quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Deixa comigo...

‘Que eu faço”, “Resolvo”, “Não vou contar”, “Falo com ele”, “Pago”. Complementando, o “deixa comigo” reafirma confiança. É uma expressão reveladora de como as palavras — além de criarem e balizarem o mundo, garantem compromissos — “fazem coisas”, como aprendi com o filósofo John Longshaw Austin. Há uma obrigação na promessa. O mesmo ocorre quando digo “deixa comigo!”.

Mas tudo depende do contexto, senão casar num palco seria um casamento “de verdade”. Mas, em certos momentos, o elo entre o falar e o fazer nivela as distâncias. Falar de sexo é em, certas situações, fazer sexo. Do mesmo modo, os sacrilégio assustam.

Romualdo Flores, católico fervoroso e amigo do coração, ficava chocado ao ouvir as blasfêmias espanholas de Manolo Rivera, um pensador com quem debatemos conflitos intestinos que iam das guerras civis ao soturno incesto da corrupção federalizada num seminário internacional sobre a calúnia realizado em Santander, Espanha.

A calúnia faz com a que o absurdo abafe a verdade. Ela promove a dúvida. “Eu sabia...”, diz o lado maldoso do seu coração ao ouvir a aleivosia. Anunciada com veemência, ela intriga porque, como a propaganda, muitos precisam da mentira e do absurdo. Ademais, tudo o que é impresso ou pronunciado em voz empolada ganha um viés de veracidade. Recentemente, um conhecido foi caluniado, e logo descobri que a aleivosia tinha a capacidade de parir um monte de dúvidas. Como o caluniado era velho e honesto, não era sicofanta e dizia o que pensava, não teria ele realmente cometido o crime denunciado pelo caluniador? Quem, afinal seria o f.d.p — o caluniador ou a vítima? Eis o absurdo que faz com que a calúnia “pegue”. Dizer num solene manifesto que é uma injustiça prender os ladrões do petrolão promove a dúvida que até hoje fratura o território que divide bandidos bilionários enriquecidos pelo assalto às instituições públicas, cujas penas deveriam ser o dobro das de desdentados ladrões de galinha.

Jogar com o oposto de um caráter ou reputação é um elemento perturbador, pois equivale a arrancar uma máscara. O puritano santimonioso é revelado como um pedófilo; um professor de antropologia é denunciado como preconceituoso. Nada foi mais chocante para alguns meninos da minha geração do que descobrir a sexualidade do pais, sobretudo da mãe, cujo nome era sagrado.

Pelo mesma lógica, nada pode ser mais decepcionante do que descobrir que o partido nascido dos trabalhadores e liderado por um operário apaixonou-se perdidamente pelos muito ricos e a eles entregou as riquezas do país. Parece uma caluniosa ficção mas, infelizmente, é verdade.

Daí o mal-estar das reversões morais quando projetos de melhorar o mundo são profanados. A verdade nua e crua — que obriga o mais covarde a tomar uma atitude — produz um efeito semelhante ao da calúnia: essa hipermentira. Prender ladrões do bem comum é como condenar um pai comprovadamente incestuoso. O autorroubo ou a autossabotagem é a negação que tipifica o bandido-político e o neurótico clássico estudado e desvendado por Freud. Qual é a lógica por trás de governantes que batem a carteira do povo que governam?

Se os papéis públicos exigem coerência, como resolver essa multidão de atos desonestos que assolam o país? Um pensador com mais inteligência do que o malogrado cronista diria que essa desonestidade tem, de um lado, um laço profundo com o gigantismo centralizador das esferas de poder; e, do outro, a fé ou a crença em formulas que resolveriam o Brasil. A crença não depende de experiência. Muito pelo contrário, quanto mais ela é rechaçada pelos fatos e pela vida, mais nela se deve acreditar. O crítico absoluto dos outros é um sujeito perdido no labirinto da sua arrogância. Como o soldado que marcha de passo errado.

“Deixa comigo”, dizem as crenças e os amigos de fé dos logros que promovem uma potente solidariedade. Num plano menos visível, porém, o “deixa comigo” é a devolução de um favor. Trata-se do fechamento de um ciclo de reciprocidades que filtram permanentemente valores e ideais. Se os ideais exigem uma sincera e difícil impessoalidade, o favor dos “deixa comigo” tudo perdoa em nome dos companheiros a quem se deve a devolução de um gesto de simpatia na forma de alguns milhões de dólares.

Volto ao começo.

O “deixa comigo” é primo da impunidade. Afinal, tudo passa, e o povo, também sem memória, esquece.

— Acertamos na mosca comprando uma refinaria superfaturada.

