terça-feira, 16 de outubro de 2018

Verdades sobre violência na eleição

O servente de pedreiro e pedagogo Adélio Bispo de Oliveira, militante político de esquerda, tentou matar com uma facada o candidato da direita Jair Bolsonaro, do PSL, num evento político da campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, na tarde de 6 de setembro. Um mês depois, o barbeiro baiano Paulo Sérgio Ferreira de Santana, eleitor do capitão e deputado, encerrou uma troca de xingamentos, aparentemente de natureza política, matando com 12 facadas o capoeirista e ativista negro Romuário Rosário da Costa, o Moa do Katendê, que, de acordo com a família, é militante e eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT). Essas duas ocorrências são as únicas com autoria conhecida e já processadas em que é possível relacionar a escolha política a algum ato violento. A protagonista do terceiro caso noticiado – uma moça de 19 anos que contou ter sido agredida, quando envergava uma camiseta com os dizeres “#Elenão”, por três pessoas que a marcaram à faca com uma suástica – não teve o nome revelado nem registrou o caso na polícia, o que cobre pelo menos com o véu de dúvida a história inteira.

Ainda que o terceiro episódio seja reconhecido como um atentado de presumível empatia com o nazi-fascismo, qualquer leitor minimamente familiarizado com o noticiário policial de cada dia terá dificuldade em classificar o clima reinante nas cidades brasileiras como anormal em termos de violência por causa da realização da eleição. Portanto, o auê que o ventríloquo preso Lula, por intermédio de seu boneco Haddad, está fazendo na campanha para denunciar a insegurança de seus militantes no cotidiano ou em atos políticos é, no mínimo, exagerado.

Antes da eleição já houve momentos mais tensos, tanto de um lado quanto do outro, ambos identificados como “radicais”, que, por decisão soberana, pacífica e serena do eleitorado, ganharam no primeiro turno de domingo 8 de outubro credenciais para concorrer à Presidência da República no segundo, marcado para o próximo dia 28. Diante da evidência de que Lula/Haddad teve 18 milhões de votos a menos do que o oponente nas urnas na rodada inicial e começou a campanha para a decisiva amargando um avanço do outro, agora um abismo de 49% a 51%, 18 pontos porcentuais, de acordo com o último Ibope, não seria talvez ilógico supor que a tentativa de superar a distância abissal de intenções de voto seja forte razão para levar o denunciante a procurar pelo em ovo ou chifre em cabeça de cavalo. Algo similar às declarações de Bolsonaro, que lança no ar acusações sem provas de manipulação de pesquisas e fraude nas urnas eletrônicas, também sem fato concreto que a comprove.


O assédio moral de cabos eleitorais petistas aflitos com a situação do candidato do partido na decisão da eleição, denunciado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista a Pedro Venceslau, do Estado, não se resume ao inimigo preferencial que virou noiva da vez ou tábua de salvação do náufrago. Haddad, encarnação do verdadeiro candidato, enche-se de melindres para reclamar de casos de seus acólitos maltratados por “fanáticos” que votam em Bolsonaro. Não é de todo improvável pelo clima, realmente tenso, mas não com excessos notáveis de violência, como ele reclama, que tenha, de fato, razão. Mas não há registro de que tenha criticado Zé de Abreu, autor de um post no qual reproduziu uma cena de novela em que sua colega da Globo Regina Duarte era, no papel de Helena, surrada pela irmã. Se o signatário da mensagem não pretendia, como pareceu aos desconfiados, sugerir uma punição similar à atriz no dia em que ela visitou o candidato do PSL em sua casa, o amigo do peito de Zé Dirceu não deveria ter apagado o palpite infeliz de sua rede social?

Atitude similar também foi tomada por Olavo de Carvalho ao postar mensagem atribuindo o apreço de Haddad (no caso, não no papel do presidiário) pelo incesto, quando, de fato, o petista se resumia a citar num texto dele outro autor. Mensagens como essa, de um lado ou de outro, foram copiadas em memórias de computadores de desafetos, que logo as disseminaram. Como ocorreu com Helena Rizzo, chef de cuisine do Mani, que, transgredindo regras de educação doméstica e respeito a empregados e clientes, reuniu uns para erguerem o dedo médio a outros, no conhecido e condenado insulto escatológico. Haddad, no papel de Lula, referiu-se na própria propaganda à malcriação do ancião, mas ninguém o viu, leu ou ouviu referindo-se à grosseria da moça. Se arrependimento matasse, teria havido uma avalanche de mortes nas estatísticas da violência na campanha.

