terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Os Governos e o Capital
Os governos sucumbiram ao capital. Toda a ideia de o governo ter a dupla função, de mediação dos interesses dos grupos sociais em prol do bem comum, e de funcionalidade nos serviços para o bem social, foi por terra. Hoje, aumentam as diferenças econômicas entre os grupos sociais, conforme o “World Inequality Report”, onde o rico fica cada vez mais rico, com a compressão das classes médias e das classes trabalhadoras.
Marx, em o “Capital”, dizia que a clivagem fundamental do sistema capitalista está na oposição entre o capital e o trabalho, e que o lucro nas sociedades capitalistas iria continuamente aumentar devido à tendência do reinvestimento do capital disponível em capital fixo, ou tecnológico, ao invés de em capital variável, ou na remuneração do trabalho. E Wright Mills, em “A Elite do Poder”, diz que manda o capital, controla o militar, executa o político, e media o intelectual nas sociedades, aqui entendidos como imprensa e universidades.
Nos Estados Unidos, o cerne da democracia e da economia de mercado, Elon Musk assume, no Governo Trump, como “Ministro da Eficiência Governamental”, embora a suposição de ter descumprido regras de segurança nacional, no possível compartilhamento de segredos de estado em suas atividades empresariais com outros grupos de interesses e nações. Trump, no seu primeiro dia de governo, rompe as regras dos limites e da liberdade idealizadas pelos “Pais da Nação”, com perigosos devaneios de reincorporação do Canal do Panamá, posse da Groenlândia, e o Canadá como o 51º estado, mais como delimitação de espaço dentro da Doutrina Monroe na geopolítica mundial, mas apontador de tendência; retira os Estados Unidos do Acordo de Paris e da OMS; e perdoa a violência generalizada. Tudo em prol do capital. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Na economia, existem hoje cerca de 2.500 bilionários no mundo, segundo o “Billionaire Ambitions Report” do Banco UBS, com a riqueza (assets financeiros e não financeiros) em US$ 12 trilhões; nominalmente equivalente a 12% do total do PIB mundial de US$ 106 trilhões; seis vezes maior do que a riqueza dos 50% da população mundial mais baixos na base da pirâmide. E segundo o “World Inequality Report”, os 1% mais ricos do mundo detém hoje 19% do PIB mundial enquanto os 50% mais baixos detém somente 8,5%; sendo a renda total dos 1% mais ricos 2,3 vezes maior do que a renda total dos 50% mais baixos da população.
Marx, ironicamente, dizia que a diferença entre o escravagismo e o capitalismo é a de que no capitalismo o trabalhador pode escolher na mão de quem ele passará fome. Somos hoje escravos ambulantes do capital, na alienação de pequenas marcas, no consumo de alguns produtos, na cegueira do amanhã. “Pão e circo” é o que não falta, nos gritos nos estádios e na compra de emblemas que nada nos representam e nada nos trazem, além de custos.
Somos hoje pobres mortais, à leva do destino que não mais nos pertence.
Marx, em o “Capital”, dizia que a clivagem fundamental do sistema capitalista está na oposição entre o capital e o trabalho, e que o lucro nas sociedades capitalistas iria continuamente aumentar devido à tendência do reinvestimento do capital disponível em capital fixo, ou tecnológico, ao invés de em capital variável, ou na remuneração do trabalho. E Wright Mills, em “A Elite do Poder”, diz que manda o capital, controla o militar, executa o político, e media o intelectual nas sociedades, aqui entendidos como imprensa e universidades.
Nos Estados Unidos, o cerne da democracia e da economia de mercado, Elon Musk assume, no Governo Trump, como “Ministro da Eficiência Governamental”, embora a suposição de ter descumprido regras de segurança nacional, no possível compartilhamento de segredos de estado em suas atividades empresariais com outros grupos de interesses e nações. Trump, no seu primeiro dia de governo, rompe as regras dos limites e da liberdade idealizadas pelos “Pais da Nação”, com perigosos devaneios de reincorporação do Canal do Panamá, posse da Groenlândia, e o Canadá como o 51º estado, mais como delimitação de espaço dentro da Doutrina Monroe na geopolítica mundial, mas apontador de tendência; retira os Estados Unidos do Acordo de Paris e da OMS; e perdoa a violência generalizada. Tudo em prol do capital. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Na economia, existem hoje cerca de 2.500 bilionários no mundo, segundo o “Billionaire Ambitions Report” do Banco UBS, com a riqueza (assets financeiros e não financeiros) em US$ 12 trilhões; nominalmente equivalente a 12% do total do PIB mundial de US$ 106 trilhões; seis vezes maior do que a riqueza dos 50% da população mundial mais baixos na base da pirâmide. E segundo o “World Inequality Report”, os 1% mais ricos do mundo detém hoje 19% do PIB mundial enquanto os 50% mais baixos detém somente 8,5%; sendo a renda total dos 1% mais ricos 2,3 vezes maior do que a renda total dos 50% mais baixos da população.
