quinta-feira, 18 de julho de 2019
Por sorte não é o Carlos
Dois pontos chamam a atenção na entrevista. Primeiro, desde quando a nomeação de seu filho representaria um anseio da nação, ou mesmo um benefício para o país? A indicação, sob todos os pontos já analisados por juristas, diplomatas, políticos e jornalistas, representa um retrocesso para a diplomacia nacional. Mais do que isso, significa prejuízo até mesmo para o governo de Bolsonaro. Porque enfraquece o seu clã internamente, como observou o guru Olavo de Carvalho, e porque bajulação e inexperiência não fazem de ninguém um bom embaixador.
O outro ponto curioso da entrevista foi o fato de o presidente ter dito “de minha parte está definido”. Ora, de que outra parte depende a nomeação? O único com poder de indicar ministros e embaixadores no Brasil é o presidente. Talvez Bolsonaro tenha tentado dizer que ainda aguarda consultas que aliados poderiam estar fazendo no Senado e no Supremo sobre sua viabilidade política e jurídica. Mas pelo que se viu até aqui, só Bolsonaro fez uma consulta. Foi ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que se recusou a julgar a indicação, dizendo apenas como ela tramitaria na casa.
O líder do governo no Senado, Major Olímpio (PSL-SP), que também parece não ter ouvido ninguém, disse que a Comissão de Relações Exteriores do Senado “vai analisar a indicação tecnicamente”. Se fosse isso mesmo, o problema estaria resolvido. Zero Três não seria aprovado. Eduardo Bolsonaro, como se sabe, não é qualificado para a função. Seu nome cairia já na comissão, antes mesmo de ir para o plenário.
O presidente ainda não se deu conta da gravidade do momento que está vivendo, e chegou a fazer graça com a questão mais bizarra do episódio. Como se não fosse coisa saída da cabeça de Eduardo, disse que a polêmica do hambúrguer era tolice, até porque sabe fritá-lo melhor do que o filho. “Vai ver por isso eu sou presidente”, disse Bolsonaro, rindo. O filho havia afirmado sentir-se apto para o cargo porque morou nos EUA, fala inglês, conhece a hospitalidade do americano, é amigo dos filhos de Trump e chegou a fritar hambúrguer no estado do Maine.
O fato é que Bolsonaro já perdeu, não importa qual seja o desfecho do episódio. Se Eduardo for indicado pelo pai, aprovado pelo Senado e pelo Supremo, o deputado vira embaixador, vai embora e enfraquece o bloco monolítico familiar que ajuda a sustentar emocionalmente o presidente. Se for indicado e acabar caindo no Senado ou no Supremo, seu pai terá sofrido a mais dura derrota desde a posse, já que o rejeitado será, para lá da questão política, seu filho. Se o presidente recuar e acabar não fazendo a indicação, terá mostrado fraqueza diante de um ambiente político hostil que não teve coragem de enfrentar. E, ainda pior, terá um filho melindrado. Por sorte não é o Carlos.
Fundão eleitoral de R$ 3, 7 bilhões: é preciso?
A ideia é usar até R$ 3,7 bilhões do orçamento público nas campanhas eleitorais do ano que vem. É o valor que consta no parecer do deputado Cacá Leão, relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso. “Não acho que é um exagero”, sinalizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
“Orçamento público” é uma palavra elegante que significa o seguinte: dinheiro drenado do bolso do contribuinte para o caixa dos partidos políticos. Alguns dirão que não é nada. Se dividirmos pelo número de eleitores, dá R$ 25 por cabeça. O valor é pouco mais de 10% do que gastamos, todos os anos, com o Bolsa Família. Quem se preocupa com isso?
Uma boa sociedade democrática deveria se preocupar. Cada real retirado da conta do cidadão é um pequeno ato de violência. Qualquer despesa aprovada em Brasília deveria ser precedida dessa pergunta: é de fato crucial sacar mais R$ 25 ou R$ 50 do bolso de cada um?
No debate sobre o financiamento público de campanhas, não é apenas o montante do dinheiro público que importa, mas o impacto que ele gera sobre a qualidade da democracia. É melhor continuar despejando (ainda mais) dinheiro público nas eleições ou migrar para um modelo em que os partidos assumam a responsabilidade e busquem o apoio direto dos cidadãos?
Sejamos claros: não há modelo ideal de financiamento eleitoral. O melhor é ver a questão pelo ângulo inverso: qual o modelo menos imperfeito? Aquele que mais ajuda ou o que mais prejudica, de verdade, a equidade nas eleições?
