quarta-feira, 19 de março de 2025

Pensamento do Dia


 

Com certo patrimônio pessoal, as pessoas surtam!

A frase do título foi dita pela mulher então tida como a mais rica do planeta, com fortuna estimada em trinta bilhões de euros! Ela manteve, por décadas, um relacionamento com um fotógrafo que se revelou um explorador das fragilidades daquela bilionária e ganhou dela “presentes” que somaram perto de um bilhão de euros! Surtou ela? Surtou ele? A partir de certo valor, surtam todos?

Parece que sim: além de certa quantia, perde-se a noção da realidade. Ou, alternativamente – o que dá no mesmo! -, adquire-se uma noção deturpada do mundo real, uma visão na qual um euro ou dólar adicional, embora imperceptível, é mais desejável que muitas vidas. Estas se tornam sem importância, descartáveis. Não há saciedade nesse patamar, sempre se quer mais!


Assim é. Sabe-se que o consumo de alimentos fake é prejudicial à saúde, mas celebra-se a instalação de novos McDonalds, ou similares, porque “trarão emprego e renda”, e mais lucros para os acionistas. Sabe-se que queimar carvão, petróleo ou gás natural mata pessoas, mas não se renuncia a fazê-lo, pois a queima dessa droga trará mais lucros. Drogas sim, pois, como as outras, inicialmente trazem alegrias, mas, em seguida, tornam-se vício fatídico. Sempre se quer mais, apesar de se ter noção das consequências!

Um dos pontos interessantes da frase título é o reconhecimento pessoal do estado de loucura gerado pela fortuna desmedida. Quando se tem tanto, numa condição em que presentear um “amigo” com milhares de euros não passa de um “pequeno” mimo, em meio a um planeta em que mais de 80% dos semelhantes não vivem, apenas aguentam, com menos de US$10,00/dia, qual a empatia possível com o restante da humanidade?

A questão se agrava quando se vê que o país mais poderoso do mundo é governado por pessoas que se encontram entre os 0,0001% mais ricos do planeta. Para eles, que diferença faz o preço do leite, do ovo ou da carne? E que lhes interessa se o transporte público é ruim? Pior, não é apenas aquele país que é governado por seres apartados da realidade vivida pela maioria.

Aqui mesmo, em nosso Patropi, o patrimônio médio dos deputados federais ultrapassa três milhões de reais. Este fato, junto à constatação que a maioria deles está envolvida em processos criminais, demonstra que deixaram de ser representativos da população; ao contrário, são uma casta, cheia de privilégios e temerosa de reformas que aproximem representados de representantes.

A loucura prossegue, e os exemplos abundam. Há poucos meses, um indiano gastou centenas de milhões de dólares para celebrar o casamento da filha. Mais grave: vemos agora os países com as populações mais ricas dedicarem-se a ampliar seus arsenais, em detrimento de gastos que promovam qualidade de vida. Pode-se concluir, indago, que a partir de certa quantia não apenas pessoas, mas também países, enlouquecem? Parece que sim, pois países são governados por pessoas… a maioria das quais riquíssima!

Antes que os arsenais ampliados sejam usados, que seja restaurada a sanidade!
Como?

A extrema direita e a arte de distrair

Não se pode negar à extrema direita, aqui e alhures, o domínio da arte de plantar distrações no debate público e, com isso, mobilizar as atenções e as conversas. O Brasil, de novo, foi laboratório para esse tipo de experimento nesta terça-feira, quando um projeto complexo, que diz respeito, direta ou indiretamente, a milhões de contribuintes, dividiu espaço no noticiário, nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp com um factoide da família Bolsonaro: o filho Zero Três de Jair está de partida para mais uma temporada morando nos Estados Unidos, desta vez, aparentemente, não para fritar hambúrguer.

Provavelmente, a coincidência dos anúncios do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que reuniu Lula, ministros e os comandantes das Casas do Congresso, e de que Eduardo Bolsonaro se licenciará indefinidamente do mandato de deputado federal para ficar nos Estados Unidos e, de lá, ficar atirando no Judiciário brasileiro não foi estrategicamente pensada.

Mas foi didática para ver quanto somos facilmente tragados para uma agenda que só interessa à família, cada vez mais pressionada pela iminência de que os atos golpistas praticados com comando e anuência do ex-presidente sejam julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).


