domingo, 20 de março de 2016
Pele de cordeiro
Luiz Inácio Lula da Silva tem caras, modos e personas variáveis. Traveste-se de acordo com a conveniência. Transita entre a divindade e o desvalido, entre a vítima e o general da tropa. Semeia guerra e ódio e encarna a versão paz e amor quando as circunstâncias o deixam sem saída. Ruge como leão e rasteja como jararaca. Mas, por mais que tente, sempre que se veste de cordeiro o lobo escapa.
Depois de ser flagrado sem fantasia em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, Lula, por aconselhamento da numerosa banca de advogados que o assessora ou por tino político – ou os dois --, decidiu que é hora de falar de flores.
Uma carta sentimental na quinta-feira e um discurso contra o ódio na manifestação pró-Dilma na sexta-feira, em São Paulo, não deixam dúvidas quanto às intenções do ex.
Já que não era possível negar as gravações em que dispara toda sorte de xingamentos aos presidentes da Câmara e do Senado, ao Procurador-Geral da República e ao recém-empossado ministro da Justiça, e à Suprema Corte, Lula tentou, com a carta, baixar a bola junto aos ministros do STF, que darão a palavra final sobre seu futuro, seja ele ministro de Estado ou não.
Na missiva, peça em que assinatura não está necessariamente vinculada à autoria, Lula se assemelha a uma lady inglesa. No conteúdo e na linguagem, em nada parecidos com o remetente, que abusa do calão censurado para menores, na maioria das vezes sujeitos a transcrições que param na primeira letra da palavra.
No palanque, a história é outra. Lula prega a paz cuspindo ódio.
Em quase meia hora de discurso para uma plateia absolutamente hipnotizada, Lula – ora ex-presidente, ora ministro, ora presidente – esforçou-se para cunhar a imagem de pacificador. Usou e abusou de frases de efeito e da palavra democracia. A ela conferiu variegados significados, menos o real, já que deu maior valor às pessoas que ali estavam do que às protestaram contra ele, Dilma e o PT.
Em alguns momentos, Lula até conseguiu seguir o script que traçara para ele, ao explicar, por exemplo, que iria integrar o governo para ajudar, não para brigar. Mas pouco durava. O “nós x eles” arraigado no discurso do ex prevaleceu mesmo quando ele, nitidamente, não queria.
Até a ideia marota de união das cores, em que o vermelho estaria “no sangue” e o verde-amarelo no “coração” de todos, mostrou o verdadeiro alvo logo em seguida: “eles têm que saber que estas pessoas que estão aqui, de vermelho, são parte das pessoas que produzem o pão de cada dia do povo brasileiro. Elas não estão aqui porque tiveram metrô de graça, não estão aqui porque foram convocadas pelos meios de comunicação a semana toda. Elas estão aqui porque sabem o valor da democracia, porque sabem o valor de fazer o pobre subir uma escala no degrau da economia. Se eles comem três vezes por dia, nós queremos comer três vezes por dia."
Por vezes, Lula lembrou o sapo barbudo imortalizado por Leonel Brizola, esbravejando, com a voz rouca. O velho e batido “nós x eles” permeou toda a oratória. Até na mensagem pseudo-conciliadora final, quando Lula pediu que a multidão vermelha não aceitasse provocações, como se um eventual conflito só viesse do “eles”, jamais do “nós”.
Entre o discurso e os cumprimentos aos companheiros de palanque, Lula ficou menos de uma hora na Avenida Paulista. Nesse pouco tempo, foi ministro e deixou de ser por duas vezes devido a liminares concedidas e cassadas. Anunciou que estaria no Planalto, trabalhando como ministro na próxima terça-feira, mas saiu de lá sem Ministério, de acordo com a decisão – também liminar – do ministro do Supremo Gilmar Mendes.
Ministro ou não, Lula está enroscado em nada menos do que seis inquéritos no âmbito do Ministério Público Federal e um no Distrito Federal, fora o do MP de São Paulo, despachado para Curitiba pela juíza paulista.
Por mais que tente remodelar, não há pele de cordeiro capaz de encobri-lo.
Depois de ser flagrado sem fantasia em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, Lula, por aconselhamento da numerosa banca de advogados que o assessora ou por tino político – ou os dois --, decidiu que é hora de falar de flores.
Uma carta sentimental na quinta-feira e um discurso contra o ódio na manifestação pró-Dilma na sexta-feira, em São Paulo, não deixam dúvidas quanto às intenções do ex.
Já que não era possível negar as gravações em que dispara toda sorte de xingamentos aos presidentes da Câmara e do Senado, ao Procurador-Geral da República e ao recém-empossado ministro da Justiça, e à Suprema Corte, Lula tentou, com a carta, baixar a bola junto aos ministros do STF, que darão a palavra final sobre seu futuro, seja ele ministro de Estado ou não.
Na missiva, peça em que assinatura não está necessariamente vinculada à autoria, Lula se assemelha a uma lady inglesa. No conteúdo e na linguagem, em nada parecidos com o remetente, que abusa do calão censurado para menores, na maioria das vezes sujeitos a transcrições que param na primeira letra da palavra.
No palanque, a história é outra. Lula prega a paz cuspindo ódio.
Em quase meia hora de discurso para uma plateia absolutamente hipnotizada, Lula – ora ex-presidente, ora ministro, ora presidente – esforçou-se para cunhar a imagem de pacificador. Usou e abusou de frases de efeito e da palavra democracia. A ela conferiu variegados significados, menos o real, já que deu maior valor às pessoas que ali estavam do que às protestaram contra ele, Dilma e o PT.
Em alguns momentos, Lula até conseguiu seguir o script que traçara para ele, ao explicar, por exemplo, que iria integrar o governo para ajudar, não para brigar. Mas pouco durava. O “nós x eles” arraigado no discurso do ex prevaleceu mesmo quando ele, nitidamente, não queria.
Até a ideia marota de união das cores, em que o vermelho estaria “no sangue” e o verde-amarelo no “coração” de todos, mostrou o verdadeiro alvo logo em seguida: “eles têm que saber que estas pessoas que estão aqui, de vermelho, são parte das pessoas que produzem o pão de cada dia do povo brasileiro. Elas não estão aqui porque tiveram metrô de graça, não estão aqui porque foram convocadas pelos meios de comunicação a semana toda. Elas estão aqui porque sabem o valor da democracia, porque sabem o valor de fazer o pobre subir uma escala no degrau da economia. Se eles comem três vezes por dia, nós queremos comer três vezes por dia."
Por vezes, Lula lembrou o sapo barbudo imortalizado por Leonel Brizola, esbravejando, com a voz rouca. O velho e batido “nós x eles” permeou toda a oratória. Até na mensagem pseudo-conciliadora final, quando Lula pediu que a multidão vermelha não aceitasse provocações, como se um eventual conflito só viesse do “eles”, jamais do “nós”.
