sábado, 28 de março de 2020

Pandemia leva a guerra estúpida entre 'arautos da vida' e 'campeões da economia'

A vida ou a economia? Sob o bafo do negacionismo oscilante de Trump e do plágio rústico tentado por Bolsonaro, uma disjuntiva sem sentido contaminou o debate público.

Economia é vida: inexiste a alternativa de proteger a saúde pública às custas do desligamento indefinido da produção e do consumo. O humanismo com vista para o mar é tão nocivo quanto o negacionismo que nasce do desprezo pela ciência.

Além de indivíduos com espessos colchões financeiros, há profissionais de empresas que adotaram o home office, empregados de setores que seguem funcionando, funcionários públicos estáveis.

Desses estratos brotam torrentes incontroláveis de humanismo. Vidas não têm preço, valem qualquer sacrifício do vil metal, explicam-nos os que não sacrificarão seus empregos ou meios de sobrevivência. Mas, apesar deles, economia é vida.

O desligamento extensivo ameaça provocar uma depressão econômica mais funda que qualquer outra na história. Isso mata, em massa.

No mundo, centenas de milhões seriam transferidos da pobreza à miséria, caindo como moscas sob as moléstias causadas pela subnutrição.



Um patamar acima, entre a baixa classe média, a desesperança lançaria milhões ao túnel escuro da bebida e dos opioides, a epidemia social que reduziu a expectativa de vida no Meio-Oeste americano. “A cura não pode ser pior que a doença” —a frase de Trump é tão óbvia quanto incontestável, ainda que se origine de motivações abjetas.

Bolsonaro perdeu: não é “uma gripezinha”. A estratégia do confinamento destina-se a criar um parênteses para o reforço do sistema de saúde, a identificação de clusters de transmissão do vírus e o isolamento dos infectados.

Mas ela tem nítidos limites temporais —e precisará ser flexibilizada bem antes do declínio da pandemia. A transição à etapa seguinte exige a mudança do clima sociopolítico, conflagrado pela guerra estúpida travada entre os “arautos da vida” e os “campeões da economia”.

O luxo do humanismo gratuito não é para os que ganham hoje a comida e o aluguel de amanhã. O intervalo do confinamento desaba como avalanche sobre os mais pobres.

Drauzio Varella implora pela distribuição imediata de cestas básicas. Isso é vital —mas insuficiente. Todos os que dependem do setor de comércio e serviços enfrentam uma catástrofe. Na inevitável recessão causada pela pandemia, os negócios e empregos destruídos agora não serão restaurados tão cedo. Armínio Fraga clama por um vasto programa de empréstimos subsidiados. Isso é indispensável —mas, ainda, muito pouco.

As medidas econômicas anunciadas pelo governo implicam perdas colossais de emprego e renda, que se distribuem de modo perversamente desigual, descarregando a conta nas costas dos mais fracos.

A equação cínica que as orienta tem duas partes incongruentes. A primeira, expressa pela ordem sanitária de fechamento do comércio e serviços, suspende as regras da economia de mercado. A segunda, expressa pelas novas linhas de crédito, baseia-se precisamente nessas regras. É hora de exigir coerência: a conta precisa chegar às varandas abertas para o mar.

Economia de emergência nacional, no lugar de economia de mercado, significa: 1) garantir o salário mínimo aos trabalhadores informais; 2) proibir legalmente demissões durante a emergência, que perdurará além do isolamento; 3) assegurar a sobrevivência dos pequenos e médios negócios fechados compulsoriamente por meio de empréstimos garantidos pelo Tesouro, de longo prazo e a juros negativos.

O governo não inventa dinheiro. O estouro da dívida pública seria pago com inflação ou austeridade extrema —isto é, pelos pobres. A alternativa encontra-se num imposto emergencial sobre grandes fortunas, bancos e elevados patrimônios financeiros, além da redução temporária de altos salários do funcionalismo público. Humanismo, ok, mas sem vista para o mar.

Sem controle

Como expressar o desalento de ter na presidência da República, especialmente num momento de grave crise como esse, uma pessoa capaz de dizer essa frase em público:“Alguns vão morrer? Vão morrer, ué, lamento. Essa é a vida, é a realidade. Nós não podemos parar a fábrica de automóveis porque tem 60 mil mortes no trânsito por ano, está certo?”.

Há certas coisas que se pode pensar, mas nosso superego impede que digamos em voz alta devido a um processo civilizatório a que somos submetidos no convívio social, como já ensinou Freud. Mas Bolsonaro, como já ficou provado em outras ocasiões, não tem superego.


A comparação com os automóveis parece ser uma fixação desse governo, e a falta de empatia, permanente. No início do mandato, quando se discutia a liberação da posse de armas pelos cidadãos, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, também usou a comparação de automóveis com as armas.

