sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Viva o Mensageiro!

Ao ler ou ouvir o farto noticiário sobre a corrupção no Brasil, onde milhão, bilhão, trilhão é lugar comum, ouço claramente a voz do professor Raimundo, criação do genial e saudoso Chico Anísio, a invectivar o espectador com seu delicioso bordão “E o salário mínimo... ó?”.

Pois é, querido professor, ainda estamos sem repostas para sua pergunta. Cada vez com menos dinheiro no bolso, mais nos espanta a quantidade assombrosa de dinheiro que passava de mão em mão, por baixo dos panos, e que se não fosse nossa aguerrida Imprensa continuaria a passar com velocidade e silenciosamente.

Ou você, leitor, imagina que saberíamos sobre o gracioso presente que a senhora Sergio Cabral recebeu por ocasião de seu aniversário, comemorado no Principado de Mônaco, se não fosse a Imprensa?

A viperfish, 2 foot of terrifying deep sea predator. Look at those astonishing teeth!:
Para quem ontem andou entusiasmado lendo sobre a prisão do ardiloso Eduardo Cunha a ponto de não ter tempo de ler mais nada, repito aqui uma notícia muito interessante: o empresário Fernando Cavendish é levado pelo governador Sergio Cabral à joalheria Van Cleef & Arpels, em Monte Carlo, e lá paga com seu cartão de crédito o presente de 800 mil reais que o governador daria à sua mulher. Não, a notícia não menciona se Cabral tinha alguma arma apontada contra Cavendish. Será que foi a voz melíflua do governador que hipnotizou o empresário e o fez aceitar esse encargo?

Claro que esse anel será um parágrafo menor no livro que num futuro distante falará sobre a gulosa corrupção que afundou e tentou destruir o Brasil, e que o teria conseguido, não fosse a Imprensa sempre atenta e voltada para o bem do país. Como publicou ontem em O Globo a jornalista Maiá Menezes: “(...) Foi de investigações da imprensa que saíram informações fundamentais para abastecer as investigações da Lava-Jato”.

A corrupção é tão antiga quanto a prostituição. Não é uma criação brasileira. As paredes do Senado Romano registraram muitos discursos sobre o roubo de dinheiro público. “Cui prodest?”,pergunta cunhada pelo Cônsul Lúcio Flávio tantas vezes repetida pelo grande orador Cicero ao falar dos erros e crimes cometidos contra a República que correu o Mundo Romano e chegou até nós, é a pergunta que a Justiça brasileira agora faz: “A quem interessa?”.

Para responder à pergunta tão fundamental, precisamos da ajuda inestimável da Imprensa, pois sem ela quantos anéis não passariam despercebidos?

Robert Kennedy (1925/1968), quando Procurador-Geral da República no governo de seu irmão Jack, declarou: “Não acredito que repórteres possam substituir um Procurador da República, mas a Imprensa tem um papel investigativo muito importante. Reportagens sobre corrupção no Governo, extorsão e condições impostas pelo crime organizado, são grandes auxiliares na manutenção da Justiça em nossas comunidades e em todo o país”.

Nada mudou muito nestes últimos anos. A Imprensa continua a ser um grande auxiliar na vida de um país. Não é à toa que Donald Trump, aquele tipo extravagante que imagina chegar à presidência dos EUA apenas baseado em seus trilhões de dólares, agora se volta contra a Imprensa e ameaça, se for eleito, abolir a Primeira Emenda da Constituição Americana, aquela que garante ao povo americano a Liberdade de Expressão e proíbe o Congresso de restringir a Imprensa ou os cidadãos de falarem livremente.

Cui Prodest, Trump? Só mesmo a fulanos como você.

A governança criminosa

Vai-se findando a semana; a paciência e a esperança se escoando cada vez mais pelos buracos da cidadania. As balas dos corruptos deixam cada cidadão mais esburacado do que parede em Mossul. Lá é a guerra que enfileira corpos, empulha destroços. Mas aqui, aonde alardeiam paz, os números das desgraças são muito superiores.

