A banda fardada do governo tem uma grande e genuína preocupação com a "filhocracia" que se estabeleceu sob a Presidência de Jair Bolsonaro. O vice-presidente Hamilton Mourão tem sido o principal porta-voz dos receios dos militares. Na semana passada, o general Mourão disse que, na hora certa, Bolsonaro "vai botar ordem na rapaziada dele." Indagado novamente sobre o tema, Mourão agora diz que os filhos é que terão de providenciar uma autocontenção: "Eles vão entender o tamanho da cadeira de cada um. E vão se limitar a ela", disse Mourão. Será?
Eduardo Bolsonaro, acomodado numa cadeira de deputado federal, ainda não se deu por achado. Numa postagem no Twitter, ele escreveu que seu pai, a despeito de uma hipotética tentativa da mídia de derrubá-lo, saiu "mais forte" da crise que resultou na demissão do ministro palaciano Gustavo Bebianno. Acrescentou que "a moral" do pivô da discórdia, o irmão Carlos Bolsonaro, sentado numa cadeira de vereador no Rio, "está absurdamente alta!". O que Eduardo Bolsonaro declara, com outras palavras, é mais ou menos o seguinte: "Aprontamos porque papai permite. Quem não entender isso, será humilhado e retirado do caminho."
Por qualquer ângulo que se examine, a autocrise que eletrocutou um ministro com 49 dias de governo foi uma grande Operação Tabajara que enfraqueceu o presidente. Os áudios vazados mostraram um Bolsonaro. O vídeo gravado depois da demissão por exigência de Gustavo Bebianno exibiu um Bolsonaro obrigado a mimar o demitido como se temesse a revelação de algum segredo. Nesse contexto, a manifestação de Eduardo Bolsonaro serve apenas para demonstrar que, na "filhocracia", é errando que se aprende .... A errar.
A manifestação do filho-deputado chega num instante em que a situação processual do irmão Flávio Bolsonaro se deteriora. Sentado numa cadeira de senador, o primogênito do presidente expõe os seus pés de barro numa investigação da época em que era deputado estadual. O general Mourão, quem diria, consolida-se como espécie de porta-voz do bom-senso no Planalto. Se o pai não botar "ordem na rapaziada", ou se os rapazes não entenderem que a cadeira de presidente merece respeito, Jair Bolsonaro logo perceberá que, na Presidência, o pior tipo de solidão é a companhia dos filhos com mandato.
Josias de Souza
sábado, 23 de fevereiro de 2019
A reforma dos pobres e miseráveis
O Bolsa Família paga em média R$ 187,56 por mês a cada uma das 13,9 milhões de famílias miseráveis atendidas pelo programa (quase 50 milhões de pessoas). Na conta para o ano inteiro, custa pouco mais de R$ 31 bilhões. E o INSS paga benefícios a idosos de 65 anos ou mais e a deficientes muito pobres de qualquer idade.
Chamados de BPC (Benefício de Prestação Continuada), atendem cerca de 4,7 milhões de pessoas, 43% delas idosas, que recebem um salário mínimo mensal (R$ 998, em 2019). A conta anual foi de R$ 57 bilhões em 2018.
Na reforma Bolsonaro-Guedes, idosos muito pobres teriam direito a BPC a partir de 60 anos, mas de apenas R$ 400 por mês. A partir dos 70, um salário mínimo. Há grita quase geral.
A disparidade dos valores de BPC e Bolsa Família ajuda a entender a lógica de fundo da reforma, embora não a sua implicação ou justificação prática imediata.
A questão é: como se trata de assistência social para gente quase tão igualmente miserável, por que não equilibrar os sistemas? Por que não pagar benefícios parecidos para idosos e crianças (beneficiárias do Bolsa Família)? No entanto, o Bolsa Família não vai aumentar mais.
PREVIDÊNCIA RURAL – A conversa fica mais complicada quando se trata também da Previdência rural. É na prática um programa de assistência, pois os beneficiários contribuem com quase nada.
Dos aposentados rurais, apenas 0,3% se aposenta por tempo de contribuição, 7,5% por invalidez e o restante por idade. Na reforma Bolsonaro-Guedes, a idade vai aumentar e, ao que parece, vai ser mesmo exigido o muito difícil tempo de contribuição de 20 anos.
Se for para valer, as novas aposentadorias rurais cairiam quase a zero. Elas representam uns três quartos da despesa previdenciária rural total, que foi de mais de R$ 125 bilhões em 2018 (inclui pensões e outros auxílios), pagos a 9,5 milhões de pessoas.
Primeira pergunta: tem cabimento pagar menos de R$ 998 a essas pessoas? Segunda: mas tem cabimento pagar R$ 187,56 para famílias com crianças? Terceira: por que não pagar mais para o Bolsa Família e apenas um pouco menos para o restante da assistência (que em boa teoria e prática deve pagar menos que a Previdência)?
