sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A ironia que nos salva

Vivemos nessa selva. A imensa maioria está doente de impotência e de ressentimento. E alguns poucos como nós, marginais doentes de nostalgia e presos ainda a um punhado de valores que alguém nos mostrou alguma vez serem universais, sobrevivemos apenas à força da ironia. Neste contexto social individualista, decadente e cada vez mais violento, que para muitos é a inevitável pós-modernidade, é impossível alcançar o equilíbrio. Para os que ainda acreditamos na superioridade da ética, e conservamos um ou dois princípios, e emperdenidamente acreditamos na existência de utopias que valem a pena, o equilíbrio em si se transforma em utopia. Porque, na pós-modernidade, todas as forças se desataram com exagero: há mais gente, mais carências, mais fome, mais injustiças, mais filhos da puta, mais conflitos e cada vez mais graves. O individualismo à antiga é a única coisa que lhes permite sobreviver, só que à custa da loucura e da selvageria
Mempo Giardinelli, "Impossível equilíbrio"

Bolsonaro hipoteca o futuro

O governo Bolsonaro é ruim em muitas áreas, mas é especialmente sofrível na educação. Ao longo desses três anos, o presidente deu mostras seguidas de que desconhece a importância da educação para o presente e o futuro do País, como também não faz ideia do papel que a União deve ter na coordenação e no diálogo com Estados e municípios a respeito das políticas educacionais. Trata-se de um escândalo completo, mas é também a natural decorrência da própria natureza do bolsonarismo. Um grupo que só se dedica a destruir é necessariamente incompetente para lidar com uma área cuja essência é construir.

O governo Bolsonaro destrói até o próprio discurso. Sem nunca ter apresentado nenhuma proposta para a educação, o bolsonarismo optou pelo caminho das ideias simplistas – e equivocadas. Por exemplo, mais de uma vez, o Ministério da Educação de Bolsonaro criticou a ampliação do acesso ao ensino universitário, como se fosse um capricho caro, desnecessário e incapaz de contribuir para a produtividade do País. A prioridade bolsonarista seria a educação básica, que inclui as três etapas iniciais: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

É uma obviedade, diga-se de passagem, priorizar o ensino básico. Ninguém discorda dessa ideia, nem mesmo quem defende ampliar o acesso à universidade. Afinal, a educação básica de qualidade é condição para qualquer avanço na formação das novas gerações.


No entanto, nem mesmo aquilo que seria, em tese, uma prioridade do governo Bolsonaro é levado a sério. Os vetos de Jair Bolsonaro relativos ao orçamento do Ministério da Educação de 2022 atingiram especialmente a educação básica. De um total de R$ 739,9 milhões de cortes na área educacional, R$ 402 milhões referem-se à educação básica, segundo o Todos Pela Educação.

A entidade emitiu um parecer mostrando preocupação com a decisão do governo. “A retomada das aulas presenciais, com todas as implicações decorrentes da pandemia, não suporta o corte no montante previsto e aprovado pelo Congresso na forma de emendas de comissão e de previsão de despesas discricionárias. Foram atingidas pelos vetos ações de responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) relacionadas ao desenvolvimento da Educação Básica (R$ 325 milhões), infraestrutura (R$ 55 milhões) e transporte escolar (R$ 22 milhões). Essas ações são utilizadas para apoiar Estados e municípios na educação básica, especialmente em programas estratégicos, como o fomento às escolas de ensino médio em tempo integral”, disse a nota.

Além disso, essas programações de investimento já vinham sendo objeto de baixa execução por parte do Ministério da Educação. Por exemplo, até o segundo quadrimestre de 2021, houve queda de 63% na dotação discricionária de infraestrutura da educação básica. O Todos Pela Educação alerta que a falta de prioridade do governo em relação à educação básica coloca Estados e municípios “à mercê das indicações de emendas impositivas e de relator”.