Zdzisław Beksiński:
Zdzisław Beksiński

Os mortos são alvejados por balas perdidas (sic), pelas facadas feminicidas, pela violência infantil, pela incúria administrativa dos governantes. Se a Cruz Vermelha, no Iraque, não pode chegar às áreas em conflito, aqui os remédios e assistência não chegam aos hospitais, postos de saúde, UPAs.

A paz, no país abençoado por Deus, é adubada com sangue, suor e sofrimento ... do cidadão.

Não há aqui Daesh em luta contra o governo, mas o próprio Estado criminoso em guerra contra o cidadão. É o terrorismo de Estado com os mascarados de políticos arrasando o país.

O que não falta no Brasil é facção criminosa e crime organizado em todas as instâncias. A marginalidade de ontem, restrita às favelas, que foram estigmatizadas como antros de bandidos, não era nada ao que se vê nestes tempos.

O crime se institucionalizou e mesmo facções criminosas com sucursais em todos os estados e até em países vizinhos não foram as únicas a se especializarem.

O crime entrou na veia do Estado. Vive-se o terror do crime dando as cartas em todas as esferas governamentais.



Aguentar uma ladainha de "Cunha! Cunha! Cunha!" é fechar os olhos para o principal problema: o crime se generalizou da marginalidade aos altos poderes. O país é uma chaga de tantos punhais políticos   
Luiz Gadelha

A literatura da distopia

Foram necessários romances que mostravam bárbaros regimes totalitários, fábulas com porcos, gangues violentos, controle biológico, uso indiscriminado de drogas e queima de livros para finalmente entendermos como era impraticável o modelo de utopia construído há alguns séculos atrás. Por isso são tão importantes os autores de "1984", "Laranja Mecânica", "Admirável Mundo Novo" e "Farenheit 451".

Como vimos no já publicado A Literatura da Utopia, as tentativas de adequação do presente para alcançar uma sociedade perfeita acabaram por desencadear uma desordem na organização racional do mundo. Muitas vezes, fizeram-nos viver submetidos a valores distorcidos e no risco de uma eterna aceitação de factores hostis que são meio para um fim que parece justificá-los: a perfeição.
Ao perceberem isso, autores como Aldous Huxley e George Orwell resolveram desconstruir os conceitos de utopia existentes. Segundo eles, a moralidade humana não conseguiria seguir uma evolução tão ligeira e, mesmo nos casos em que as sociedades perfeitas são alcançadas, a personalidade corrompida do homem colocaria tudo a perder.

As chamadas distopias podem ser entendidas filologicamente como "utopias negativas". Este neologismo foi cunhado por Gregg Webber e John Stuart Mill num discurso ao Parlamento Britânico em 1868: "É, provavelmente, demasiado elogioso chamar-lhes utópicos; deveriam em vez disso ser chamados dis-tópicos, ou caco-tópicos. O que é comumente chamado utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável."


Detalhe de capa de "A revolução dos bichos"

Na literatura, as utopias sempre possuem raízes no presente e são taxadas como o caminho ideal a ser seguido - mesmo que impraticável. Nas distopias, não há qualquer ligação com o presente: partem da utopia já alcançada. Nelas, os problemas actuais seguiram como que camuflados pela perfeição aparente e, a certo momento, eclodem da forma mais bruta. Estes romances geralmente são contados do ponto de vista de uma personagem consciente imersa na estupidez colectiva. São explorados recursos como a coerção física e moral, o uso de drogas e robots e o monopólio do conhecimento, todos agindo de forma directa na contenção socialA actual idolatria ao género literário pode ser explicada pela crescente visibilidade da política de esquerda no âmbito contemporâneo. Vários dos autores desta "escola" foram activistas políticos da oposição e deixaram claros seus fundamentos no pensamento Marxista. George Orwell, por exemplo, conviveu muito tempo com pobres e operários. Apesar de odiar os conflitos entre os partidos de esquerda, dizia-se socialista e simpatizante de partidos anarquistas. Conseguiu se tornar um crítico de sua própria ideologia:as suas magnum opus são 1984 e A Revolução dos Bichos (O Triunfo dos Porcos, em Portugal); na primeira retrata um regime totalitário que, através de constante supervisão e monopólio da História, constrói uma sociedade colectivista auto-punitiva; no segundo, uma sátira directa ao stalinismo mostra que o governo do Estado sempre será susceptível às fraquezas humanas, desmembradas pelo carácter sedutor do poder.