Acho curioso quando gente boa repete acriticamente a ideia de que o fundão eleitoral gera maior equidade eleitoral. Nas eleições do ano passado, pouco mais de um terço do valor foi drenado para os cofres do MDB, PT e PSDB. Parlamentares com mandato, que em regra controlam as máquinas partidárias, capturaram para si o maior quinhão. É isto que acontecerá no ano que vem, se seguirmos com este modelo. Prefeitos e vereadores com mandato concentrarão os recursos. Eles já dispõem do gabinete, poder de alocar recursos e acesso à mídia. Não é fácil entender de que maneira concentrar ainda mais dinheiro nas suas mãos pode favorecer a equidade nas eleições.
É evidente que o sistema de financiamento individual produzirá desigualdade entre os candidatos. A pergunta é: ela será maior do que a atualmente gerada pelo financiamento estatal? Teremos, como em 2018, um candidato com mais de R$ 50 milhões e outro com menos de R$ 2 milhões, sendo ambos competitivos? A resposta parece evidente, mesmo porque o volume de recursos em jogo será muito menor.
A experiência de 2018 igualmente pôs abaixo o mantra de que “no Brasil, as campanhas são caras”. Cansei de escutar, em debates país afora, que “a democracia custa caro” e que “na Europa é assim que funciona”. São frases deslocadas no tempo. A tecnologia digital vem produzindo uma revolução no mundo eleitoral: ela reduz brutalmente os custos de campanha, por um lado, e por outro cria mecanismos acessíveis a todos para mobilização de recursos.
Haverá menos dinheiro, de qualquer modo, nas campanhas? Sem dúvida. Menos estrutura, menos sofisticação, menos cabos eleitorais. Mais trabalho voluntário e contato direto com os eleitores. Ruim para a democracia? Não creio. O importante, em uma eleição, não é ter mais recursos, mas regras iguais para todos.
Alguns dirão que é mais difícil. De fato. Fácil é aprovar R$ 3,7 bilhões no Congresso e distribuir. Não precisa nem fazer lobby e não parece haver muita gente de fato preocupada com o assunto.
De minha parte, me preocupo. Não passa de cinismo usar o argumento dos mais fracos para justificar uma montanha de dinheiro público para nossa elite partidária. É um pouco como a retórica que escutamos no debate da reforma da Previdência, em que a defesa da “igualdade”, ao final do dia, resultou em um pacote de aposentadorias especiais para as corporações de sempre.
Confesso não ter lá muita esperança, mas quem sabe o país possa dar um pequeno grande passo para reaproximar o mundo político do bom senso, evitando que o vasto mar de distorções eleitorais a que assistimos em 2018 se repita, melancolicamente, nas eleições do ano que vem.Fernando Schüler
“Orçamento público” é uma palavra elegante que significa o seguinte: dinheiro drenado do bolso do contribuinte para o caixa dos partidos políticos. Alguns dirão que não é nada. Se dividirmos pelo número de eleitores, dá R$ 25 por cabeça. O valor é pouco mais de 10% do que gastamos, todos os anos, com o Bolsa Família. Quem se preocupa com isso?
Uma boa sociedade democrática deveria se preocupar. Cada real retirado da conta do cidadão é um pequeno ato de violência. Qualquer despesa aprovada em Brasília deveria ser precedida dessa pergunta: é de fato crucial sacar mais R$ 25 ou R$ 50 do bolso de cada um?
No debate sobre o financiamento público de campanhas, não é apenas o montante do dinheiro público que importa, mas o impacto que ele gera sobre a qualidade da democracia. É melhor continuar despejando (ainda mais) dinheiro público nas eleições ou migrar para um modelo em que os partidos assumam a responsabilidade e busquem o apoio direto dos cidadãos?
Sejamos claros: não há modelo ideal de financiamento eleitoral. O melhor é ver a questão pelo ângulo inverso: qual o modelo menos imperfeito? Aquele que mais ajuda ou o que mais prejudica, de verdade, a equidade nas eleições?
Acho curioso quando gente boa repete acriticamente a ideia de que o fundão eleitoral gera maior equidade eleitoral. Nas eleições do ano passado, pouco mais de um terço do valor foi drenado para os cofres do MDB, PT e PSDB. Parlamentares com mandato, que em regra controlam as máquinas partidárias, capturaram para si o maior quinhão. É isto que acontecerá no ano que vem, se seguirmos com este modelo. Prefeitos e vereadores com mandato concentrarão os recursos. Eles já dispõem do gabinete, poder de alocar recursos e acesso à mídia. Não é fácil entender de que maneira concentrar ainda mais dinheiro nas suas mãos pode favorecer a equidade nas eleições.