Entre o discurso e os cumprimentos aos companheiros de palanque, Lula ficou menos de uma hora na Avenida Paulista. Nesse pouco tempo, foi ministro e deixou de ser por duas vezes devido a liminares concedidas e cassadas. Anunciou que estaria no Planalto, trabalhando como ministro na próxima terça-feira, mas saiu de lá sem Ministério, de acordo com a decisão – também liminar – do ministro do Supremo Gilmar Mendes.
Ministro ou não, Lula está enroscado em nada menos do que seis inquéritos no âmbito do Ministério Público Federal e um no Distrito Federal, fora o do MP de São Paulo, despachado para Curitiba pela juíza paulista.
Por mais que tente remodelar, não há pele de cordeiro capaz de encobri-lo.
A que ponto chegamos
A que ponto chegamos... A frase se repete nas conversas sobre a crise moral, econômica e política do país. Como foi possível? Como nos deixamos iludir desse modo? Há quem busque as raízes da complacência ou autoengano no cartorialismo lusitano, no clientelismo, na troca de favores que nos veio de herança desde o primeiro Cabral. Já na carta em que anunciava ao rei de Portugal a nova terra, o escrivão pedia um favor para sua família em troca da boa notícia. Depois, tivemos séculos de escravidão, consolidando desigualdade, injustiça, violência, ignorância. Ambiente ideal para fomentar populismo e salvacionismo.
A impunidade vem dos mecanismos criados por quem tem poder, para aí se manter. Um eficiente sistema de infinitas instâncias protelatórias e incontáveis recursos e tecnicalidades para afastar de si as penas da lei. Estas só se aplicam a quem não tem como utilizá-los em seu benefício. Daí o juiz Sérgio Moro ter saudado, como uma janela fechada para a impunidade, a decisão do STF de fazer cumprir as penas já após a condenação em segunda instância.
Para bem manter a teia de privilégios, é necessária uma rede de cúmplices, igualmente beneficiados. Nomeações então aparelham a administração, feitas por recomendação ideológica ou intercâmbio de favores, não por merecimento e capacidade. Esse Estado inchado passa a sustentáculo do sistema. Burlando a Constituição, segundo o Jusbrasil, nosso país tem 600 mil funcionários públicos sem concurso, dos quais 23.941 em cargos de confiança (o dado é do Ministério do Planejamento). A França e a Alemanha têm uns 600 cada. Nosso sistema político tem números igualmente exagerados, com excesso de ministérios, de cargos, de deputados, de partidos, de municípios — e a toda hora surgem mais, tudo sustentado com nosso dinheiro. Isso ajuda a explicar o excesso de impostos, os gastos exorbitantes em campanhas milionárias, e a vergonhosa qualidade dos lamentáveis políticos assim eleitos. Sem falar na recusa de cortes no custeio da máquina administrativa.
Para fingir que é necessário manter esse absurdo tupiniquim, a mentira campeia, a fim de desqualificar os outros e ser messiânico, garantindo que fora do Salvador de Pátria e seu bando não há nada de bom, nenhuma competência, honradez ou virtude. Mas há também que demonizar a iniciativa privada e o lucro, criando infinitos obstáculos burocráticos ao empreendedorismo individual e aos pequenos empresários, de modo a garantir a reserva de mercado e os privilégios a algumas grandes empresas escolhidas, que ajudam a sustentar esse esquema numa bilionária troca de favores. As recentes investigações policiais estão revelando a extensão dessas práticas e os fios que as ligam às campanhas eleitorais.
Essas campanhas devem ser longas, caras, cheias de truques. Para que o esquema dê frutos e perpetue a ocupação do poder, é indispensável utilizar espertas técnicas de marketing, sem qualquer escrúpulo de mentir. Caluniam-se os adversários, promete-se qualquer coisa, varia-se de “paz e amor” a jararaca, conforme a necessidade do momento. Produzem-se filmes com imagens de livros sumindo das mãos das crianças ou pratos de comida desaparecendo das mesas se o eleitor ousar votar de acordo com sua preferência e trair o Grande Pai, a quem deve obediência para lhe garantir a vitória na guerra. Acusa-se o outro de tudo aquilo de que se poderia ser acusado. Ganha quem for o gatilho mais rápido.
E isso cola? Cola, se garantido pela educação de péssimo nível, num sistema que nega o contato com ideias variadas que poderiam desenvolver a visão crítica. Interessa ao sistema clientelista que as escolas recusem leitura literária (que ensina a ver de outros pontos de vista) e qualquer estudo baseado na matemática. A cegueira à realidade da economia assegura a docilidade diante de decisões baseadas em dogmas ideológicos, e não em análises racionais. E quando a consequência desses erros gera grave crise econômica, nada como um pouquinho mais de retórica e marketing para insistir no erro e enganar os trouxas de novo.
Mas vem a hora em que o gigante se espreguiça como se quisesse acordar. Será que abre os olhos e se levanta? Afinal, era a promessa bíblica: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Talvez seja essa esperança que, ao celebrar a justiça, as ruas em verde e amarelo lembraram a todos no domingo — que em menos de uma semana já parece no século passado.
Ana Maria Machado
Não faltam exemplos históricos desse legado. Mas não bastam para explicar como a corrupção se renova e reinventa, se espalhou tanto e escorre por todas as frestas. Para entender como chegamos a esse ponto, é bom examinar o trabalho conjunto de diferentes fatores. A impunidade é um deles. O inchaço do Estado é outro. O messianismo colabora. A arte de mentir também faz sua parte, e bem grande, sobretudo para gente facilmente enganável porque a educação lhe é negada. Para sermos um país diferente, vamos precisar mudar tudo isso.
A impunidade vem dos mecanismos criados por quem tem poder, para aí se manter. Um eficiente sistema de infinitas instâncias protelatórias e incontáveis recursos e tecnicalidades para afastar de si as penas da lei. Estas só se aplicam a quem não tem como utilizá-los em seu benefício. Daí o juiz Sérgio Moro ter saudado, como uma janela fechada para a impunidade, a decisão do STF de fazer cumprir as penas já após a condenação em segunda instância.
Para bem manter a teia de privilégios, é necessária uma rede de cúmplices, igualmente beneficiados. Nomeações então aparelham a administração, feitas por recomendação ideológica ou intercâmbio de favores, não por merecimento e capacidade. Esse Estado inchado passa a sustentáculo do sistema. Burlando a Constituição, segundo o Jusbrasil, nosso país tem 600 mil funcionários públicos sem concurso, dos quais 23.941 em cargos de confiança (o dado é do Ministério do Planejamento). A França e a Alemanha têm uns 600 cada. Nosso sistema político tem números igualmente exagerados, com excesso de ministérios, de cargos, de deputados, de partidos, de municípios — e a toda hora surgem mais, tudo sustentado com nosso dinheiro. Isso ajuda a explicar o excesso de impostos, os gastos exorbitantes em campanhas milionárias, e a vergonhosa qualidade dos lamentáveis políticos assim eleitos. Sem falar na recusa de cortes no custeio da máquina administrativa.