Marx, ironicamente, dizia que a diferença entre o escravagismo e o capitalismo é a de que no capitalismo o trabalhador pode escolher na mão de quem ele passará fome. Somos hoje escravos ambulantes do capital, na alienação de pequenas marcas, no consumo de alguns produtos, na cegueira do amanhã. “Pão e circo” é o que não falta, nos gritos nos estádios e na compra de emblemas que nada nos representam e nada nos trazem, além de custos.
Somos hoje pobres mortais, à leva do destino que não mais nos pertence.
Nunca foi tão bom ser um bilionário
As duas cenas ocorreram no mesmo dia. Em Davos, nos Alpes suíços, a organização não governamental Oxfam divulgava aos participantes do Fórum Econômico Mundial seu relatório mostrando que a riqueza dos bilionários cresceu US$ 2 trilhões em 2024 e que o mundo está perdendo a guerra contra a desigualdade. Em Washington, Donald Trump tomava posse como 47.º presidente dos Estados Unidos tendo como convidados em lugar de honra alguns dos homens mais ricos do mundo.
Pode até ser que alguns desses multibilionários apoiem Trump por verem nele capacidade de tornar o mundo melhor para todos. O que interessa a todos eles, porém, é a possibilidade de o apoio ao presidente da maior potência econômica e militar do planeta facilitar seus negócios e torná-los ainda mais ricos. Naquela cena, se alguém estivesse preocupado com desigualdades não estava entre as figuras mais notadas. A depender de algumas das personalidades que terão grande destaque ao longo do governo Trump, por isso, o quadro apresentado pela Oxfam tenderá a piorar para quem não é bilionário.
“Nunca foi um tempo tão bom para ser um bilionário. Suas fortunas dispararam para níveis jamais vistos, enquanto as pessoas que vivem na pobreza em todo o mundo continuam a enfrentar várias crises”, afirma o relatório Às custas de quem: a origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo, que a Oxfam divulgou em Davos. Fundada em 1942 por ativistas ingleses de Oxford para ajudar a população da Grécia ocupada pelos nazistas, a Oxfam é uma organização internacional que tem como objetivo combater a pobreza, a desigualdade e a injustiça. Atua no Brasil desde 1965.
A concentração da riqueza não chega a surpreender, muito menos no Brasil. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estudos baseados nas declarações anuais apresentadas à Receita Federal, mesmo com a subnotificação do rendimento de parte dos mais ricos, vêm mostrando a imensa disparidade de renda entre os brasileiros.
O que surpreende, no mais recente relatório da Oxfam, é a velocidade com que aumenta a riqueza dos muito ricos. Eles ficam cada vez mais ricos e cada vez mais depressa. Sua riqueza aumentou três vezes mais rápido em 2024 do que em 2023. Por isso, agora se espera que haja cinco trilionários em uma década. O primeiro, lembra a Oxfam, foi identificado em 2023. Já o número dos que vivem na pobreza praticamente continua o mesmo desde 1990, por causa das crises econômicas, climáticas e de conflito. Se os Estados Unidos continuarem elegendo um presidente bilionário, apoiado fartamente por outros bilionários, o lugar de destaque na festa de posse talvez tenha de ser aumentado.
Outra conclusão do estudo da Oxfam é a de que a maior parte da riqueza dos bilionários não é conquistada em condições normais de mercado, que em geral premia os mais competentes. Essa riqueza é tomada, pois 60% vem de herança, favoritismo e corrupção ou poder de monopólio. “Nosso mundo extremamente desigual tem uma longa história de dominação colonial que beneficiou amplamente as pessoas mais ricas”, acrescenta.