Esses deslizes, frequentes em arquibancadas e botecos mal frequentados, mas condenáveis em ambientes sociais familiares, caso do debate político, não podem ser relacionados como atos de brutalidade, mas não recomendam candidatos nem eleitores. Não pega bem um candidato favorito à Presidência fingir que empunha fuzis, usando tripés de câmeras e indicadores das duas mãos. Não pode também ser considerado um gesto de contrição cristã o segundo colocado, saindo da igreja depois de comungar, maldizer o outro, negando o mais elementar dos princípios da fé que acabara de professar.

Em 28 de outubro um dos dois vencerá e o vencido será mais um cidadão brasileiro a ser governado pelo vencedor, que será o presidente de todos. Terá, assim, em suas mãos a tarefa difícil de combater a insegurança generalizada que torna a população brasileira refém de bandidos perigosos enjaulados em presídios. Milhões de brasileiros comuns, divididos entre o anti-Lula e o “Lula livre”, terão motivos para se queixar de amigos perdidos na rixa política no afã de tentarem levar seu pretendente favorito ao trono do presidencialismo monárquico.

O Fernando que não é Haddad, mas Henrique, disse na entrevista ao Estado que não aceita “coação moral” de quem agora busca seu apoio: “Quem inventou o nós e eles foi o PT. Eu nunca entrei nessa onda. Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. A história já está dada, a minha”. Para ele, “agora é o momento de coação moral…” Subiu o tom: “Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”. E acenou: “Há uma porta” com Fernando Haddad (PT), mas com o “outro” (Jair Bolsonaro, PSL), não.

O Fernando que não é Henrique, mas Lula e, às vezes, Haddad, ficou muito animado, esquecendo que porta não é muro, mas nem sempre está aberta. Abrir essa tal porta significaria aceitar um governo de pacificação. No artigo Novos tempos, novas táticas, publicado no Globo de hoje, o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira dá um banho de compreensão da chave que tranca essa porta, ao constatar: “Além de não reconhecer seus erros, (o PT) atrelou o destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a história de (Nelson) Mandela. Ao atrelar o destino a Lula, o PT escolheu o caminho mais difícil. E a esquerda saiu dividida”.

Se somarmos a bronca do ex-presidente com a incisão cirúrgica da crítica do articulista, chegaremos à plena verdade. Tenho insistido em artigos e comentários, e vale a pena repetir, para concluir: quem inventou a divisão entre nós e eles foi, de fato, Lula. E o fez para vencer a eleição contra Alckmin, em 2006. Conseguiu impor ao tucanato uma derrota histórica, na qual o ex-governador paulista teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Para o mesmo Lula, agora na voz do boneco Haddad, derrotar Bolsonaro, evitando que ele agregue quatro pontos porcentuais à votação espetacular de quase 50 milhões de votos do primeiro turno, o PT teria de reconhecer um fato elementar: na família Mandela a corrupta era a mulher, Winnie, e o casal se separou. Na família PT há cúmplices a mancheias na maior roubalheira da História, que resultou na quase bancarrota da Petrobrás e na maior crise econômica e social do País, com milhões de desempregados. Quanto custará reconhecer esse fato?

Vítima quase fatal da violência de verdade, que Lula/Haddad denuncia como se fosse contra o PT, Bolsonaro, a um passo da vitória, como anunciam os institutos de pesquisa, não se queixa dela. Quem reclama dela o faz para dizer que a eleição é violenta e o eleitor, fascista, cuspindo na velha e boa democracia por não ter outro meio de vencer.

A prepotência petista

As análises estatísticas do primeiro turno da eleição presidencial mostram aquilo que todos já sabem: o PT continua a reinar soberano nos remotos grotões do País, onde eleitores sustentados pelo assistencialismo do Bolsa Família idolatram o chefão petista Lula da Silva. Foi basicamente esse clientelismo que impulsionou a transferência de votos de Lula para seu preposto na eleição, Fernando Haddad, levando o ex-prefeito paulistano para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL).

Superada a primeira etapa da campanha, e a título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula. Mais do que isso: pretende identificar-se como um candidato sem partido, preocupado unicamente com a democracia brasileira, que, segundo seu discurso, estaria ameaçada pelo seu oponente – um ex-capitão que faz apologia da ditadura e da tortura.


Assim, a candidatura de Haddad seria nada menos que a salvação da democracia – condição que, se verdadeira fosse, tornaria praticamente obrigatório o voto no PT no segundo turno para aqueles que prezam as liberdades democráticas. Na narrativa elaborada pelos estrategistas do PT, aqueles que rejeitam esse axioma lulopetista, recusando-se a declarar voto em Haddad ainda que considerem Bolsonaro realmente uma ameaça à estabilidade do País, são desde logo qualificados como cúmplices do ex-capitão.