Mais limitado, o também ministro Ônix Lorenzoni comparou os revólveres com os liquidificadores. O objetivo era o mesmo de hoje do presidente Bolsonaro, relativizar as eventuais mortes ocasionadas pelas decisões governamentais. Embora estudos mostrem que a liberação das armas para os cidadãos provoca mais mortes do que proteção, desta vez é mais grave, pois há um conjunto de evidências científicas, como o estudo divulgado pelo Imperial College of London, que demonstra que a diferença entre o isolamento social rigoroso e uma estratégia mais branda de proteção seletiva sobre os idosos e os doentes pode significar até 1 milhão de vidas perdidas a mais em pouquíssimo tempo no caso do Brasil.

Há uma ressalva fundamental no nosso caso: o estudo foi feito com base no que está ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos, e não leva em conta a existência de favelas, a falta de abastecimento de água ou saneamento, e outras mazelas com que as populações mais carentes convivem.

Os estudos do Imperial College of London foram responsáveis pela mudança de atitude do governo de Boris Johnson, que tentou uma abordagem menos drástica da crise do Covid-19 imaginando que a população ganharia anticorpos para combater o novo vírus, e teve que desistir devido ao aumento exponencial de casos de contaminação e mortes.

Temos também o caso que já se tornou clássico da Itália, - e dentro dela de Milão, - que tentou minimizar os efeitos da pandemia e acabou se tornando o epicentro de uma tragédia humanitária. Como já temos esses exemplos, a posição do presidente brasileiro torna-se ainda mais inaceitável.

De nada nos servirá que ele venha dentro de um mês se desculpar (se é que é capaz disso) como fez o prefeito de Milão, que ontem, diante da catástrofe que se abateu sobre seus cidadãos, admitiu publicamente que desprezou os perigos da Covid-19.

Mais grave é que o grau de irresponsabilidade é tamanho que o governo brasileiro é capaz de encomendar e distribuir pelos canais das redes sociais vídeos defendendo que o país não pode parar, mesmo slogan publicitário de Milão, e, diante da repulsa que geraram nos cidadãos de bem, alegar que não foram aprovados pela Secretaria de Comunicação, e, portanto, não são oficiais.

Para quem tem dentro do Palácio do Planalto um chamado “gabinete do ódio”, que opera nas sombras para disseminar boatos e fake News, esta não é uma postura surpreendente. O que é preciso definir, de acordo com as instituições que zelam pela democracia brasileira, como o sistema Judiciário, e o Congresso, é qual o limite que o hoje presidente brasileiro pode ir até que seja bloqueado pelas armas da democracia.

Bolsonaro já nem mesmo se dá ao trabalho de tentar disfarçar seus objetivos. Perguntado pelo apresentador José Luis Datena se estaria disposto a dar um golpe, em vez de negar peremptoriamente, Bolsonaro respondeu: “Quem quer dar um golpe não vai falar que vai dar”.

Como sempre, sem superego.

Brasil da sábia ignorância


O meu avô é um criminoso

Bem, o meu não, o dos meus netos… não é que já tenha netos, mas acho que daqui a uns 30 anos talvez, quem sabe?

Então, por causa desta crise do vírus, que estou certo será um daqueles episódios transformais da sociedade global, assim como o foi o 11 de Setembro de 2001, tenho estado a imaginar o que essa hipotética neta escreveria numa composição sobre o potencial avô, que sentiu essa transformação já em meia idade adiantada.


Ainda não sei como as coisas se vão transformar, mas de certo que há hábitos que vão mudar. Continuaremos a nos cumprimentar com um aperto de mão? Continuaremos a juntar-nos massivamente para presenciar eventos de desporto, teatro ou música?

Suponho, por absurdo, que por ventura essa futura neta pensaria algo assim:

O meu avô é um criminoso

Eu gosto muito do meu avô (sou um otimista), mas tem coisas nele que são muito estranhas.

O meu avô quando vem tomar conta de nós tem a mania de nos levar à rua. O estranho é que não precisamos de lá ir fazer nada, ele chama-lhe passear, mas eu achava que isso era algo que só se fazia com os cães. Os meus pais não gostam nada disso. E estão sempre a brigar com ele, e dizem que é muito perigoso. Por causa das doenças que se apanham em todo o lado.

O meu avô não usa protetores de olhos, boca e nariz quando sai à rua, e a minha mãe diz que é um irresponsável. Vá lá que pelo menos apanha as vacinas todas, todos os anos, mas o meu pai tem que o avisar sempre.

O mais estranho do meu avô é que sempre que chega lá a casa agarra o meu pai e aperta-o com os braços e o coitado do meu pai fica todo esmagado. Além disso tem a mania de apertar as mãos às pessoas, o que deixa toda a gente nervosa. Não sei por que faz isso, mas o meu pai diz que temos que ter paciência, porque ele é velho e isso eram coisas que as pessoas faziam antigamente. Lavamos logo todos as mãos.