Desde 1990, de acordo com o Banco Mundial, quase 3,6 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, o que representa 44% da humanidade. Enquanto isso, em uma simetria perversa, o 1% mais rico possui uma proporção quase idêntica, pois detém 45% de toda a riqueza.
Políticas sociais em áreas como educação, saúde, proteção social, direitos trabalhistas e tributação progressiva vêm sendo reduzidas na maioria dos países, o que leva a Oxfam a prever cenários piores no futuro: “Sem ações políticas urgentes para reverter essa tendência preocupante, é quase certo que a desigualdade econômica continuará a aumentar em 90% dos países”.
No Brasil, graças à retomada de programas de transferência de renda desativados ou destroçados no período 2019-2022, a pobreza foi reduzida em 2023, depois de muitos anos de aumento. O Programa Bolsa Família teve papel decisivo nessa mudança. A recuperação do mercado de trabalho também contribuiu para a redução da pobreza no País.
Os indicadores sociais continuam, no entanto, mostrando uma sociedade muito desigual e uma lenta redução das taxas de pobreza, quando não sua estabilidade. Mudar essa tendência implicaria políticas de distribuição de renda mais agudas, o que exige grande concordância política, difícil de ser alcançada.
“Reduzir a desigualdade, como questão abstrata, é algo que boa parte da população é a favor”, lembrou o doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Pedro Ferreira de Souza, em entrevista recente ao jornal Valor Econômico. “Mas, na hora em que começa a mexer em questões específicas, as pessoas começam a gritar porque de fato é preciso impor perdas a determinados grupos. E grupos com muitos recursos. Reformas nesse sentido teriam efeito imediato sobre desigualdade.”
Pode até ser que alguns desses multibilionários apoiem Trump por verem nele capacidade de tornar o mundo melhor para todos. O que interessa a todos eles, porém, é a possibilidade de o apoio ao presidente da maior potência econômica e militar do planeta facilitar seus negócios e torná-los ainda mais ricos. Naquela cena, se alguém estivesse preocupado com desigualdades não estava entre as figuras mais notadas. A depender de algumas das personalidades que terão grande destaque ao longo do governo Trump, por isso, o quadro apresentado pela Oxfam tenderá a piorar para quem não é bilionário.
“Nunca foi um tempo tão bom para ser um bilionário. Suas fortunas dispararam para níveis jamais vistos, enquanto as pessoas que vivem na pobreza em todo o mundo continuam a enfrentar várias crises”, afirma o relatório Às custas de quem: a origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo, que a Oxfam divulgou em Davos. Fundada em 1942 por ativistas ingleses de Oxford para ajudar a população da Grécia ocupada pelos nazistas, a Oxfam é uma organização internacional que tem como objetivo combater a pobreza, a desigualdade e a injustiça. Atua no Brasil desde 1965.
A concentração da riqueza não chega a surpreender, muito menos no Brasil. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estudos baseados nas declarações anuais apresentadas à Receita Federal, mesmo com a subnotificação do rendimento de parte dos mais ricos, vêm mostrando a imensa disparidade de renda entre os brasileiros.
O que surpreende, no mais recente relatório da Oxfam, é a velocidade com que aumenta a riqueza dos muito ricos. Eles ficam cada vez mais ricos e cada vez mais depressa. Sua riqueza aumentou três vezes mais rápido em 2024 do que em 2023. Por isso, agora se espera que haja cinco trilionários em uma década. O primeiro, lembra a Oxfam, foi identificado em 2023. Já o número dos que vivem na pobreza praticamente continua o mesmo desde 1990, por causa das crises econômicas, climáticas e de conflito. Se os Estados Unidos continuarem elegendo um presidente bilionário, apoiado fartamente por outros bilionários, o lugar de destaque na festa de posse talvez tenha de ser aumentado.
Outra conclusão do estudo da Oxfam é a de que a maior parte da riqueza dos bilionários não é conquistada em condições normais de mercado, que em geral premia os mais competentes. Essa riqueza é tomada, pois 60% vem de herança, favoritismo e corrupção ou poder de monopólio. “Nosso mundo extremamente desigual tem uma longa história de dominação colonial que beneficiou amplamente as pessoas mais ricas”, acrescenta.