É como as diabruras diárias de Donald Trump. Muitas dificilmente sairão do gogó ou do papel, sofrerão recuos obrigatoriamente e não passam de provocação, mas geram reação de governos, corporações, mercado financeiro, imprensa americana e do resto do mundo e por aí afora, num efeito dominó perverso que desvia o foco daquilo que, no projeto de desmonte que ele empreende, realmente tem impacto institucional, legal e econômico.

Há muitas conjecturas a respeito da intenção da família com a deserção de Eduardo, da preparação de terreno para uma fuga do pai a um temor mais comezinho de ficar sem o passaporte, possibilidade que se dissipou já na própria terça-feira, quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, negou pedido do PT nesse sentido. O certo é o propósito do bolsonarismo de vitimizar Jair e companhia. Como as investidas têm surtido efeito decrescente, por vezes pífio, vide a manifestação esvaziada do último domingo, resolveram apelar para um showzinho com locação internacional.

O mais provável é que Eduardo produza uma série de vídeos em que, à distância, se sinta mais corajoso para adjetivar Alexandre de Moraes, algo que aqui, no comando da Comissão de Relações Exteriores, o deixaria sempre receoso de ser incluído nas investigações de que escapou de raspão, até agora. Promoverá encontros com lideranças mais estridentes da direita americana, usará bonés com dizeres para animar a torcida e tentará agitar alguma moção contra ministros do STF.

Mas é preciso tirar a espuma da distração estridente e perguntar: e daí? Para efeito de um eventual pedido de asilo de Jair ou de uma fuga cinematográfica, o alarde prévio do filho só atrapalha e deixa quem precisa ficar de olho mais alerta. Se a ideia é constranger ou afetar diretamente Moraes ou os demais ministros da mais alta Corte do Brasil, o deputado e seus aliados demonstram não conhecer nada de princípios elementares de Direito Internacional, como a autodeterminação das nações soberanas. Trocando em miúdos: a Constituição americana não tem validade em solo brasileiro, nem o Congresso ou a Suprema Corte dos Estados Unidos têm jurisdição sobre Brasília.

O julgamento de Bolsonaro e dos outros 33 denunciados por tentativa de golpe de Estado seguirá o cronograma bastante acelerado que já vem sendo ditado — não por acaso, ontem mesmo foi marcada a análise da denúncia de outro lote, numa demonstração de que o show pirotécnico da família terá efeito prático zero sobre o destino judicial do patriarca e dos demais. Muito barulho por nada.

E o mundo se cala...

Enquanto você lê esse texto, pais e mães se debruçam sobre o corpo inerte de seus filhos. Tantos outros são inundados por uma saudade dolorosa dentro de um quarto — ou uma tenda — tomado por um vazio cruel. Provavelmente se agarram ao cheiro de suas crias, que ficou impregnado na roupa. E o mundo se cala. Na madrugada desta terça-feira, recebi fotos de fontes na Faixa de Gaza. Crianças transformadas em bonecos retalhados e largados no chão ou sobre uma mesa fria de um necrotério.

No momento em que escrevo, passam de 450 os mortos nos bombardeios israelenses no território palestino. As forças do premiê Benjamin Netanyahu, cuja sobrevida política depende da guerra, se mobilizam para expandir a campanha militar. Prenúncio de mais violações do direito internacional e massacres. E o mundo se cala.


É justo impor uma punição coletiva a uma população civil e desarmada por conta da existência de grupos terroristas? Parece-me inconcebível que a comunidade internacional não force Israel a deter a matança. No fim das contas, é óbvio que a aposta de Netanyahu pelas armas coloca os reféns do Hamas em risco real de morte. A facção extremista avisou que o destino dos sequestrados é incerto — uma clara ameaça a Netanyahu. Os bombardeios massivos a Gaza apenas condenam 2 milhões de palestinos — a imensa maioria formada por gente inocente e trabalhadora — ao horror. Mas, também, sentenciam os próprios israelenses a mais insegurança e medo.