Os BPC representam 10% do valor total dos benefícios pagos e afetados pela reforma (excluído o abono salarial); vão custear uns 8% da economia da reforma. Parece proporcional, mas não é, pois se trata de gente muito pobre.
Como evitar o talho nos mais pobres? Mesmo mais imposto apenas atenuaria de leve o problema.
O sistema de assistência brasileiro foi montado em camadas arqueológicas, de partes incongruentes, e causa iniquidade mesmo entre miseráveis. O sistema de Previdência, por sua vez, privilegia os mais ricos, servidores em particular. O sistema tributário privilegia ricos e muitos ricos.
Está tudo errado, e o país decidiu (ou parece que decidiu) consertar parte do problema em um momento de colapso financeiro dos governo e estagnação econômica de gravidade secular.
A solução disso é quase uma guerra civil por outros meios.
Modelo tributário brasileiro beneficia os ricos
Para se ter uma ideia do que representa essa distorção, vale lembrar que em 2017, em plena crise financeira, a parcela do lucro que o Banco Itaú S/A distribuiu aos seus sócios foi de R$ 19,2 bilhões. Os sócios que receberam essa bolada de dinheiro não pagaram um centavo sequer de Imposto de Renda sobre o valor que cada um recebeu! Enquanto isso, um trabalhador assalariado que recebeu acima de R$ 4.664,68 em 2017 ficou sujeito a uma alíquota de 27,5%, segundo a tabela do imposto de renda mensal vigente.
Essa gigante aberração foi criada a partir da edição da Lei nº 9.249 de 26 de dezembro de 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, sob a justificativa de que isso iria incentivar o investimento maior dos sócios em suas empresas, o que geraria mais empregos…
O texto legal diz que “os lucros e dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficam sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integram a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário.”
Naquela época, logo que editada a referida lei, inúmeros contribuintes que atendíamos no plantão fiscal na Receita Federal chegavam a duvidar de tamanha benesse. Diversas vezes, um contador da empresa chegava ao plantão fiscal e nos perguntava se ele tinha entendido direito, ou seja, questionava se de fato a Lei nº 9.249/95 estava mesmo isentando totalmente os lucros distribuídos aos sócios.
Constrangidos, nós, fiscais, confirmávamos que este era o texto legal. Em inúmeros casos, no dia seguinte recebíamos a visita do próprio sócio da empresa, dizendo que seu contador tinha estado lá, mas que ele estava duvidando do fato de que a totalidade dos lucros distribuídos aos sócios seria mesmo isenta de tributação, tanto na fonte como na declaração do sócio.
Ainda mais constrangidos, pois embora discordássemos dessa aberração, o cargo de auditor-fiscal é estritamente vinculado à lei, a qual somos obrigados a obedecer e aplicar, mais uma vez confirmávamos que isto é o que diz o texto legal.
Entendo que esse relato é relevante, pois mostra que os próprios contribuintes ficaram surpresos com tamanha benesse tributária. Diversos projetos de lei chegaram a ser apresentados para que esse dispositivo legal fosse revogado, mas até hoje, nada!
Essa benesse acirra a concentração de renda no Brasil, que atualmente é considerado o país mais injusto, onde a distância entre ricos e pobres é a mais cruel do mundo. Apenas 5 (cinco) indivíduos detêm a mesma renda que a metade da população mais pobre. Essa situação fica ainda mais agravada porque os direitos humanos não têm sido devidamente respeitados no Brasil, que ocupa vergonhosamente a 79ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano medido pela ONU).
Esses dados mostram que as injustiças tributárias afetam apenas a classe trabalhadora, que é pesadamente taxada (e, portanto, fica cada vez mais empobrecida), enquanto os sócios de bancos e empresas em geral deixam de ser tributados e são escandalosamente beneficiados. Essas injustiças aprofundam as desigualdades sociais e afetam o país como um todo, porque diminuem a arrecadação tributária, prejudicando o funcionamento da economia e a vida das pessoas.
Por isso, é urgente o enfrentamento de uma verdadeira reforma tributária que corrija essas distorções, destacando-se o fim da isenção dos lucros distribuídos aos sócios.
Bolsonaro e seu filho poit bull. Quando a psicologia atropela a política
Ficará na história a exótica imagem do Rolls-Royce presidencial em que no dia primeiro de janeiro, ao lado do novo presidente, Jair Bolsonaro, e sua esposa, a primeira-dama Michelle, que estavam de pé, apareceu durante o desfile oficial, sentado na parte traseira do carro, Carlos, filho do presidente e de sua primeira esposa. Seu irmão mais velho, o senador Flávio, justificou dizendo que seu irmão era o “pit bull da família”. Estava lá para defender o pai.