A isso se dá o nome de “coação moral”, como corretamente salientou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao Estado. FHC relatou que vem sendo pressionado a “tomar posições”, isto é, a declarar voto em Haddad para, desse modo, reafirmar sua defesa da democracia contra o avanço do autoritarismo. Não fazê-lo, depreende-se, seria renunciar a essa defesa, permitindo que Bolsonaro e sua agenda retrógrada e fortemente iliberal prevaleçam. O ex-presidente rejeita categoricamente essa associação. “Não preciso provar que sou democrático”, declarou, como se isso fosse necessário.

A artimanha eleitoreira petista está obrigando democratas acima de qualquer suspeita a vir a público para dizer que não votar em Haddad no segundo turno está longe de ser uma declaração de apoio a Bolsonaro, muito menos uma demonstração de desapreço pela democracia.

O PT talvez tivesse melhor sorte na colheita de votos fora de seu reduto se fosse honesto e reconhecesse que, sob sua gestão, o Brasil mergulhou na maior crise econômica, política e moral de sua história. Ganharia simpatia se admitisse que não deveria ter elevado ao panteão dos “guerreiros do povo brasileiro” um magote de criminosos. Teria alguma chance de sucesso se seu discurso em defesa da democracia não fosse seletivo, poupando ditaduras companheiras como a da Venezuela. Poderia se redimir caso passasse a respeitar a opinião daqueles que não são petistas e caso confessasse que errou ao nunca considerar legítimo nenhum governo que não fosse o seu.

Como se vê, apenas retirar o vermelho e apagar Lula da propaganda eleitoral não é o bastante para convencer os verdadeiros democratas de que vale a pena apoiar Haddad nessa suposta luta em defesa da democracia. Em seu desabafo, Fernando Henrique Cardoso – cujo legado ao País sempre foi tratado como “herança maldita” pelo mesmo PT que agora demanda seu apoio – deu voz a muitos dos que estão cansados da retórica malandra e arrogante do lulopetismo. “Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. (...) Agora é o momento de coação moral... Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”, disse o ex-presidente.

Por ter sistematicamente desrespeitado aqueles que não aceitaram sua busca por hegemonia, por ter jogado brasileiros contra brasileiros e por ter empobrecido a política por meio da corrupção e do populismo rasteiro, o PT colhe agora os frutos amargos – na forma de um repúdio generalizado ao partido em quase todo o País e da desmoralização de sua tentativa de vestir o figurino democrático, que nunca lhe caiu bem.

'Santo' não cumpriu o prometido e...

O eleitor foi para os extremos porque ele raivosamente se apegou às promessas do PT, que foram frustradas. Essa raiva faz parte da tradição política, mas ela piorou. Nunca vi tanta violência, nem em 1964
José Arthur Giannotti

Prevenção secundária

A democracia é vulnerável a ameaças que venham de dentro. Essa é só uma de suas muitas imperfeições. E é difícil mudar isso, porque, para fazê-lo, teríamos de relativizar características fundamentais do sistema, como a soberania do voto popular e a possibilidade de o Congresso Nacional aprovar emendas constitucionais e leis que alterem as regras de funcionamento do Estado.


A provável eleição de Jair Bolsonaro (PSL), estou convencido, representa um risco. Há bastante exagero na visão daqueles que equiparam automaticamente a vitória do capitão reformado à morte da democracia, mas seu histórico de declarações destrambelhadas nos dá razões para genuína preocupação.

O que saiu errado? Eu diria que a prevenção primária falhou.

Fossem as nossas instituições democráticas um pouco mais hígidas, seria praticamente impossível para um partido político nanico como o PSL fazer um presidente. E nenhuma das siglas “mainstream” jamais daria legenda a alguém como Bolsonaro.

Não chego a afirmar que o eleitorado nunca escolheria um populista sem o menor preparo para o cargo porque sabemos, desde Platão, que o povo, mesmo quando instruído e bem alimentado, pode fazer grandes barbeiragens diante da urna.

A confirmar a eleição de Bolsonaro, só o que nos restará é a prevenção secundária, que é a que lida com doenças já instaladas e, através do diagnóstico e do tratamento precoces, procura evitar que elas passem da fase assintomática para a sintomática.

Em português claro, isso significa que precisaremos estar atentos para bloquear democraticamente ab ovo as iniciativas bolsonarianas de maior potencial democraticida. Para tanto, temos Congresso, Justiça, vários órgãos de Estado formados por burocracias estáveis e a própria opinião pública, que hoje parece estar majoritariamente com o capitão, mas que já deu mostras de que é volúvel e sabe cobrar de seus governantes.