É evidente que o sistema de financiamento individual produzirá desigualdade entre os candidatos. A pergunta é: ela será maior do que a atualmente gerada pelo financiamento estatal? Teremos, como em 2018, um candidato com mais de R$ 50 milhões e outro com menos de R$ 2 milhões, sendo ambos competitivos? A resposta parece evidente, mesmo porque o volume de recursos em jogo será muito menor.
A experiência de 2018 igualmente pôs abaixo o mantra de que “no Brasil, as campanhas são caras”. Cansei de escutar, em debates país afora, que “a democracia custa caro” e que “na Europa é assim que funciona”. São frases deslocadas no tempo. A tecnologia digital vem produzindo uma revolução no mundo eleitoral: ela reduz brutalmente os custos de campanha, por um lado, e por outro cria mecanismos acessíveis a todos para mobilização de recursos.
Haverá menos dinheiro, de qualquer modo, nas campanhas? Sem dúvida. Menos estrutura, menos sofisticação, menos cabos eleitorais. Mais trabalho voluntário e contato direto com os eleitores. Ruim para a democracia? Não creio. O importante, em uma eleição, não é ter mais recursos, mas regras iguais para todos.
Alguns dirão que é mais difícil. De fato. Fácil é aprovar R$ 3,7 bilhões no Congresso e distribuir. Não precisa nem fazer lobby e não parece haver muita gente de fato preocupada com o assunto.
De minha parte, me preocupo. Não passa de cinismo usar o argumento dos mais fracos para justificar uma montanha de dinheiro público para nossa elite partidária. É um pouco como a retórica que escutamos no debate da reforma da Previdência, em que a defesa da “igualdade”, ao final do dia, resultou em um pacote de aposentadorias especiais para as corporações de sempre.
Confesso não ter lá muita esperança, mas quem sabe o país possa dar um pequeno grande passo para reaproximar o mundo político do bom senso, evitando que o vasto mar de distorções eleitorais a que assistimos em 2018 se repita, melancolicamente, nas eleições do ano que vem.Fernando Schüler
Pátria mal amada
Dalagnol já fala na LavaJato no passado. Toffoli detona o país são, alia-se ao doente e perdoa o crime organizado p/ livrar Flávio “Rachid” mas Jair acha pouco. Vai enfiar o fritador d hambúrguer na goela do Senado em plena tourada com governadores e prefeitos. Êita país mal amado!!Fernão Lara Mesquita
Países não pertencem a presidentes
Ao se empenhar em colocar o filho Eduardo como embaixador do Brasil em Washington, o presidente Jair Bolsonaro decidiu ignorar um dos mais antigos princípios nas relações entre Estados. É o princípio segundo o qual países não têm amigos, têm interesses.
Pode-se discutir as qualificações do indicado ou a falta delas para o exercício do cargo, a idade ou o fato de ser filho do chefe de Estado, mas não é o que mais importa. Relevante é algo que o presidente brasileiro destacou ao justificar a escolha:
Eduardo tem acesso direto à família do colega americano Donald Trump.
Em outras palavras, relevante para a indicação é a proximidade com uma família entendida como amiga. Quaisquer que sejam esses laços, a noção de que negócios de Estado poderiam ser melhor resolvidos na base do entendimento pessoal expressa desprezo por fundamentos básicos de relações internacionais – além de pouco apreço pelo “staff” profissional das respectivas diplomacias, característica comum a Bolsonaro e Trump.
A “química pessoal” funciona menos do que se pensa. Tome-se o exemplo recente do ditador da Coreia do Norte – por quem Trump “caiu de amores”, segundo disse, mas o baixinho que Trump ridicularizava continua sentado nas suas bombas atômicas. Ou considere-se a postura de Vladimir Putin, por quem Trump expressou sincera admiração pessoal – a mais nova versão de um czar russo peita os EUA onde pode, e está se articulando com a grande rival americana, a China (onde uma espécie de líder vitalício pensa em sistemas e não em pessoas).
As relações pessoais entre mandatários do Brasil e dos Estados Unidos já sofreram grandes oscilações. Ernesto Geisel detestava Jimmy Carter, Fernando Henrique e Bill Clinton viraram amigos pessoais, Lula não foi muito com a cara de Obama, mas, à luz da história, o que explica melhor os períodos de maior ou menor convergência dos interesses de ambos os países são fatores políticos bastante abrangentes. São a chave para compreender a razão de o Brasil não ter tido nesse último meio século um duradouro “alinhamento automático” com a política externa de Washington nem uma duradoura “oposição sistêmica”.