Outros autores também levantaram questões que hoje se mostram mais presentes do que nunca. Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo - escrito num período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial -, descreveu um futuro hipotético onde estaríamos aprisionados pela obrigação de bem-estar, seja através da divisão social, do uso indiscriminado de drogas reguladoras ou do controle biológico - uma espécie de eugenia. Isso numa época onde tentativas de clonagem e fertilização in vitro não passavam de experiências fracassadas.

Anthony Burguess, em Laranja Mecânica (obra imortalizada no cinema por Stanley Kubrick, em 1971), via, num futuro indeterminado, que a predisposição humana à violência não acompanharia o ritmo da evolução intelectual, o que resultaria num colapso da sociedade e esdrúxulos e impositivos métodos de contenção psicológica desta característica "primitiva" baseado no Método Ludovico, uma espécie de behaviorismo radical levado ao extremo.

Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451 (adaptado com louvor por François Truffaut, em 1966) formula um futuro onde a principal arma de opressão utilizada pelo Estado é a censura dos livros, o que faz da televisão o único (e manipulado) instrumento de informação e diversão. É um ensaio sóbrio (ainda que fantástico) sobre a censura e os limites entre entretenimento e alienação que meios de comunicação em massa devem respeitar.

Discutir os problemas sociais atuais através de romances satíricos muito bem elaborados foi o recurso que muitos autores utilizaram para chamar a atenção para os problemas que a eterna busca pela sociedade perfeita encara. Os já considerados clássicos da literatura moderna revolucionaram a forma como pensamos, enxergamos e lidamos com o destoamento da utopia para onde a sociedade caminhava. Há quem diga, inclusive, que já estamos inseridos em distopias tais quais nos livros.
Sergio Coletto

$uce$$o

 
O segredo do sucesso é ofender o maior número possível de pessoas 
George Bernard Shaw

Esse perigoso vazio da política. E depois?

Com certo constrangimento, ao que parece (Estado, 18/10), peritos internacionais que terão de examinar queixa enviada pelos advogados do ex-presidente Lula com relação a procedimentos do Estado brasileiro que envolvem o ex-chefe do governo disseram desconhecer a questão. Segundo um desses peritos, “na melhor das hipóteses o tema deve entrar na agenda em meados de 2017” (embora nela já esteja protocolado). A denúncia é de “abusos de poder” do juiz Sergio Moro e de procuradores da Operação Lava Jato, além de “parcialidade” do Judiciário. Será examinado pela Convenção Internacional de Direitos Políticos. Mas, conforme este jornal, com o acúmulo de atrasos, provavelmente “a questão não será tratada antes do fim de 2017”.

Resistirá durante quase um ano e meio? Com a balbúrdia nas nossas discussões políticas, ainda terá relevância? Principalmente não estando entre 25 casos prioritários já selecionados pela convenção?

O Partido dos Trabalhadores (PT) “contempla agora a perspectiva de se desmanchar como organização partidária, porque não poderá mais, talvez nunca, contar com a sedução do Estado para amalgamar forças progressistas que sustentem o mito do populismo hoje desmoralizado de Lula da Silva e seus cúmplices, boa parte dos quais devidamente encarcerada”. Tudo isso estaria conduzindo ao “grande racha que se delineia no partido (...) agora como “10.º em número de prefeituras conquistadas” (...). O fato é que a desconstrução do PT, até recentemente inimaginável, parece provável” (Estado, 18/10).

Já o historiador e professor da Unesp Albert Aggio pensa (18/10, A2) que os resultados eleitorais indicam, se não o fim do partido, ao menos o fim da era eleitoral de predomínio do PT. Não à toa, “voltou-se a falar em refundação do PT”, em ‘nova esquerda’ e mesmo numa “outra esquerda”. E mais: “O resultado eleitoral nada mais fez que jogar uma pá de cal no projeto de poder do PT, sem remissão”. E agora?