— Mas, e se descobrirem?

— Não vão descobrir.

— Mas... e se descobrirem?

— Estamos juntos e cobertos pelo gabinete. Ademais, temos os ritos do processo.

PS: o que diz “deixa comigo” está livre, leve e solto. Acaba de chegar de Miami cheio de lembrancinhas para a família. Já o preocupado passa uma temporada na Papuda, lendo a Bíblia.

'Que horas são, senhor? São hora de ser honesto'

No artigo da semana passada, fiz referência às debochadas denominações “coxinha” e “petralha”, que seriam os novos representantes da direita e da esquerda – uma invenção de mau gosto e alimentada pelo ódio. No último sábado, li, dois dias depois, no jornal “O Globo”, a crônica do jornalista Arnaldo Bloch “Coxinhas & Petralhas”.

“Tive uma ideia – disse o cronista – para uma nova banda de rock. Não copiem, pois ainda não a registrei. Vai se chamar Coxinhas & Petralhas. O nome já diz ao que veio: veio para representar o Brasil bipolar de hoje”. E continua o cronista a sua justa diatribe: “Uma banda singular, que une a burrice de um lado com a burrice do outro. Pois, hoje, ou o brasileiro é um petista ladrão stalinista devorador de inocentes criancinhas, ou é um fascista fardado com um tucano tatuado na testa, assassino dos humildes trabalhadores. Alguém vai negar?”.

Por mim, não vou negar. É exatamente isso que às vezes me leva a uma crise de mau humor, quase sempre dominada antes mesmo de se iniciar. Sou um craque, modéstia à parte, ao esconder, sobretudo por meio do silêncio, essa doença que não mata o portador, mas amarga ou destrói a vida dos que lhe são mais próximos.

Vale a pena ler a crônica de Arnaldo Bloch. Para estimulá-lo ainda mais, vai aqui, leitor, outro trechinho, por sinal uma sugestão de fato maldosa. Escreve o cronista: “Já se fala até num novo tipo, um compósito, um híbrido, nascido dessa experiência: o coxalha, um ser que, aliás, é coxo, puxa uma perna, mas jamais se atrapalha”.

É claro que o país não sairá desse imbróglio ou dessa bipolaridade a que se refere o cronista se nós, brasileiros, continuarmos a aceitar esse jogo tramado pelos nossos representantes, cujo objetivo único é a conquista do poder pelo poder. Para eles, o povo é um detalhe.

A esperança de um verdadeiro renascimento não pode estar, por outro lado, na carta assinada por alguns advogados – muitos deles impedidos, pois estão comprometidos com a defesa de vários dos seus réus – condenando as investigações da operação Lava Jato. Sonham defender os seus clientes pressionando o Judiciário pela opinião pública, não por meio de provas e recursos nos próprios autos.

Antes que este espaço se esgote, esclareço o que também disse no último artigo, quando me referi ao relançamento do livro “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, na Alemanha e no mundo. Jamais me passou pela cabeça a abjeta palavra “censura”. Não vou adquiri-lo, pois conheço suficientemente o seu autor: um psicopata. Falei por mim, pelo velho teimoso que insisto em carregar. Mas não nego que ele será extremamente útil, principalmente às gerações mais jovens, que precisam conhecer o real tamanho desse monstro humano. Luiz Fernando Emediato, responsável pela edição que sairá em março no Brasil, em entrevista ao “Magazine”, de O TEMPO, disse muito bem: “Conhecer o livro dele (de Hitler) nos ajuda a criar os antídotos contra quem nos engana na política, na religião, na propaganda e nos negócios”.

Enfim, o título acima: “Que horas são, senhor? São horas de ser honesto”. Trata-se de um diálogo entre personagens de William Shakespeare (23.4.1564-23.4.1616), durante um encontro casual em uma rua qualquer. A pergunta é inocente, nada revela, mas a resposta – uma metáfora que diz tudo – está repleta de lições de moral e ética.

Quando chegará a hora, leitor, da honestidade neste país? Certamente não a alcançarei, mas me conforta aspirar por ela.

Erramos! Mas ainda é tempo

As notícias de hoje indicam recessão econômica, violência nas ruas, inflação alta, governo sem rumo, a Petrobras derretida pelo roubo e a incompetência, o povo profundamente descontente, milhões de crianças fora da escola e as outras em um sistema sem qualidade, sobretudo desconfiança profunda com todos que fazem política, por causa da corrupção monumental e generalizada.

É natural e correto jogar a culpa na Dilma, no Lula, no PT: eles encarnam a incompetência e irresponsabilidade na gestão e a tolerância e roubo da corrupção. Mas a culpa não é apenas deles. Por ação ou omissão, outros erraram e erram.