Desde 1990, de acordo com o Banco Mundial, quase 3,6 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, o que representa 44% da humanidade. Enquanto isso, em uma simetria perversa, o 1% mais rico possui uma proporção quase idêntica, pois detém 45% de toda a riqueza.
Políticas sociais em áreas como educação, saúde, proteção social, direitos trabalhistas e tributação progressiva vêm sendo reduzidas na maioria dos países, o que leva a Oxfam a prever cenários piores no futuro: “Sem ações políticas urgentes para reverter essa tendência preocupante, é quase certo que a desigualdade econômica continuará a aumentar em 90% dos países”.
No Brasil, graças à retomada de programas de transferência de renda desativados ou destroçados no período 2019-2022, a pobreza foi reduzida em 2023, depois de muitos anos de aumento. O Programa Bolsa Família teve papel decisivo nessa mudança. A recuperação do mercado de trabalho também contribuiu para a redução da pobreza no País.
Os indicadores sociais continuam, no entanto, mostrando uma sociedade muito desigual e uma lenta redução das taxas de pobreza, quando não sua estabilidade. Mudar essa tendência implicaria políticas de distribuição de renda mais agudas, o que exige grande concordância política, difícil de ser alcançada.
“Reduzir a desigualdade, como questão abstrata, é algo que boa parte da população é a favor”, lembrou o doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Pedro Ferreira de Souza, em entrevista recente ao jornal Valor Econômico. “Mas, na hora em que começa a mexer em questões específicas, as pessoas começam a gritar porque de fato é preciso impor perdas a determinados grupos. E grupos com muitos recursos. Reformas nesse sentido teriam efeito imediato sobre desigualdade.”
Ocupados e sem consciência
Se o trabalho e lazer estão prestes a ser subordinados a este princípio utópico - ocupação absoluta - então a utopia e melancolia irão coincidir: nascerá uma era sem conflito, perpetuamente ocupada - e sem consciência.
Günter Grass
Com a inteligência artificial o conhecimento e a ignorância aumentam
Casos de longevidade são casos de curiosidade. Falo do que conheço. Gente com 80, 90, cem anos? Não foi apenas a dieta, o jogging ou a medicina que prolongaram a vida. Foi a curiosidade: a ambição constante de saberem um pouco mais do que sabiam no dia anterior. Se isso é válido para os meus conhecidos, é válido para Henry Kissinger, morto aos cem, que continuou pensando, escrevendo e publicando até o fim. Um tema, em particular, ocupou os neurônios do cavalheiro na fase crepuscular: a inteligência artificial.
Nas palavras do seu biógrafo, o historiador Niall Ferguson, faz sentido: se o poder destrutivo das armas nucleares ocupou grande parte da sua vida, era inevitável que os desafios da inteligência artificial também aparecessem no radar. O resultado dessa curiosidade pode ser lido no seu último livro, "Genesis", que escreveu em coautoria com Craig Mundie e Eric Schmidt.
É a existência humana que está em causa, argumentam eles. Não apenas no sentido mais básico da expressão. Há dimensões dessa existência que podem mudar de forma mais sutil. A história da humanidade é a história do seu desenvolvimento tecnológico, de como a espécie saiu da caverna, inventou a agricultura, criou cidades, melhorou os transportes, combateu doenças, pisou a Lua.
Mas, em todas essas etapas, o conhecimento andou de mãos dadas com o entendimento. Os humanos eram, ao mesmo tempo, criadores e beneficiários de uma tecnologia que dominavam.
Não com a inteligência artificial. Nosso conhecimento, em todas as áreas, será aumentado exponencialmente. Mas isso se dará por processos que não entendemos. Teremos informação sem explicação.
Como argumentam os autores, viveremos um futuro que será muito semelhante a um tempo pré-científico e pré-moderno, em que os seres humanos aceitavam uma autoridade inexplicável. Qual o problema? Ninguém falou em problema. Repito: os avanços serão exponenciais. Mas quem pensa que a perda de estatuto intelectual dos humanos face às máquinas é um mero detalhe está enganado.