Bases da sociedade

Politicamente falando, não há mais do que um princípio - a soberania do homem sobre si mesmo. Essa soberania de mim e sobre mim chama-se Liberdade. Onde duas ou mais destas soberanias se associam principia o Estado. Nesta associação, porém, não se dá abdicação de qualidade nenhuma. Cada soberania concede certa quantidade de si mesma para formar o direito comum, quantidade que não é maior para uns do que para os outros. Esta identidade de concessão que cada um faz a todos chama-se Igualdade. O direito comum não é mais do que a proteção de todos dividida pelo direito de cada um. Esta proteção de todos sobre cada um chama-se Fraternidade. O ponto de intersecção de todas estas soberanias que se agregam chama-se Sociedade.

Ora, sendo essa interseção uma junção, por consequência esse ponto é um nó. Daqui vem o que nós chamamos laço social. Dizem alguns "contrato social", o que vem a ser o mesmo, visto que a palavra contrato é etimologicamente formada com a ideia de laço. Vejamos agora o que é a igualdade, pois se a liberdade é o cume, a igualdade é a base. A igualdade, cidadãos, não é o nivelamento de toda a vegetação; uma sociedade de grandes cânulas de erva e pequenos carvalhos; um tecido de invejas; é, civilmente, a admissão de todas as aptidões; politicamente, o mesmo peso para todos os votos.

Victor Hugo, "Os Miseráveis"

Pensamento do Dia


O grande clandestino

Eu me distraio muito com a passagem do tempo.

Chego às vezes a dormir. Durmo meses e anos. O tempo então aproveita e passa escondido. Mas que velocidade!


Basta ver o estado das coisas depois que desperto: quase todas fora do lugar, ou desaparecidas; outras, com uma prole imensa; outras ainda, alteradas e irreconhecíveis. Se durmo de novo e acordo, repete-se o fenômeno. 

Sempre pensei que o tempo fizesse tudo às claras. Oh, não!

Eu queria convidá-los a assistir ao que ele tem feito comigo. Mas é espetáculo todo íntimo e não disponho de tribunas.

Além do mais, o tempo em pessoa é praticamente invisível, como a ventania. Só se pode apreciar o resultado de seu trabalho, nunca a sua maneira de trabalhar.

O que é preciso é nunca dormir e ficar vigilante para obrigá-lo ao menos a disfarçar a evidência de suas metamorfoses.

É de fato penoso deixar de ver as coisas tais como as vimos a primeira vez. O tempo tudo transforma e arrasa, sem nos dar aviso.

Ora. Isso entristece. Isso nos deixa intranquilos. A não ser que nos misturemos com ele, façamos dele um aliado.

Aí, sim: destruição e reconstrução se confundem. Sacos e sacos vão se enchendo e esvaziando toda a vida. Perde-se até a ideia da morte. Então a gente aproveita para erigir sistemas, tomar iniciativas, amar, lutar e cantar.

O tempo fica assim tão escondido dentro de nós, que se tem a impressão que fugiu para sempre e se esqueceu.

Em verdade, ele não repousa nunca. Nem mesmo nas pirâmides. Nem nos horizontes onde parece pernoitar.

Rói as pedras como o vento, rói os ossos como um cão. O que mais admira é a extrema delicadeza com que pratica essas violências.

Todos falam de sua impassibilidade. Não é bem isso. Tanto assim que aumenta de velocidade, à medida que nos distanciamos de nossas origens. E quase para quando o esperamos na solidão!
Meu mal é sentir-lhe a passagem como a de um animal na noite. Chego quase a tocá-lo. Fico horas à janela vendo-o passar. É um vício.

Oh, como se diverte! Para ele, destruir uma árvore, um rosto, uma instituição, uma catedral – tanto faz.

O desagradável é quando de repente se retira de algum objeto ou de alguém. É claro que prossegue depois. Mas deixa sempre uma coisa morta... 

Franqueza, nessa hora dá um aperto no coração, uma nostalgia!...

Contudo não se deve ligar demasiada importância ao tempo. Ele corre de qualquer maneira.
E é até possível que não exista.

Seu propósito evidente é envelhecer o mundo.

Mas a resposta do mundo é renascer sempre para o tempo.

Aníbal Machado, "Cadernos de João"

A grande derrota da velha política

O mundo político foi surpreendido com os resultados eleitorais do último dia 7. Acreditavam que a velha política ainda continuaria dando as cartas. Que os conciliábulos definiriam a vontade do eleitor, como se o ato de escolha fosse meramente formal, ou seja, o cidadão iria simplesmente referendar o que os caciques já tinham decidido. Contudo, o desfecho foi outro. O cidadão tomou nas suas mãos o destino do País e determinou uma mudança radical na política nacional. As grandes manifestações de 2015 e 2016 — as maiores da História do Brasil — não ficaram reduzidas apenas à memória. Foram muito mais que isso. Apontaram que é possível construir — apesar de todas as limitações do sistema político — alternativas produzidas pelo sentimento de enfado, de raiva, indignação, com tudo que está aí, mesmo que restritas. O desafio será a partir do início do próximo ano transformar a revolta em novas políticas públicas que consigam, à curto prazo, resultados. De antemão é possível prever que não será nada fácil e a possibilidade de uma desilusão é bastante provável.


