quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Vingança dos irmãos Gomes mostra ao PT que empulhação eleitoral tem limites

​​Ciro se picou para a Europa, e Cid usou toda a elegância típica do clãpara enterrar de vez o cadáver natimorto da tal "frente democrática" —a predileção do PT pelo monopólio da moral pública enquanto exerce prestidigitação é comovente.

Nada mais previsível. Mesmo quando, lá em 1815, Ciro e Fernando Haddad se encontraram para uma conversa que acendeu esperanças naqueles desejosos de ver algo que não fosse visto como uma candidatura teleguiada da cadeia por Lula, o teatro era ilusório.

Ciro não toparia ser vice de Haddad e vice-versa. Simples assim. O pedetista até acalentou o sonho, animado por Jaques Wagner e outros, de que Lula poderia apoiá-lo. Durou até o petista arrancar o PSB de seus braços, ofertando a cabeça de Marília Arraes em troca, um ótimo negócio para os pessebistas de Pernambuco ao fim.
 

Agora é relatório de danos. Ciro saiu maior politicamente do pleito, embora em fatia de eleitorado tenha basicamente repetido seus desempenhos de 1998 e 2002. Por outro lado, vai ter trabalho para manter-se na ribalta política sem mandato ou cargo —haja meme.

Já Lula fez o que pôde, manteve seu pedaço fidelizado de eleitorado, manteve cidadelas nordestinas e garantiu a robustez possível para sua bancada federal sobreviver em temos incertos e fragmentários no Legislativo. Ser oposição a uma figura como Bolsonaro é oportunidade de sobrevida do partido, semelhante ao gás que o fracasso do governo Temer após o impeachment lhe deu.

Haddad, bom, Haddad está hoje muito perto de voltar a dar aulas, após cumprir o roteiro humilhante que lhe foi dado.

Se o campo conservador encarnado em partidos tradicionais foi destroçado pela onda Bolsonaro por incompetência de leitura da realidade, o PSDB que o diga, não se pode achar nada muito melhor da esquerda liderada pelo PT.

Apesar do entusiasmo de gente de boa fé, assustada com tudo de regressivo que vem associado a Bolsonaro, o partido foi o de sempre na costura da tal "frente democrática", aspas compulsórias. Agiu como bedel moral do eleitor, atribuindo o voto ao deputado do PSL apenas a uma bem fabricada campanha de "fake news". Esperou olimpicamente que todos os progressistas do país se unissem e virassem o jogo, desde que sob seu comando pois afinal chegou ao segundo turno.

Não deu certo de saída. Aí não adianta nada beijar a cruz constitucional na Globo, ir papar hóstia no dia de Aparecida, atenuar a Manuela, ter a Gleisi a defender adoção de outras bandeiras, cortar o Lula da campanha e dar uma mão de verde e amarelo sobre a parede vermelha.

É tarde, muito tarde. O eleitor pode ser enganado e é demonstrável que isso ocorre em praticamente todas as eleições, mas há limites para a empulhação em espaço tão curto de tempo. O que Ciro começou e Cid terminou, noves fora a vingança, foi apenas um lembrete disso tudo.

Dona Esperança não é mulher de malandro

Se em 2003 a esperança venceu o medo, agora é o medo que derrota a esperança. O que mudou para um sentimento dos mais nobres, e uma "profissão" brasileira, se entregar ao incerto?

Esperança precisa ser tratada com carinho e atenção, não merece o que fizeram com ela. Se tornou bandeira para tudo de ruim: corrupção, bandalheira escancarada, enriquecimento desbragado dos Defensores do Povo, ganância desmedida em se imortalizar no poder, ruína da educação, da saúde, da segurança; mentiras e mais mentiras.


Viver na desgraceira com tanta mentira de que estão preparando o futuro (o deles, claro) fez com que muita gente trocasse na bacia da mediocridade a certeza do continuísmo pela incógnita. O Brasil se lançou no escuro, com coragem, muito maior do que muita gente "guerreira", porque não teme o futuro.

Quando se procura a todo custo uma explicação para a tal "guinada" à direita, com exemplos até estrangeiros, que não se comparam ao brasileiro, a grande esquecida é a Esperança. Foi ela tripudiada todo este tempo, trocada por milhares em todas as categorias por 30 moedas. Agora vem dar o troco.

