quarta-feira, 15 de março de 2023
As digitais do governo Bolsonaro na criação de um Estado policial
Todo cuidado é pouco em um mundo onde até objetos domésticos de aparência inocente são capazes de espionar seu comportamento e desejos, e informar a respeito aos interessados ocultos. De fato, todo cuidado é pouco e, na maioria das vezes, inútil.
Comprada no final do governo Michel Temer, a ferramenta “FirstMile”, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, custou a bagatela de 5, 7 milhões de reais, um terço do valor das joias dadas de presente a Michelle pela ditadura da Arábia Saudita.
Não se sabe se ela entrou em ação de imediato; sabe-se, porém, que dela se valeu o governo Bolsonaro entre 2019 e 2021, via Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), órgão subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Trata-se, segundo apurou O Globo, de um sistema secreto de monitoramento que permite acompanhar em qualquer ponto do país os passos de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses, naturalmente à revelia deles, senão não faria sentido.
Para isso bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e ver em um mapa a última localização conhecida do dono do aparelho. Moleza! A partir daí, o dono do aparelho só sairia de vista se a ABIN perdesse o apetite por ele.
A agência não tem autorização legal para acessar dados privados de ninguém; nem na época da ditadura militar de 64, o famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI) tinha. Mas, e daí? Em um Estado policial, tudo é permitido; num semi, quase tudo.
O SNI grampeava telefones, o que dava trabalho e exigia agentes para ouvir os diálogos e transcrever o que parecesse importante. Exigia gente também para seguir ao vivo a movimentação dos espionados. Um software, hoje, cuida de tudo sem deixar rastros.
Uma vez que o governo foi trocado no início de janeiro último, ignorasse se o “FirstMile” continua ativo e, nesse caso, monitorando Bolsonaro nos Estados Unidos. Há meios de burlar a vigilância. Lula, por exemplo, só usa o celular dos outros.
O certo é que na Flórida, onde se refugiou, Bolsonaro está sujeito à vigilância de drones. Não admite uma Alexa perto dele porque ela não guarda segredos, transmite-os em tempo real. E usa vários celulares, mas de preferência de auxiliares.
Quando presidente, no auge de sua paranoia, ele se escondia no Palácio da Alvorada com medo de ser atacado por um drone. Não raras vezes, abaixava-se para conferir se não havia uma bomba atada ao carro que o transportava.
Certa ocasião, filmado por um admirador, tentou tomar-lhe o celular. Foi quando ganhou o apelido de “Tchutchuca do Centrão”.
Comprada no final do governo Michel Temer, a ferramenta “FirstMile”, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, custou a bagatela de 5, 7 milhões de reais, um terço do valor das joias dadas de presente a Michelle pela ditadura da Arábia Saudita.
Não se sabe se ela entrou em ação de imediato; sabe-se, porém, que dela se valeu o governo Bolsonaro entre 2019 e 2021, via Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), órgão subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Trata-se, segundo apurou O Globo, de um sistema secreto de monitoramento que permite acompanhar em qualquer ponto do país os passos de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses, naturalmente à revelia deles, senão não faria sentido.
Para isso bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e ver em um mapa a última localização conhecida do dono do aparelho. Moleza! A partir daí, o dono do aparelho só sairia de vista se a ABIN perdesse o apetite por ele.
A agência não tem autorização legal para acessar dados privados de ninguém; nem na época da ditadura militar de 64, o famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI) tinha. Mas, e daí? Em um Estado policial, tudo é permitido; num semi, quase tudo.
O SNI grampeava telefones, o que dava trabalho e exigia agentes para ouvir os diálogos e transcrever o que parecesse importante. Exigia gente também para seguir ao vivo a movimentação dos espionados. Um software, hoje, cuida de tudo sem deixar rastros.
Uma vez que o governo foi trocado no início de janeiro último, ignorasse se o “FirstMile” continua ativo e, nesse caso, monitorando Bolsonaro nos Estados Unidos. Há meios de burlar a vigilância. Lula, por exemplo, só usa o celular dos outros.
O certo é que na Flórida, onde se refugiou, Bolsonaro está sujeito à vigilância de drones. Não admite uma Alexa perto dele porque ela não guarda segredos, transmite-os em tempo real. E usa vários celulares, mas de preferência de auxiliares.