Os diagnósticos de que há um “avanço do conservadorismo”, afirma este jornal, não convencem, apenas levam mecanicamente a pensamentos como “fora Temer”, “fora o golpe”. O tempo exigiria “uma outra esquerda”, plural, democrática e reformista, “para ingressar no século 21 com, corpo e alma novos”. Mas do lado conservador também não se vislumbram novos caminhos. Quase invariavelmente surgem as velhas propostas, quase unicamente de defesa e até de ampliação dos velhos formatos dos capitais financeiros – em parte para compensar a remuneração desse tipo de investimento, principalmente externo, mas com forte influência nos índices internos de juros e de inflação.

Bom layout:

Ao mesmo tempo que a situação se radicaliza no campo das palavras e até de algumas situações, seguimos nos impasses. O governo prepara – informa este jornal (13/10) – “uma campanha publicitária direcionada ao Nordeste para informar que a região vai entrar no sexto ano consecutivo da estiagem. Será a seca mais prolongada dos últimos 100 anos”, já com a previsão de colapsos de abastecimento de água para consumo humano em Campina Grande e pontualmente em Fortaleza. E, inacreditavelmente, o objetivo primeiro é evitar que o presidente da República “seja responsabilizado pela falta de água numa região em que já é impopular”. E mais: “O governo avalia que, se preparar a população para o problema, a reação será minimizada (Coluna do Estadão, 13/10). Só isso, mesmo com 6.800 carros-pipa atendendo a 3.500 localidades?

E onde estão pensamentos mais abrangentes para um país como o Brasil, que poderia ter posição privilegiada, com território continental, sol o ano todo, quase 13% de toda a água superficial existente no planeta, a maior biodiversidade planetária em vários biomas, imensa riqueza mineral? O que se vê, neste momento, é o início de uma discussão sobre a privatização do Aquífero Guarani, com 1,1 milhão de quilômetros quadrados – o maior depósito subterrâneo de água, que abrange as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste –, sem lembrar que água é bem que se pode esgotar ou ter seu uso inviabilizado, como na região de Ribeirão Preto (SP). Ou ainda diante da proposta de fracking em vários pontos, condenada pela comunidade científica.

O que é possível ver neste momento é a total ausência de concepções políticas nacionais ou sua transposição para projetos políticos, sua discussão em campanhas municipais, estaduais ou nacionais, que levem a formulações capazes de preencher o vazio que nos cerca, à direita, à esquerda, no centro. Um marasmo preocupante, só quebrado em certos momentos, como o que este jornal registrou (18/10) com o assassinato do coordenador de campanha do candidato do PMDB em Porto Alegre e o ataque a tiros ao comitê do candidato Nelson Marchezan (PSDB).

Enquanto isso, seguimos com um índice brutal de desemprego, acima de 10%; mais de metade de nossas residências não são ligadas às redes públicas de saneamento – e quase tudo o que é ali coletado é despejado sem tratamento em rios (só agora se começa a despoluir os Rios Tietê e Pinheiros; mais de 10% das habitações urbanas não recebem água tratada); a poluição ambiental urbana vai literalmente à estratosfera, com a emissão de poluentes por carros e motos crescendo 192% em duas décadas.

Seria ingênuo supor que as corporações políticas, os ocupantes de cargos públicos – eleitos ou não – não tenham consciência desse quadro. Mais provável é que ele esteja umbilicalmente ligado às indicações para os cargos por motivos eleitoreiros, como as manifestações em praça pública explicitam. Mas há indicações de esgotamento, apesar das resistências dos beneficiários, sejam eles detentores do poder ou seus beneficiários. Com consequências que podem ser até dramáticas.

Diante da visibilidade do quadro, melhor não postergar soluções. Pode ter consequências muito graves.

Um pouco de jazz

As vacas profanas e as superfaturadas

Sempre que o Brasil tem pela frente um desafio monumental como o destes tempos de tanta intolerância e insensatez,em meio a tanta gente escabriada como ultimamente, me consolo e me animo ao lembrar-me da constatação de Goethe - mais difícil do que derrotar o monstro e remover-lhe os destroços.