Primeiro, os partidos que fazem parte do governo: a base de apoio à corrupção e aos desmandos. Por locupletar-se com cargos, PCdoB, PDT, PMDB, PTB, PRB, PR e todos os outros são tão culpados quanto o PT, por conivência ou por omissão.

Sinto culpa porque há dez anos tento e não consigo influenciar meu partido, PDT, deslumbrado com ministério desde 2007, depois de ter sido oposição quando nele ingressei em 2005. Todos os coniventes, os omissos ou os impotentes,também somos culpados. Os eleitores que os elegeram também têm parte da responsabilidade, mínima, mas têm.

Felizmente, sempre é tempo de mudar e enfrentar o problema, reverter a vergonha e a decadência, lutar por um novo rumo para o Brasil. De maneira que deixemos para filhos e netos notícias diferentes das que dominam o presente brasileiro.

O asceta de Garanhuns


“Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.” Lula continua achando que o brasileiro é idiota. Reuniu ontem blogueiros amigos para um café da manhã em seu instituto e, a pretexto de anunciar que vai participar “ativamente” do próximo pleito municipal, aderiu pessoalmente – já o havia feito por intermédio de seu pau-mandado Rui Falcão – à campanha promovida por prósperos advogados e seus clientes, apavorados empresários e figurões da política, para desmoralizar a Operação Lava Jato, que procura acabar com a impunidade de poderosos corruptos.

Lula conseguiu escapar penalmente ileso do escândalo do mensalão e, por enquanto, não está oficialmente envolvido nas investigações sobre o assalto generalizado aos cofres públicos. Os dois casos juntam-se numa sequência das ações criminosas que levaram dinheiro sujo para os cofres do PT e aliados e “guerreiros” petistas como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares para a cadeia.

O que é inacreditável é que, como presidente da República e dono do PT, Lula não tivesse conhecimento do mensalão e do petrolão que desfilavam sob seu nariz. Assim, é notável o atrevimento – talvez mais estimulado pelo desespero do que por sua índole de ilusionista – com que o personagem, que ficou rico na política, se apresenta como monopolista das mais prístinas virtudes.

Só mesmo alguém empolgado pelo som da própria voz e pelas reações da plateia amiga cairia no ridículo de se colocar como referência máxima e insuperável em matéria de honestidade. “Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.”

Apesar de inebriado com as próprias virtudes, Lula encontrou espaço para a modéstia – infelizmente de braços dados com a mendacidade, que alguns chamam de exagero retórico – ao se referir ao combate à corrupção. Fez questão de dar crédito a sua sucessora, deixando no ar a pergunta sobre a razão pela qual os petistas esperaram oito anos, até que o chefão deixasse a Presidência, para se preocuparem com os corruptos: “O governo criou mecanismos para que nada fosse jogado embaixo do tapete nesse país. A presidente Dilma ainda será enaltecida pelas condições criadas para punir quem não andar na linha nesse país”. E arrematou, falando sério: “A apuração da corrupção é um bem nesse país”.

Lula não se conforma, no entanto, com a mania que os policiais e procuradores têm de o perseguirem, obstinados pela absurda ideia fixa de que ele tem alguma coisa a ver com a corrupção que anda solta por aí: “Já ouvi que delação premiada tem que ter o nome do Lula, senão não adianta”. Ou seja, os homens da Lava Jato ou da Zelotes não vão sossegar enquanto não obrigarem alguém a apontar o dedo para o impoluto Lula. Mas, confiante, o chefão do PT garante que não tem o que temer: “Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito”.

Lula falou também sobre a fase mais financeiramente próspera de sua carreira política, quando, depois de ter deixado o governo, na condição de ex-presidente faturou alto com palestras aqui e no exterior patrocinadas por grandes empresas. Explicou que é comum ex-chefes de governo serem contratados para transmitir suas experiências ao mundo. Quanto a palestrar no exterior para levantar a bola de empreiteiras que para isso lhe pagam regiamente, Lula tem a explicação que só os mal-intencionados se recusam a aceitar: “As pessoas deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os serviços do seu país. Essa é a coisa mais normal em um país”.

De fato, é muito louvável que um ex-presidente da República se valha de seu prestígio para “vender” os serviços e produtos de grandes empresas brasileiras aptas a competir no mercado internacional. Resta definir quando essa benemerência se transforma em tráfico de influência.

“Nesse país”, porém, qualquer um que manifeste dúvidas em relação à absoluta integridade moral do asceta de Garanhuns é insano ou mal-intencionado.

