites ecológicos impostos ao crescimento econômico exigiram mudanças no pensamento e nas formulações socialistas.
Os países do Leste não entenderam isso, e o “muro caiu”, a China entendeu e pôs em prática essas mudanças, beneficiando milhões de pessoas e construindo a primeira potência mundial do século XXI. Nas mãos dos governos chineses, a eficiência econômica ficou progressista.
Ao lado da busca e da permissão da eficiência, respeitando o mercado, a China percebeu que seria necessário respeitar o mérito e o esforço de cada indivíduo, com remunerações e recompensas diferenciadas. Ao respeitar e recompensar o mérito, pelo talento e pela persistência, o novo comunismo chinês tolerou a desigualdade na renda e no consumo da pessoa conforme o mérito, ampliando a produção social total, e suas estatais passaram a ser elementos positivos, não pesos na economia.
O “comunismo” chinês entendeu o papel da ciência e da tecnologia, na realização dos desejos de bem-estar da população, ao ponto de ter como seu atual grande herói nacional o empresário e criador Jack Ma, um misto de Steve Jobs, Bill Gates, Bezos e Mark Zuckerberg.
De certa forma, a revolução chinesa dobrou uma esquina, passando de mudanças baseadas na política e prioridades sociais de Mao Tsé-Tung, para as mudanças tecnológicas de Jack Ma. A China do século de Mao ingressou no século de Ma.
Mas, diferentemente do capitalismo puro, esse novo socialismo com respeito à eficiência econômica busca oferecer a cada cidadão a mesma oportunidade para desenvolver seu talento, com sistemas eficientes e no máximo igualitários na educação e saúde.
A igualdade na educação e na saúde ainda é um desafio da China para construir sua utopia social, mas é o caminho escolhido pelo país. Da mesma forma que ainda é um desafio a construção de um modelo sustentável ecologicamente, para o qual a China já começa a dar os primeiros passos.
Não se deve copiar no Ocidente o sistema político chinês do mérito por dentro do partido único, mas as forças progressistas do mundo precisam se inspirar na visão de que só com uma economia eficiente será possível servir ao povo.
A China entendeu isso ao sair da visão da esquerda tradicional e antiquada de que a justiça se faria pela intervenção na economia, mesmo ao custo de sua eficiência.
Antes, o Estado definia o produto a ser fabricado, os salários a serem pagos, a distribuição a ser realizada, mesmo que isso sacrificasse a eficiência da economia para produzir mais.
A própria palavra e o conceito de eficiência eram vistos pela esquerda como assunto burguês, reacionário.
O resultado dessa visão ideológica foi que a igualdade não serviu ao povo, porque, sem eficiência, pouco se distribuía.
A globalização, a robótica, a cooptação de parte dos assalariados no desejo e na possibilidade de alto consumo, o sonho de liberdade individual — inclusive para o consumo — e os limites ecológicos impostos ao crescimento econômico exigiram mudanças no pensamento e nas formulações socialistas.
Os países do Leste não entenderam isso, e o “muro caiu”, a China entendeu e pôs em prática essas mudanças, beneficiando milhões de pessoas e construindo a primeira potência mundial do século XXI. Nas mãos dos governos chineses, a eficiência econômica ficou progressista.
Ao lado da busca e da permissão da eficiência, respeitando o mercado, a China percebeu que seria necessário respeitar o mérito e o esforço de cada indivíduo, com remunerações e recompensas diferenciadas. Ao respeitar e recompensar o mérito, pelo talento e pela persistência, o novo comunismo chinês tolerou a desigualdade na renda e no consumo da pessoa conforme o mérito, ampliando a produção social total, e suas estatais passaram a ser elementos positivos, não pesos na economia.
O “comunismo” chinês entendeu o papel da ciência e da tecnologia, na realização dos desejos de bem-estar da população, ao ponto de ter como seu atual grande herói nacional o empresário e criador Jack Ma, um misto de Steve Jobs, Bill Gates, Bezos e Mark Zuckerberg.
De certa forma, a revolução chinesa dobrou uma esquina, passando de mudanças baseadas na política e prioridades sociais de Mao Tsé-Tung, para as mudanças tecnológicas de Jack Ma. A China do século de Mao ingressou no século de Ma.