Quem está de fora, querendo, pode ver melhor. As lentes dos óculos ou das meninas-dos-olhos ficam mais límpidas. Os que seguem no picadeiro desse circo montado com o maior conforto em qualquer espaço onde seja possível amealhar algum dinheirinho, ainda apostam naquele perdão prometido aos que não sabem o que fazem.

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Ora, não sabem. Sabem e muito. Não apenas sabem como até ensinam suas artes e manhas aos que chegam. Logo saberão que não sendo apadrinhados por um desses Corleones, e os são muitos em diversas frentes, não terão futuro na organização marginal a que pejorativamente chamam de política.

Impressionante ver em cores nítidas como a rapaziada aprende rápido a se dar bem, sem temor de consequências. Foi-lhes ensinado que quanto mais processos criminais, melhor. O foro privilegiado faz desaguar todos para enxurrada que leva à prescrição, que consolida a impunidade.

Ouço muitos dizendo que depois da Lava a Jato não vai ter lugar para tantos criminosos que passando-se por políticos se aboletaram nas facilidades do clientelismo, do toma lá dá cá.

Ouvi no rádio que um Deputado do Maranhão, ou de sobrenome Maranhão, exigiu uma Vice Presidência da Caixa Econômica Federal para levar à votação um projeto de interesse do Governo. Antes, na votação do impeachment, um Senador, aliás, socialista, emplacou um apadrinhado na direção de um Banco estatal.

A que servem essas ocupações?

O monstro incorporado na desastrosa presidência da senhora Dilma restou vencido, não sem antes causar os maiores prejuízos à economia, à coesão social, enfim ao que resistiu no arcabouço institucional. A estratégia da tomada do Estado por prazo ilimitado pela via do aparelhamento dos três poderes não se completou a tempo e, por isso, não funcionou.

Remover agora os destroços do monstro que se mostrava imbatível e que agora jaz inerte sob o sol e a chuva na Praça dos Três Poderes não é tarefa para tão poucos patriotas nessa urgência que a realidade social e política impõem.

No Ministério da Agricultura,por exemplo, não era possível fechar contrato. Nem dar seguimento, a qualquer providência que dependa de alguma cópia em papel.

Sem receber o que fora contratado, a empresa prestadora dos serviços retirou todas as copiadoras e agora, já vencido o prazo do contrato, tudo está a depender de uma licitação.

Para economizar despesa com hotel em Tóquio, Temer preferiu viajar à noite. O fuso horário de 24 (vinte e quatro) horas atrasou a notícia.

No início da tarde de ontem a Polícia Federal prendeu Eduardo Cunha em Brasília. Desde a véspera ele já havia até arrumado a mala. No avião presidencial que voltava ao Brasil, passava da meia-noite. Temer dormia.

Na véspera, horas antes do Juiz Moro assinar a ordem mandando prender Cunha, estou uma rebelião num manicômio em Franco da Rocha, município de São Paulo. Alguns fugitivos foram capturados. 55 (cinquenta e cinco), não.

Edson Vidigal

A esquerda é muito maior do que o PT

Cavalheirismo é machismo - PapodeHomem:
Não só no Brasil, mas em todo o mundo democrático, vivemos um momento de ebulição no campo das forças de esquerda, com uma profunda discussão em torno do papel dos partidos que compõem esse espectro ideológico e os seus desafios nos dias de hoje. No caso brasileiro, é evidente que o retumbante fracasso moral dos governos de Lula e Dilma Rousseff gerou um forte impacto sobre os grupos mais progressistas, como se a esquerda se resumisse ao PT e seus aliados. Trata-se, evidentemente, de uma tese falaciosa e desprovida de qualquer sentido.

O desastre lulopetista, que chegou ao fim por meio do impeachment da ex-presidente da República, deixou marcas indeléveis no PT, no país e nas esquerdas – associadas, indistintamente, ao desmantelo e à corrupção que afundaram o Brasil. O que temos acompanhado, com tristeza e preocupação, é um sentimento crescente de repulsa em relação aos políticos e partidos que possuem uma visão mais igualitária, humanista e voltada ao social, enquanto, por outro lado, se fortalecem discursos de ódio, intolerância, preconceito ou de conteúdo xenófobo e até mesmo fascista em determinados momentos, frutos de um reacionarismo cada vez mais exacerbado.