Para fingir que é necessário manter esse absurdo tupiniquim, a mentira campeia, a fim de desqualificar os outros e ser messiânico, garantindo que fora do Salvador de Pátria e seu bando não há nada de bom, nenhuma competência, honradez ou virtude. Mas há também que demonizar a iniciativa privada e o lucro, criando infinitos obstáculos burocráticos ao empreendedorismo individual e aos pequenos empresários, de modo a garantir a reserva de mercado e os privilégios a algumas grandes empresas escolhidas, que ajudam a sustentar esse esquema numa bilionária troca de favores. As recentes investigações policiais estão revelando a extensão dessas práticas e os fios que as ligam às campanhas eleitorais.
Essas campanhas devem ser longas, caras, cheias de truques. Para que o esquema dê frutos e perpetue a ocupação do poder, é indispensável utilizar espertas técnicas de marketing, sem qualquer escrúpulo de mentir. Caluniam-se os adversários, promete-se qualquer coisa, varia-se de “paz e amor” a jararaca, conforme a necessidade do momento. Produzem-se filmes com imagens de livros sumindo das mãos das crianças ou pratos de comida desaparecendo das mesas se o eleitor ousar votar de acordo com sua preferência e trair o Grande Pai, a quem deve obediência para lhe garantir a vitória na guerra. Acusa-se o outro de tudo aquilo de que se poderia ser acusado. Ganha quem for o gatilho mais rápido.
E isso cola? Cola, se garantido pela educação de péssimo nível, num sistema que nega o contato com ideias variadas que poderiam desenvolver a visão crítica. Interessa ao sistema clientelista que as escolas recusem leitura literária (que ensina a ver de outros pontos de vista) e qualquer estudo baseado na matemática. A cegueira à realidade da economia assegura a docilidade diante de decisões baseadas em dogmas ideológicos, e não em análises racionais. E quando a consequência desses erros gera grave crise econômica, nada como um pouquinho mais de retórica e marketing para insistir no erro e enganar os trouxas de novo.
Mas vem a hora em que o gigante se espreguiça como se quisesse acordar. Será que abre os olhos e se levanta? Afinal, era a promessa bíblica: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Talvez seja essa esperança que, ao celebrar a justiça, as ruas em verde e amarelo lembraram a todos no domingo — que em menos de uma semana já parece no século passado.
Ana Maria Machado
A casa veio abaixo
Para cumprir a tarefa de evitar o descarrilamento dos vagões, que se mostram desengonçados, Lula exige: guinada na economia, com a receita populista de propiciar o consumo em massa e o acesso da população ao crédito; direcionar o trem para a esquerda e reconquistar o apoio dos movimentos sociais; esquecer a ideia de reformar a previdência e abrandar o ajuste fiscal; enfim, ele deseja reformular as diretrizes escolhidas por Dilma para seu segundo mandato.
A presidente promete poderes para Lula resgatar a imagem positiva do governo. Essa era a inflexão que se tinha até virem a público as gravações autorizadas de conversas entre a presidente e seu mestre e entre este e outros interlocutores. Ao dizer que estava enviando o emissário Messias com o Termo de Posse para Lula usar “só em caso de necessidade”, mesmo sem ter assinado o documento, a versão do Lula providencial foi substituída pela versão do Lula tentando driblar a justiça. Dilma lhe mandava um salvo conduto para se livrar de eventual pedido de prisão ordenada pelo juiz Sérgio Moro. O termo antecipado de posse é considerado por juristas como meio de obstrução da justiça. Ele se livraria de condenação na 1ª instância e subiria ao degrau do STF, que julga pessoas com foro privilegiado.
A volta do ex-presidente para o seu “terceiro mandato” ocorre, assim, sob uma teia de suspeitas, ainda mais quando sua linguagem rude arremete contra o Poder Judiciário (“acovardado”), o Legislativo (“acovardado”) os presidentes da Câmara e do Senado (brindados com termos chulos), a par de demandas nada republicanas.
O ministro Lula sobe ao quarto andar do Palácio do Planalto sob o apupo da imensa maioria da população, que manifesta contrariedade contra ele, Dilma, o PT e, diga-se, outros protagonistas da velha política. Conseguirá ter sucesso na missão que encampa ou será alijado da cena política na esteira das graves denúncias que enchem seu roçado?
Para início de conversa, ainda não sentou na cadeira, pois há uma coleção de recursos contra sua ascensão ao cargo de ministro número 1. Terá de esperar. Lula põe lenha na fogueira da crise. Seu estoque de carisma de Lula se esvazia rapidamente. Impressiona a ocupação espontânea das ruas ao se ouvirem as gravações de suas conversas com interlocutores, com destaque para o breve diálogo com Dilma. Causam preocupações as ameaças de conflitos por parte de grupos contrários e favoráveis a ele e ao governo.
Com os costados arrebentados e previsíveis confirmações das delações premiadas do senador Delcídio Amaral, do ex-deputado Pedro Correa, do PP, para quem Lula sabe de tudo desde o mensalão, e de mais delatores, Luiz Inácio não deverá escapar de julgamento na Corte Suprema. A pergunta emerge: por que ele tanto luta para ser julgado pelo STF? Talvez por considerar ter ali um acolhimento melhor que o da Corte de Curitiba. Afinal, de sua caneta saiu a nomeação de oito ministros do Supremo, entre os quais três ainda se encontram na Casa (o presidente Ricardo Lewandovski, Carmen Lúcia e Dias Toffoli).
Não se engane, porém, o ex-presidente. O olho das ruas está atento. As operações em curso, desde o mensalão, acenderam os faróis da transparência e a sociedade organizada observa o que se passa no entorno dos Poderes. Cresce a sensação de que os magistrados não se deixarão levar por voto de agradecimento. Na quadra que se caracteriza pelo lema - “passar o Brasil a limpo” -, estreita-se a probabilidade do voto de retribuição. O que pode ocorrer é o prolongamento de eventual processo contra ele, eis que são longos os corredores da Justiça.
Nesse ínterim, tentará cumprir suas funções, a começar pela articulação política. Primeiro desafio: garantir os vagões do PMDB atrelados à locomotiva do governo. Conseguirá? Pouco provável. Em convenção, o partido decidiu dar 30 dias para desembarcar da administração federal. Antecipou essa decisão para o dia 29 próximo. Proibiu seus quadros de aceitar novos cargos no governo. Pois bem, o deputado Mauro Lopes, secretário do partido, quebrou o compromisso e assumiu a Secretaria da Aviação Civil. O VP, Michel Temer, não foi à sua posse. E foi acolhido pelo Conselho de Ética do PMDB, nesta sexta, pedido para punição do deputado. A cúpula partidária avisa: Lula não conseguirá demover o PMDB de sua decisão. Outros partidos também encenam o desembarque, como o PRB, PP e outros.