Mas o mais estranho de tudo, e acho que um dia vai ser preso pela Polícia de Saúde Pública, é que o meu avô a nós, põe a boca na nossa cabeça e faz um som tipo “chuac” com os lábios. Primeiro pensava que isso era algo que os adultos só faziam em privado, mas o meu pai disse que antigamente, e quando ele era pequeno, podia fazer-se a toda a hora mesmo em público. Mas eu sempre ouvi dizer que era proibido, o que faz dele um criminoso.

Uma vez o meu avô contou–me que às vezes junta-se com muitos amigos para verem jogos de futebol todos juntos enquanto bebem cerveja – não percebo porque precisam de se juntar tantos, se cada um pode ver no seu ecrã pessoal, além disso pediu-me para guardar segredo para não serem apanhados.

Espero que não o ponham na cadeia, porque apesar de tudo é um velhinho simpático.”

O futuro é o que coletivamente fizermos dele, espero que se mantenha uma saudável dose de bom senso.

Solidariedade é o verdadeiro antídoto para o coronavírus

É uma pergunta para a qual não há resposta. Eu, pelo menos, não tenho nenhuma. Alguns acham que têm. A questão em torno da qual atualmente se desenrola um debate que mete medo é: o que vale mais para nós? Proteger a saúde de todos ou proteger a economia de uma crise devastadora?

Faz décadas eu eu escrevo sobre o impacto econômico de crises de todos os tipos. Após os ataques de 11 de Setembro, após a falência do banco Lehman Brothers. Eu presenciei até mesmo o colapso completo de um sistema, em 1989, na antiga Alemanha Oriental. E agora esse vírus invisível, imperceptível, ainda desconhecido.

Esse desconhecimento é o que o torna tão perigoso, que nos deixa tão assustados, que nos faz suportar proibições de contato social e de circulação, restrição da liberdade de movimento, paralisação da vida econômica e pública. São imagens apocalípticas.

Aprendemos a lidar com cifras ainda maiores do que nos tempos da crise financeira global. O pacote de ajuda dos EUA é de 2 trilhões de dólares, o Banco Central Europeu (BCE) está disponibilizando 750 bilhões de euros de resgate; o governo alemão, 600 bilhões de euros.

Tais pacotes estão sendo preparados em todo o mundo. E, é claro, muitos se perguntam: quem vai acabar pagando a conta? Vai acontecer o mesmo que aconteceu após a crise financeira, da qual muitos países saíram completamente endividados?

Aí, a ordem passou a ser economizar, especialmente nos benefícios estatais, na saúde, na educação e também nos investimentos públicos. Existem estudos sérios realizados por médicos britânicos que afirmam que a crise financeira entre 2008 e 2010 resultou em mais de 500 mil mortes adicionais apenas por câncer porque os pacientes não receberam o tratamento médico necessário devido a medidas de austeridade ou pelo desemprego (e a subsequente perda de cobertura do seguro de saúde).


Agora, de novo, as coisas são postas na balança. Quantos mortos queremos e quanto podemos nos permitir? A pergunta também pode ser feita de outra maneira: quanto vale uma vida humana para nós? Podemos mesmo fazer esse tipo de conta, como fez o analista financeiro Alexander Dibelius (gestor de private equity, ex-chefe da Goldman Sachs na Alemanha), que perguntou: é correto salvar os 10% da população particularmente ameaçados pelo coronavírus, enquanto o restante, incluindo toda a economia, é extremamente prejudicado, com a possível consequência de que a base da nossa riqueza fique para sempre corroída?

Dá pra ser mais frio do que isso? Mais calculista? E isso que ele estudou medicina. E o juramento de Hipócrates? São necessárias imagens ainda mais contundentes do que aquelas que nos chegam da Itália? Onde os médicos são confrontados com a decisão desumana de quem tratar e quem deixar morrer.

Impedir o colapso dos sistemas de saúde é o objetivo central do atual isolamento social e da paralisação da vida pública. Pois se essas mesmas condições prevalecerem em outros países, muitos outros pacientes também irão morrer, por exemplo os que deram entrada com um ataque cardíaco agudo ou um AVC. Meros danos colaterais, para o Dr. Dibelius. Também as mais de um milhão de mortes nos EUA, projetadas pelo Imperial College de Londres? E mais uma pergunta para o Dr. Dibelius: o senhor leu sobre os estudantes de medicina que tiveram de embalar os mortos em sacos e removê-los em Mühlhausen, na França?

Claro que a paralisação econômica é um enorme problema. Para o bar da esquina, que mal conseguia sobreviver. Para a diretora que viu todas as suas apresentações do próximo meio ano serem canceladas. Para as agências de eventos, para os serviços de catering. A lista é interminável. Ou para as empresas realmente grandes: a Lufthansa, que está com quase toda a frota em terra porque voar simplesmente não é um bom negócio no momento.