O mosquito e o cavalo chamado Brasil

O filósofo grego Sócrates costumava dizer que Atenas, sua cidade, era uma como uma égua preguiçosa – não queria discutir e rever seus costumes, conceitos, instituições. Grande questionador disso tudo, ele se definia como um mosquito que picava o lombo da égua para que ela se mexesse.

O Brasil não tem um Sócrates. Nem precisa. O Aedes aegypti nos incomoda há décadas causando epidemias sucessivas de dengue. Mas o país é um cavalo muito indolente. Pouco se mexeu nesse período. Agora, o resultado da negligência: o mosquito virou o vetor de mais duas ameaças, a febre chikungunya e o vírus zika – este, responsável por casos de microcefalia de bebês.

O descaso histórico com a proliferação do Aedes aegypti, mais do que uma questão de saúde pública, diz muito sobre os brasileiros e nossas autoridades. O combate ao mosquito, afinal, depende de uma ação individual em benefício da comunidade: eliminar recipientes com água parada no seu imóvel. É a lógica da coisa pública – em algumas questões, todos têm de dar sua contribuição pelo bem da coletividade.

Mas uma parcela expressiva da população ainda tem problemas para entender isso. Basta pegar um carro e sair pelas ruas para ver isso se materializar no desrespeito às leis de trânsito.

As autoridades tampouco deram a importância que o assunto exigia. O mais grave é que o país chegou a erradicar o mosquito, em 1955. E parece ter se esquecido de como conseguiu fazer isso.

O esforço nacional para eliminar o Aedes aegypticomeçou em 1927 – quando uma epidemia de febre amarela, também transmitida pelo mosquito, chegou ao Rio de Janeiro, a capital federal à época. Ou seja, a picada só incomodou quando chegou ao centro do poder.

Apesar disso, as ações planejadas pelo governo funcionaram. E tudo já começou da forma certa: foi fechada uma parceria com a Fundação Rockefeller, dos Estados Unidos, que tinha experiências bem-sucedidas na erradicação do Aedes.

Houve resistências, porém. Autoridades sanitárias brasileiras apostavam no fumacê – aspersão de inseticida nos locais com maior infestação (estratégia ainda usada hoje em dia). Os técnicos estrangeiros eram contra. Diziam que o fumacê não funcionava para erradicar o mosquito. Venceram a disputa.

A estratégia adotada foi visitar todas as casas para matar os mosquitos por meio da dedetização. Em paralelo, a população era imunizada contra a febre amarela.

Havia metas diárias de residências a serem visitadas. E os agentes da saúde pública ganhavam bem pelo serviço. Também houve persistência: foi uma luta de quase 30 anos que chegou a todos os rincões do país. Funcionou. O mosquito só voltou no fim dos anos 60, início dos 70. Isso porque países vizinhos não fizeram sua parte e o Aedes entrou no Brasil pelas fronteiras.

A experiência que deu certo poderia inspirar nossas atuais autoridades. Hoje há mais conhecimento e tecnologia para combater o mosquito. Mas não há uma ação nacional eficiente de eliminação do vetor.

Talvez o drama das gestantes ameaçadas de terem bebês com microcefalia seja a picada que falta para os políticos e a população se mexerem.

A perigosa mensagem do voto do ministro Barroso

No Brasil da era petista é assim: terrorista vira herói; herói vira bandido. Bandido tem regalia; gente honesta paga pelas regalias. Corrupção virou lugar comum, não envergonha mais ninguém; aliás, se a corrupção for em benefício do partido que ocupa o poder, merece solidariedade e aplausos. A mentira virou política de estado: mente-se para ganhar eleição e para permanecer no cargo. Mentir pode; protestar, não pode! Aliás, só quem pode protestar é a esquerda; quando os outros protestam é golpe.

Tudo isso é grave; mas, não chega a ser trágico. Sejamos sinceros: o brasileiro parece não se importar com a mentira, a corrupção e os desmandos.


Trágico é quando um ministro do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de Justiça do país, frauda conscientemente a fundamentação de uma grave decisão que afeta toda a nação, visando proteger quem lá lhe colocou. Luís Roberto Barroso ao omitir a parte final do art. 188 do Regimento Interno da Câmara Federal feriu de morte a Constituição que um dia ele jurou defender. Suas explicações após a exposição de sua deplorável atuação não convencem nem a ele mesmo. Porém, o ministro Barroso, pelas regras atuais, permanecerá firme no cargo que ele manchou indelevelmente.