Na área política, Luiz Inácio, com toda a lábia, não terá sucesso, podendo segurar apenas algumas siglas que giram no entorno do PT. Na área econômica, a revolução que Lula quer fazer não dispõe de munição. Onde está o dinheiro para implantar a mesma receita de 2008 por ocasião da crise internacional? Injetar recursos para massificar o consumo? Quem vai produzir nesse clima de quebradeira, desemprego crescente, fechamento de fábricas e queda de confiança? A probabilidade de um programa que tire a economia rapidamente do fundo do poço é zero. Os ajustes tão cantados só gerarão resultados no longo prazo. Sustar a reforma da Previdência por desagradar a militância petista é sinal de que o governo continuará patinando.
Economia afundando, política efervescendo, massas nas ruas pedindo mudanças, impeachment correndo (em 15 sessões será liquidado na Câmara), delações jorrando, condenações em série, o que esperar? O descarrilamento do trem. Não há mais condições técnicas e políticas para a continuidade do governo Dilma. Só alguns cegos não querem enxergar. O ciclo do PT chega ao fim. Pode, até, haver alguma sobrevida. Apenas atrasará as mudanças que a sociedade clama. Urge instalar um governo de união nacional, com o apoio de partidos políticos e a participação das organizações sociais. Esgota-se a era do apartheid social. O muro que separa “nós e eles” precisa ser derrubado.
A presidente promete poderes para Lula resgatar a imagem positiva do governo. Essa era a inflexão que se tinha até virem a público as gravações autorizadas de conversas entre a presidente e seu mestre e entre este e outros interlocutores. Ao dizer que estava enviando o emissário Messias com o Termo de Posse para Lula usar “só em caso de necessidade”, mesmo sem ter assinado o documento, a versão do Lula providencial foi substituída pela versão do Lula tentando driblar a justiça. Dilma lhe mandava um salvo conduto para se livrar de eventual pedido de prisão ordenada pelo juiz Sérgio Moro. O termo antecipado de posse é considerado por juristas como meio de obstrução da justiça. Ele se livraria de condenação na 1ª instância e subiria ao degrau do STF, que julga pessoas com foro privilegiado.
A volta do ex-presidente para o seu “terceiro mandato” ocorre, assim, sob uma teia de suspeitas, ainda mais quando sua linguagem rude arremete contra o Poder Judiciário (“acovardado”), o Legislativo (“acovardado”) os presidentes da Câmara e do Senado (brindados com termos chulos), a par de demandas nada republicanas.
O ministro Lula sobe ao quarto andar do Palácio do Planalto sob o apupo da imensa maioria da população, que manifesta contrariedade contra ele, Dilma, o PT e, diga-se, outros protagonistas da velha política. Conseguirá ter sucesso na missão que encampa ou será alijado da cena política na esteira das graves denúncias que enchem seu roçado?
Para início de conversa, ainda não sentou na cadeira, pois há uma coleção de recursos contra sua ascensão ao cargo de ministro número 1. Terá de esperar. Lula põe lenha na fogueira da crise. Seu estoque de carisma de Lula se esvazia rapidamente. Impressiona a ocupação espontânea das ruas ao se ouvirem as gravações de suas conversas com interlocutores, com destaque para o breve diálogo com Dilma. Causam preocupações as ameaças de conflitos por parte de grupos contrários e favoráveis a ele e ao governo.
Com os costados arrebentados e previsíveis confirmações das delações premiadas do senador Delcídio Amaral, do ex-deputado Pedro Correa, do PP, para quem Lula sabe de tudo desde o mensalão, e de mais delatores, Luiz Inácio não deverá escapar de julgamento na Corte Suprema. A pergunta emerge: por que ele tanto luta para ser julgado pelo STF? Talvez por considerar ter ali um acolhimento melhor que o da Corte de Curitiba. Afinal, de sua caneta saiu a nomeação de oito ministros do Supremo, entre os quais três ainda se encontram na Casa (o presidente Ricardo Lewandovski, Carmen Lúcia e Dias Toffoli).
Não se engane, porém, o ex-presidente. O olho das ruas está atento. As operações em curso, desde o mensalão, acenderam os faróis da transparência e a sociedade organizada observa o que se passa no entorno dos Poderes. Cresce a sensação de que os magistrados não se deixarão levar por voto de agradecimento. Na quadra que se caracteriza pelo lema - “passar o Brasil a limpo” -, estreita-se a probabilidade do voto de retribuição. O que pode ocorrer é o prolongamento de eventual processo contra ele, eis que são longos os corredores da Justiça.
Nesse ínterim, tentará cumprir suas funções, a começar pela articulação política. Primeiro desafio: garantir os vagões do PMDB atrelados à locomotiva do governo. Conseguirá? Pouco provável. Em convenção, o partido decidiu dar 30 dias para desembarcar da administração federal. Antecipou essa decisão para o dia 29 próximo. Proibiu seus quadros de aceitar novos cargos no governo. Pois bem, o deputado Mauro Lopes, secretário do partido, quebrou o compromisso e assumiu a Secretaria da Aviação Civil. O VP, Michel Temer, não foi à sua posse. E foi acolhido pelo Conselho de Ética do PMDB, nesta sexta, pedido para punição do deputado. A cúpula partidária avisa: Lula não conseguirá demover o PMDB de sua decisão. Outros partidos também encenam o desembarque, como o PRB, PP e outros.
Na área política, Luiz Inácio, com toda a lábia, não terá sucesso, podendo segurar apenas algumas siglas que giram no entorno do PT. Na área econômica, a revolução que Lula quer fazer não dispõe de munição. Onde está o dinheiro para implantar a mesma receita de 2008 por ocasião da crise internacional? Injetar recursos para massificar o consumo? Quem vai produzir nesse clima de quebradeira, desemprego crescente, fechamento de fábricas e queda de confiança? A probabilidade de um programa que tire a economia rapidamente do fundo do poço é zero. Os ajustes tão cantados só gerarão resultados no longo prazo. Sustar a reforma da Previdência por desagradar a militância petista é sinal de que o governo continuará patinando.
Economia afundando, política efervescendo, massas nas ruas pedindo mudanças, impeachment correndo (em 15 sessões será liquidado na Câmara), delações jorrando, condenações em série, o que esperar? O descarrilamento do trem. Não há mais condições técnicas e políticas para a continuidade do governo Dilma. Só alguns cegos não querem enxergar. O ciclo do PT chega ao fim. Pode, até, haver alguma sobrevida. Apenas atrasará as mudanças que a sociedade clama. Urge instalar um governo de união nacional, com o apoio de partidos políticos e a participação das organizações sociais. Esgota-se a era do apartheid social. O muro que separa “nós e eles” precisa ser derrubado.
A besta e o basta
O discurso não inflama. O vigarista cuja voz de pato rouco vai nos enojando crescentemente, lança-se num miserável “nós contra eles”, gritando para a sua claque de abonados do serviço público que queremos confiscar as “conquistas sociais dos pobres”. Quem foi que confiscou essas conquistas, se não o próprio governo inepto e compadre, do qual ele é fiel depositário? Quem jogou de volta a “classe média” inventada por estes boquirrotos na beira da miséria?