Uma das consequências desse fenômeno é o retorno de um anticomunismo anacrônico e descabido, como se ainda fizesse sentido se manifestar contra algo que é página virada na história. Basta conhecer minimamente a política brasileira para constatar, sem muito esforço, que o PT não é e nunca foi comunista. As raríssimas experiências comunistas que ainda se mantêm em pé, entre as quais Cuba e Coreia do Norte, não significam nada de relevante nem oferecem qualquer perspectiva de futuro – o regime norte-coreano, comandado por um bizarro ditador, se assemelha a uma dinastia imperial. Há também a China, que mantém um sistema político ditatorial, mas há muito tempo abriu sua economia para o capitalismo.

Do início ao fim, os governos de Lula e Dilma sempre estiveram afinados com os interesses da banca financeira, que nunca obteve lucros tão fabulosos quanto no período lulopetista. Nos últimos 13 anos, a educação e a saúde continuaram sofrendo com um declínio de qualidade vergonhoso. As famílias brasileiras se endividaram em decorrência do incentivo desenfreado ao consumo. Como resultado de tamanha irresponsabilidade e de uma série de equívocos cometidos na política econômica, o Brasil amarga uma recessão de proporções nunca antes vistas em nossa história, com mais de 12 milhões de desempregados. Como se tudo isso não bastasse, a tão prometida reforma agrária não saiu do papel e o déficit habitacional só se agravou. É a população mais pobre, fundamentalmente, quem mais sofre com o descalabro produzido pelo PT – cuja cartilha seguida enquanto governo nada teve a ver com uma política minimamente de esquerda.

É importante entender que o campo ideológico progressista no Brasil, formado por um amplo leque de partidos com visões de mundo distintas, não se restringe ao próprio PT. Isso ficou evidenciado no processo de impeachment de Dilma, em que as legendas que representam a esquerda democrática brasileira – o Partido Popular Socialista (PPS), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Verde (PV) – votaram unidas pelo afastamento da então presidente.

A esquerda mais avançada, conectada ao século XXI e ao mundo do futuro, defende, neste exato momento, o ajuste econômico e a responsabilidade fiscal propostos pelo governo de Michel Temer para tirar o Brasil do buraco. Apoiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, que busca racionalizar os gastos públicos, não é uma bandeira empunhada por esquerda ou direita – mas por todos os que temos compromisso com um país mais justo, sustentável e digno para os seus cidadãos. E esse é apenas um dos exemplos que evidenciam a diferença entre uma esquerda autoritária, arcaica e dogmática e aquela mais democrática, dinâmica e plural.

Essa esquerda tem história, dignidade, honradez e jamais se enxovalhou com a corrupção desenfreada de mensalões ou petrolões. Essa esquerda oferece ao país não um projeto de poder, mas um projeto de desenvolvimento para todos os brasileiros.

Roberto Freire

Imagem do Dia

#Bretagne #Finistere - soirée du 30 aout à l'Ile-Tudy © Paul Kerrien @ http://toilapol.net:
Paul Kerrien (Foto)

Sentido para a vida

Valeu-me a pena viver? Fui feliz, fui feliz no meu canto, longe da papelada ignóbil. Muitas vezes desejei, confesso-o, a agitação dos traficantes e os seus automóveis, dos políticos e a sua balbúrdia - mas logo me refugiava no meu buraco a sonhar. Agora vou morrer - e eles vão morrer. 

Warm glow...silent night, a beautiful combination:
A diferença é que eles levam um caixão mais rico, mas eu talvez me aproxime mais de Deus. O que invejei - o que invejo profundamente são os que podem ainda trabalhar por muitos anos; são os que começam agora uma longa obra e têm diante de si muito tempo para a concluir. Invejo os que se deitam cismando nos seus livros e se levantam pensando com obstinação nos seus livros. Não é o gozo que eu invejo (não dou um passo para o gozo) - é o pedreiro que passa por aqui logo de manhã com o pico às costas, assobiando baixinho, e já absorto no trabalho da pedra.