A Volkswagen, que queria festejar o lançamento do seu novo carro elétrico em meados do ano, parou as linhas de produção. Tudo cancelado. Mas também isso deixa clara a dimensão da crise. Claro que as fábricas da VW e de muitas outras empresas foram fechadas porque a saúde dos funcionários é prioridade. Mas, por outro lado, se ninguém está mesmo comprando carros, a produção iria parar no depósito.

E assim o vírus entra em nossos sistemas, em nossas sociedades, corta nossas liberdades, leva-nos a uma perda de controle, estremece nossa crença de que temos uma solução para todos os problemas. E nos traz a grande recessão.

Mesmo assim, não é hora de fazer triagem nem de confinar idosos (a propósito, jovens também morrem pelo coronavírus) para que a economia volte a crescer. Os cientistas estão cientes dos danos sociais e econômicos causados pelas medidas atuais. Mais tarde serão necessários ajustes na economia.

Não, temos que respirar fundo e seguir em frente com a paralisação, proteger a plantinha da solidariedade que brotou durante a crise no meio de uma sociedade profundamente egoísta. Esse é o verdadeiro antídoto para o coronavírus.

Quanto à economia, vamos conseguir pô-la novamente nos trilhos. Disso eu tenho certeza.

Bolsonaro poderá provar o gosto da ruptura agora

Quando setembro chegar e as mudanças sociais e culturais decorrentes da pandemia já tiverem se tornado realidade, haverá consequências políticas, como a possibilidade de um governo desamparado pela sociedade

Esta epidemia da covid-19 terá consequências socialmente duradouras, como já aconteceu em várias sociedades em outras situações de pânico e em situações de guerra. Nesses momentos, insuficiências, fragilidades e limites de uma sociedade ficam expostos e motivam o despertar do lado crítico da consciência social.

Reinterpretações até radicais substituem a passividade do senso comum. Emerge a possibilidade de transformações sociais necessárias à correção dos problemas de organização da sociedade revelados pelas ocorrências inesperadas.

Pandemias são expressões, também, da fragilidade social e da limitada durabilidade das estruturas sociais. Se elas não se renovam na vida cotidiana, se a sociedade não se reproduz, o vazio expõe os carecimentos radicais que promovem a revolução das inovações sociais profundas que possa resolvê-los.


Nossa sociedade ainda não se deu conta da extensão das mudanças sociais que decorrerão da pandemia, tanto na enfermidade quanto nas fantasias que alcançarão a mentalidade popular e as normas sociais com elas relacionadas. São as racionalizações para explicar o inexplicável, tentativas de senso comum para adivinhar causas e fatores das ocorrências e reagir a eles.

Tardiamente descobriremos, em comparação com países prósperos alcançados pela pandemia, que a cópia de modelo econômico aqui implantada em 1964 permitiu à economia brasileira produzir lucros de Primeiro Mundo graças à remuneração do trabalho de Terceiro Mundo. Relativizaram-se os direitos sociais, o que vem sendo completado no governo de Jair Messias.

Implantou-se no país um capitalismo imprevidente e sem horizontes. O empresariado não é inocente nesse equívoco lucrativo, mas anticapitalista. Não foi capaz de construir um capitalismo que, para sê-lo, não pode ser imprevidente, não pode desconhecer o direito de todos a uma quota-parte dos frutos do trabalho social.

As justificativas geopolíticas alegadas, na campanha dos candidatos vencedores da eleição de 2018, poderá revelar-se, ao fim da pandemia, a geopolítica da morte, do descarte daqueles que não tiveram acesso à UTI, nem a tratamento, nem à recompensa dos cuidados, na adversidade, por uma vida de trabalho na produção da riqueza social. O peneiramento definirá a consciência política da crise.

A pandemia nos dirá o que somos porque anulará a eficácia das máscaras sociais de que a sociedade moderna carece para parecer o que não é, para legitimar-se, desde que nelas acreditemos. A covid-19 as derreterá. Nossa inautenticidade de sobrevivência será corroída pelo vírus invisível. O próprio rei já está nu.

Uma das várias consequências de desastres como este é a de anular a relevância das certezas, mesmo de muitas certezas científicas. São desastres que anulam o sentido de normas e valores sociais, das referências da conduta costumeira.

A primeira tendência é a da desagregação da ordem social, o que, em decorrência, pode desagregar a ordem econômica e a própria ordem política. É pouquíssimo provável que a sociedade contemporânea, como a conhecemos, sobreviverá ao poder destrutivo do vírus.
De vários modos, a sociedade já será outra daqui a seis meses.

Nesse meio tempo, terá ela inventado novas regras sociais, novos hábitos, redefinirá prioridades. Relativizará referências que nos regulam há, pelo menos, três gerações. O que valia ainda no outro dia já terá deixado de valer. O modo de vida de classe média a que estamos acostumados, nessas horas, já estará reformulado.