É engraçado perceber que, enquanto as manifestações “coxinhas” são verdadeiras confraternizações de gente exausta dessa roubalheira epidêmica empreendida pela quadrilha de meliantes com mandato, as revoadas de varejeiras vermelhas em volta de mortadela desviada são rituais de lavagem cerebral coletivos. Os manipuladores da claque de famélicos vão dando o tom da bravata e da vigarice em seus discursos e gritarias.
Como comparar esses dois movimentos? Aqui e ali ouvimos boatos de que muitos ali foram ameaçados de perder as boquinhas públicas caso não se integrassem à baixaria. Nem precisava. Uma simples conferência constataria que hoje foi feriado na comarca do Marinho, aquele prefeito que dá cobertura aos lula da silva. Ou que as CUTs, as UNEs e as USPs foram esvaziadas para aumentar os blocos dessas varejeiras.
Obrigado pelos ossos do ofício a assistir tevê em doses cavalares, constato que a estética do canal de notícias da platinada anda se aproximando da de um Primo Carbonari, de exótica memória. Também era obrigado a ver aquelas porcarias quando ia ao cinema. Além do providencial – e infeliz – “branco, preto e vermelho” de suas vinhetas, o canal agora aposta numa espécie de ressurreição do cinema novo: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça era a palavra de ordem de uma taba que encontrou a Coca-Cola. Pela madrugada, Batman!!!
A vontade que tem essa gente de construir um Trabant é inglória, não é mesmo? Os caras hoje estão no auge da estética russa dos anos 30. Um mimo. Talvez por isso o recalque dessa caravana seja uma coisa tão visível e desconfortável para quem assiste. Os juízes do Brasil inteiro se manifestam a favor de Sergio Moro e o contraponto dado por uma “jornalista” do canal – uma Pacheco – é o manifesto em favor do governo dos estudantes de direito daquela escolinha.
Fosse eu pai de aluno, tirava meu filho de lá imediatamente. Não pode dar boa coisa um advogadinho de porta de cadeia que resolve defender o bandido, querendo a prisão urgente do mocinho. Por último, reparem que o “molúsculo” bem poderia ter comprado aquele sítio vagabundo com recursos próprios, mas não o fez. E sabem por quê? Aqui mora o perigo, meus caros. Porque fazia questão de ser venerado, de ter aspones em volta prestando vassalagem.
Ele tinha orgasmos múltiplos ao ver aqueles donos de empreiteira de quatro, calças arriadas, fazendo as vontades de “vossa incelença”. Esse boçal, além de tudo, é um déspota miserável escondido sob a carapaça de um covarde. Um Hitler de boteco, sem mindinho para fazer a saudação marreta. Um piloto de torno que perde os dedos no manejo. Um encostadão no serviço. E os desavisados aplaudem as macaquices desse circo de pilantras superfaturados.
Nos próximos rounds da peleja, precisamos espalhar por toda a Avenida Paulista aquelas plaquinhas com o aviso: “Não alimente os animais”. Será que o filho do lulão não guardou algumas cópias, como lembrança do tempo em que ainda não era um Ronaldinho da informática? Vai precisar, meliante. Tua batata tá no forno.
A ideologia do coronel arcaico é o ódio ao que não é Lula
Confirma-se outra vez o diagnóstico de Augusto Nunes sobre a saúde moral do país na trevosa noite lulopetista, segundo o qual o bandido quer prender o xerife: Dilma Rousseff, desde a divulgação das repulsivas conversas da súcia, repete para a louca que a mira no fundo do espelho que “em muitos lugares do mundo, quem grampear um presidente vai preso”, acrescentando uma crítica cínica sobre a justiça dos coronéis do começo do século passado, num disfarce ineficaz da própria sujeição a um coronel arcaico.
Sempre cedendo à natureza dela e dos comparsas que os impele a mentir em qualquer situação, a criatura infeliz insiste em desconsiderar que o objeto do grampo legal era o outro bandido. Se a presidente telefona para bandidos, e a presidente não só telefona para bandidos como os nomeia ministros (diretores de estatais, assessores, etc.), ela cai no grampo.
Também desconsidera que em “muitos lugares do mundo”, excetuados os pré-civilizados onde vicejam aliados do petismo, uma mulherzinha tão medíocre nunca se elegeria. A estratégia infame em atacar Moro brilhou na cerimônia de posse do ministro bandido, em que Dilma, aos berros, dividindo a mentira entre olhos, dentes e gestos, dizia que o termo de posse que citou na conversa grampeada não era o termo de posse que citou na conversa grampeada.
Já tivemos demais disso, senhora, deixe-nos em paz e vá buscar alguma paz para si. A favor do bandido e contra o xerife, há ainda os intelectuais metidos a artistas e os artistas metidos a intelectuais habituais, a militância remunerada pela nação toda e um grupo inverossímil de juristas dizendo que Moro ofende o estado de direito democrático.
Nas gravações, a linguagem de sarjeta de Lula aponta a obsessão da família jeca por determinada parte da anatomia alheia, em que manda enfiar desde processos a panelas. É chulo sim, mas mesmo o chulismo pode ter pertinência; essa linguagem é sobretudo de ódio. O tal ódio de que os defensores de bandidos acusam qualquer crítica, depois de silenciarem enquanto Lula fazia dele o lubrificante das relações entre rivais políticos na clivagem inédita e odiosa do país entre “nós” e “eles”.
Pois bem, o ódio, o machismo e todas as dimensões do politicamente incorreto inundam as falas dos Lula da Silva sob o silêncio de associações, movimentos, coletivos ou qualquer outro ente da fauna-defensora-das-minorias-oprimidas para a qual estas se definem pelo crivo ideológico. Ora, a ideologia de Lula é o ódio ao que não é lula ou a quem a lula não se submete.
A campanha e os gritos contra Sérgio Moro continuarão. O juiz que mostra à nação exausta a trilha para buscar a manhã que dissipará a sinistra noite que vivemos há 14 anos talvez seja a figura pública mais admirada e mesmo querida atualmente, enquanto a criatura e o criador toscos jazem na ponta oposta, mas não é só por isso que logo saberão que toda essa infâmia é inútil, e sim porque a verdade, contrariamente aos subalternos da república pixuleca, não teme os berros de uma cínica e o ódio de um coronel arcaico.
Sempre cedendo à natureza dela e dos comparsas que os impele a mentir em qualquer situação, a criatura infeliz insiste em desconsiderar que o objeto do grampo legal era o outro bandido. Se a presidente telefona para bandidos, e a presidente não só telefona para bandidos como os nomeia ministros (diretores de estatais, assessores, etc.), ela cai no grampo.
Também desconsidera que em “muitos lugares do mundo”, excetuados os pré-civilizados onde vicejam aliados do petismo, uma mulherzinha tão medíocre nunca se elegeria. A estratégia infame em atacar Moro brilhou na cerimônia de posse do ministro bandido, em que Dilma, aos berros, dividindo a mentira entre olhos, dentes e gestos, dizia que o termo de posse que citou na conversa grampeada não era o termo de posse que citou na conversa grampeada.