Desde que Montesquieu formulou a teoria dos três poderes, as nações democráticas a têm aplicado. Executivo, Legislativo e Judiciário são, na teoria do célebre francês, poderes harmônicos e independentes entre si, que, em um sistema de pesos e contrapesos, garantem a continuidade da democracia. Sem nenhum demérito, pode-se afirmar que, enquanto os Poderes Executivo e Legislativo podem ser formados por leigos, muitas vezes bem intencionados, mas, sem o conhecimento adequado, não se permite ao Poder Judiciário ser ocupado por pessoal que não seja técnico e desprovido de paixões além de certo limite. E coloco o condicional, pois o fato de se tornar magistrado não torna o homem melhor, maior, ou mais sábio do que outro. Mas pressupõe que seu compromisso seja com a verdade, a lei e a justiça.

Reside justamente aí a tragicidade do voto do Ministro Barroso: ele destruiu a esperança de termos um judiciário acima das paixões partidárias. Magistrados erram; o erro é inerente à natureza humana. Mesmo Cristo, quando veio a esse miserável planeta errou e, com a Sua grandeza, reconheceu e corrigiu seu erro (Mateus, 15, 21-28). Mas, ali tratamos do erro inconsciente ou se consciente, sem malícia. Não é o caso do Ministro Barroso. Com seu voto ele diminuiu a si mesmo a toga que ele veste, desonrou a casa que ele ocupa; e forneceu o mais eloquente exemplo das incoerências que reinam no Brasil da era petista.

O voto do Ministro Barroso transcende o julgamento que ele maliciosamente influenciou. O judiciário é a vitrine da justiça e o baluarte da democracia. Quando um magistrado da mais alta corte de justiça do país se deixa levar pelo interesse pessoal ou partidário ele abre um perigoso precedente, pois manda a mensagem errada para toda a sociedade. As consequências podem ser imprevisíveis. Sorte dele, que vive no Brasil de 2016. Se estivesse em qualquer outro país sério, já teria perdido o direito de usar a toga que desonrou.

Lula anuncia guerra contra jornalistas


Lula anuncia guerra contra a imprensa e sugere que vai processar jornalistas a rodo.

Na entrevista a blogueiros progressistas de joelhos, o petista fez algumas afirmações que levaram a turminha a salivar, como os cães de Pavlov. Disse ele:
“Comecei a processar jornalistas. […] Vou começar a processar jornalista para ver se a gente recupera a dignidade da categoria e as pessoas verem que, quando escrevem alguma coisa prejudicando alguém, aquilo tem consequência. Contratei o Nilo Batista. Daqui pra frente, vou processar todo mundo, criminalmente, cível, sei lá. Pra ver se a gente consegue colocar um pouco de ordem na casa.”

Bem, o PT tentou censurar a imprensa de várias maneiras, não é? Primeiro com o Conselho Federal de Jornalismo. Não deu certo. Depois veio a cascata do “controle social da mídia”. Também não deu certo. Agora chegou a fase do terror jurídico. Lula deve lamentar não ter conseguido fazer aqui o que Chávez fez na Venezuela.

Ele emitiu também um juízo sobre a imprensa, que, curiosamente, é majoritariamente de esquerda:

“A politização da imprensa chegou a tal ordem. Admito que tenham um lado, que publiquem editoriais, o que quiserem. A única coisa que não admito é mentira na informação, é mentira. […]”

Huuummm… “Mentira”, para políticos, com alguma frequência, são as notícias de que eles não gostam. Mas, claro, se alguém contar alguma mentira sobre Lula, que ele processe. Acho que não serei alvo. Só digo verdades sobre ele. Quando afirmo, por exemplo, que Nestor Cerveró e Fernando Baiano o acusam de ter intermediado a operação que resultou no “perdão” do empréstimo concedido pelo Grupo Schahin ao PT, isso é verdade. Nota: o chefão deve achar os blogs progressistas, muitos deles financiados com dinheiro público, um exemplo de jornalismo, elegância e independência.

Ele também foi adiante tentando fazer uma guerrinha de gênero e de classe:
“Pensei que a Dilma ia ser mais bem tratada por ser mulher. Mas é ideológica a coisa, é uma coisa de pele. Você não tem a minha pele, meu caro, então não entra no meu clube. Te aceito do portão pra fora. As pessoas de mais baixa renda nesse país não podem ter ascensão que incomoda as pessoas. Eu vou me defender.”

Hein? Ser mulher, agora, é categoria de pensamento que deve colocar o vivente acima da crítica? Isso é uma forma de machismo ou é só oportunismo vulgar mesmo? Em se tratando de Lula, as duas coisas. Acho que eu tachá-lo de “oportunista vulgar” não vai levar Nilo Batista a se assanhar e me processar, né?

Lula, cujo partido fez o país mergulhar numa crise inédita, com corrupção idem, ainda pretende ser o monopolista da causa dos pobres.