Vereador do Rio desde os 17 anos, Carlos declara “ter política nas veias”. A ele se credita em boa parte a vitória do pai nas urnas, graças à agressiva e inteligente campanha realizada nas redes sociais. Conseguiu transformar o pai, que havia passado 27 anos no Congresso como um obscuro deputado, no novo “mito” político capaz de devolver ao país os velhos valores da família e de lutar contra a corrupção e a violência.
No entanto, Carlos é visto com preocupação dentro e fora do novo Governo, por sua fidelidade canina ao pai, seu caráter explosivo e sua forma de intervir, nas redes sociais, nos assuntos que deveriam pertencer exclusivamente à função da presidência. Tudo pela missão que se atribui de proteger o pai contra os inimigos. Não por acaso, a primeira crise ministerial que sacudiu o Governo, antes mesmo de o presidente deixar o hospital, foi obra do incendiário Carlos, que com suas declarações forçou a demissão do ministro da Secretaria da Presidência, Gustavo Bebianno, que tinha sido, além de advogado pessoal de Bolsonaro, outra figura-chave na disputa eleitoral vencedora.
Essa primeira crise, a 50 dias da posse de Bolsonaro, despertou o alerta no resto dos ministros e personalidades que formam o novo Governo, que perguntam se o presidente continuará a tomar decisões ditadas por seus filhos. Entre aqueles que começaram a demonstrar maior preocupação estão os cerca de 40 militares que fazem parte do Governo. Por eles falou o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, que, com sua ironia habitual, disse à Rádio Bandeirantes, para tranquilizá-los: “A questão do filho é uma questão de acomodação do Governo. A família é unida, os filhos são pessoas bem-sucedidas. Pouco a pouco eles vão entender qual é o tamanho da cadeira de cada um”.
O problema, porém, é que os brasileiros, na prática, parecem ter escolhido para a presidência não só o capitão Bolsonaro, mas seus três filhos, todos eles políticos: o vereador do Rio, Carlos; o deputado federal Eduardo e o senador Flávio. Uma dinastia que já sonha com possíveis sucessões, sem que saibamos ainda a dinâmica dos mesmos em seus interesses internos. Quem seria o possível primogênito?
Os três são jovens que conquistaram milhões de votos nas urnas. Contra a esperança de Mourão de que eles saberão qual é o tamanho da cadeira de cada um, parece certo que a medida com a que sonham é a da cadeira presidencial, da qual já se sentem parte.
Dos três, no entanto, aquele que desperta hoje maiores preocupações imediatas é o explosivo vereador do Rio, Carlos, pois sua relação pessoal com o pai contradiz a famosa teoria do complexo de Édipo de Freud. Carlos não é o filho que, para se afirmar, precisa destruir a figura paterna para se apropriar da mãe. Esta, a primeira esposa de seu pai, ele já sacrificou quando, estimulado pelo pai, concorreu às eleições no Rio contra ela para enfraquecer sua candidatura. Ganhou a batalha contra ela.
Carlos não é o filho em rivalidade com o pai, pelo contrário, é aquele que se diz disposto a morrer por ele. E o pai? Este o apoia e até se emociona diante dessa fidelidade que desafia todos os limites. Eleito presidente, por ocasião do aniversário do filho, escreveu nas redes em 7 de dezembro do ano passado: “Não sou bom para expor minhas emoções, mas quero fazê-lo desta vez: obrigado, meu pit bull, por estar sempre perto de mim... Sua atitude é a de um verdadeiro guerreiro... Conte sempre comigo”. Sobre Carlos, Bolsonaro — que o teve dia e noite ao seu lado no hospital — confessou que tinha sido “seu equilíbrio emocional e profissional” nos dramáticos dias após o atentado contra sua vida na cidade de Juiz de Fora. Há quem comente que oxalá todo pai tivesse um filho tão fiel quanto Carlos. Mas também é verdade o que diz a psicologia, que “um filho sem limites pode se tornar um tirano”.
Ao invés de incentivar o filho a ter prudência, a seguir o relógio do tempo, a ter consciência do tamanho de sua cadeira, Bolsonaro estimula suas qualidades guerreiras. Apresenta-o como seu cão de guarda. Não um pastor ou um São Bernardo, que salvam vidas em perigo, mas o temido pit bull, criado para matar, proibido em muitos países. Carlos é seu cão agressivo e guerreiro.
O problema levantado pelo aguerrido filho de Bolsonaro, temido no Governo e que, segundo alguns analistas, poderia se tornar uma “bomba” pronta para explodir a qualquer momento, é que se trata de um problema de psicologia que se impõe à política. Bolsonaro foi claro para que ninguém se iluda. Estará sempre ao lado do filho pit bull, o grande guerreiro. E alerta: “Estão enganados aqueles que pensam que vão nos separar. Nossos laços vão além do comum”. Mas quando os limites psicológicos do comum são ultrapassados, tudo fica aberto à surpresa e ao perigo.