Quando presidente, no auge de sua paranoia, ele se escondia no Palácio da Alvorada com medo de ser atacado por um drone. Não raras vezes, abaixava-se para conferir se não havia uma bomba atada ao carro que o transportava.
Certa ocasião, filmado por um admirador, tentou tomar-lhe o celular. Foi quando ganhou o apelido de “Tchutchuca do Centrão”.
O castigo de Carluxo é voltar ao Rio
Cinelândia, centro do Rio. O vereador Carlos Bolsonaro —de cabeça baixa, com pinta de paranoico, cercado de seguranças e andando rápido para não ser reconhecido— entra na Câmara Municipal usando a porta alternativa, na lateral do prédio. Ao flagrá-lo, um gaiato que almoçava no Amarelinho entoa a plenos pulmões a cantiga infantil: "Apareceu a Margarida, olê olê olá".
Em sua sexta legislatura, o filho 02 consegue ser um completo estranho no ninho. Se bobear, ele não sabe nem onde fica o Amarelinho, tradicional bar e restaurante ao lado da Câmara. Além de gaiato, o carioca que o chamou de Margarida é um privilegiado, pois viu o vereador chegar para um raríssimo dia de trabalho na cidade que o elege desde 2000, quando era apenas um adolescente de 17 anos e foi introduzido na política pelas mãos do papai.
Motivo de piada entre seus pares no Parlamento —"O Rio é a primeira cidade do Brasil que possui um vereador federal"—, Carlos passou os últimos quatro anos longe, em Brasília. Apontado por Bolsonaro como principal responsável por sua chegada ao Palácio do Planalto, em 2018, ele voltou a influir na campanha presidencial, comandando o gabinete do ódio e impulsionando a estratégia da mentira nas redes.
Investigado por lavagem de dinheiro, organização criminosa, com o sigilo bancário quebrado, refugiou-se depois das eleições nos EUA, onde nasceu sua filha Júlia. Cogitou pedir cidadania italiana para escapar da Justiça. Não houve jeitinho: retornou ao velho Palácio Pedro Ernesto na semana passada.
Já tem explicações a dar: por que usou o cartão corporativo da Presidência da República para trabalhar em home office durante a pandemia? Foram 11 diárias de hotel, em março de 2021, que custaram R$ 2.300 aos cofres públicos. Na época, atuando de maneira remota e recebendo salário na Câmara, Carlos Bolsonaro criticou o isolamento social. Estando em Brasília, é claro.
Em sua sexta legislatura, o filho 02 consegue ser um completo estranho no ninho. Se bobear, ele não sabe nem onde fica o Amarelinho, tradicional bar e restaurante ao lado da Câmara. Além de gaiato, o carioca que o chamou de Margarida é um privilegiado, pois viu o vereador chegar para um raríssimo dia de trabalho na cidade que o elege desde 2000, quando era apenas um adolescente de 17 anos e foi introduzido na política pelas mãos do papai.
Motivo de piada entre seus pares no Parlamento —"O Rio é a primeira cidade do Brasil que possui um vereador federal"—, Carlos passou os últimos quatro anos longe, em Brasília. Apontado por Bolsonaro como principal responsável por sua chegada ao Palácio do Planalto, em 2018, ele voltou a influir na campanha presidencial, comandando o gabinete do ódio e impulsionando a estratégia da mentira nas redes.
Investigado por lavagem de dinheiro, organização criminosa, com o sigilo bancário quebrado, refugiou-se depois das eleições nos EUA, onde nasceu sua filha Júlia. Cogitou pedir cidadania italiana para escapar da Justiça. Não houve jeitinho: retornou ao velho Palácio Pedro Ernesto na semana passada.
Já tem explicações a dar: por que usou o cartão corporativo da Presidência da República para trabalhar em home office durante a pandemia? Foram 11 diárias de hotel, em março de 2021, que custaram R$ 2.300 aos cofres públicos. Na época, atuando de maneira remota e recebendo salário na Câmara, Carlos Bolsonaro criticou o isolamento social. Estando em Brasília, é claro.
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