Esperança está acompanhada do conservadorismo, que compõe o DNA do brasileiro, e um dueto de amor e ódio ao militarismo, que acompanha a República desde a sua fundação. Nada de retrocesso, fascismo, nazismo e outras peçonhas importadas que insistem em colocar nesta onda. 

É que nunca viram Esperança com raiva, com fome, pronta para qualquer luta, principalmente para dar uma surra em todos os malandros que desejavam viver às suas custas.
Luiz Gadelha

Efeito Marina

Nunca antes na história eleitoral do país, a grande atração do segundo turno foi o esvaziamento do partido que saiu na frente das pesquisas e cada vez mais perde votos e é mais rejeitado. Conferir os números negativos de Haddad passou a ser o divertimento de muitos e a alegria de milhões.

Pode vir a tempestade que vier, mas parece que o chope vai rolar para saudar o desastre petista.

Prioridades

Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse consumismo feroz podia ser negociado com a gente mesmo: uma hora de alegria em troca daquele sapato. Uma tarde de amor em troca da prestação do carro do ano; um fim de semana em família em lugar daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima detesto.

Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade. Mas, à medida que fui gostando mais do meu jeans, camiseta e mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, fui ficando mais tranqüila e mais divertida. Sapato e roupa simbolizam bem mais do que isso que são: representam uma escolha de vida, uma postura interior.

Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma e na bolsa também. Resistir a certas tentações é burrice; mas fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria.

Cada um que examine o baú de suas prioridades, e faça a arrumação que quiser ou puder.

Que seja para aliviar a vida, o coração e o pensamento – não para inventar de acumular ali mais alguns compromissos estéreis e mortais.

Lya Luft, "Pensar é Transgredir"

Imagem do Dia

Villalpando (Espanha)

Bolsonaro e os debates

Haddad está atrapalhadíssimo. Os marqueteiros do partido fizeram desabar sobre Bolsonaro três adjetivos que deveriam condená-lo à morte política por inanição de votos. Verdadeiro corte da fonte de suprimentos. Nos últimos meses, multidão de militantes, comunicadores, professores, intelectuais foi orientada a etiquetá-lo como machista, racista e homofóbico. A previsão era de que isso o fizesse definhar mais do que facada no ventre e sopa de canudinho no hospital. Pois apesar da carga cerrada, a mais recente pesquisa do Ibope mostrou que o candidato do PSL o supera em votos entre as mulheres (46% a 40%), entre os negros (47% a 41%) e provavelmente também entre os gays, mas isso não dá para saber. É informação difícil de buscar.


Haddad, então, não conhece seu adversário nem seus eleitores e já não sabe quem é. Por tanto tempo foi ventríloquo de Lula presidiário que quis continuar a usar a máscara com a face do chefe mesmo depois de ungido candidato a presidente. Aceitou ser chamado de “Poste” e – é claro – passou a ser tratado como tal. Haddad topava todas as postergações e humilhações porque ali adiante havia uma porta da felicidade que franqueava para os palácios presidenciais de Brasília. E tudo vale a pena, também quando a alma é pequena.

Ademais, as pesquisas, enganosas como são, vinham dando ao petismo a impressão de que o páreo estava corrido. Elas atribuíam a Bolsonaro um índice de rejeição incompatível com vitória eleitoral. Num segundo turno perderia para todos, incluído ele, Haddad. Bastava levar o adversário a um novo round e o PT voltaria às delícias do sítio de Atibaia da Praça dos Três Poderes.

O eleitor brasileiro, no entanto, “problematizou” a situação e “desconstruiu” essa narrativa, como diria um petista treinado nos ardis da novilíngua. O PT ficou reduzido a um único grande eleitor, o Lula. Nestes últimos dias, então, o atrapalhado Haddad descalçou o Lula; suprimiu a estrela, o PT e o PCdoB; fez desaparecer o vermelho. Adotou as cores da bandeira e ficou com jeito de “coxinha”. E quer porque quer debater com Bolsonaro. Valem, aqui, dois conselhos quase seculares: Não se atrapalha adversário que está errando e não se ajuda adversário que está atrapalhado.