A raiva de classe média que sustentou a irresistível ascensão de Jair Messias ao poder terá sido derrotada pelos sentimentos comunitários que estão renascendo intensamente sobre as cinzas da sociedade que renunciou aos seus deveres na eleição de outubro.

Quando setembro chegar e as mudanças sociais e culturais decorrentes da pandemia já tiverem se tornado realidade, haverá consequências políticas. No limite, a maior poderá ser a de que teremos um governo desamparado pela sociedade.

A sociedade de setembro de 2020 já não será a sociedade de outubro de 2018. Seus valores de referência serão outros; seus sentimentos, outros; suas crenças, outras. O governo estará lá atrás e a sociedade lá na frente. Isso valerá tanto para o presidente da República quanto para senadores, deputados federais, governadores e deputados estaduais.

Sob outro tipo de catástrofe, algo parecido já havia derrubado o petismo. O escândalo do mensalão corroeu a base moral do PT e do sistema partidário. Apesar das reeleições, tanto de Lula em 2006, quanto de Dilma, a sociedade já se distanciara dela, o que se evidenciou nos movimentos de rua de 2013. Bolsonaro também poderá provar o gosto da ruptura agora.
José de Souza Martins

'Líder ineficaz'

Os governos que têm anunciado medidas mais drásticas estão sendo recompensados com amplo apoio público. Bolsonaro, por outro lado, insiste em subestimar a gravidade e detona os governadores que vêm adotando ações mais fortes. Isso pode lhe custar um preço muito alto do ponto de vista da opinião pública. O único político eleito que rivaliza com Bolsonaro em ineficácia é o presidente do México, Andrés Obrador, que continua percorrendo o país e fazendo campanha. Comparado com os dois, Donald Trump até parece Winston Churchill. 
É importante dizer que o lockdown é fundamental para salvar a economia a longo prazo 
Ian Bremmer, presidente e fundador da consultoria Eurasia, que em março de 2016 classificou o impeachment de Dilma Rousseff como “provável”

Mergulho no esgoto

Enquanto o resto do mundo faz um esforço de guerra contra o coronavírus, o Planalto quer derrotar a epidemia sem fazer nada. Depois de atacar a política de isolamento social, Jair Bolsonaro disse que a responsabilidade de enfrentar a doença não é do governo. “O brasileiro tem que entender que quem vai salvar a vida dele é ele, pô!”, afirmou ontem, na porta do Alvorada.

Na contramão da comunidade científica, o presidente sustenta que o país deveria relaxar as medidas de distanciamento e confinar apenas a população idosa, mais vulnerável ao vírus. É uma tese furada, contestada por todos os especialistas sérios. Países que retardaram a quarentena obrigatória, como a Itália, produziram milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Além disso, não há como separar todos os idosos de seus parentes. Em boa parte dos lares brasileiros, famílias inteiras dividem um único cômodo, em condições precárias de moradia e saneamento.

Pronunciamento Oficial | Humor Político – Rir pra não chorar

Diante da omissão presidencial, parlamentares e governadores tentam assumir tarefas que caberiam ao Planalto. Os estados montaram uma frente para negociar diretamente com os ministros da Economia e da Saúde, sem passar por Bolsonaro. A Câmara aprovou o “coronavoucher” de R$ 600 para ajudar pessoas de baixa renda. Pelos planos de Paulo Guedes, o valor da ajuda seria de apenas R$ 200.

Nem diante da pandemia o governo disfarça seu desprezo pelos mais pobres. Neste mês, o Ministério da Cidadania cortou 158 mil benefícios do Bolsa Família, a maioria no Nordeste. A medida foi suspensa na segunda-feira por decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal.

No despejo in natura de ontem, Bolsonaro voltou a chafurdar na lama da demofobia e da ignorância. “O brasileiro precisa ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele”, afirmou.

Nos últimos cinco anos, o SUS gastou mais de R$ 1 bilhão para tratar doenças causadas pela falta de saneamento básico. Só em 2017, o problema motivou cerca de 260 mil internações nos hospitais.

Pensamento do Dia


Um presidente sem ternura

Permitam-me começar com um desabafo. Todo mundo teve e está com medo, se emocionou, se solidarizou, mostrou compaixão para com os mortos e infectados, milhares estão em trabalhos voluntários. Só uma pessoa ignorou tudo. Não se abalou, não compartilhou a agonia dos brasileiros. Não mostrou um pingo de ternura para com este povo. Eis o que ele é, um homem sem ternura. Sem ela como amar seu povo e salvá-lo?

Iniciemos.

Encontro minha mulher vindo do quarto.

“Que tal? Tomamos o café juntos?”

“Será um prazer. Afinal o último juntos foi ontem.”

“Tanto tempo assim? O que vai fazer hoje?”