É patente que o eleitor referendou as ações moralizadoras da Lava Jato. Boa parte dos políticos envolvidos com os escândalos de corrupção foram derrotados, especialmente nos estados onde há vida política, ou seja, onde a sociedade civil é independente, onde o voto é realmente livre. Nesses locais foi dito de forma clara um sim à Lava Jato e, principalmente, ao juiz Sérgio Moro. O repúdio dos eleitores não foi dirigido somente aos políticos corruptos. Não. Foi também direcionado àqueles que na estrutura jurídica se colocam como obstáculo ao exercício efetivo da justiça, em especial os tribunais superiores de Brasília.

A velha política não se restringe ao Congresso Nacional ou ao Palácio do Planalto. Ela atravessa a praça dos Três Poderes e atinge em cheio o Supremo Tribunal Federal. Os eleitores deixaram isso claro. Sabem muito bem o que não querem. Mas ainda não têm claro — o que é absolutamente compreensível — o que querem e como vão construir um novo Brasil. É um processo, certamente longo. Todavia já teve início. Quem quiser negá-lo vai ficar pelo caminho. Foi feito o que na linguagem popular chama-se rapa, uma limpeza ética fantástica. Poucos acreditavam que seria possível. A maioria dos analistas não detectou porque não está conectada com o sentimento das ruas. O Brasil mudou — e para melhor.

Outros tempos

Não são os militares voltando ao poder, mas o povo abrindo espaço para a possibilidade de uma presença militar mais ativa. Os militares entenderam a função deles na Constituição. Neste momento é muito importante defender o que está na Constituição. Não estamos mais na guerra fria. As pessoas olham para o que está acontecendo no Brasil como se fosse 1964 e 1968. Havia guerra fria e capitalismo contra comunismo. Não é essa a situação que vivemos
Fernando Henrique Cardoso

Em nome do PT, Haddad deveria pedir desculpas ao Brasil

Induzido por declaração do derrotado candidato petista ao Senado, pelo Acre, Jorge Viana,admitindo que o partido não fez autocrítica com relação aos crimes praticados durante seus anos de governo, Haddad foi levado a reconhecer a falta de controle interno na corrupção dominante nas estatais neste período. Haddad poderia ter aproveitado a chance, talvez a derradeira, e pedir desculpas à população brasileira em nome do Partidos dos Trabalhadores.

Não como mais uma estratégia eleitoreira, mas para não entrar na história como o candidato à Chefia do Governo do Brasil que, para vencer o opositor, silenciou sobre os desmando e crimes praticados pelo PT, que conhecia e contra os quais nunca levantou a voz. Até agora, tem apenas moderado seu discurso, avançando alguns compromissos que conflitam com as idéias defendidas pelo PT, mas nada ainda capaz de promover a organização de uma frente democrática sólida para impedir o fascismo de assumir o poder.

É curioso como fato de ter chegado ao segundo turno com 46% dos eleitorado cravando votos em Bolsonaro, para impedir o retorno do lulismo, não levou Haddad a reconhecer publicamente as razões de o PT ter sido rejeitado e mudar de rota. Com certeza, deve ter sido diferente o diagnóstico da sua entourage para minimizar o resultado eleitoral , recusando-se a admitir a contundente rejeição ao PT pela maioria dos eleitores, que todos sabemos é dor insuportável para o ser humano.

Ao contrário disso, além de dizer que não mudará a Constituição de 88, promessa feita até por Bolsonaro, apenas mudou de atitude externa e não interna. Deixou de visitar o padrinho presidiário e eliminou o vermelho da sua propagando eleitoral. É surpreendente como Haddad, com sua notável trajetória acadêmica, aceita ser o drone de Lula, a ponto de colocar sua máscara no rosto como crianças no carnaval. Professor de ciência política, formado em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, não é possível que acredite possa convencer algum eleitor com tão ridículas estratégias eleitoreiras. As pesquisas mostram que não.

Enquanto isso, sua equipe dedica-se a revolver o passado, a atuação parlamentar e o presente do seu opositor, que o desabonam, para atacá-lo. Também não tem funcionado. Melhor seria Haddad adotar um comportamento de estadista e buscar apoio dos democratas. Nunca é tarde para reconhecer erros e mudar de rumo.