Se vale a pena viver a vida esplêndida - esta fantasmagoria de cores, de grotesco, esta mescla de estrelas e de sonho? ... Só a luz! só a luz vale a vida! A luz interior ou a luz exterior. Doente ou com saúde, triste ou alegre, procuro a luz com avidez. A luz é para mim a felicidade. Vivo de luz. Impregno-me, olho-a com êxtase. Valho o que ela vale. Sinto-me caído quando o dia amanhece baço e turvo. Sonho com ela e de manhã é a luz o meu primeiro pensamento. Qualquer fio me prende, qualquer reflexo me encanta. E agora mais doente, mais perto do túmulo, busco-a com ânsia.
Raúl  Brandão (1867 - 1930) 

Esquerda e exquerda

A esquerda exige certas características: compaixão com os pobres, os perseguidos, os excluídos e vítimas de preconceitos; compromisso com o avanço técnico a serviço do povo e da humanidade; sentimento nacional integrado na civilização universal; busca da paz entre povos e dentro de cada povo; mas exige também respeito à verdade dos fatos.

O filósofo Marx formulou o conceito de que o pensamento de esquerda deveria passar pela percepção da realidade e não por crenças preestabelecidas. Por isso, qualquer analista que ainda lembre algumas das bases da filosofia e, especialmente, da epistemologia formulada por Marx, fica surpreso com a infantilidade com que alguns militantes se dizem de esquerda, mas tomam posições sem considerar os fatos reais. Preferem falar com base em narrativas criadas, conscientemente ou por marqueteiros, para conspurcar o ambiente intelectual, sem compromisso com a verdade. Perdem com isso até mesmo o argumento correto que possam ter e terminam atropelados pela verdade.

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Considerar o presidente Michel Temer como político de direita é uma opinião, logo pode ser aceita, mas precisam dizer que Dilma, Lula e toda a esquerda votaram nele, mas hoje o criticam. Estavam iludidos, não leram sua história ou enganaram os eleitores. Mas, dizer que Temer deu golpe antidemocrático não corresponde à verdade. Todos os indicadores democráticos estão sólidos, inclusive a eleição ocorrida no dia dois de outubro que levou a uma fragorosa derrota da esquerda ao redor do PT. Ao usar a mentira do golpe para o impeachment de 2016, a esquerda termina legitimando o golpe de 1964 e todas as suas consequências: ao fazer isso, deixa de ser esquerda e vira “exquerda”.

Ao longo de décadas, a esquerda fugiu ao debate ideológico sobre as prioridades para o uso dos recursos públicos. Apoiar mais gastos para educação, saúde, salário mínimo e saneamento; e ao mesmo tempo garantir salários de marajás, subsídios à indústria, deixando o país sem os serviços públicos de qualidade e as finanças públicas falidas, ou continuar com a velha mentira da inflação: o governo dispõe de quatro, mas gasta cinco, desvalorizando a moeda e gerando inflação. É uma conta que corrompe a aritmética e ilude a sociedade.

A reação à PEC do Teto, que é uma PEC do óbvio — não se pode gastar mais do que se arrecada quando há mais para endividar-se —, também é uma recusa de ver a verdade da própria aritmética, uma visão, portanto, direitista ou “exquerdista”. É usar argumentos falsos que não combinam com a postura comprometida com a verdade, que deve caracterizar a esquerda. Negar a necessidade de definir um teto para os gastos é optar pela mentira de que os recursos públicos são ilimitados. Agora será preciso optar por prioridades. Também é falsa a ideia de que haverá redução nos gastos com educação.

O teto se impõe sobre o conjunto, sendo possível elevar a verba da educação, desde que tenhamos força política para indicar de onde tirar recursos. E se não tivermos, melhor não nos enganarmos aumentando salário de professor com dinheiro falso, da inflação. Pela primeira vez, vamos identificar os defensores da educação, capazes de lutarem pela redução de custos em outros setores, eliminando desperdícios e gastos que não são prioritários.