“Irei ao escritório, depois me sentarei na sala de visitas para montar uma lista de pedidos online ao supermercado.”

A sala de visitas é a mesma sala de estar é a mesma sala de almoço e janta, como se diz em Araraquara. Mas em cada momento cada um escolhe um lugar para ficar, assim temos a sensação de que a casa é grande.

“Já lavou as mãos?”

“Com sabonete e álcool-gel.”

“Pois eu penso em ir para o escritório e resolver um problema bobinho de um projeto.”

O escritório é o mesmo dos dois. Era o meu, há anos trabalho em casa, e ela trouxe do escritório a mesa, o computador, suas tralhas e trabalha aqui na minha frente. Há um pacto de silêncio entre nós. Um não fala para não atrapalhar o outro. Tenho de me conter, porque às vezes leio alto minhas frases, procuro palavras, sinônimos e antônimos, analogias, tentando ouvir o som. Ela faz psiuuu, calo-me.

Levanto-me.

“Onde vai?”

“Ao banheiro.”

Saio, não vou ao banheiro, vou à janela olhar a rua. Mania de cronista, olhar. Não reconheço a cidade silenciosa. Sumiram buzinas, escapamentos, sirenes, gritos. Ontem percebi, aqui do décimo terceiro andar (não somos supersticiosos), que lá embaixo havia um homem encostado no poste, olhando para cima. O que queria? Olhava para minha janela? Estava a me observar? (Paranoia do fantasma do Planalto, esse Nero que nos desgoverna.) Várias vezes durante a noite, olhei. Ele lá. A me vigiar?

Agora de manhã, passei pela janela, dei uma espiada, ele desaparecera. Doideira minha! O que eu via à noite era o cesto de lixo grudado ao poste e a sombra que ele fazia na calçada. E, olhem, estou confinado há apenas sete dias. E gostando, é nova vida. Passo pelo escritório:

“Vou para o quarto.”

Ela sorri.

“Está hoje com bicho-carpinteiro? Não fica sossegado. Toda hora vai a algum lugar.”

No caminho, mudo de ideia, caminho para a cozinha. Será melhor avisá-la? De repente, me procura no quarto, não estou, fica preocupada. “Onde será que ele foi?” E aí começa a ligar para nossa filha, para a irmã, os amigos. Talvez até para a polícia. Apanho o celular:

“Estou na cozinha. Quer alguma coisa?”.

“Quero sim, um copo de suco.”

Levo, sento-me ao computador, continuo a escrever, penso que talvez saia uma ficção, passada em uma cidade vazia. Ela se ergue.

“Vou dar uma voltinha para espairecer a cabeça, não consigo coordenar o projeto.”

Vai para a saleta onde há parte da videoteca, é nosso home theater minúsculo, íntimo. Pega o livro. Ela lê Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, de 1868, vejam só, que voltou às livrarias neste 2020. Literatura é assim, imponderável. Você some, reaparece, é esquecido, restaurado. O gato Tom dorme no sofá, o rabo se move inquieto. Gatos sonham?

Volto à janela. De cada lado do prédio se vê uma paisagem diferente. Ruas desertas. Penso naquelas cidades fantasmas do oeste americano, com arbustos secos rolando pela poeira. Passa um motoboy levando na garupa enorme baú. Medicamentos? Bebidas? Máscaras? Vontade de pedir pastel de feira! Será que uma noite dessas bateremos caçarolas para esses entregadores que arriscam suas vidas?

Memes de todos os lados, mensagens, vídeos, áudios, piadas, nunca o País teve tantos humoristas, este nosso lado nos salva e nos derruba. Um apelido novo corre. Eduardo, o filho do fantasma do Planalto, agora virou Eduardo Bananinha. Coisa do Mourão, o general. Viraliza. Vou para um terracinho e continuo a olhar a rua. Caminhões de concreto chegam para a obra em frente, um barulho infernal, uma poeirinha que vem e se deposita nos móveis, nos vidros. O vírus virá numa dessas minúsculas partículas? Em um raio de sol? Num algoritmo obscuro. Enrolo-me em conjeturas. O sol está agradável. Volto ao escritório. Minha mulher resolveu o problema, está feliz. Súbito, estremeço. Olhem o acaso. Ou a coincidência. O que seja. Arrumei as estantes e descobri um clássico, Viagem Ao Redor do Meu Quarto, de Xavier de Maistre, de 1872. Li na biblioteca pública de Araraquara na juventude, depois comprei em um sebo e tenho carregado comigo. Como permaneceu até hoje? E agora é realidade.

Minha mulher prepara um Gim-tônica, faço um Cuba-libre com rum Havana Club, pura nostalgia.

Não de Cuba, da adolescência.

“Depois do almoço, o que faremos?”

“Um noticiariozinho, um filme, Netflix, Now, sei lá.”