Este senhor já morreu politicamente e ainda não recebeu o recado. É um zumbi. É só um cadáver adiado que procria.

É uma opinião, Lula, não uma ofensa. Eu até o acho notavelmente inteligente. Esperto mesmo. Muito esperto. Tanto é assim que não há, até agora, nem mesmo um inquérito contra você. É bem verdade que isso se deve também à covardia do Ministério Público.

Esgotou o prazo de validade, companheiro!

O desperdício nosso de cada dia

A astronomia desconhece unidades de medidas cotidianas, como metro e quilômetro. Tudo é, no mínimo, bilhão. São 5,9 bilhões de quilômetros da Terra a Plutão, e 263 bilhões da Terra ao centro da Via Láctea. Assimilá-las não é trivial. Acontece o mesmo com as despesas do Estado, listadas em bilhão, dezenas de bilhão, centenas de bilhão de reais, tudo astronômico e desafiador como as distâncias cósmicas. Em 2015, as pastas da Educação e da Saúde receberam dotação de mais de R$ 100 bilhões cada uma. Ainda assim, faltou dinheiro. O gasto com o pagamento dos servidores federais superou os R$ 280 bilhões. A Previdência custou mais de meio trilhão. O Orçamento Geral da União foi de R$ 2,68 trilhões de reais. Números siderais, com tantos zeros, são alcançados pelas calculadoras. Mas deixam as pessoas um pouco confusas. Uma forma de trazer o debate a um patamar mais terreno é realizar os cálculos com apoio do calendário (a boa e velha folhinha) e do cronômetro. Pode parecer estranho, mas faz sentido. Acompanhe.


A folhinha nos oferece o custo médio do Estado brasileiro por mês (R$ 223 bilhões ), e por dia (R$ 7,3 bilhões). O cronômetro, por hora (R$ 306 milhões) e por minuto (R$ 5 milhões). Com estes novos fatiamentos, podemos executar cálculos mais palpáveis. Para melhorar o saneamento, por exemplo, um dos grandes flagelos nacionais, o Estado reserva, por ano, apenas nove horas das despesas globais. O Congresso Nacional custa, anualmente, um dia e seis horas de orçamento. O Bolsa Família, três dias e 19 horas. O Ministério da Defesa, 11 dias, Saúde e a Educação, cerca de 15 dias cada.

Além de dimensionar as despesas no tempo, o método revela que certas economias apresentadas pelas autoridades como fruto de um admirável esforço fiscal são mais modestas do que parecem. Em setembro do ano passado, o Ministério do Planejamento divulgou um pacote de cortes que incluía extinção de ministérios, eliminação de cargos de confiança e reduções variadas de gastos administrativos. Total da economia do pacote: R$ 2 bilhões no ano. Pelo cronômetro, o Estado comprometeu-se a enxugar seis horas e 34 minutos do bolo anual. Pouco, já que o ano tem 8.760 horas. No caso de 2016, bissexto, 24 horas a mais.

O Orçamento de 2015, que deveria apresentar superávit, fechou com déficit de R$ 118,6 bilhões. Zerá-lo significaria um esforço fiscal semelhante a 16 dias da despesa anual. Equivaleria a cortar, em cada mês, um dia e oito horas de custos. Mas as autoridades não conseguiram, e isso nos rendeu a perda do grau de investimento. A folhinha e o cronômetro escancaram o tipo de país que estamos construindo. Em 2015, o Estado reservou aos investimentos, base para o futuro, apenas dez dias de recursos — e executou cinco. Investimento é infraestrutura. São obras necessárias para tornar o país socialmente mais justo e economicamente mais competitivo. Já as despesas referentes aos compromissos assumidos no passado consomem quase cinco meses do Orçamento. São dois meses e sete dias do ano para os serviços da dívida pública e outros dois meses e 12 dias para o pagamento da Previdência.

Como o Brasil vai progredir destinando cinco dias do ano ao futuro e quase cinco meses ao passado? Parar de pagar a dívida não é opção, mas conter seu avanço vertiginoso, uma obrigação. O mesmo vale para a Previdência, um sistema que só para em pé se guiado pela lógica atuarial, não por conceitos subjetivos e discutíveis de justiça. Se o método do cronômetro e da folhinha não ajudar os governantes a compreender o tamanho do desafio, restará o método da moedinha. Cara, o Brasil vira um país insignificante; coroa, ele quebra.

Coisas muito antigas

Até parece que não há mais nada acontecendo no País. É Lava a Jato pra cá, é Lava a Jato pra lá, mas isso vem durando tanto e dizem que por um mínimo de mais dois anos ainda vai durar.