É para lá de óbvio que nem tudo que agrada ao amigo Trump interessa ao Brasil. Para ficar com apenas um exemplo, Trump adora a imagem que cultiva de dirigente dedicado a frear a China (nesse ponto, além da questão pessoal, existe uma rara coincidência de postura com os adversários democratas americanos). Para o Brasil, seria um pesadelo ter de escolher lado neste momento na briga dos elefantes.
É seguro supor que Brasil e Estados Unidos vão redescobrir convergências em campos como Defesa e Segurança Hemisférica. O Brasil está fadado a ter de lidar com a crise da Venezuela, não importa o que pense Trump. E obrigado a modernizar-se por meio do acesso que conseguir a setores de tecnologias sensitivas – preparando-se para enfrentar resistências (tradicionais, aliás, não importa quem é amigo de quem) em Washington.
O mesmo jogo complexo de interesses contrários e divergências vai prosseguir no campo do comércio bilateral e mundial, no qual americanos e brasileiros são, simultaneamente, parceiros e competidores, dependendo do setor e do momento, e no qual o protecionismo a la Trump, e seu desprezo pelas regras multilaterais, passa longe do que possa beneficiar o Brasil. São temas que dificilmente amigos conseguem decidir entre si, por mais sincera que seja a amizade.
As imagens de líderes mundiais se encontrando, seus cumprimentos, abraços ou caretas e suas poses para as câmeras confundem. Tomado no seu conjunto, o campo das relações internacionais é, por definição, o campo da impessoalidade. Os Estados Unidos não são de Trump, nem o Brasil é de Bolsonaro.
William Waack
Sigilo para roubar?
Isso tudo acabou. Continuamos prezando as liberdades e direitos da pessoa humana, mas não cabem mais aí as normas que permitem – falando francamente – esconder dinheiro e riqueza.
No Brasil, a primeira tributação sobre a renda é de 1843, mas se aplicava apenas aos rendimentos recebidos de cofres públicos. O Imposto de Renda é de 1922 e a regulamentação da declaração – bem menos ampla do que hoje – é de 1924.
Mas foi apenas em 1964 que se criou o Cadastro Geral de Contribuintes (o atual CNPJ). O CPF surgiu dois anos depois.
Até bem pouco tempo, portanto, era fácil sonegar impostos. E comum. Todos se lembram das perguntas: vai ser com nota? Com recibo? Por dentro? Qual valor se coloca na escritura?
Essa moleza acabou por diversas razões, a começar pela necessidade de financiar um Estado com cada vez mais responsabilidades e, pois, mais gastos. E, mais recentemente, para combater a corrupção, o tráfico de drogas, o terrorismo e a lavagem de dinheiro – os sofisticados métodos de esconder recursos obtidos ilegalmente.
O instrumento também é recente: os meios eletrônicos que permitem o acompanhamento e o rastreamento instantâneo das operações financeiras.
No Brasil, é tudo ainda mais recente. Desde o mensalão apanha-se alguma coisa aqui outra ali, mas o combate sistemático à lavagem de dinheiro é obra da Lava Jato. A operação tem apenas cinco anos. E nada menos que 285 condenações, penas de 3.100 anos de prisão e R$ 13 bilhões recuperados somente em acordos de colaboração.
Tudo isso só foi possível com a atuação organizada de diversos órgãos, a começar pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Coaf, criado em moldes internacionais. O Coaf detecta as tais movimentações “atípicas” – e só pode fazer isso rastreando as operações financeiras das pessoas.
Detectada a operação, a investigação exige o trabalho conjunto e orquestrado de Polícia Federal, Receita Federal e Banco Central, este podendo capturar informações no sistema bancário. O comando é do Ministério Público, que apresenta a denúncia na Justiça, quando for o caso, claro. Nenhuma operação da Lava Jato foi feita sem o consentimento da Justiça. Ninguém foi condenado sem o amplo direito de defesa.
Tudo considerado, o ambiente hoje, no Brasil e no mundo civilizado, é assim. Ou tem que ser assim: quem roubar dinheiro público, quem sonegar ou ganhar ilegalmente, vai acabar apanhado. Quem tocar sua vida financeira corretamente não tem nada a temer.
Claro que autoridades inescrupulosas podem tentar abusar de sua autoridade para perseguir pessoas. E há como apanhar isso. É o outro lado da moeda que mais conhecemos: autoridades igualmente inescrupulosas protegendo e, pior, participando de negócios ilícitos. O rigor no acompanhamento das atividades financeiras é para este último lado.