Já tivemos demais disso, senhora, deixe-nos em paz e vá buscar alguma paz para si. A favor do bandido e contra o xerife, há ainda os intelectuais metidos a artistas e os artistas metidos a intelectuais habituais, a militância remunerada pela nação toda e um grupo inverossímil de juristas dizendo que Moro ofende o estado de direito democrático.
Nas gravações, a linguagem de sarjeta de Lula aponta a obsessão da família jeca por determinada parte da anatomia alheia, em que manda enfiar desde processos a panelas. É chulo sim, mas mesmo o chulismo pode ter pertinência; essa linguagem é sobretudo de ódio. O tal ódio de que os defensores de bandidos acusam qualquer crítica, depois de silenciarem enquanto Lula fazia dele o lubrificante das relações entre rivais políticos na clivagem inédita e odiosa do país entre “nós” e “eles”.
Pois bem, o ódio, o machismo e todas as dimensões do politicamente incorreto inundam as falas dos Lula da Silva sob o silêncio de associações, movimentos, coletivos ou qualquer outro ente da fauna-defensora-das-minorias-oprimidas para a qual estas se definem pelo crivo ideológico. Ora, a ideologia de Lula é o ódio ao que não é lula ou a quem a lula não se submete.
A campanha e os gritos contra Sérgio Moro continuarão. O juiz que mostra à nação exausta a trilha para buscar a manhã que dissipará a sinistra noite que vivemos há 14 anos talvez seja a figura pública mais admirada e mesmo querida atualmente, enquanto a criatura e o criador toscos jazem na ponta oposta, mas não é só por isso que logo saberão que toda essa infâmia é inútil, e sim porque a verdade, contrariamente aos subalternos da república pixuleca, não teme os berros de uma cínica e o ódio de um coronel arcaico.
Alô deputados e senadores! Quem quer ser cúmplice?
Pois é, Excelências. Passei estes últimos dias nas ruas, nas mobilizações populares, nos carros de som, nas redes sociais, e acompanhando o noticiário. Andei de taxi. Falei com vendedores de água, pipoca, sorvete. Falei com taxistas e garçons. Cheguei a uma conclusão: a coisa está feia para o lado dos senhores. Junto com a responsabilidade inerente às funções que exercem, caiu-lhes no colo a decisão sobre o processo de impeachment. E as perguntas são inevitáveis: V. Exª será cúmplice da organização criminosa que saqueou o país? Concederá aval para que continue atuando? Parece-lhe pouco tudo que já é de seu conhecimento? Se sim, quanto mais seria necessário subtrair à nação para chegar a um valor que o impressione? Quantas lixeiras mais será preciso destapar?
É possível que o tenham sensibilizado alguns argumentos da corte pirata e seus cortejadores. Mencionarei os mais insistentemente repetidos: 1) impeachment é golpe; 2) a oposição perdeu a eleição e quer derrubar o governo; 3) a oposição ataca o PT porque não gosta de pobres. Examinemos, um a um, esses supostos argumentos.
1. Impeachment é procedimento previsto na Constituição, segue rito jurídico e político que, no presente caso, acaba de ser regulamentado pelo Supremo Tribunal Federal. Como pode ser "golpe" um processo e um julgamento que percorre a trilha definida na Constituição e que, em seus atos de natureza judicial penal, junto ao Senado, será dirigido pelo presidente do Supremo?
2. A oposição não quer "derrubar o governo porque perdeu a eleição". A oposição, Excelências, perdeu três eleições consecutivas para o mesmo partido! Em nenhuma delas protestou. Em nenhuma agiu para "derrubar" o governo eleito. Só agora, no quarto pleito, motivada pela inquestionável, confessa, testemunhada e documentada natureza criminosa dos atos praticados dentro do governo, a oposição parlamentar, ouvindo inigualáveis mobilizações populares, dá suporte político institucional ao processo de impeachment. Não fossem os achados criminais da operação Lava Jato, não haveria povo nas ruas, nem processo de impeachment.
3. Espalhar a ideia de que a oposição quer o mal dos pobres e, por isso, deseja tirar o PT do governo é um outro aspecto do grave problema moral que afeta o partido dirigente: desonestidade intelectual. Afirmar que os adversários do governo "não gostam de pobres e não querem que os pobres melhorem de vida", é uma sofisma barato, uma falsidade esférica, torpe desde qualquer ponto de vista. Como poderia convir à imensa maioria da nação a pobreza dos pobres? Quem quer viver numa sociedade profundamente desigual, como essa que temos após 15 anos de petismo reinante? O governo petista, este sim, enriqueceu seus integrantes (quem é pobre sob seu guarda-chuva?) e enriqueceu ainda mais os setores endinheirados do planeta, pagando-lhes os juros mais sedutores do mundo. A Brasília petista tem muito de Wall Street e muito de Chicago na década de 30.
É forçoso reconhecer, então, que o PT se atribui uma falsa preferência pelos mais pobres para esconder os resultados da própria ganância e os privilégios que concede a grandes e desonestos empresários. Tal conduta faz lembrar a dos traficantes de drogas que escondem sua riqueza na pobreza dos morros onde distribuem migalhas aos mais necessitados.
Acostumem-se à idéia, excelências. Quem segurar a alça desse caixão será, perante a opinião pública, cúmplice de uma organização criminosa. Será pegar ou largar.
Não haverá milagre
O momento enfrentado pelo governo ficou traduzido com propriedade por Lula numa das tantas conversas telefônicas reveladas pela operação Lava Jato. Desabafou: “E fica todo mundo num compasso que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar”.
Lula, entre muros partidários, se queixa da paralisia e das trapalhadas da presidente Dilma, atordoada, revelando limitações pessoais que não estavam entre as mais sombrias previsões. Sem rumo, sem metas que não sejam a de propor mais impostos sobre um contribuinte revoltado.
A “criatura” que Lula colocou no Planalto escapou do controle. Falta-lhe traquejo político, isolou-se, intoxicou-se pela bajulação dos incompetentes e medíocres dos quais se cercou. Dilma, depois de reeleita, em 2014, largou as rédeas.
O Lula que “acertava quase tudo”, o ícone, passou a ser uma figura investigada pela polícia judiciária que apura o maior caso de corrupção da história. Seria fácil se sair de vítima não fosse a polícia que o devassou, dependente do ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, do PT de São Paulo. Isso aniquila a reação. Cardozo não é de outro partido, não é do PSDB.
Os jornais europeus que o cantavam em verso e prosa passaram a pintá-lo de marrão. Uma charge do “Charlie Hebdo” o retrata estuprando a imagem feminina da Justiça. O Brasil subiu rapidamente no cume do ranking da corrupção, e Lula, inevitavelmente, aparece como quem a possibilitou.
Logo ele, que, com uma criatura seguindo suas orientações e ensinamentos, lhe possibilitaria descanso num sítio rodeado de florestas? Nada de especial ele queria, apenas uma aposentaria tranquila no fim de uma escalada ao vértice do sucesso.