Tradicionalmente, só Deus estava acima dos humanos. Mas, aqui na Terra, os humanos estavam acima de todas as restantes espécies. Essa hierarquia vai acabar no século 21. Seremos destronados como modelos de inteligência. Estaremos preparados para o fim da nossa singularidade? Para o fim do nosso narcisismo? O mesmo em termos políticos. Não é preciso pintar cenários de catástrofe para esse mundo dominado pela inteligência artificial. As coisas podem ser mais sutis.
Durante milênios, as nossas sociedades foram sendo organizadas por princípios ou instituições que variaram menos do que imaginamos. Não interessa se falamos de democracias ou autocracias. Nossos regimes políticos seriam reconhecíveis por um grego do século 5º a.C.
Como seriam reconhecíveis os vícios e as virtudes dos nossos governantes. O que existe neles de racional ou irracional, pragmático ou irascível, louvável ou abominável. Um grego antigo, fascinado pela ideia platônica de rei-filósofo, saberia reconhecer que as nossas sociedades, tal como a dele, não conseguiram realizar esse ideal. Por quê?
Porque somos limitados. Não conseguimos processar toda informação que existe; não conhecemos as leis da natureza humana; não temos a sabedoria necessária para fazer as escolhas mais sábias. Como lembrava o príncipe da Dinamarca, temos tanto de nobreza como de pó.
A promessa da inteligência artificial é a promessa de um rei-filósofo, uma entidade capaz de fornecer respostas perfeitas, suprindo as paixões humanas. Qual é o problema? Mais uma vez, ninguém falou em problema. Mas como negar que existem dimensões da nossa existência que podem ser tão importantes ou até mais importantes do que esse utilitarismo digital? "Amo a justiça, mas amo também a minha mãe", dizia Camus sobre a luta pela libertação da Argélia e seus métodos mais radicais.
Como lembram os autores, conservar a nossa humanidade perante a contingência pode ser a única forma de conservamos também o nosso livre-arbítrio. De não sermos, enfim, meros escravos de um algoritmo. Nas obras sobre a inteligência artificial, normalmente encontramos dois extremos: um otimismo delirante e um pessimismo delirante, sem espaço para as questões fundamentais.
"Genesis" é um livro raro porque prefere as perguntas às respostas. Questiona se no futuro seremos nós a alinhar-nos às máquinas —uma simbiose neuronal, como defendem os transumanistas— ou se devem ser elas a alinharem-se aos nossos melhores valores humanos. Isso implica saber que valores são esses e quem somos nós. A vida será longa para quem procurar essas respostas.
Uma das ciladas mortais do jornalismo
Esta é uma cilada do jornalismo: ouvir todos os lados. Na verdade, não é uma cilada ouvir todos os lados. É uma cilada ouvir todos os lados e publicar as versões mais diferentes de um mesmo fato. Como se a simples transferência de versões fosse capaz de esclarecer ou de permitir aos leitores formarem sua própria opinião.
É obrigação do jornalista ir fundo na investigação de determinados episódios. E oferecer aos leitores a versão que a ele, jornalista, pareça a mais próxima da verdade. A que pareça mais verossímil. Os jornais e os sites estão repletos de versões que se contradizem. E os leitores, como ficam? Confusos. Não sabem em qual acreditar.
Jornalista aprende nos bancos escolares que lhe cabe relatar a verdade. Não cabe. Porque não existe verdade absoluta. Ela será sempre relativa. Cabe ao jornalista eleger a verdade com a maior honestidade possível e oferecê-la ao público. Se escolher mal, perderá credibilidade. E a credibilidade é seu único patrimônio.
Gasta-se muito tempo para adquirir credibilidade. Perde-se em pouco.
Ricardo Noblat
É obrigação do jornalista ir fundo na investigação de determinados episódios. E oferecer aos leitores a versão que a ele, jornalista, pareça a mais próxima da verdade. A que pareça mais verossímil. Os jornais e os sites estão repletos de versões que se contradizem. E os leitores, como ficam? Confusos. Não sabem em qual acreditar.
Jornalista aprende nos bancos escolares que lhe cabe relatar a verdade. Não cabe. Porque não existe verdade absoluta. Ela será sempre relativa. Cabe ao jornalista eleger a verdade com a maior honestidade possível e oferecê-la ao público. Se escolher mal, perderá credibilidade. E a credibilidade é seu único patrimônio.
Gasta-se muito tempo para adquirir credibilidade. Perde-se em pouco.
Ricardo Noblat
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