Para que conceder ao adversário algo que ele tanto quer? Num debate, Haddad usará as piores estratégias. Estatísticas e calendários, desempenhos de gestão e atos de corrupção irão para o moedor das conveniências e das versões. Não vem o PT repetindo que sua gestão foi um paraíso de bem estar e prosperidade? Não alega que foi Temer quem arrastou o Brasil para o precipício? Oportunizar esse tipo de discurso? É muito difícil debater quando a honestidade intelectual fica fora do recinto.

Só para lembrar: em 1989, no primeiro turno, Collor faltou a todos os debates e no segundo foi a apenas dois; FHC, que venceu dois pleitos no primeiro turno, compareceu a apenas um evento em 1994 e em 1998 sequer houve debates; Lula não compareceu a nenhum debate no primeiro turno de 2006. Comparecer ou não é juízo de conveniência.

A campanha eleitoral vai terminar sem que o PT entenda que está perdendo esta eleição para o antipetismo em todos os segmentos da vida nacional. O petismo vive uma situação como a do samba de Vinícius e Toquinho em que o sujeito tantas fez que agora tanto faz.

À espera da onda

 Na maioria, os políticos e jornalistas de esquerda são pessoas que ganham a vida pedindo algo que na verdade não querem. São ardentes revolucionários enquanto tudo vai bem, mas cada real emergência revela instantaneamente que estão simulando
George Orwell, "O que é o fascismo?"

Eu, medo do Bolsonaro? Depois de Sarney, Collor, FHC, Lulas, Dilma e Temer???

Primeiro tivemos o José Sarney, o homem que queria congelar a “lei da oferta e da procura”, que se dispôs a mandar a Polícia Federal caçar bois no Pantanal de helicóptero e que introduziu o PMDB na vida da prostituição e os brasileiros na superinflação… Depois, tivemos o Fernando Collor, o caçador de maracujás, usurpador do patrimônio privado que estava nos bancos e único dono da razão, assessorado por quadrilhas de coronéis intelectuais e que colocou a nossa economia nas mãos da primeira “Dilma” da nossa Nova República…

Aí veio o outro Fernando, que queria que a moeda brasileira valesse o mesmo que o dólar pelos restos dos tempos e que, ao contrário do seu sucessor, comprou o Congresso e pagou à vista, na hora, em dinheiro vivo e que não só foi preso porque estava blindado pelo Brindeiro e por um Supremo corrupto…

Depois apareceu o Lula, irmão gêmeo ideológico do último Fernando, que emprestou muito dinheiro e tirou milhões de pessoas da pobreza e do Terceiro Mundo, sem que nenhum dos novos ricos precisasse estudar ou ter aprendido alguma nova profissão e, por fim, resolver imitar o seu antecessor e comprar o mesmo Congresso, as mesmas prostitutas do PMDB que já tinham sido compradas antes. A diferença foi que desta vez preferiu pagar “mensalmente”. Como queria fazer a mesma coisa que o seu irmão, achou que ainda não tinha aparecido nenhum juiz nesta Zorra e acabou na cadeia…

A seguir, tivemos a “gerentona” Dilma Rousseff, sempre de topete erguido como o de uma gansa choca em um quintal de patos; quando os seus serviçais eram indagados sobre esse rabujo, diziam que a sua arrogância e pouco tato com pessoas eram originários do fato dela ser uma “administradora” eficiente, uma “intelectual” que sacrificara a simpatia humana em prol da impessoalidade da máquina para bem gerir a Petrobrás…

Finalmente, veio o Michel Temer, acompanhado da quadrilha do MDB. Portanto, repito o que o cartunista Alfred. E. Newman sempre dizia: “Eu, me preocupar?”

Eu, me preocupar com o Bolsonaro, depois de passar trinta anos tendo a vida, a economia, a saúde, a segurança, o transporte, controlados pelos governantes acima mencionados – até o país chegar aonde chegou?

Pensamento do Dia


O mal-estar eleitoral

Sendo seres rigorosamente da casa e “de família”, todos temos, além de um nome a zelar, uma enorme ambivalência pela “política”, sobretudo quando ela não pode mais esconder o meio-termo e exige voto e escolha. Criados para aceitar, fingir e não reclamar do que temos e somos (pois há gente pior que nós...), temos um desconforto amigável com os confrontos eleitorais.


Com seu exagero ianque, o professor Moneygrand me assegura que o sistema político brasileiro foi desenhado para não escolher e que, para nós, brasileiros, o inferno é ser obrigado a tomar partido. Neste sentido, diz ele, somos sem querer o país no futuro, já que, na sua percepção, uma “ética da dúvida” será dominante neste planeta canibalizado pelo consumismo...