Porém, Lula pecou. Quis realizar o sonho de uma normal aposentadoria usando, no escuro, empreiteiras para tarefas triviais e mais que razoáveis, para quem tem renda de palestras regiamente pagas. Escolheu um caminho torto que entortou sua biografia espetacular.
Máximo é o constrangimento de quem é conduzido por uma polícia judiciária que responde constitucionalmente ao comando de sua “criatura”. Dilma não conspirou como um Brutus, apenas perdeu o controle político, perdeu a autoridade, perdeu o rumo, e se depara, como Dante, “No meio da senda da minha vida / me perdi numa selva obscura”, que dava acesso ao Inferno.
Para Lula, que entregou a Dilma quatro anos de poder sem limite, e ainda dobrou a dose, deve ser difícil perdoá-la e até de perdoar-se pela escolha. Não há conspiração da oposição, que nunca foi tão ausente e retraída. O problema está dentro de casa, na corrupção fora de controle e na incompetência geral. Sérgio Moro apenas cumpre, como raramente acontece no Brasil, seu dever.
Demonstra a voz de Dilma, em ligação ao seu criador, que quer pessoalmente reparar um erro. Poderia ter escalado um assessor para comunicar o envio de um documento. Fez questão, imprudentemente, de ligar para um telefone sob escuta autorizada: “Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”, nisso Lula responde: “Uhum. Tá bom, tá bom”. E ela: “Só isso, você espera aí, que ele tá indo aí... “Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando”.
Nisso, mais que interpretação, há apenas uma constatação a se fazer.
O tom de voz é de quem quer reparar a quebra de uma louça que lhe caiu das mãos. Doutro lado a resposta é seca, de quem teria preferido manter a louça intacta e aceitar uma forma de evitar uma maior fragmentação de sua biografia.
O ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, que passará à história como o guardião da independência da Polícia Federal (se é que não lhe escapou de controle), deixou que o deus “Brahma” (como o chamavam os empreiteiros ao se referirem a Lula) passasse por uma busca em seu apartamento e por uma condução coercitiva na delegacia, quando poderia ser realizada por hora marcada.
Dilma derrete. Poucas figuras humanas foram mais achincalhadas nas ruas do que ela. Muitos que nunca pensaram no impeachment, e o imaginavam um instrumento descabido, passaram a vê-lo como “legítima defesa” para um Brasil que ameaça explodir.
Isso se deu agora. Não só pelas revelações dos grampos, mas pelo PIB, que caiu 4,4%, produzindo uma média de 220 mil desempregados por mês. Um volume que já seria doloroso de se absorver em um ano.
A queda de arrecadação federal é de 11,5%. Arrebenta os Orçamentos de Estados e municípios. Setores produtivos como a siderurgia, o automotivo e o de bens de consumo duráveis estão se desfazendo. A Bolsa paradoxalmente se valoriza proporcionalmente ao crescimento das possibilidades de impeachment.
Dilma, assim, é vista nitidamente como o cerne do problema, e seu mandato, previsto para durar até 31 de dezembro de 2018, passou a pairar como pesadelo. Mais que uma razão ideológica e política, ou uma conspiração de uma oposição, que é ausente como nunca, são os erros do governo dela, da falta de um dever de casa não feito, que alimentam a crise.
Lula, entre muros partidários, se queixa da paralisia e das trapalhadas da presidente Dilma, atordoada, revelando limitações pessoais que não estavam entre as mais sombrias previsões. Sem rumo, sem metas que não sejam a de propor mais impostos sobre um contribuinte revoltado.
A “criatura” que Lula colocou no Planalto escapou do controle. Falta-lhe traquejo político, isolou-se, intoxicou-se pela bajulação dos incompetentes e medíocres dos quais se cercou. Dilma, depois de reeleita, em 2014, largou as rédeas.
O Lula que “acertava quase tudo”, o ícone, passou a ser uma figura investigada pela polícia judiciária que apura o maior caso de corrupção da história. Seria fácil se sair de vítima não fosse a polícia que o devassou, dependente do ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, do PT de São Paulo. Isso aniquila a reação. Cardozo não é de outro partido, não é do PSDB.
Logo ele, que, com uma criatura seguindo suas orientações e ensinamentos, lhe possibilitaria descanso num sítio rodeado de florestas? Nada de especial ele queria, apenas uma aposentaria tranquila no fim de uma escalada ao vértice do sucesso.
Porém, Lula pecou. Quis realizar o sonho de uma normal aposentadoria usando, no escuro, empreiteiras para tarefas triviais e mais que razoáveis, para quem tem renda de palestras regiamente pagas. Escolheu um caminho torto que entortou sua biografia espetacular.
Máximo é o constrangimento de quem é conduzido por uma polícia judiciária que responde constitucionalmente ao comando de sua “criatura”. Dilma não conspirou como um Brutus, apenas perdeu o controle político, perdeu a autoridade, perdeu o rumo, e se depara, como Dante, “No meio da senda da minha vida / me perdi numa selva obscura”, que dava acesso ao Inferno.
Para Lula, que entregou a Dilma quatro anos de poder sem limite, e ainda dobrou a dose, deve ser difícil perdoá-la e até de perdoar-se pela escolha. Não há conspiração da oposição, que nunca foi tão ausente e retraída. O problema está dentro de casa, na corrupção fora de controle e na incompetência geral. Sérgio Moro apenas cumpre, como raramente acontece no Brasil, seu dever.
Demonstra a voz de Dilma, em ligação ao seu criador, que quer pessoalmente reparar um erro. Poderia ter escalado um assessor para comunicar o envio de um documento. Fez questão, imprudentemente, de ligar para um telefone sob escuta autorizada: “Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”, nisso Lula responde: “Uhum. Tá bom, tá bom”. E ela: “Só isso, você espera aí, que ele tá indo aí... “Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando”.
Nisso, mais que interpretação, há apenas uma constatação a se fazer.
O tom de voz é de quem quer reparar a quebra de uma louça que lhe caiu das mãos. Doutro lado a resposta é seca, de quem teria preferido manter a louça intacta e aceitar uma forma de evitar uma maior fragmentação de sua biografia.
O ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, que passará à história como o guardião da independência da Polícia Federal (se é que não lhe escapou de controle), deixou que o deus “Brahma” (como o chamavam os empreiteiros ao se referirem a Lula) passasse por uma busca em seu apartamento e por uma condução coercitiva na delegacia, quando poderia ser realizada por hora marcada.
Dilma derrete. Poucas figuras humanas foram mais achincalhadas nas ruas do que ela. Muitos que nunca pensaram no impeachment, e o imaginavam um instrumento descabido, passaram a vê-lo como “legítima defesa” para um Brasil que ameaça explodir.
Isso se deu agora. Não só pelas revelações dos grampos, mas pelo PIB, que caiu 4,4%, produzindo uma média de 220 mil desempregados por mês. Um volume que já seria doloroso de se absorver em um ano.
A queda de arrecadação federal é de 11,5%. Arrebenta os Orçamentos de Estados e municípios. Setores produtivos como a siderurgia, o automotivo e o de bens de consumo duráveis estão se desfazendo. A Bolsa paradoxalmente se valoriza proporcionalmente ao crescimento das possibilidades de impeachment.