O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de Donald Trump. Afinal de contas, valem muito mais os interesses comerciais e políticos do que vidas humanas. É indiscutível que o massacre de 7 de outubro de 2023 tenha sido dantesco, horrível e digno de condenação absoluta. É indiscutível que um país atacado tenha direito de se defender. Mas é inaceitável que essa defesa seja feita às custas das vidas de milhares de palestinos. Isso deixa de ser autoproteção. Passa a ser vingança.

Somente a criação de um Estado palestino independente e soberano pode pôr fim à matança desenfreada no Oriente Médio e estabilizar a conturbada região, que enfrenta o perigo de um mergulho na guerra. Os rebeldes huthis, do Iêmen, armados pelo Irã, retomaram ataques a embarcações no Mar Mediterrâneo. Os EUA têm feito reiteradas ameaças ao regime iraniano. O cessar-fogo no Líbano segue frágil, e o Hezbollah permanece ativo.

Israelenses e palestinos precisam colocar a prioridade pela paz à frente do ressentimento, do ódio e do desejo de vingança. Concessões difíceis devem ser tomadas por ambos lados. Elas incluem o status quo de Jerusalém como capital e o retorno dos refugiados. Pela segurança das futuras gerações.

Estúpidos malditos

Estupidez é o mesmo que maldade, se você julgar pelos resultados
Margaret Atwood

Populistas de direita: iguais, mas diferentes

A professora Maria Hermínia Tavares iniciou sua ótima coluna da semana passada indagando sobre o que explicaria o avanço do populismo de extrema direita. Espero que ela continue a nos iluminar na exploração do tema, um dos mais decisivos. Mas, como o foco adotado era compreender por que eleitores aderem ao discurso dos populistas radicais de direita, gostaria de acrescentar algo ao tema, examinando outra questão: a natureza desse populismo.

Nem precisaria ressaltar o quanto esse tema é complexo. Digamos apenas que a concepção mais comum de populismo é negativa, associada à demagogia, ao personalismo e ao desprezo pelas instituições. Eis a razão pela qual ninguém se assume como populista nem aceita essa designação.

Acho, contudo, que é possível encontrar uma definição mais neutra e analítica de populismo, assim como diferenciar as formas que ele assume hoje. O populismo envolve retórica, atitude e crenças. Sua premissa fundamental é que a sociedade se divide entre um povo autêntico e uma elite corrupta. O indivíduo, partido ou governo populista parte dessa premissa para se dirigir à massa popular, representando-a como a parte mais nobre e fundamental da nação e se apresentando como a única forma política que se vincula orgânica e moralmente ao povo, tendo como missão enfrentar as elites em seu nome.


A variação entre os populismos está na resposta à pergunta sobre quem é "o povo" para cada corrente. Há duas respostas clássicas. No populismo de esquerda, o povo é a classe explorada no capitalismo. A definição de Gramsci segue essa linha: o povo é formado pelos subalternos em uma sociedade de classes. A liderança populista se apresenta como defensora dos trabalhadores, dos marginalizados, dos subalternizados, e sua ação política se traduz em políticas de redistribuição de renda e em luta contra a desigualdade.

A segunda forma clássica é o populismo nacionalista e conservador, de direita. Aqui, o povo é definido por identidade cultural e nacional. O critério não é econômico, mas cultural e territorial: a nação como comunidade de valores e história. A liderança populista se apresenta como defensora dos valores nacionais contra elites progressistas e contra estrangeiros. O inimigo do povo, aqui, não é necessariamente a elite econômica, mas a elite política e cultural, traidora da nação.

Mas há um terceiro tipo, exemplificado por Trump e Milei, que escapa tanto ao modelo de esquerda quanto ao nacionalista. O que une Milei e Trump, entre outros, é que eles rejeitam a ideia de povo da esquerda, flertam com o conceito conservador, mas adotam uma terceira abordagem. O povo, aqui, é formado por aqueles que competem no jogo do livre mercado, os que se esforçam, inovam, criam riqueza e não dependem do Estado, e que, por isso mesmo, são tosquiados, explorados, sufocados por políticas públicas de esquerda, obrigados a pagar a conta pela inépcia estatal e, ainda por cima, tratados como os vilões da história pelos progressistas. Esse populismo é individualista e meritocrático e rejeita tanto a "casta" política quanto os "vagabundos" que vivem de assistencialismo.