E, francamente, as pessoas de bem não estão nem aí para o sigilo. Contam tudo para seu banco, para sua operadora de cartão de crédito, para a Receita Federal. Até postam nas redes.
Mas não esqueçamos: a Lava Jato apanhou o maior escândalo corporativo do mundo. Está sendo atacada não por seus excessos, mas pelo seu sucesso.
Tá doido?
O senador Marcelo Castro (MDB-PI) fez a frase do ano: "Código penal é para bandido, não para político".
Disse isso para explicar porque é contra a criminalização do caixa dois.
Ir para a cadeia por causa disso? “Tá doido?” – exclamou.
Ironia
O presidente Bolsonaro se elegeu na onda anticorrupção. Consolidou isso levando Moro para o Ministério da Justiça.
É uma ironia que a decisão de Dias Toffoli, suspendendo investigações de lavagem de dinheiro, tenha sido tomada em benefício de Flavio Bolsonaro. Mais que uma ironia.
O buraco é grande
Vocês estão vivendo um novo tipo de ditadura. As instituições estão preservadas, mas se manipulam tanto por poderes econômicos, quanto por poderes ideológicos. O Brasil, nesse momento, perdeu a influência da Igreja Católica que foi muito tradicional durante muito tempo na História, mas ganhou algo muito pior que são as igrejas evangélicas, para quem claramente não importa a ciência e a educação, porque quanto mais educadas e informadas estejam as pessoas, mais capacidade terão de resistir à doutrinação. O mesmo acontece com o presidente (Bolsonaro) e com o regime que está instalando. Não se pode fazer uma ditadura antiga, que se imponha com o exército, mas uma ditadura Orwelliana, de ocupar as mentes. Isso se faz acusando de corrupção qualquer tipo de oposição. Como a corrupção está em toda parte, então persegue-se apenas a corrupção de políticos e personalidades que se oponham ao regime. Esse tipo de ditadura só pode funcionar com um povo cada vez menos educado e mais submetido à manipulação ideológica
Manuel Castells, um dos principais teóricos da comunicação e autor de livros como “A Sociedade em Rede” e “Galáxia da Internet”
'Inguinorãnças' e despautérios
A indignação precisa de espaço, precisa de ar. É preciso silêncio entre um grito e outro, até para que os gritos possam ser ouvidos. Grito em cima de grito gera uma cacofonia insuportável, à qual ninguém consegue prestar atenção, e onde nada mais se escuta.
Acabamos todos exaustos, sonhando com a Suíça e com ilhas desertas, onde nada acontece.
Jair Bolsonaro supera as expectativas.
Não é à toa que a oposição está tão perdida. Numa entrevista à “Folha de S.Paulo”, o deputado Alessandro Molon reconheceu o problema: “Temos um governo caótico. Muita gente diz que isso torna a vida da oposição mais fácil, nem precisaríamos fazer oposição porque o governo mesmo se faz oposição. (....) Um governo caótico apresenta dois desafios a mais para a oposição: primeiro, que a cada momento se fala de uma coisa diferente, e você não consegue ter método. Você está discutindo Previdência e tem que discutir filho embaixador. Você está tratando de propostas para gerar emprego e renda e o presidente propõe mudar o número de pinos da tomada”.
Eu me solidarizo com o seu sentimento, deputado. Muita gente também diz que um governo caótico facilita a vida dos colunistas, mas é desatino demais para espaço de menos.
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Ofensiva para o Itamaraty, para quem escolheu Relações Internacionais como profissão, para quem sabe o que é Diplomacia e tem noção do que significa uma embaixada no exterior, especialmente uma dessa importância; e, de forma mais ampla, ofensiva para os norte-americanos, por quem traduz menosprezo, e ofensiva para nós, brasileiros, que acabamos levando mais um carimbo de república bananeira na testa.
O que me espanta no episódio não é o nepotismo; com isso já estamos acostumados, e de longa data. Curiosamente, filhos de presidentes e de autoridades brasileiras em geral costumam ser super, multitalentosos, verdadeiros “jênios”, aptos a qualquer tarefa.
Dessa vez, o que surpreende é a dimensão da ignorância, a profundidade da estupidez.
A gente imaginaria que 30 anos pelos corredores de Brasília ensinariam alguma coisa, mesmo a um deputado ocioso do Baixo Clero; pois taí no que dá superestimar Brasília e subestimar o Baixo Clero.
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Com tantas enormidades acontecendo, a esquerda prefere promover o auto-da-fé da deputada Tábata Amaral, que cometeu o crime de pensar fora da caixa ideológica.