“Você não parou hoje. Foi a todos os lugares. O que há?”

“Nada, gosto de dar minhas voltas, ir aos lugares. Agora mesmo vou dar uma saidinha.”

“Outra? Onde vai?”

“Ao lavabo, ainda não estive lá hoje.”

“Está bem, mas não demore. Tome cuidado e lave bem as mãos. Com álcool em gel.”

E se gostarmos desse novo ritmo de vida?

É o 'eleito'

O mundo inteiro está errado e só o presidente Bolsonaro está certo?
João Doria, governador de São Paulo

Crime de irresponsabilidade

Reportagem de Catia Seabra e Júlia Barbon mostrou que, no Rio de Janeiro, organizações criminosas estão impondo toque de recolher em favelas para restringir a disseminação da Covid-19. Quando até traficantes atuam com mais responsabilidade do que o presidente da República, é sinal de que já passa da hora de nos livrarmos do inquilino do Alvorada. A questão é como.

O remédio constitucional para a nossa patologia é o impeachment. Seria complicado, porém, utilizá-lo agora. O processo de afastamento de um presidente demanda tempo e drenaria as energias de um Congresso que, no momento, tem assuntos mais urgentes para tratar, notadamente a aprovação de medidas econômicas de emergência para atenuar os efeitos da crise, que serão dramáticos.


A alternativa pragmática é isolar politicamente o presidente. Ele continuaria proferindo desatinos, enquanto prefeitos, governadores e até ministros da ala racional fariam o que precisa ser feito. No plano jurídico, mesmo que esteja disposto ao enfrentamento, Bolsonaro não tem autoridade para revogar determinações de autoridades municipais e estaduais relativas ao funcionamento de comércio, escolas, transporte local etc.

Não vejo muito como sair dessa tentativa de fazer o "by-pass" da Presidência, mas é preciso deixar claro que o arranjo é subótimo. Para começar, ainda há muitas pessoas que confiam em Bolsonaro, e elas podem ser levadas a agir irresponsavelmente devido às declarações estapafúrdias do titular do Planalto.

Ainda mais crucialmente, o momento exige muita coordenação, para que as cadeias de produção e distribuição de suprimentos essenciais não sejam interrompidas. Seria muito menos difícil acertar os ponteiros se pudéssemos contar com uma autoridade central comprometida com um plano de enfrentamento da crise coerente e informado pela ciência. Infelizmente, nós não temos nada remotamente parecido com isso.

'Pula no esgoto e nada acontece' : mais de 300 mil internações ao ano por falta de saneamento

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) contrariam a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o brasileiro seria resistente a infecções, já que "pula no esgoto e nada acontece".

Em 2016, houve 166,8 internações hospitalares por 100 mil habitantes no Brasil devido a doenças relacionadas à falta de saneamento.

Considerando uma população de 207,7 milhões à época, foram 346,5 mil internações hospitalares por doenças causadas por "saneamento ambiental inadequado".

Entre as doenças que levaram à internação estão diarreias, cólera, hepatite A e leptospirose (causada pela exposição à urina de animais, principalmente ratos).

Os dados de 2016 são os últimos disponibilizados pelo órgão e sinalizam uma queda no número de internações ao longo dos anos.

Em 2010, foram 309,1 internações por 100 mil habitantes, ou cerca de 610 mil internações no total, considerando a população de 197 milhões à época.
Na quinta-feira, Bolsonaro disse que o brasileiro "tem que ser estudado", pois pula "no esgoto e nada acontece com ele" ao comparar a situação do Brasil com a dos Estados Unidos no combate à pandemia do novo coronavírus.

"Eu acho que não, não vamos chegar a esse ponto [tantos casos quanto os Estados Unidos], até porque o brasileiro tem que ser estudado. O cara não pega nada. Eu vi um cara ali pulando no esgoto, sai, mergulha... Tá certo?! E não acontece nada com ele", disse Bolsonaro durante entrevista realizada na porta do Palácio do Planalto, em Brasília.

Ele voltou a criticar governadores e prefeitos pela determinação da quarentena e do fechamento do comércio em várias cidades do país.

"Alguns prefeitos e governadores erraram na dose. Foi uma catástrofe. O turismo passou para zero. Ninguém faz mais turismo. A rede hoteleira está em 10% de sua capacidade. Olha a desgraça que está aí", reclamou. "Agora não existe mais diarista, não existe mais manicure, Uber não funciona. Não dá para entender que essa onda é muito mais preocupante do que a doença?", acrescentou.
Doenças

São várias as moléstias que podem ser transmitidas pelo que o IBGE chama de "doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado".

O órgão divide as doenças em cinco categorias: de transmissão feco-oral (por meio de fezes), transmitidas por inseto vetor, transmitidas através do contato com a água, relacionadas com a higiene, geo-helmintos e teníases.