É tanta a sujeira a lavar que a nós, cidadãos plenos nas obrigações tributárias e, não obstante, desfalcados pelo Estado no tudo a ver com a cidadania, não nos cabe ficar escamoteando tanta indignação.

Nas investigações dessa Lava Jato não há indicio que não realce a conexão entre a promiscuidade entre o poder politico e o poder econômico, os dois fazendo o diabo, como receitou a Dilma, para ludibriando a soberania popular continuarem dominando o Estado.

Os romanos até que tentaram moralizar a coisa quando obrigaram os candidatos aos cargos públicos a se vestirem numa túnica branca e durante um período antes da eleição a desfilarem assim pela cidade.

Candidato vem de cândido, aquele que conseguisse atravessar todo o período da campanha andando pelas ruas, enfiado numa túnica branca, sem que ninguém lhe incomodasse atirando-lhe um tomate ou ovo podre.

Sabe-se que por trás das boas intenções dos políticos rolava algum dinheiro como o verbo mais convincente de muitos eleitores.

Há registros de que a eleição para o primeiro cargo da carreira politica de César, o de sacerdote do Templo, custou uma pequena fortuna à família dele, que bancou tudo.

A soberania popular, mais que antigamente, tem sido conspurcada para favorecer os donos do poder politico e os financiadores de suas campanhas eleitorais.

O jogo é pesado. Rola muito dinheiro numa eleição para Vereador. Imagine para um Deputado, Senador ou Presidente da República.

Temos assistido decisões da Justiça Eleitoral cassando mandatos sob a acusação de abusos do poder politico ou do poder econômico.

O voto segue sendo comprado sob as mais diversas modalidades que a cada eleição mais se sofisticam. Mas não nunca se viu a cassação do titulo de eleitor de quem vendeu o seu voto em troca de qualquer vantagem.

O combate à corrupção eleitoral tem que alcançar também a outra ponta do túnel por onde escorre a podridão do esgoto - o eleitor que dá o voto em troca de vantagem pessoal.
Edson Vidigal

Blá-blá-blá não substitui credibilidade

Dilma e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, acertaram os ponteiros do que será a agenda brasileira em Davos. Como sempre a presidente acredita piamente que sabe do que está falando quando viaja na maionese em economia, ou melhor, em qualquer assunto.

O Brasil novamente vai bancar palhaço na Europa diante de todo o mundo.

Barbosa, um dos artífices da "nova matriz econômica", tem recomendação de Madame para revelar ao Forum Econômico Mundial quais as medidas governamentais para tirar o país da miséria administrativa, que ninguém aqui ainda sabe. Também será otimista ao extremo sobre as vantagens de se investir no Brasil. Mais um falatório de envergonhar um país apenas para uso interno de propaganda.

Não há coelho, nem sequer cartola, que foi posta no prego. Também seria demais Barbosa bancar o mágico diante daquele público.


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Por lá todos sabem de antemão que o Brasil se tornou o maior vilão do mundo, levando para baixo outras economias. Além de levarem com seriedade o trabalho e respeitarem o cargo, não confiam em patavina petista. Estão imunizados pela malandragem que infectou tudo quanto é canto em que pousaram Lula e seus comandados.

A previsão do FMI de que o país não voltará a crescer até 2018 não pegou de surpresa ninguém lá fora. Nem só pela economia em baixa vertiginosa, o bla-blá-blá politiqueiro e as investigações da Lava Jato, revelando o maior roubo partidário aos cofres públicos, os estrangeiros também sabem que o governo não quer, porque não acha necessário, cortar gastos como deveria e, de quebra, ainda está esbanjando com a policalha.

Representantes em Davos conhecem de montão a situação político-adminbistrativa do Brasil para não caírem em esparrela. Por mais corruptos que sejam, nenhum deles teria o atrevimento de levar a maior empresa em seus países à falência. É uma questão de respeito às instituições nacionais, que Dilma e Lula, principalmente, não têm.

Portanto, fale o que falar, Barbosa não convence nem implorando de joelhos. Os estrangeiros estão cada vez mais "porráqui" com o governo brasileiro, que se despreza os próprios cidadãos ainda quer levar junto para o fundo do poço os cidadãos de outros países.

O máximo que Barbosa conseguirá será jogar purpurina na petizada nacional e bancar o rei Momo para alegrar o Carnaval dos "Clóvis" vermelhos. E claro, esconder, bem escondida, a banana que vai ganhar. Bem sabe que os estrangeiros exigem credibilidade que o governo petista não tem em seu DNA.

E agora, José?