Se começa a aparecer de verdade que não se sabe se quem governará será Bolsonaro ou seus filhos, também ficam dúvidas e questões sobre o que pensa fazer o novo presidente se, ao contrário do que vaticina o vice-presidente Mourão, os filhos, e especialmente Carlos, não se conformarem com o tamanho das cadeiras que lhes correspondem.
Em um recente debate sobre conservadorismo e atraso, realizado na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari, um dos colunistas de mais peso neste país, afirmou que hoje no Brasil “não se sabe quem é o presidente, e talvez nem ele mesmo saiba”. Saberão ao menos seus filhos o que não podem ser?
Vereador do Rio desde os 17 anos, Carlos declara “ter política nas veias”. A ele se credita em boa parte a vitória do pai nas urnas, graças à agressiva e inteligente campanha realizada nas redes sociais. Conseguiu transformar o pai, que havia passado 27 anos no Congresso como um obscuro deputado, no novo “mito” político capaz de devolver ao país os velhos valores da família e de lutar contra a corrupção e a violência.
No entanto, Carlos é visto com preocupação dentro e fora do novo Governo, por sua fidelidade canina ao pai, seu caráter explosivo e sua forma de intervir, nas redes sociais, nos assuntos que deveriam pertencer exclusivamente à função da presidência. Tudo pela missão que se atribui de proteger o pai contra os inimigos. Não por acaso, a primeira crise ministerial que sacudiu o Governo, antes mesmo de o presidente deixar o hospital, foi obra do incendiário Carlos, que com suas declarações forçou a demissão do ministro da Secretaria da Presidência, Gustavo Bebianno, que tinha sido, além de advogado pessoal de Bolsonaro, outra figura-chave na disputa eleitoral vencedora.
Essa primeira crise, a 50 dias da posse de Bolsonaro, despertou o alerta no resto dos ministros e personalidades que formam o novo Governo, que perguntam se o presidente continuará a tomar decisões ditadas por seus filhos. Entre aqueles que começaram a demonstrar maior preocupação estão os cerca de 40 militares que fazem parte do Governo. Por eles falou o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, que, com sua ironia habitual, disse à Rádio Bandeirantes, para tranquilizá-los: “A questão do filho é uma questão de acomodação do Governo. A família é unida, os filhos são pessoas bem-sucedidas. Pouco a pouco eles vão entender qual é o tamanho da cadeira de cada um”.
O problema, porém, é que os brasileiros, na prática, parecem ter escolhido para a presidência não só o capitão Bolsonaro, mas seus três filhos, todos eles políticos: o vereador do Rio, Carlos; o deputado federal Eduardo e o senador Flávio. Uma dinastia que já sonha com possíveis sucessões, sem que saibamos ainda a dinâmica dos mesmos em seus interesses internos. Quem seria o possível primogênito?
Os três são jovens que conquistaram milhões de votos nas urnas. Contra a esperança de Mourão de que eles saberão qual é o tamanho da cadeira de cada um, parece certo que a medida com a que sonham é a da cadeira presidencial, da qual já se sentem parte.
Dos três, no entanto, aquele que desperta hoje maiores preocupações imediatas é o explosivo vereador do Rio, Carlos, pois sua relação pessoal com o pai contradiz a famosa teoria do complexo de Édipo de Freud. Carlos não é o filho que, para se afirmar, precisa destruir a figura paterna para se apropriar da mãe. Esta, a primeira esposa de seu pai, ele já sacrificou quando, estimulado pelo pai, concorreu às eleições no Rio contra ela para enfraquecer sua candidatura. Ganhou a batalha contra ela.
Carlos não é o filho em rivalidade com o pai, pelo contrário, é aquele que se diz disposto a morrer por ele. E o pai? Este o apoia e até se emociona diante dessa fidelidade que desafia todos os limites. Eleito presidente, por ocasião do aniversário do filho, escreveu nas redes em 7 de dezembro do ano passado: “Não sou bom para expor minhas emoções, mas quero fazê-lo desta vez: obrigado, meu pit bull, por estar sempre perto de mim... Sua atitude é a de um verdadeiro guerreiro... Conte sempre comigo”. Sobre Carlos, Bolsonaro — que o teve dia e noite ao seu lado no hospital — confessou que tinha sido “seu equilíbrio emocional e profissional” nos dramáticos dias após o atentado contra sua vida na cidade de Juiz de Fora. Há quem comente que oxalá todo pai tivesse um filho tão fiel quanto Carlos. Mas também é verdade o que diz a psicologia, que “um filho sem limites pode se tornar um tirano”.