Entre elas, estão diarreia, cólera, salmonelose, shigelose, febres entéricas, leishmanioses, malária, esquistossomose, leptospirose, doenças de pele, entre outras.

Quase a metade da população brasileira (48%) não tem coleta de esgoto, segundo o Instituto Trata Brasil, organização da sociedade civil formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país.

De acordo com o "esgotômetro", medidor de esgoto despejado na natureza, disponível no site da organização, cerca de 500 mil piscinas olímpicas de esgoto foram lançadas ao meio ambiente no Brasil desde 1º de janeiro deste ano.

Fantasia narcísica: Bolsonaro implora pelo impeachment. Merece ser atendido

O presidente Jair Bolsonaro busca desesperadamente o impeachment. Nem ele sabe disso. Já escrevi a respeito no meu blog. Trata-se de uma fantasia narcísica da qual, obviamente, ele não tem consciência.

Quer ser mártir de um delírio compartilhado com um país mental que chamo “Bolsolavistão”. Se e quando cair, e tudo indica que vai, poderá, então, se oferecer como a verdade sacrificada pelos homens maus. No terreno pessoal, só isso explica o seu comportamento.

Um dado puramente técnico: na minha conta, ele já cometeu 10 crimes de responsabilidade, com 15 agressões à lei 1.079. Na leitura desta Folha, foram 15 crimes autônomos. Tanto faz. Para sustentar uma denúncia, basta um. O único seguro do governante, nesse caso, é impedir que se forme uma maioria qualificada de dois terços da Câmara em favor do impeachment. Com 342 deputados, já era! Não será o Senado a segurá-lo.

As ruas decidirão a sorte de Bolsonaro, mesmo essas enclausuradas nas sacadas e janelas. A canção de resistência do Brasil, a “Bella Ciao” destas plagas, entre 20h e 20h30, tem outro refrão: “Fora Bolsonaro”, sem vírgula. O comportamento do presidente na crise do coronavírus está transformando essas duas palavras numa divisa civilizatória. A economia pode fazer o resto.

Crime de responsabilidade, crise econômica, uma maioria de insatisfeitos e presidente alheio à realidade são os elementos que levam à formação daqueles dois terços. A conversa de que impeachment é golpe, cumpridos os requisitos legais, é coisa de acólitos e de beneficiários do governo de turno. Quando se estabelece a certeza de que, diante da devastação, o líder não mudará a sua conduta, mostrando-se disposto a confundir a sua pantomima pessoal com os destinos da nação, então é hora de mandá-lo para casa.

É uma ilusão tola apostar que Bolsonaro vai parar. Não vai. Alimentou-se por aqui a bobagem de que ele poderia adequar-se aos limites e exigências do cargo. Ora, minhas caras, meus caros, o poder é um péssimo educador. Na origem da palavra “educar” está o verbo latino “duco”, que quer dizer “conduzir”, “guiar” por um caminho. Palácios são lugares em que se conjuga a antítese: “seduzir” —de “seduco”, cujo significado é “afastar do caminho”. Acreditem em protetor solar, em quarentena e em etimologia.

Bolsonaro está, de resto, muito mal assessorado. Com ele, ascenderam ao, por assim dizer, poder intelectual alguns empresários de porte médio que não têm tempo para a empatia e a compaixão. Sopram aos ouvidos do líder: “Que importa que morram alguns milhares de velhos? A crise econômica matará muito mais”.

Nessa formulação cafajeste, há a suposição de que quarentena é um estado permanente e de que será exclusivamente ela a responder pela recessão, que já está contratada. Temos a única elite do mundo —vá lá: parte dela— a contestar hoje a eficácia do isolamento social. Não se trata de um procedimento para pôr fim ao troço. É só uma medida que busca evitar o caos na Saúde, hipótese em que aos mortos da Covid-19 outros tantos se juntariam, vítimas de moléstias diversas, mas igualmente sem um leito nos hospitais.

Ficássemos à mercê do nosso governante deseducado, o PIB igualmente mergulharia no escuro da desilusão, mas com caminhões do Exército a carregar corpos para cremação, como se vê na Itália, que experimentou as medidas sugeridas por alguns sábios daqui: retardou as medidas de isolamento social para não prejudicar a economia. Escolheu as mortes para manter o crescimento. Não terá o crescimento agora nem tem onde enterrar seus mortos.

O Brasil precisa realizar a fantasia de Bolsonaro para pôr fim à sua angústia. Tão logo se volte a ter um funcionamento regular dos Poderes.

Nota: lágrimas para todos os mortos. Em especial para a maestrina Naomi Munakata, 64, e para o maestro Martinho Lutero Galati, 67, vítimas ambos da Covid-19. Dirão alguns: “Tinham doenças pré-existentes e já eram velhos”. Regina Duarte, secretária de Cultura, foi às redes sociais cobrar o fim do isolamento social. É a lírica do pum do palhaço.