Já vimos esse filme com Marina Silva — e estamos vivendo as suas consequências até hoje.
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Toda a minha solidariedade a Miriam Leitão e Sergio Abranches, calados pela intolerância de uns e pela covardia de outros.
Presidente lava as mãos
O Brasil está de cabeça para baixo (ou ponta cabeça, como dizem os paulistas). Tem um presidente que mal iniciou seu mandato e já está em campanha para reeleição, sem ter resolvido nenhum dos graves problemas do país. É como se a resolução dos problemas não fosse da responsabilidade dele. Ou seja, o regime “laisser faire” (“deixa rolar”, o mercado resolve…) de Adam Smith, multiplicado à “n” potência. Que Deus proteja os brasileiros, é só o que podemos dizerCarlos Newton
Nomear filho para embaixada seria impensável na Europa
Também seu terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, se considera qualificado: "Sou presidente da Comissão de Relações Exteriores [da Câmara], tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos."
A embaixada do Brasil em Washington foi até agora ocupada por diplomatas de ponta, com longa experiência. O fato de Bolsonaro querer entregá-lo ao advogado formado e político de profissão lembra práticas de regimes como o da Arábia Saudita ou do Uzbequistão, apontam analistas. Em sociedades modernas, a iniciativa causa estranheza.
"Um presidente confiar a seu filho uma função importante – e o Brasil não tem nenhum embaixador mais importante do que o de Washington – seria impensável num Estado europeu. Aqui, não se falaria de uma relação especial de lealdade e confiança, mas sim de falta de transparência e nepotismo", analisa o cientista político Thomas Jäger, da Universidade de Colônia.
Também seu colega Alexander Schmotz, da Universidade Humboldt, em Berlim, considera a indicação "estranha". E o mais problemático, afirma ele à DW, nem é o suposto nepotismo, ou seja, o beneficiar-se do cargo do pai de forma pessoal e lucrativa.
"O que chama a atenção é que conhecemos um procedimento desses antes em autocracias. O motivo por que isso ocorre com tanta frequência em não democracias, contudo, não é a multiplicação da fortuna familiar, mas o fato de os líderes autocráticos serem – e terem que ser – naturalmente desconfiados." Assim, laços familiares são uma certa garantia prévia de confiança.
Em vídeo, Eduardo Bolsonaro apresentou, como parte de sua expertise, a proximidade ao presidente americano, Donald Trump. O caso atual lembra, aliás, a atual presidência dos EUA, em que o genro Jared Kushner é nomeado mediador para o Oriente Médio.
"Com Donald Trump, a questão é a afirmação da marca política 'Trump'. Por isso, leva sua filha Ivanka para conferências internacionais e tenta possibilitar-lhe um perfil político. Pois ele vê nela – não ria – a primeira mulher presidente dos EUA", explica Jäger.
Segundo Schmotz, um "negócio familiar" como esse não é bom para a reputação da democracia americana. "Tais nomeações não contribuem para que se veja a atual administração como competente e eficiente. Elas são também muito reveladoras da noção de democracia do presidente em exercício, e do que é apropriado ou não é."
Deixando a expertise de lado, no Brasil há uma tradição especial de empregar os parentes. Até o momento, contudo, o Itamaraty era uma exceção, orgulhando-se da excelente formação de seus diplomatas. E a embaixada em Washington era sua figura de proa.
"Acho [a possível nomeação] um absurdo", comentou à DW o senador Angelo Coronel (PSD-BA), "pois é uma das embaixadas mais importantes que o Brasil tem. E colocar uma pessoa que não tem know-how e experiência, que, como ele mesmo disse, só fritou hambúrguer nos Estados Unidos e é amigo da família Trump, é um desprestígio ao Itamaraty." Coronel espera que o presidente desista da nomeação: "Juridicamente, não acredito que haja nepotismo. Não é ilegal, mas passa a ser amoral."
No momento, oscilam no Brasil as opiniões sobre se a nomeação seria lícita. A Controladoria-Geral da União e a Advocacia-Geral da União estão elaborando pareceres a respeito, mas a aprovação parece certa. Por sua vez, na semana anterior, o juiz Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), já classificara a indicação como nepotismo.
Uma nomeação de Eduardo Bolsonaro levantaria questões também no âmbito internacional. Pois em 2018 o deputado foi designado pelo mentor populista Steve Bannon como representante do movimento nacionalista de direita Alt Right na América do Sul.