A ironia desse populismo ultraliberal é que, embora se oponha ao populismo no discurso econômico, não hesita em adotar as táticas populistas clássicas: discurso antielite, mobilização emocional, rejeição do establishment, figura do líder outsider, personalismo e demagogia.

Os populismos de direita vencedores hoje, portanto, variam conforme seus elementos centrais. Le Pen, por exemplo, representa o populismo nacionalista, enquanto a AfD combina elementos dos populismos nacionalista e ultraliberal. Milei e Trump compartilham a retórica populista ultraliberal, voltada contra a casta e a elite cultural progressista, mas o segundo mantém um teor mais alto de populismo nacionalista, apelando à América profunda. Bolsonaro partiu de um populismo conservador básico, ao qual acrescentou, como um apêndice retórico, o populismo ultraliberal, porém sem nunca abandonar a retórica do populismo protetor dos pobres e miseráveis.

Em comum, todos os populistas têm uma elite para condenar, um povo para defender e representar, um sistema para combater e desmontar. Todos se apresentam como a voz autêntica do povo e a expressão mais genuína de sua vontade e de suas esperanças. O peso e a importância de cada elemento nesse caldeirão retórico e nas ações de cada líder, partido ou movimento é que conferem o sabor próprio do populismo predominante em cada lugar. São iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes. E vice-versa.

Trump tenta usar sul-africanos brancos como 'alerta' para seguidores nos EUA

Se ouvirmos a opinião do presidente dos EUA, Donald Trump, e de seus aliados, ele dirá que a África do Sul é um lugar terrível para as pessoas brancas. Segundo o republicano, elas enfrentam discriminação, são preteridas em vagas de emprego e vivem sob a constante ameaça de violência ou de terem suas terras roubadas por um governo corrupto, liderado por negros, que deixou o país em frangalhos.

Os números contam uma história diferente. Apesar de serem apenas 7% da população, os brancos controlam quase metade das terras da África do Sul. As estatísticas policiais não os mostram como mais vulneráveis a crimes violentos do que outras fatias da população. E os sul-africanos brancos estão em situação bem melhor dos que os negros em praticamente todos os indicadores econômicos.

Mesmo assim, Trump e seus aliados apresentam uma narrativa própria sobre a África do Sul para avançar com um argumento próprio dentro de casa: se os EUA não barrarem as iniciativas de promoção de diversidade, o país se tornará uma nação disfuncional onde a discriminação contra os brancos será rotina.

— A ideia é instigar o medo nas pessoas brancas nos EUA e em outros lugares: “nós brancos estamos sob ameaça” — afirmou Max du Perez, um escritor e historiador sul-africano, branco, ao comentar a descrição que Trump faz ao seu país.

Mas, como ele aponta, os brancos prosperaram desde o fim do regime do apartheid, em 1994.

Os paralelos entre as tentativas da África do Sul para desfazer as injustiças dos anos do apartheid e a longa jornada dos EUA para lidar com o legado da escravidão e com as chamadas “Leis Jim Crow”, que reforçaram a segregação no país, com frequência surgem entre os apoiadores de Donald Trump.

Ernst Roets, um ativista branco na África do Sul, disse que quando conversou com ativistas conservadores dos EUA, por vezes ouviu deles que “era necessário olhar para a África do Sul, porque é o que vai acontecer por aqui se não formos cautelosos”.

Desde a queda do apartheid, há três décadas, o governo democrático da África do Sul chegou ao poder com a promessa de reparar as desigualdades do sistema que deixou a maioria da população negra às margens. Mesmo assim, o presidente Nelson Mandela em boa parte permitiu que os brancos mantivessem suas riquezas, como forma de garantir uma transição pacífica.

Seu partido, o Congresso Nacional Africano, aprovou leis para reduzir o abismo da desigualdade entre brancos e negros. Recentemente, o país adotou uma medida que permite ao governo confiscar terras privadas que sejam de interesse público, por vezes sem compensação.

A lei ainda não foi usada, embora alguns sul-africanos brancos — e Trump — digam que ela atinge, de forma injusta, os donos de terras e fazendeiros, em sua maioria brancos, apesar de décadas de políticas anti-apartheid.