Ao invés de incentivar o filho a ter prudência, a seguir o relógio do tempo, a ter consciência do tamanho de sua cadeira, Bolsonaro estimula suas qualidades guerreiras. Apresenta-o como seu cão de guarda. Não um pastor ou um São Bernardo, que salvam vidas em perigo, mas o temido pit bull, criado para matar, proibido em muitos países. Carlos é seu cão agressivo e guerreiro.
O problema levantado pelo aguerrido filho de Bolsonaro, temido no Governo e que, segundo alguns analistas, poderia se tornar uma “bomba” pronta para explodir a qualquer momento, é que se trata de um problema de psicologia que se impõe à política. Bolsonaro foi claro para que ninguém se iluda. Estará sempre ao lado do filho pit bull, o grande guerreiro. E alerta: “Estão enganados aqueles que pensam que vão nos separar. Nossos laços vão além do comum”. Mas quando os limites psicológicos do comum são ultrapassados, tudo fica aberto à surpresa e ao perigo.
Se começa a aparecer de verdade que não se sabe se quem governará será Bolsonaro ou seus filhos, também ficam dúvidas e questões sobre o que pensa fazer o novo presidente se, ao contrário do que vaticina o vice-presidente Mourão, os filhos, e especialmente Carlos, não se conformarem com o tamanho das cadeiras que lhes correspondem.
Em um recente debate sobre conservadorismo e atraso, realizado na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari, um dos colunistas de mais peso neste país, afirmou que hoje no Brasil “não se sabe quem é o presidente, e talvez nem ele mesmo saiba”. Saberão ao menos seus filhos o que não podem ser?
Previdência não corrige desigualdade
Um grande erro cognitivo dos políticos de modo geral é ver a Previdência como uma caixa de correção das injustiças da vida: se professor ganha pouco, regime especial.É mais fácil para eles distribuir a Previdência do que fazer políticas públicas para aumentar o salário de professores ou combater a dupla jornada de mulheres, contra a cultura do machismo
Leonardo Barreto, da Factual Informação e Análise
A verdadeira oposição
Ninguém menos que o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, foi às redes sociais para dizer que “caberá ao Congresso Nacional aprimorar a proposta de nova Previdência com emendas”. Ora, se há alguém que deveria defender integralmente o projeto encaminhado pelo presidente ao Congresso, esse alguém é obviamente seu filho senador. Se de fato acredita que o projeto de reforma deve ser “aprimorado”, então Flávio Bolsonaro dá a entender que nem ele mesmo defenderá o texto tal como foi elaborado com o aval do pai.
Não contente em enfraquecer o governo logo no início de um processo que promete ser muito duro, o senador Flávio Bolsonaro indicou, no mesmo tuíte, como ele pretende “aprimorar” a reforma: com uma emenda destinada a dar aos guardas municipais os mesmos direitos concedidos aos policiais militares - que estarão submetidos às mesmas regras das Forças Armadas e terão idade mínima de 55 anos para se aposentar.
Assim, Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, defende explicitamente o favorecimento de uma das tantas corporações que, há décadas, arrancam do Estado privilégios em detrimento dos cidadãos comuns, algo que a reforma pretendia reduzir. Não é surpreendente que outros políticos tenham seguido o exemplo de Flávio Bolsonaro e anunciado em plenário que tentarão preservar, na reforma, as categorias profissionais que eles julgam representar.
É o caso, por exemplo, da chamada “bancada da bala”, em tese governista, mas que já se movimenta para impedir pontos da reforma que, em sua visão, prejudicarão os policiais militares. Conforme registrou o jornal Valor, o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP), líder da Frente Parlamentar de Segurança Pública e aliado de Bolsonaro, já entendeu que tudo na reforma pode ser negociado: “Lógico que o governo mandou com gordura”, disse o parlamentar.
Considerando-se que grande parte do PSL, o partido do presidente, se elegeu com a promessa de proteger os interesses de militares e policiais na reforma da Previdência, é previsível que Jair Bolsonaro enfrentará desgaste em suas próprias hostes para obter votos. Não é um bom augúrio, especialmente quando se leva em conta a esqualidez da base bolsonarista e a flagrante inabilidade dos responsáveis pela articulação do governo no Congresso.
Diante desse cenário, chega a ser apenas pitoresca a oposição de partidos de esquerda à reforma. Como sempre, houve quem propagasse que, graças às mudanças propostas pelo governo, os brasileiros terão de trabalhar “até morrer”; outros dizem que o déficit da Previdência é uma “farsa” criada apenas para justificar a reforma; e outros ainda iniciaram nas redes sociais uma campanha de desinformação intitulada “reaja, ou sua Previdência acaba”.