"Essa nomeação não acalmará o ceticismo, frequentemente expressado na Europa, quanto à evolução da democracia no Brasil", sentencia o cientista político Thomas Jäger. "Ela se encaixa na avaliação de que os procedimentos democráticos só são cumpridos no papel, mas não no espírito, e assim a legitimidade democrática do governo vai sendo gradualmente esvaziada."
Causa de apreensão na Europa é igualmente a aparente proximidade entre as famílias Trump e Bolsonaro. "Quanto mais perto dos Estados Unidos trumpistas, mais longe da Europa: esse é o cerne da avaliação. Por isso, do ponto de vista europeu, o fortalecimento do eixo Brasília-Washington é desfavorável."
Espera-se que o Brasil não siga cegamente a política de Trump, como na política climática. "Certo, porém, é que na Europa considera-se que tanto a democracia americana quanto a brasileira estão em perigo", enfatiza Jäger.
Também Alexander Schmotz preocupa-se com a democracia brasileira. "O Brasil conta entre os países que vivenciaram uma sub-reptícia erosão das instituições e normas democráticas – nos estudos democráticos, nos referimos a democratic backsliding [recaída democrática]. Mas a nomeação do embaixador em Washington representa um papel subordinado. Ela se encaixa no quadro, mas vai ter poucas consequências."
Fala sério, presidente
Já a onda de piadas e memes surgiu logo depois que Eduardo apresentou publicamente suas credenciais, destacando o fato de já ter fritado hambúrguer no frio do Maine. A habilidade culinária exibida como atributo diplomático caiu logo nas redes sociais.
Se é assim, se isso é importante, começou então a gozação, e surgiram candidatos ao cargo para diversas capitais. Um escolheu Paris alegando já ter feito sanduíche de baguete.
O escritor Marcelo Rubens Paiva reivindicou a embaixada de Londres porque já tinha feito café na cafeteira de um hotel daquela cidade. O rapper Marcelo D2 revelou que pretendia o posto de Lisboa por já ter fritado ovo em Portugal. O estilista Ronaldo Fraga, por já ter desfilado no Japão, se achava no direito de querer Tóquio.
Uma campanha inesperada foi a de #Gretchen Embaixadora. Embora não se revele se ela é capaz de cozinhar numa frigideira ou numa chapa, garantese que fala inglês e mantém boas relações com os americanos.
Mas os primeiros postulantes à embaixada de Washington foram dois jornalistas. Aproveitando o bem-humorado programa “Em pauta”, da Globonews, os correspondentes Jorge Pontual e Guga Chacra apresentaram suas credenciais.
Eles não são amigos do filho de Trump e nunca usaram o desempenho na cozinha para arranjar emprego, mas conhecem o país como se tivessem nascido lá e falam inglês com a correção que os Bolsonaros —o pai e os filhos —não têm em português. “Por que não eu?”, perguntou Pontual, como se fosse pra valer.
Diante da avalanche de críticas, Bolsonaro saiu-se com essa pérola, inacreditável: “Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada”.
Fala sério, presidente.
O futuro do agronegócio depende da preservação do meio ambiente no Brasil
Agrônomos, biólogos e entidades como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) alertam que a destruição da vegetação nativa e as mudanças climáticas têm grande potencial para prejudicar diretamente o agronegócio no Brasil, porque afetam diversos fatores ambientais de grande influência sobre a atividade agrícola.
O principal deles é o regime de distribuição das chuvas, essenciais para nossa produção – apenas 10% das lavouras brasileiras são irrigadas. Com o desmatamento e o aumento das temperaturas, serão afetados umidade, qualidade do solo, polinizadores, pragas.
A BBC News Brasil ouviu pesquisadores do agronegócio e nomes ligados ao setor para entender como esses riscos gerados pela destruição do ambiente devem afetar a produtividade das plantações brasileiras e mesmo se safras se tornarão inviáveis.
Eles dizem as notícias sobre o setor ambiental no Brasil não são animadoras: se o ritmo de desmatamento na Amazônia continuar como está, atingiremos em pouco tempo um nível de devastação sem volta. Junho foi o mês com mais desmatamento na Amazônia, 920,4 km², desde o início do monitoramento com sistema de alerta pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 2015. Foi um aumento de 88% em relação ao mesmo mês no ano passado.
Ao mesmo tempo, as pressões e cobranças internacionais chamam atenção para a agenda ambiental do governo Bolsonaro, que tem flexibilizado a legislação ambiental e diminuído a fiscalização.]
Atualmente, o agronegócio é responsável por 21,6% do PIB brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura.