Mas como fazê-lo? É claro que para a maioria que repudia o PT, ou vai votar em Bolsonaro apenas para afastá-lo da cena política nacional, não basta afirmar o que é ou não do interesse direto do seu bem estar. Para convencê-la de que algo é certo ou errado, seria necessário empregar uma linguagem de fins e não dos meios, abdicando de alguns poderes para socializá-los com os que lutam pela preservação da democracia. É grande o contigente de democratas que não recusará ajudá-lo nesta tarefa.

Não é preciso aceitar que a busca pela segurança, bem estar e igualdade poderia ser alcançada. Antes, porém, é necessário fazer o eleitorado contrário acreditar nisso. Mas esse força de persuasão o PT já não possui. Está desacreditado. Não há mais espaço para sua retórica. Não convencerá partidários de Bolsonaro e dos que optaram pelo voto em branco, nulo ou a abstenção. Mais do que issso, Haddad teria de afastar-se da legenda e conquistar novos aliados. Como até agora não demonstrou intenção neste sentido, nem apresentou boas razões para ser o escolhido, dificilmente vencerá o capitão. Restaria então a oportunidade única para fazer uma narrativa moral transparente. Mas isso parece fora da sua agenda.

Quanto a Bolsonaro, um deserto de idéias para garantir e ampliar a democracia no país, não compreende absolutamente nada sobre as causas das violência e da falta de segurança que há muito espalharam o medo de ir e vir da população. Julga e declara, com apoio da bancada da bala, que vai erradicá-la com mais polícia e milícias nas ruas, e a adoção de métodos violentos para enfrentar os bandidos, que nunca funcionaram no Brasil . Não integra seu primário repertório mental associar a origem do problema à imoral desigualdade social que nos envergonha. Já com relação à corrupção das elites, nenhuma medida consistente para erradicá-la.

O candidato da extrema-direita e seus partidários desconhecem que uma população menos desigual e mais instruída contribui para uma sociedade mais ordenada, que buscaria viver melhor do que no passado. A desigualdade não é somente indecente mas causadora de tensões sociais que Bolsonaro planeja enfrentar de rifle nas mãos. E nem percebem que a melhoria da vida do andar de baixo nada subtrairia ao andar de cima, mas somente benefícios traria para todos. Ao contrário, a prosperidade dos desfavorecidos levaria mais segurança aos mais ricos que, com certeza, sentem-se desconfortáveis pelo fato de viverem próximos à pessoas cujas condições deploráveis de vida funcionam como reprovação ética permanente.

Caso seus conselheiros houvessem lhe explicado as relações de causa e efeito entre o egoísmo dos mais ricos com relação à miséria dos mais pobres e a violência, eventualmente o capitão teria apresentado propostas para garantir saúde e educação de qualidade para todos, assumindo compromissos com a redução desse fosso que impede o acesso dos menos favorecidos aos benefícios concedidos às elites. Sem isso, todos os seus demais objetivos dificilmente serão cumpridos.

A exclusão a que está submetida a maioria da população brasileira somente exacerba a perda da coesão social. Como essa parcela significativa da sociedade sente-se discriminada, obrigada a penar do lado de fora dos muros das cidadelas do mais afortunados, onde desfrutam de vantagens e privilégios, a democracia poderá sofrer ameaça extra, além da representada pela eleição de Bolsonaro.

Talvez por escassez de massa encefálica, o candidato de extrema-direita não entende que matar bandido não fará a sociedade sentir-se mais segura. Caso fossem oferecidas condições dignas de vida ao andar de baixo, com a possibilidade de progredir num país tão injusto como o Brasil, haveria menos conflitos, violências e mortes decorrentes. Afinal os de de cima não devem apreciar viverem em casas com cercas de arame farpado eletrificado, guarda pessoal armada na porta e trafegando em carros blindados. Possivelmente, prefeririam flanar livremente e sem medo pelas ruas das cidades como nos tempos da infância.

Há razões para crer no desconforto das elites com a vizinhança dos que habitam no sub-solo. É possível que se sintam incomodados com sua proximidade. Mas nada disso entra na mente do capitão, mais interessado na montagem de uma aparelho bélico repressor da bandidagem. Ao contrário do previsto por Karl Max, no seu livro “O 18 do Brumário de Napoleão Bonaparte”, afirmando que todos fatos importantes na história do mundo acontecem apenas duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa, depois dos governos petistas, estamos prestes a viver nova tragédia com a eleição do Bolsonaro.