Mas, diferentemente do capitalismo puro, esse novo socialismo com respeito à eficiência econômica busca oferecer a cada cidadão a mesma oportunidade para desenvolver seu talento, com sistemas eficientes e no máximo igualitários na educação e saúde.
A igualdade na educação e na saúde ainda é um desafio da China para construir sua utopia social, mas é o caminho escolhido pelo país. Da mesma forma que ainda é um desafio a construção de um modelo sustentável ecologicamente, para o qual a China já começa a dar os primeiros passos.
Não se deve copiar no Ocidente o sistema político chinês do mérito por dentro do partido único, mas as forças progressistas do mundo precisam se inspirar na visão de que só com uma economia eficiente será possível servir ao povo.
A Proclamação da República
I
Acabou-se a Monarquia,
Logo após a abolição
Da terrível escravatura,
Mancha maior da Nação,
Foi proclamada a República
Na Praça da Aclamação.
II
Deodoro da Fonseca,
Um marechal nordestino,
Depôs Dom Pedro Segundo,
Que era fidalgo e fino,
E assumiu o poder,
Comandando seu destino.
III
O vice de Deodoro
Também era alagoano,
Mais enérgico e arrojado,
Já tomou conta do plano,
Logo assumiu o poder
O marechal Floriano.
IV
Por anos foi planejado
O final da Monarquia:
O grupo positivista
Trabalhou de noite e dia,
Conspirando dia e noite
Junto com a Maçonaria.
V
A República se instalou
Repleta de esperança,
Prometendo para o povo
Novo mundo de bonança,
Porém as velhas raposas
Descompensaram a balança.
VI
Quem sempre foi monarquista
Mudou na hora de plano,
Rasgou título de nobreza
(Coisa boa é ser mundano),
Gritando a plenos pulmões:
- Eu sou é republicano!
Quem mamou a vida inteira
Nas tetas da Monarquia
Mamou também na República
E mama ainda hoje em dia,
E o povo do mesmo jeito,
Com a panela vazia.
VIII
Quem tinha capitanias
Para juntar capitais,
Quem ganhava com o tráfico
De humanos como animais,
Ganha hoje corrompendo
Nas empresas estatais.
IX
O político que vendia
O voto ao imperador,
Que comprava com banana
O voto do eleitor,
Hoje faz do mesmo jeito,
Deputado e senador.
X
Prefeito, vereador,
Oh terra pra ter ladrão,
O povo pede mudança
Arroz, farinha e feijão,
Por isso para mudar
Nesta próxima eleição,
Não compre nem venda voto,
Abaixo a corrupção!
Miguezim da Princesa
Acabou-se a Monarquia,
Logo após a abolição
Da terrível escravatura,
Mancha maior da Nação,
Foi proclamada a República
Na Praça da Aclamação.
II
Deodoro da Fonseca,
Um marechal nordestino,
Depôs Dom Pedro Segundo,
Que era fidalgo e fino,
E assumiu o poder,
Comandando seu destino.
O vice de Deodoro
Também era alagoano,
Mais enérgico e arrojado,
Já tomou conta do plano,
Logo assumiu o poder
O marechal Floriano.
IV
Por anos foi planejado
O final da Monarquia:
O grupo positivista
Trabalhou de noite e dia,
Conspirando dia e noite
Junto com a Maçonaria.
V
A República se instalou
Repleta de esperança,
Prometendo para o povo
Novo mundo de bonança,
Porém as velhas raposas
Descompensaram a balança.
VI
Quem sempre foi monarquista
Mudou na hora de plano,
Rasgou título de nobreza
(Coisa boa é ser mundano),
Gritando a plenos pulmões:
- Eu sou é republicano!
VII
Quem mamou a vida inteira
Nas tetas da Monarquia
Mamou também na República
E mama ainda hoje em dia,
E o povo do mesmo jeito,
Com a panela vazia.
VIII
Quem tinha capitanias
Para juntar capitais,
Quem ganhava com o tráfico
De humanos como animais,
Ganha hoje corrompendo
Nas empresas estatais.
IX
O político que vendia
O voto ao imperador,
Que comprava com banana
O voto do eleitor,
Hoje faz do mesmo jeito,
Deputado e senador.
X
Prefeito, vereador,
Oh terra pra ter ladrão,
O povo pede mudança
Arroz, farinha e feijão,
Por isso para mudar
Nesta próxima eleição,
Não compre nem venda voto,
Abaixo a corrupção!
Miguezim da Princesa
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