Não seria um paradoxo sermos apaixonados pela “política” — esse domínio no qual o público e não previsto se manifesta abertamente — quando somos criados para sermos obedientes e honestos em casa, mas treinados para esconder, mentir e ocultar na rua?

Quando foi que o falar (mal) dos outros deixou de ser o assunto mais importante do Brasil?

Americanos falam de coisas; nós, de pessoas, aprendi numa América mais para Alexis de Tocqueville do que para Joseph McCarthy.

De fato, em casa tudo nos é atribuído: somos pais, filhos, irmãos, sobrinhos, netos, cunhados... Nela, nada é escolhido, e o comportamento segue a velha e inconsciente hierarquia inibidora do nosso lado público, cidadão e individualista que surge com os amigos que escolhemos no mundo público quando (altamente culpados) estamos livres dos controles da nossa poderosa rede de carne e de sangue.

Em casa somos “educados” e, sobretudo, obedientes — quase reacionários, diz meu amigo Levy... Mas na “rua” assustamos (e escandalizamos) quando nossos “responsáveis” descobrem como um latejar de liberdade combinado a um grama de igualdade nos torna “moleques de rua” e “revolucionários”, desafiando não apenas “tudo isso que aí está” (o que é fácil de dizer e até hoje impossível de fazer), mas igualmente os sofridos corações maternos...

Criados para não discordar, a polarização eleitoral causa mal-estar quando legitima diabolizar adversários políticos mesmo quando eles são da nossa família. A repressão do dissenso em casa revela uma negação absurda da realidade na rua. Ela legitima classificar genitores, professores e amigos como nazistas e como apoiadores do fim do mundo — caso “ele” ou o “outro” seja eleito.

É normal que o período eleitoral apaixone. Não é, porém, normal que se transforme numa batalha bíblica entre anjos e demônios.

O que estou sugerindo aqui não é novidade para quem leu meus livros. Neles eu reitero que, para termos uma vida pública palatável, é fundamental dirimir a distância entre a casa e a rua. Só assim iremos entender as suas conjunções injuriosas, quando pedimos ao parente instalado no governo ou quando concebemos os presidenciáveis como as figuras paternas a quem queremos entregar o país quando, na verdade, o nosso papel mais básico como cidadãos não é o de continuar sendo “filhos” obedientes e seguidores, mas de governar o governo.

Algo complicado quando o domínio da casa é situado fora do mundo e quando se vive num planeta cada vez menor e mais dividido. Até onde tal divisão vai também permear a nossa intensidade afetuosa em casa e a nossa relativa indiferença na rua é — a meu ver — uma das questões centrais deste momento político.

Se não é cabível esquecer a linguagem violenta; também não é possível descartar a chocante denúncia de uma política de corrupção em nome do povo. Eis um dilema complexo numa sociedade onde se aprende, repito, a estar de acordo com os erros do pai e os exageros da mãe; e, no mundo político, adotou-se o vergonhoso lema de que os fins justificam os meios. Mas posso lhes assegurar que, por baixo de todas as discórdias, jaz um Brasil cujas razões conhecemos sempre parcialmente.

Repito que não estamos no fim do mundo. Estamos, sim, vivendo uma inesperada e imensa renovação. Dizem que é conservadora. Se Marx vivo estivesse e brasileiro fosse, diria que o certo seria chamá-la de revolucionária.

Peruanos punem nas urnas os envolvidos com a Lava Jato

“O Peru é um mendigo sentado em um banco de ouro”, dizia Giovanni Antonio Raimondi Dell’Acqua (1824-1890), cientista ítalo-peruano, um dos principais acadêmicos do Peru no século XIX. Dell’Acqua referia-se às grandes riquezas que o Peru gerava e à simultânea pobreza generalizada por causa da imensa corrupção que assola o país desde os tempos coloniais. No entanto, pela primeira vez em sua história, os eleitores do país decidiram dar uma lição aos políticos envolvidos nos mais retumbantes casos de corrupção do último quarto de século — primordialmente as propinas pagas pela Odebrecht no Peru — e os castigaram nas eleições para prefeitos e governadores dos 25 departamentos (equivalentes a estados) do Peru realizadas no domingo 7.