Essa oposição, mesmo sendo especialista em patranhas, tem hoje escassa capacidade de causar problemas para o governo; o verdadeiro problema, como vimos, são os governistas. Bolsonaro precisa convencer seus aliados, a começar por seu próprio filho, de que a reforma, para ser bem-sucedida, tem de tratar todos os brasileiros como iguais.
Bizarrice tem hora
Diante da seriedade e urgência dos temas, o forrobodó foi deslocado para segundo plano. O problema é que não saiu de cena, dada a vocação do presidente para misturar administração governamental com gerência de questões familiares. Se Jair Bolsonaro tem controvérsias com os filhos decorrentes da separação da mãe dos três e busca resolvê-las sendo permissivo diante da atuação deles, o Brasil não tem nada a ver com a história da família e muito menos precisa pagar o preço por isso.
Como ocorre em todos os governos envolvidos em crises, o atual tenta dar por “virada a página” por decreto de vontade. Não controla, contudo, as sequelas que talvez não atuem diretamente sobre a votação da reforma da Previdência, mas por certo terão influência sobre a relação do mundo com o governo.
Hoje a incerteza é geral. Entre parlamentares, no mercado financeiro, no meio dos militares protagonistas da nova ordem e na própria sociedade, considerando que muitos eleitores de Bolsonaro desaprovam a condução do presidente no episódio que acabou com a demissão de Bebianno.
Há um clima de desconfiança e de incerteza sobre o processo mental e a sistemática de atuação do presidente, por enquanto seguindo padrões absolutamente fora dos habituais, não necessariamente eficientes por serem novos. Bolsonaro tende a desprezar as críticas tomando por base o fato de ter sido eleito a despeito delas.
O presidente ignora que uma coisa é uma corrida de fôlego curto como a campanha, outra bem diferente é a prova de longa distância (quatro ou oito anos) do governo. Esse tipo de ignorância faz mal à saúde dos que exercem o poder e, por extensão, à dos que são por eles comandados. Urge, portanto, uma correção de rumos.
O foco não são os “memes” de internet, mas a realidade. Tão real quanto a possibilidade de qualquer um dos filhos do presidente sentir-se tão poderoso que possa atacar ministros como Paulo Guedes e Sergio Moro (os pilares de razoável seriedade da administração) é a hipótese de o presidente inviabilizar-se por falta de sustentação de conteúdo consistente no governo.
Em palavras mais diretas: o perigo real que corre o país é esses rapazes, ora autorizados pelo pai, arrumarem uma confusão com os ministros da Economia e/ou da Justiça. Os dois têm vida própria, nenhum deles deve coisa alguma a ninguém e podem sair no momento que lhes for conveniente. Por menos, quando houve um estremecimento em torno de declarações sobre o IOF, Paulo Guedes se recolheu. Sergio Moro tampouco se aliou a disputas perdidas.
Se os filhos de Bolsonaro fizerem investidas com as quais não podem se confrontar, muito menos administrar, eles vão pôr a perder o governo do pai, a chance única de poder e o sonho que jamais sonharam ver realizado.
Crianças condenadas ao fogo e ao descaso
Seu nome é Maria José. Ela me contou que creches e escolas da cidade não tinham extintor de incêndio nem segurança na portaria. Mais tarde, nós, jornalistas que cobríamos a tragédia, apuramos que a creche incendiada também não tinha certificação do Corpo de Bombeiros, muito menos um plano de evacuação em caso de fogo. Por fim, assimilamos a advertência ao jornalismo por trás do desabafo de Maria José. “Incêndio acidental” é expressão adequada apenas para afastar responsabilidades de quem não zela pela vida dos outros, especialmente a de crianças.
Há duas semanas, me veio a lembrança de Heley, Maria José e os meninos de Janaúba diante do impacto da tragédia no Ninho do Urubu, que matou 10 garotos das categorias de base do Flamengo. No dia seguinte ao incêndio, o CEO rubro-negro, Reinaldo Belotti, se apressou em descrever o ocorrido como “acidente”, afastando a possível relação de suas causas com “multas, licenças e alvarás”. O centro de treinamento não tinha alvará de funcionamento nem certificado do Corpo de Bombeiros. A estrutura que pegou fogo não constava no projeto enviado à prefeitura para o licenciamento de edificações. Além disso, o clube já havia sido multado 31 vezes pelo poder municipal por manter o CT aberto de forma irregular.