Esta é a realidade do governo Bolsonaro: incompetência, omissão e confusão. Nunca é demais lembrar que Jair Bolsonaro chegou ao acinte de nomear para a chefia do Ministério da Educação o sr. Abraham Weintraub, aquele que, no cargo, bateu recordes de ineficiência e agressividade e ainda saiu às pressas do País, após ser incluído como investigado no inquérito referente a ameaças contra o Supremo Tribunal Federal. Como se isso não bastasse, o sr. Milton Ribeiro, sucessor de Weintraub, é também especialmente hábil em manifestar sua absoluta falta de afinidade com a administração de políticas públicas educacionais.

Enquanto corta verbas do ensino básico, Bolsonaro se esforça para manter e até mesmo ampliar os recursos requeridos por parlamentares para se promoverem e disputarem eleições. Ou seja, Bolsonaro hipoteca o futuro das crianças – que não votam – para pagar a conta de sua sobrevivência política. Assim, a passagem de Bolsonaro pelo poder deixará sequelas terríveis nas próximas gerações.

Guedes será lembrado como maior inimigo da Previdência, que ainda ampara os brasileiros

O corte de quase R$ 1 bilhão do Orçamento da Previdência Social, para este ano, indica que tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o ministro Paulo Guedes não têm o menor apreço pelos aposentados e pensionistas. Vai faltar dinheiro para atender as demandas dos brasileiros, especialmente os que precisam do auxílio-doença e de perícias médicas.

Essa dupla sinistra está apostando no caos e no sofrimento dos que precisam do INSS, justamente o povo mais pobre. Que falta de humanidade…

Como pode um governante, após fazer esse corte absurdo, ainda ter audácia para falar em Deus, Família e Pátria? Pura falácia e palavras ao vento. Tentam enganar o povo evangélico, que também sofre na pele os efeitos dessa política antissocial. Não adianta os pastores defenderem o governo nos cultos, pois ninguém muda a realidade com discurso.


O ministro Paulo Guedes sempre sonhou com o fim da Previdência Social. Tentou implantar o modelo de capitalização da Previdência, que seria gerido pelos grandes bancos e fracassou no Chile, onde está sendo reformulada.

Atender aos banqueiros é a especialidade de Guedes, que sempre viveu e enriquecer no mercado financeiro. É a área dele, nada a ver com o social. E o presidente não pode o demite, porque teme perder o apoio do Sistema Financeiro. Guedes é o braço dos Bancos.

No Chile, a equipe dos chicagoboys que Guedes integrava conseguiu destruir a aposentadoria pública, na era do ditador Augusto Pinochet. Aqui no Brasil, na reforma da Previdência, os militares ficaram de fora e o Congresso não embarcou nessa empreitada de Guedes. O ministro ficou possesso, não suporta ser contrariado.

Bem, neste ano Guedes ainda não conseguirá a capitalização da Previdência, pois em época de eleição os parlamentares não fazem maldades. Mas esperem 2023, se Bolsonaro vencer…

Até lá, está sendo preparado o terreno, com esse do corte de quase 1 bilhão no Orçamento do INSS. Vai faltar dinheiro para atender as demandas dos brasileiros.

O objetivo é sucatear o sistema, impedir a contratação de novos funcionários, para substituir os que vão se aposentando, e, com isso, jogar a opinião pública contra o INSS.

Estará assim armado o circo para um novo sistema de aposentadoria, que Guedes vai apregoar como o melhor dos mundos de Voltaire. E mais para a frente, quando os jovens de hoje se tornarem idosos e forem receber os proventos da aposentadoria capitalizada, ficarão frustrados e desesperados, conforme os chilenos estão agora.

Não adiantará poderá culpar nem Guedes nem Bolsonaro, porque daqui a 40 anos esses dois insensíveis estarão na lata do lixo da História.

Outra coisa, os cortes na Educação demonstram que esses governantes também não tem compromisso com os brasileiros que frequentam as escolas públicas. Com isso, condenam a classe trabalhadora a ficar excluída da nova matriz tecnológica baseada na informática, na robótica e na automação.

Não temos computadores individuais para os alunos das escolas públicas. Em outros países, além de tablets, é oferecido o 5 G para todos se conectarem.

E o Brasil vai ficando para trás, de retrocesso em retrocesso. Será que ainda há por aqui brasileiros que concordem com isso? Veremos na eleição.