Trump construiu sua identidade política em parte como um protetor da América branca. Brigou para salvar símbolos dos confederados no sul do país, chamou treinamentos sobre discriminação racial de “propaganda antiamericana”, e defendeu publicamente supremacistas brancos.

Cortar a ajuda à maior parte da África, ao mesmo tempo em que defende os africâneres —a minoria étnica branca sul-africana que liderou o regime do apartheid — parece ser a mais recente prova do comprometimento de Trump com os interesses brancos.

No mês passado, o presidente assinou uma ordem executiva garantindo status de refugiados aos africâneres e suspendendo toda a ajuda à África do Sul, em parte como resposta à reforma das terras. Ele disse em sua rede social, no começo do mês, que os EUA facilitariam a obtenção de cidadania para os fazendeiros sul-africanos, muitos dos quais são africâneres. Na sexta-feira, o secretário de Estado, Marco Rubio, chamou o embaixador da África do Sul em Washington, Ebrahim Rasool, de “político incitador racial que odeia os EUA” e o expulsou.

— Trump está dizendo aos brancos de todos os lugares que ele usará seu poder para proteger e impulsionar seus interesses, e que os fatos não importam — disse Khalil Gibran Muhammad, professor de Estudos Afro-Americanos na Universidade Princeton.

Alguns africâneres elogiaram a postura de Trump. Ativistas foram a Washington em fevereiro para pedir apoio ao seu governo. Um integrante da Casa Branca descreveu uma das delegações como “líderes dos direitos civis”.

Muitos dos aliados do presidente destacaram o que veem como dificuldades dos brancos sul-africanos. Elon Musk, que nasceu na África do Sul mas não é africâner, acusou o governo do país de promover leis racistas, e falsamente alegou que fazendeiros brancos estavam sendo mortos todos os dias.

Depois que Roets participou do programa de Tucker Carlson na Fox News, em 2018, o apresentador publicou em suas redes sociais que “fazendeiros brancos estavam sendo brutalmente assassinados na África do Sul por causa de suas terras”.

Carlson produziu uma matéria descrevendo tomadas de terras e homicídios. Trump, que estava em seu primeiro mandato, marcou o jornalista em uma publicação em uma rede social na qual dizia ter ordenado uma investigação sobre a tomada de terras e “o assasinato em grande número de fazendeiros, mesmo sem o governo ter tomado uma propriedade sequer até hoje.

No universo de Trump, esses temas estão sendo recirculados como sinais de alerta para os Estados Unidos.

Muitos eleitores sul-africanos, não importa sua raça, concordam que o Congresso Nacional Africano criou um país com muita corrupção, sem infraestrutura, com altos níveis de violência e desigualdade, onde os negros são os mais pobres. Na última eleição, o partido perdeu a maioria no Parlamento pela primeira vez desde o fim do apartheid.

Analistas apontam que a sigla fez grandes esforços para adotar políticas pró-mercado que permitiram aos sul-africanos brancos manter seu poder econômico. Na verdade, muitos cidadãos criticam Mandela por não ter ordenado uma redistribuição mais agressiva de terras controladas pelos brancos para a população negra, cujas famílias foram expulsas dessas mesmas terras durante o apartheid e o período colonial.

Apoiadores da lei das terras esperam que ela acelere o objetivo de devolver as propriedades aos sul-africanos negros. Mas para Trump, os africâneres é que são as vítimas “de uma injusta discriminação racial”, como detalhou em sua ordem executiva assinada no mês passado.

Descendentes de colonizadores holandeses que chegaram ao sul da África em 1652, os africâneres atraíram as atenções do mundo no começo do século passado, como uma pequena tribo que enfrentou o poderoso império britânico em batalhas territoriais (apesar de perderem a guerra”. Os britânicos os viam como grosseiros, e essas lutas criaram divisões profundas entre as duas maiores populações brancas do país, que persistem até hoje.

Embora o presidente americano geralmente seja contra a entrada de refugiados e pessoas em busca de asilo nos EUA, ele abriu uma avenida especial para alguns africanos brancos chegarem ao país.

Isso não necessariamente correspondeu aos desejos de seu público-alvo. Muitos africâneres dizem que, embora apreciem o apoio de Trump, assim como suas alegações de perseguição, eles preferem permanecer em seu país, que eles consideram ser seu lugar de direito.
John Eligon