Os vitoriosos nas urnas foram partidos regionais — formados por políticos locais nas diversas regiões do país — e os velhos partidos políticos que haviam ficado de escanteio nas últimas décadas, como o Ação Popular, outrora liderado pelo ex-presidente Belaúnde Terry (1963-1968 e 1983-1985). Os peruanos afirmam com ironia que alguns partidos antigos estavam tão esquecidos nos últimos 15 anos — o período mais intenso das propinas — que nem sequer foram levados em conta pela Odebrecht como ‘‘potenciais políticos a subornar’’.

Kuczynski fez partido dançar nas urnas
Em dezembro de 2016, a empreiteira brasileira Odebrecht admitiu perante a Justiça dos Estados Unidos que pagou US$ 29 milhões em propinas entre 2005 e 2014 a autoridades peruanas para obter contratos de obras públicas. Esse período coincidia com os governos de três ex-presidentes: Alejandro Toledo, Alan García e Ollanta Humala. Durante essas três administrações, a empreiteira brasileira obteve contratos de US$ 12 bilhões no Peru.

Entre os grupos políticos envolvidos na edição peruana da Lava Jato derrotados nas urnas está o Peruanos pela Mudança, fundado pelo ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2017), partido que há dois anos aspirava a crescer graças à chegada de seu líder à Presidência.

Denunciado na Justiça no ano passado, Kuczynski tentou negar vínculos com a Odebrecht. Mas admitiu que sua consultoria havia realizado trabalhos de assessoria para a empreiteira quando era ministro do presidente Toledo. PPK, como é conhecido, foi alvo de uma tentativa de impeachment em dezembro, que fracassou. Em março, perante outra ameaça de destituição, renunciou.

Nestes últimos sete meses, seu partido encolheu e saiu arrasado das eleições municipais e departamentais, obtendo apenas 0,4% dos votos para a prefeitura de Lima, seu principal reduto político.

Temer perdeu a reputação e o senso de ridículo

O brasileiro gosta tanto de piadas que Michel Temer imagina que ninguém mais se incomoda de ser presidido por uma anedota. No mesmo dia em que veio à luz a notícia sobre seu indiciamento no inquérito sobre portos, Temer vangloriou-se num discurso para empresários de ter silenciado o asfalto com o sucesso de sua gestão.

“…Nós não tivemos problemas no país, não tinha movimento de rua”, discursou o presidente na Associação Comercial do Paraná, em Curitiba, nesta terça-feira. ''Claro que em algum lugar qualquer tem cinco, seis, dez ou 40 que se reúnem e dizem ‘Fora, Temer’. Mas, isso faz parte da democracia, ouço aquilo e digo: ‘Que coisa boa!’ Tem gente se manifestando, é verdade. Mas se bem que agora tem o ‘Fica, Temer’ que está correndo pela rede, não é?”.

Horas depois de flertar com o ridículo, Temer foi pendurado novamente nas manchetes na constrangedora posição de acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Como previsto, a Polícia Federal entregou ao Supremo o relatório final do inquérito que apura se o presidente editou um decreto favorecendo empresas do setor de portos em troca de propinas.

Foram indiciados Temer, sua filha Maristela e mais nove pessoas. A Polícia Federal pediu ao ministro Luis Roberto Barroso, relator do caso na Suprema Corte, a prisão de quatro pessoas. Entre elas o coronel da Polícia Militar paulista João Baptista Lima, amigo e operador do presidente da República.


Folheando-se o processo, percebe-se que, na opinião da Polícia Federal, a poltrona de presidente da República é ocupada por um desqualificado. O pior é que os quase 90% de brasileiros que desaprovam o governo Temer concordam com os investigadores.

Antes do grampo do grampo do Jaburu, Temer apresentava-se ao país como paladino da austeridade e chefe de um governo reformista. Depois da divulgação do seu diálogo vadio com Joesley Batista, abriu os cofres do Tesouro para comprar sua permanência no cargo. Às voltas com duas denúncias, está prestes a colecionar a terceira. A Presidência de Temer já não derrete, apodrece.

Num ambiente assim, discursos engraçadinhos como o que Temer pronunciou para empresários em Curitiba revelam que o presidente não perdeu apenas a compostura e a reputação. Perdeu também o senso de ridículo.