Louco Brasil


Comida de restos

A voz do povo está absolutamente ausente dos centros de decisão e isso explica todos os nossos outros aleijões

Os perdedores desta eleição estão tão distantes da realidade aqui de baixo que – é prova disso o modo errático como conduziram suas campanhas – mal entenderam a razão do seu fiasco (…) o PSDB voluntariamente deixou de existir como instância de resistência democrática contra o lulismo que, em última instância, foi a razão alegada para a sua fundação. É um caso freudiano (…) ha meia duzia de eleições que o discurso de campanha do PSDB tem sido o de negar o PSDB. Fazer-se mais lulista que o Lula. Essa atitude patológica não responde a uma “patrulha” vinda de fora nem, muito menos, a uma demanda de seus eleitores. Ao contrário. É um problema deles com eles esse dos avôs do partido que mais uma vez, no momento mais crítico do Brasil, negaram a uma massa imensa de eleitores órfãos a paternidade pela qual eles estavam implorando.

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A ficha limpa pôs Jair Bolsonaro no jogo mas é o que o PT e seus asseclas têm imposto ao país para além do que lhes autoriza os votos que recebe que lhe tem feito a vida. A antidemocracia é a essência do PT. A mentira, a colonização do estado, do sistema de educação e das mídias que invadem os lares. As chicanas jurídicas, os passa-moleques institucionais. Mais que a corrupção, é o crime que se orgulha de si mesmo que indigna o Brasil. A inversão de valores. O repúdio à subversão de todos os fundamentos e de todas as hierarquias é o que produz a identificação entre Jair Bolsonaro e seu eleitorado. Como representante autêntico do segmento da côrte que está mais próximo da rua; como integrante da última instituição regida por uma hierarquia que resta, ele tem uma forte intuição do quanto tudo isso inquieta a sociedade e não se acovarda diante da patrulha como todos os demais. É simples a “fórmula mágica”…

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O Brasil bandeou-se para sempre para o lado da democracia. Mas entre querer fazer e saber fazer há um longo caminho que bordeja todos os abismos. Secar com o santo remédio do voto a mina de ódio do lulismo que fez este país adoecer é a condição para a continuação da conversa. Mas hoje o divórcio entre o Brasil oficial e o Brasil real é de tal ordem que é difícil saber quanto dele é intencional e quanto já é “ponto 2”, desligamento inconsciente, de segunda geração, darwiniano, alienação mesmo. É tão diferente da nossa a condição de vida que a corte montou para si, e ha tanto tempo, que esses dois brasis simplesmente perderam contato um com o outro. Têm referências e prioridades opostas, atribuem significados diferentes a conceitos-chave. “Impopular”, “direito”, “conquista”, “legalidade”, “carreira”, “trabalho”, “competição”, “elite”, “classe dominante” frequentemente são entendidos pelo seu exato avesso no léxico de uns e dos outros.

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Tente explicar a um estrangeiro (não os soldadinhos da claque do PT, mundo afora, que pulam quando Lula estala o dedo) por que com 13 milhões de desempregados, 20 milhões de subempregados e todos os outros brasileiros com a água a meio centímetro do nariz, os candidatos à eleição mais disputada de todos os tempos podem discutir aumento de impostos em voz alta mas não podem sequer cogitar de tocar um único dos “direitos adquiridos” das corporações estatais, esses 0,5% dos eleitores que consomem quase integralmente os 40% do PIB que o governo nos arranca à custa de deixar os outros 99,5% à margem da competição global por empregos.

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O problema do Brasil é político, nunca foi econômico. A voz do povo está absolutamente ausente dos centros de decisão e isso explica todos os nossos outros aleijões. Nada, portanto, vai mudar consistentemente antes que se faça uma reforma política consistente. Mas cortado da discussão do futuro pela ocupação da academia pela censura gramsciana, tudo que o país conseguiu para responder ao desafio da “tomada do poder” pelo PT são as referências do seu próprio passado, que definitivamente não levam à criação automática de canais desimpedidos entre o país real e o país oficial. Estamos na estaca zero. Teremos de construir do nada o nosso caminho para uma democracia de fato “representativa”, tarefa que depende estritamente de uma reconciliação nacional que no momento parece improvável.

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O que diferencia as democracias dos regimes autoritários é a extensão dos poderes dos eleitores sobre os representantes eleitos para antes e para depois do momento das eleições. Poder de decisão em eleições primárias acaba com o caciquismo, primeira fonte da corrupção, e abre as portas à renovação. O direito de retomada de mandatos recria na forma de uma hierarquia, como deve ser, a relação entre os representados e os representantes. E os de referendo das leis dos legilslativos e confirmação periódica de juízes em suas bancas asseguram que a vontade popular não será mais usurpada. O que põe um sinal positivo ou negativo nessa fórmula é o voto distrital puro, o único que cria uma identificação perfeita e objetivamente aferivel entre representantes e representados. Sem isso, caímos nas mãos dos “movimentos sociais” que o PT e seus boulos amestrados querem por no lugar do Congresso Nacional.