Preocupados com questões como logística, estrutura e desafios comerciais como o vaivém das commodities no mercado internacional, a questão da sustentabilidade acaba não sendo prioridade para o setor como um todo.
"A questão da sustentabilidade, no sentido amplo, é uma preocupação. Mas em primeiro lugar vêm a estrutura e a logística e as questões comerciais", afirma o agrônomo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura (2003-2006) e coordenador da área de agro da Fundação Getúlio Vargas.
No entanto, os riscos gerados pela devastação ambiental na agricultura são uma ameaça muito mais iminente do que se imagina, segundo o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa.
Alguns estudos, como um feito por pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais e Viçosa, projetam perdas de produtividade causadas por desmatamento e mudanças climáticas para os próximos 30 anos. Outros não trabalham com tempo, mas com nível de devastação, como o estudo Efeitos do Desmatamento Tropical no Clima e na Agricultura, das cientistas americanas Deborah Lawrence e Karen Vandecar, que afirma que quando o desmatamento na Amazônia atingir 40% do território (atualmente ele está em 20%), a redução das chuvas será sentida a mais de 3,2 mil km de distância, na bacia do Rio da Prata.
Para Assad, que também é professor da FGV Agro e membro do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, os efeitos da destruição do ambiente e das mudanças climáticas já começam a ser sentidos.
Ele cita, por exemplo, o relatório da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) que mostra a perda de mais de 16 milhões de toneladas na safra de soja deste ano devido a seca que atingiu as principais regiões produtoras desde dezembro. "Já há evidências de que as mudanças climáticas aumentaram o número de eventos extremos, como secas e ondas e calor", afirma Assad.
Há duas ameaças principais, segundo Lawrence e Vandecar. A primeira é o aquecimento global, que acontece em escala global e que é intensificado pelo desmatamento. A outra são os riscos adicionais criados pela devastação das florestas, que geram impactos imediatos na quantidade de chuva e temperatura, tanto em nível local quanto continental.
Guedes libera o paliativo e retarda o estrutural
Jair Bolsonaro antecipou nesta quarta-feira o afago que o ministro Paulo Guedes e sua equipe econômica farão nesta semana nos bolsos dos brasileiros que convivem com a sobra de mês no fim do salário. Será liberado o saque de um pedaço do FGTS. Coisa estimada entre R$ 30 bilhões e R$ 42 bilhões. Serão reabertas também as torneiras do PIS-Pasep. Há algo como R$ 21 bilhões disponíveis, mas cogita-se liberar cifra inferior. São providências bem-vindas. Mas não passam de paliativos. Falta levar à vitrine um lote qualquer de ajustes estruturais.
Não há originalidade no método. Michel Temer já havia devolvido aos verdadeiros donos parte do dinheiro arrancado dos trabalhadores e mantido sob a guarda do Estado em poupança compulsória, que paga rendimentos menores do que os obtidos em outras aplicações. A diferença é que Temer havia liberado apenas contas inativas do FGTS. Como o tacho foi raspado, Bolsonaro terá de soltar parte das contas ativas, além de parte do que sobrou do PIS/Pasep.
Despejado sobre uma conjuntura de estagnação econômica, parte do dinheiro vai para o pagamento de dívidas. Espera-se que outro naco vá para o consumo. Coisa suficiente para produzir o que os economistas chamam pejorativamente de "voo de galinha". Exatamente como aconteceu sob Temer.
O movimento mais perene, com potencial para religar as caldeiras da economia, depende de outro tipo de providência. Que Paulo Guedes, inexplicavelmente, retarda. Alegava-se que era necessário esperar pelo avanço da reforma da Previdência. A despeito do governo, a mexida previdenciária avançou na Câmara. Está na bica de chegar ao Senado. E nada.
Vendeu-se a ilusão de que a mudança na Previdência, uma espécie de sorvo de gigante que retirará de circulação entre R$ 800 bilhões e R$ 900 bilhões em dez anos, traria de volta os empregos. É hora de falar sério. A redução do déficit previdenciário é apenas parte da solução. Atenua o risco de insolvência do Estado e ajuda a restabelecer a confiança de investidores. Mas há muito por fazer.
Difícil entender por que a pasta da Economia demora a expor sua proposta de reforma tributária, seu programa de concessões, seu roteiro de privatizações, seu modelo de reformulação do serviço público... Diz-se que o forno de Paulo Guedes está prestes a ser aberto. Mas o atraso é gritante. O ritmo do ministro não combina com a pressa dos 13 milhões de brasileiros desempregados. Esse pedaço da população, sem carteira assinada, não tem acesso nem ao paliativo do FGTS.
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