O discurso dos “bem-pensantes” circula em torno da cantilena de que o neoliberalismo produziu pobreza. Dizem mais, repetindo mimeticamente que a renda dos trabalhadores vem diminuindo. Bem, ouço essa conversa desde que tenho memória e já se vão muitas décadas. Se a queda contínua da renda fosse verdadeira, só haveria lumpesinato e o mundo estaria reduzido a multidão maltrapilha e quantidade minúscula de pessoas com riqueza infruível em meio a iniquidade abjeta.

Parte dessa percepção das coisas foi ver os governos populistas da América do Sul como “maré rosa”, avanço socialista para superar a pobreza trazida pelos abutres do capitalismo. O neoliberalismo, diziam os arautos do paraíso, iria empobrecer os latinos ainda mais do que as ditaduras.

O encerramento do ciclo castrense trouxe governos “liberais” que fizeram leves ajustes estruturais na economia e a casa começou a ficar em ordem, superando as décadas destroçadas pela economia de quartel que vigorou nas plagas do sul, exceto no Chile. Esse período foi turbulento na economia internacional porque a Rússia e os outros países que surgiram com a implosão da União Soviética estavam em situação falimentar e, na Ásia, os satélites da China também entraram e saíram de bancarrotas. Foi período de intensa atuação do Fundo Monetário Internacional.

No Brasil o ciclo de superação da hiperinflação e estagnação econômica foi concluído com a vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, em maio de 2000. Com nuances, os vizinhos da América do Sul viveram igual experiência, exceto a Venezuela, onde o populismo, à moda dos anos 30, chegou ao poder em 1999.

Daí em diante o populismo venceu as eleições em vários lugares prometendo milagres rápidos de enriquecimento para todos. À época o foguete chinês estava com as turbinas em força máxima, acelerando a economia mundial. Os novos líderes do canto esquerdo do terceiro mundo se jactavam de vencer a pobreza e estimular o crescimento da economia por meio de crédito com dinheiro público. Assim, as moedas locais, especialmente o real, se supervalorizaram e Miami passou a ser mais um shopping na lista da classe média que se sentiu poderosa.

Enquanto isso, na casa de máquinas do navio, a estrutura produtiva obsoleta, as instituições cartoriais, o compadrio, o patrimonialismo continuavam enferrujando todas as peças. Os marujos mais prudentes avisavam que a coisa ia ficar feia. Mau agouro, pessismistas, dizia o capitão enquanto entregava o leme à sargento.

Como era absolutamente previsível, os motores pifaram e a nau está à deriva. E agora, José? A festa acabou, a riqueza sumiu, a realidade chegou. Ah, a licença poética de Drummond obtive da estátua na Praia de Copacabana. A previsão para o ano põe o Brasil e a Venezuela na disputa pela lanterna do retrocesso. Quem trouxe pobreza? A responsabilidade ou a irresponsabilidade fiscal?

No Brasil a queda na venda de automóveis foi de 25%; na Espanha, o aumento foi de 25%. O petróleo está mais barato do que água. A nossa débâcle é culpa de quem? De alguma conspiração contra os “governos populares” ou da mais óbvia incompetência gerencial endógena?

Friedmann Wendpap

Brasil pode ter quase 1 em cada 5 novos desempregados do mundo em 2017

Quase um em cada cinco novos desempregados do mundo em 2016 e 2017 virá do Brasil. A estimativa é da Organização Mundial do Trabalho (OIT), que em seu mais recente relatório sobre empregabilidade, divulgado neste terça-feira, acredita que 700 mil brasileiros se somarão ao contingente de desempregados até o ano que vem, de um total que pode chegar a 3,4 milhões de pessoas ao redor do planeta.

O país é citado diversas vezes no documento como exemplo de mercado de trabalho em apuros. Segundo a OIT, economias emergentes como a brasileira serão as que mais sofrerão com o desemprego em 2016.

Em meio à crise econômica e à recessão, a sangria no mercado de trabalho do Brasil já foi sentida em 2015: nos 12 meses até novembro, foram perdidas cerca de 1,5 milhão de vagas formais no país.

A China, que acaba de divulgar seu menor índice de crescimento em 25 anos, por exemplo, terá 800 mil desempregados a mais nos próximos dois anos. A desaceleração do país – que é um grande exportador e também grande comprador de matéria-prima, inclusive do Brasil – é um dos principais fatores por trás do recuo no emprego global, segundo a OIT.

A entidade chama a atenção também para a possibilidade de uma acentuação do desemprego caso países emergentes adotem medidas de austeridade – pelos cálculos da OIT, isso poderia criar um contingente extra de 2 milhões de desempregados, inclusive no Brasil.