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No jornalismo aprende-se rapidamente que toda “solução” é só o início do próximo problema. O presente “sistema” necessariamente corrompe a tudo e a todos. E um país não pode trabalhar debaixo do tiroteio incessante do “combate à corrupção”. É uma lástima que tanto os partidos velhos quanto os “novos”, não apontem as deformações básicas do “sistema”. Para todos, vale o “comigo vai ser diferente porque eu sou honesto”. Essa honestidade, mesmo quando existe, não dura um mandato e meio. Só uma coisa pode endireitar o “sistema”: toda a força ao eleitor. Aí, sim! Honestidade ou morte!

Revogar a velha ordem para estabelecer uma que mudasse definitivamente o eixo do poder para as mãos do povo valeria, sim, até uma anistia.

Esperança em si

Quando a noite reina lá fora, e a chuva cai abundante e a tempestade destrói e retalha com suas unhas os ramos das árvores, arrancando o telhado com seu bico afiado, o homem deve procurar a esperança em si mesmo, porque a imagem do mundo e sua beleza não lhe são mais, então, de nenhuma serventia
Saulius T. Kondrotas, "A sombra da serpente"

Desabafo de Cid perfura como prego em caixão

Ao chutar o balde num ato pró-Fernando Haddad, no Ceará, o senador eleito Cid Gomes espalhou o cheiro de enxofre que emana dos subterrâneos da candidatura presidencial do PT. O miasma ficará no ar até o próximo dia 28, quando o eleitor voltará às urnas. O desabafo do irmão de Ciro Gomes foi perfurante como prego em caixão: o PT “vai perder a eleição”, declarou. Vai ''perder feio''.

Num instante em que o petismo tenta atrair a família Gomes para o polo democrático anti-Bolsonaro, Cid cobrou na noite desta segunda-feira (15) um mea-culpa do PT. Hostilizado por militantes petistas, abespinhou-se: “…Não admitir os erros que cometeram é pra perder a eleição. E é bem feito… Vão perder feio! Porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país. E o Brasil não aceita ter dono…”

A certa altura, a plateia entoou um velho coro: Olê, olê, olê, oláááá, Lulaaaa, Lulaaaa…” E Cid: “Lula o quê? O Lula está preso, babaca! O Lula está preso, o Lula está preso, e vai fazer o quê? Deixa de ser babaca, rapaz, tu já perdeu a eleição.”

Para Cid Gomes, Jair Bolsonaro é uma criação dos ''donos da verdade'' do PT. Tomado pelas palavras, Cid avalia que o mea-culpa do petismo demorou tanto que tornou-se desnecessário. Coordenador da derrotada campanha de Ciro Gomes, o senador cearense parece considerar que o caso do PT já não é de autocrítica, mas de autópsia.

Será tenso, mas passa

O PT chega ao 2º turno podendo estabelecer um recorde: ser o único partido a eleger cinco presidentes em seguida. No Brasil nunca aconteceu. Nos Estados Unidos, na França, na Alemanha ou em Portugal também não. Aconteceu no Paraguai pós-Stroessner com o Partido Colorado, e no México sob o domínio do PRI, que emplacou nove presidentes a partir de 1946. Na Argentina, o Partido Justicialista estava na mesmíssima situação em 2015, mas o sonho do quinto mandato parou na vitória de Mauricio Macri.

Jair Bolsonaro chega ao 2º turno sem querer estabelecer recorde algum. Deseja apenas ver mantida a escrita das eleições anteriores. Nas cinco corridas presidenciais decididas em 2º turno, venceu quem obteve mais votos no 1º turno. Simples assim. Nossa trajetória desconhece viradas no 2º turno. Bolsonaro quer que continue dessa maneira.

Fernando Haddad queria enfrentar Bolsonaro, e nenhum outro. Diante de Marina Silva, Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin, ficaria impedido de recorrer ao anti-bolsonarismo, único sentimento presente no eleitorado capaz de rivalizar com o antipetismo. Bolsonaro queria enfrentar Haddad, e nenhum outro. Diante de Marina Silva, Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin, ficaria impedido de recorrer ao antipetismo, único sentimento presente no eleitorado capaz de rivalizar com o anti-bolsonarismo. Agora é ver qual sentimento prevalece.

Dada a distância ideológica dos candidatos e a velocidade das redes sociais com seus memes, videozinhos e provocações variadas, as pessoas podem ficar com a impressão de que o Brasil estará especialmente dividido nas próximas três semanas. Não se impressionem. É assim em qualquer país durante o processo eleitoral. Nos últimos doze meses, seis países da América Latina realizaram eleições presidenciais. Em dois (Chile e Paraguai), o clima até foi ameno. Em quatro (Honduras, Costa Rica, Colômbia e México), as expressões mais utilizadas para descrever o ambiente era “país dividido” e “guerra de classes”. No final, voltou tudo ao normal.