Enquanto a perícia não determina a causa do incêndio, a diretoria encabeçada pelo presidente Rodolfo Landim prometeu assumir a responsabilidade pela reparação aos familiares das vítimas e pagar indenizações o mais rápido possível. A primeira tentativa de acordo, mediada por Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública, fracassou. O Flamengo rejeitou a proposta da câmara de conciliação, que estipulou indenização de 2 milhões de reais para cada família e pensão de 10.000 reais mensais até 45 anos completados pelas vítimas caso estivessem vivas. Para os órgãos que tentavam costurar o acordo, os valores oferecidos pelo clube (cerca de 400.000 reais de indenização e pensão de um salário mínimo por 10 anos) “estão aquém daquilo que as instituições entendem como minimamente razoável diante da enorme perda das famílias e demais envolvidos”.
Ao prolongar a agonia partindo para propostas de acordo individuais – agora via Tribunal de Justiça – com as famílias, que, na maioria dos casos, depositavam nos pés dos garotos a esperança para sair da pobreza, o Flamengo estende por tabela o desgaste a sua imagem. Para os dirigentes do clube com orçamento de 750 milhões de reais, a vida de um garoto da base vale menos que a metade do salário mensal de um craque do time principal. Quase 15 dias depois do incêndio, eles ainda não se sentem seguros para responder perguntas da imprensa, mas decidiram comparar o clube à Boate Kiss, batendo na tecla de que as indenizações propostas são maiores que as do episódio que se arrasta pelos tribunais após 242 mortes no incêndio em Santa Maria.
O Flamengo difere bastante da Kiss, da Vale ou de qualquer empresa que prefere acionar os advogados mais caros do mercado a bancar a conta das tragédias que protagonizaram. Pelo peso de uma instituição centenária, que não tem a geração de lucro para acionistas como atividade-fim, a conduta do clube em meio ao maior revés de sua história merece um desfecho distinto das batalhas judiciais que prorrogam o sofrimento de famílias em luto. Famílias que não têm torcedores para apoiá-las depois que a comoção pública arrefece, tampouco conselheiros influentes dispostos a defendê-las com unhas e dentes. Um clube como o Flamengo, que investe 100 milhões de reais em contratações, mas se apega à minúcia dos cálculos na hora de fixar indenizações, pode fazer mais. Um clube que investia quase 20 milhões de reais na formação de atletas, mas nem assim se cercou de todas as garantias e cuidados básicos para proteger jovens talentos, tem obrigação de fazer mais pelos que choram as vidas perdidas em suas dependências.
Há alguns anos apurando casos de abuso sexual no futebol, mantenho contato com muita gente ligada ao sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, que vem se esforçando em chamar a atenção das autoridades para o modelo aplicado por boa parte dos grandes clubes brasileiros em categorias de base, onde não raro os garotos movidos pelo sonho da bola são tratados como mercadorias. Passada a tragédia no Flamengo, o sentimento dessas pessoas é de desconsolo, impotência e apreensão. O que aconteceu no Ninho do Urubu poderia ter acontecido – ou pode se repetir – em qualquer outro CT, sobretudo em espaços geridos por equipes de realidades financeiras distantes da que o time rubro-negro ostenta atualmente.
A reboque dos desdobramentos do incêndio, Governo e prefeitura do Rio de Janeiro informaram que alojamentos de base dos outros três grandes clubes da cidade (Botafogo, Fluminense e Vasco), assim como o do Flamengo, estão pendentes de regularização. Uma varredura pelos principais centros de formação do país constata que a situação não é diferente do panorama carioca, onde autoridades se omitiram de interditar instalações autuadas por irregularidades. O descaso pelos direitos de jogadores jovens se estabelece como regra num meio que movimenta cifras milionárias e crescentes ano após ano.
Omissões aplicáveis, ainda, à CBF e suas federações, que concedem Certificado de Clube Formador às equipes filiadas, mas, tal qual Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, não fiscalizam o cumprimento de exigências para abrigar atletas. Uma espécie de autorregulamentação semelhante à das empresas de mineração que constroem barragens e, ao mesmo tempo, são encarregadas de contratar as empresas que vão atestar os parâmetros de segurança. Numa audiência pública no Congresso Nacional em 2018, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, admitiu que “a situação das categorias de base no Brasil é dramática”. Nem assim a confederação tomou providências para vistoriar seus clubes formadores. A presença do secretário na audiência se devia ao descumprimento de um pacto firmado pela CBF, em que a entidade se comprometia a adotar medidas para garantir a efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente nos clubes de futebol. Quatro anos depois da assinatura do documento, o Congresso resolveu cobrar a confederação. Feldman optou por se esquivar da obrigação de vistoriar instalações em categorias de base, destacando, na ocasião, que “a CBF é um exemplo de gestão para o mundo”.