Da mesma forma, é surpreendente a falta de compromisso com a verdade ao denunciarem a proposta de autorização à Petrobras de não investir na exploração de todos os poços de petróleo do Pré-sal. Ao obrigar a Petrobras, sem condições financeiras, a lei atual leva o Brasil a não explorar o petróleo: perder receita, royalties para a educação e impostos, além de impedir a criação de empregos. Com a nova regra, quando a Petrobras avaliar que não é do seu interesse atuar sozinha, ela não será obrigada, e poderá explorar o petróleo em sociedade com outras empresas brasileiras ou estrangeiras, retomando emprego em cidades, gerando renda, arrecadação de impostos e royalties para financiar a educação.

É lamentável que parte da esquerda, por preconceito e corporativismo, caia na cegueira de preconceitos que a impede de ver o que é melhor para o Brasil e para o povo. E ainda se considera de esquerda, embora presa a mitos e reacionarismos. Para ser de esquerda, é preciso ter utopia para o futuro, é preciso ver a realidade do presente como ela é. E quem não tem utopia e nem capacidade de ver a realidade, não é de esquerda, é de exquerda.

Um irritado Macri acaba com a subvenção pública ao futebol argentino

A paciência do presidente Mauricio Macri com a Associação do Futebol Argentino (AFA) explodiu ao invés de estancar. As últimas gotas que fizeram o copo transbordar foram pesadas: a frustrada Superliga, a greve dos times da segunda divisão, o incessante protagonismo das barras bravas (torcidas organizadas) e uma gestão imprudente por parte dos dirigentes de alguns clubes são alguns dos condimentos de um futebol que causa muitos problemas no dia a dia. Mas, acima de tudo, há transmissão televisiva gratuita dos jogos pela empresa estatal Futbol para Todos (FPT), criada na época do kirchnerismo, com um custo para o Estado de 2,5 bilhões de pesos (524 milhões de reais) por temporada. É por causa disso que o Poder Executivo decidiu em julho romper o contrato com a FPT em dezembro próximo, mas solicitando que os jogos continuem sendo transmitidos na TV aberta até 2019. Nesta terça-feira, no entanto, a Casa Rosada decidiu interromper o fluxo de dinheiro para a AFA.

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A pergunta que todos se fazem é o que acontecerá com a transmissão do campeonato local, que até agora ocorre exclusivamente em canais abertos. Fontes do governo dizem que está sendo pensada uma forma de garantir a continuidade disso.

A reunião que selou a decisão ocorreu num gabinete da sede presidencial, envolvendo Macri, o presidente da FPT, Fernando Marín, e o secretário-geral da presidência, Fernando de Andreis. Foi justamente este último quem anunciou semanas atrás que neste ano o Estado pagaria os 1,85 bilhão de pesos (388 milhões de reais) prometidos no contrato de 2016, assinado no começo do ano. Foi também De Andreis quem protestou: “É muito fácil sair por aí pedindo que o Estado seja uma espécie de ambulância para o esbanjamento da AFA”. Uma fonte da Casa Rosada disse que “desta vez o assunto não será resolvido com um grito gutural de Armando Pérez, embora a oratória não seja o seu forte”. Alguns relacionam o anúncio com uma reunião que Marín e seu advogado teriam mantido com gente da equipe de Ted Turner, um velho interessado nos direitos de transmissão do futebol argentino.

A bronca do chefe de Estado ocorre porque a comissão reguladora presidida por Armando Pérez (em viagem à Alemanha) e imposta pela FIFA não cumpriu os três pontos encomendados: administrar, adequar o estatuto da AFA à doutrina da FIFA e constituir uma Junta Eleitoral para convocar eleições. O descumprimento rendeu uma advertência administrativa solicitada pelo Tribunal de Disciplina. “O problema e a solução estão na AFA. Em vez de gastar em coisas disparatadas, no melhor dos casos, pois há sérios indícios de corrupção, deveriam devolver o dinheiro para que tudo fique transparente. Se os clubes deixassem de se financiar por meio da dívida com a AFA, 80% dos problemas estariam resolvidos”, afirma De Andreis. E ele critica: “Com o nível de desperdício, a corrupção, a pouca profissionalização na administração dos recursos e os absurdos pagos em alguns casos, não tem bolso que aguente”
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