No alto circuito da bola, a vida corre normalmente. O Flamengo ignorou o pedido de interdição do CT, onde apenas jogadores do time principal continuam treinando, em preparação para o segundo turno do Campeonato Carioca e a estreia na Copa Libertadores. Recebeu a solidariedade de vários clubes, inclusive do rival Vasco, que estampou uma bandeira rubro-negra em seu uniforme na semana passada. O clube de São Januário também viveu uma tragédia na base. Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, morreu durante a realização de um teste. O Vasco não contava com médicos de prontidão e, segundo vistoria realizada nas instalações, abrigava garotos em dormitórios precários. Até hoje a família de Wendel briga na Justiça para receber indenização.
O incêndio no Flamengo fez mais vítimas. Seria um gesto de mínima grandeza acatar o acordo proposto pela câmara de conciliação, que, mesmo se fosse pago à vista, não comprometeria nem 10% do orçamento anual do clube. Além da sinalização de boa vontade e envolvimento, pouparia os familiares do martírio vivido pelos pais de Wendel na longa contenda com o rival. Pela discrepância de valores, MP e Defensoria Pública solicitaram o bloqueio de 57 milhões de reais nas contas rubro-negras, destacando que “a omissão do clube, aliada ao grave acidente ocorrido, demonstra um desrespeito reiterado às determinações de interdição das referidas instalações”. Torcedores que, neste momento, entendem que a razão deve se sobrepor à paixão certamente esperam uma resolução menos traumática em nome de Arthur Vinicius, Áthila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmerio, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías, seus garotos do Ninho.
Para honrar a memória dos meninos, o futebol brasileiro precisa de um pacto – que não seja esquecido pelo caminho – entre clubes, federações e órgãos públicos por um acolhimento mais humanizado a crianças e adolescentes em categorias de base. A lição não aprendida pelo Rio de Janeiro pode servir como baliza para estabelecer medidas de proteção em todo o país. Em menos de cinco meses, a cidade viu arder em chamas dois patrimônios de valores inestimáveis: o maior acervo de história natural da América Latina e o sonho de meninos que almejavam se tornar ídolos do clube mais popular do Brasil. Acidente, fatalidade, incidente, contratempo, imprevisto... Sobram eufemismos para atenuar tragédias evitáveis, faltam rostos sensíveis para assumir responsabilidades. Os incêndios que devastaram a creche em Janaúba, o Museu Nacional e os garotos do Ninho são retratos de uma nação que queima o passado com a mesma passividade que destrói suas perspectivas de futuro.
Breiller Pires
No alto circuito da bola, a vida corre normalmente. O Flamengo ignorou o pedido de interdição do CT, onde apenas jogadores do time principal continuam treinando, em preparação para o segundo turno do Campeonato Carioca e a estreia na Copa Libertadores. Recebeu a solidariedade de vários clubes, inclusive do rival Vasco, que estampou uma bandeira rubro-negra em seu uniforme na semana passada. O clube de São Januário também viveu uma tragédia na base. Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, morreu durante a realização de um teste. O Vasco não contava com médicos de prontidão e, segundo vistoria realizada nas instalações, abrigava garotos em dormitórios precários. Até hoje a família de Wendel briga na Justiça para receber indenização.
O incêndio no Flamengo fez mais vítimas. Seria um gesto de mínima grandeza acatar o acordo proposto pela câmara de conciliação, que, mesmo se fosse pago à vista, não comprometeria nem 10% do orçamento anual do clube. Além da sinalização de boa vontade e envolvimento, pouparia os familiares do martírio vivido pelos pais de Wendel na longa contenda com o rival. Pela discrepância de valores, MP e Defensoria Pública solicitaram o bloqueio de 57 milhões de reais nas contas rubro-negras, destacando que “a omissão do clube, aliada ao grave acidente ocorrido, demonstra um desrespeito reiterado às determinações de interdição das referidas instalações”. Torcedores que, neste momento, entendem que a razão deve se sobrepor à paixão certamente esperam uma resolução menos traumática em nome de Arthur Vinicius, Áthila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmerio, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías, seus garotos do Ninho.
Para honrar a memória dos meninos, o futebol brasileiro precisa de um pacto – que não seja esquecido pelo caminho – entre clubes, federações e órgãos públicos por um acolhimento mais humanizado a crianças e adolescentes em categorias de base. A lição não aprendida pelo Rio de Janeiro pode servir como baliza para estabelecer medidas de proteção em todo o país. Em menos de cinco meses, a cidade viu arder em chamas dois patrimônios de valores inestimáveis: o maior acervo de história natural da América Latina e o sonho de meninos que almejavam se tornar ídolos do clube mais popular do Brasil. Acidente, fatalidade, incidente, contratempo, imprevisto... Sobram eufemismos para atenuar tragédias evitáveis, faltam rostos sensíveis para assumir responsabilidades. Os incêndios que devastaram a creche em Janaúba, o Museu Nacional e os garotos do Ninho são retratos de uma nação que queima o passado com a mesma passividade que destrói suas perspectivas de futuro.
Breiller Pires
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