Dilma, assim, é vista nitidamente como o cerne do problema, e seu mandato, previsto para durar até 31 de dezembro de 2018, passou a pairar como pesadelo. Mais que uma razão ideológica e política, ou uma conspiração de uma oposição, que é ausente como nunca, são os erros do governo dela, da falta de um dever de casa não feito, que alimentam a crise.
A hora do arrependimento para Lula
Supondo-se que até o final da semana venha a ser resolvida essa ridícula questão da posse do ex-presidente Lula na chefia da Casa Civil da presidente Dilma, passa-se ao principal: para que o antecessor foi convocado? Para inaugurar um novo governo, entrando no palácio do Planalto com plano de ação e até uma listinha de novos ministros? Não como capitão de time, mas marechal do exército atualmente em retirada? Ou subordinado fiel e obediente cumpridor das ordens da comandante? Quanto baterem de frente, pois nessas situações são mais do que naturais as divergências, para que lado marchará a tropa?
Há quem conclua por antecipação que Madame incorreu em grave erro ao convocar o antecessor para o seu time. Serão dois anos e oito meses de tensões permanentes, situação demonstrativa da conclusão de que o PT ia perdendo a guerra. As manifestações de domingo passado não deixam dúvidas sobre terem sido bem superiores às da recente sexta-feira.
Acontecerá o que, caso batam de frente Dilma e Lula? Não se duvida da hipótese de que alguns ministros venham a insurgir-se contra orientações do novo chefe da Casa Civil? A quem Madame dará preferência?
Lula enfrentará outro tipo de problemas. A família abrirá mão de confortável residência em São Paulo, mesmo sem características de triplex, ou de um sítio próximo e ameno, para vir morar no cerrado? Mesmo com mansões a seu dispor, hesitará em trazer para Brasília toda a tralha levada para a Paulicéia. Ficar na ponte aérea equivalerá a um retrocesso, mas morar separado da mulher e dos filhos, pior ainda.
Como será cuidado o Instituto Lula? Paulo Okamotto ficará lá ou aqui? Admite-se um chefe da Casa Civil afastado da sede do governo? E durante as sucessivas viagens pelo país, quem ocupará as instalações presidenciais? Claro que Dilma, mas o constrangimento estará presente todos os dias.
Sempre que o Lula receber convites para palestras no exterior, em que condição será recebido pelas autoridades lá de fora? Ex-presidente da República ou chefe da Casa Civil? Em que conta bancária será depositado seu cachê?
Para cada lado que o ex-presidente se volte encontrará problemas. Será que nos momentos de reflexão não lhe passará pela cabeça concluir haver praticado uma imensa besteira?
Cinco perguntas e respostas sobre a crise
Por que Lula virou ministro de Dilma?
Para escapar de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, a quem caberia conceder ou não o pedido de prisão de Lula feito pelo Ministério Público de São Paulo. Ali, Lula é investigado por ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Dilma e o PT construíram a narrativa de que Lula voltou ao governo para ajudá-lo a salvar o país da crise, e a derrotar o impeachment. A narrativa é falsa. A volta de Lula acabou servindo para pôr a Lava-Jato dentro do Palácio do Planalto, e acirrar os ânimos no país. Para o governo, está sendo péssimo.
Dilma tem chances de derrotar o impeachment?
Tem, embora elas diminuam a cada dia. Para aprovar o impeachment na Câmara dos Deputados serão necessários 342 votos de um total de 503. Haverá votos de sobra para aprovar ou rejeitar o impeachment. Jamais será uma votação apertada. Ela refletirá, no dia em que acontecer, o humor dos brasileiros e a situação do país e do governo. A Câmara corre para votar o impeachment dentro de 45 a 60 dias. Se aprovado na Câmara, dificilmente será rejeitado pelo Senado.
Michel Temer substituirá Dilma em caso de impeachment?
É o que está previsto na Constituição. É o que deverá ocorrer. Mas não é obrigatoriamente o que ocorrerá. Temer foi citado na delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que lhe atribuiu a responsabilidade pela indicação de um diretor da Petrobras, preso e acusado de corrupção. Temer respondeu que não indicou ninguém para a Petrobras. Se a denúncia feita por Delcídio ficar por isso mesmo, tudo bem para Temer. Se não ficar, o processo de impeachment de Dilma se estenderá por muitos meses à procura de uma solução.
Se Dilma cair, qual será o futuro dela, de Lula e do PT?
Não haverá futuro político para Dilma. Do anonimato ela saiu, ao anonimato voltará. Lula sempre terá algum futuro político, a não ser que acabe preso e condenado, uma vez provadas as denúncias que o atingem. Mesmo que não seja, porém, será remota a candidatura dele a presidente em 2018. A imagem de Lula sofreu um duro golpe com as investigações da Lava-Jato, e com o a revelação do conteúdo de conversas dele ao telefone. Imagine o uso que se fará desses grampos nas eleições deste ano e nas próximas. Quanto ao PT: ou aproveita a crise moral que o abateu para se reinventar ou afundará, simplesmente.
E o futuro da política brasileira?
Pouco mudou na Itália com a Operação Mãos-Limpas. É cedo para saber se a política entre nós mudará pouco ou muito com a Lava-Jato. O provável é que mude um pouco. Por exemplo: aumentará o cuidado dos políticos com o telefone. E eles terão ainda mais cuidado ao roubar. Os brasileiros elegerão o próximo presidente sob o signo do nojo à política e aos políticos. Isso não será bom. E poderá dar ensejo à eleição de um aventureiro que se apresente como a-político, disposto a “mudar tudo o que está aí”. Em 1989, Fernando Collor se elegeu assim.
Para escapar de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, a quem caberia conceder ou não o pedido de prisão de Lula feito pelo Ministério Público de São Paulo. Ali, Lula é investigado por ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Dilma e o PT construíram a narrativa de que Lula voltou ao governo para ajudá-lo a salvar o país da crise, e a derrotar o impeachment. A narrativa é falsa. A volta de Lula acabou servindo para pôr a Lava-Jato dentro do Palácio do Planalto, e acirrar os ânimos no país. Para o governo, está sendo péssimo.
Dilma tem chances de derrotar o impeachment?
Tem, embora elas diminuam a cada dia. Para aprovar o impeachment na Câmara dos Deputados serão necessários 342 votos de um total de 503. Haverá votos de sobra para aprovar ou rejeitar o impeachment. Jamais será uma votação apertada. Ela refletirá, no dia em que acontecer, o humor dos brasileiros e a situação do país e do governo. A Câmara corre para votar o impeachment dentro de 45 a 60 dias. Se aprovado na Câmara, dificilmente será rejeitado pelo Senado.
Michel Temer substituirá Dilma em caso de impeachment?
É o que está previsto na Constituição. É o que deverá ocorrer. Mas não é obrigatoriamente o que ocorrerá. Temer foi citado na delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que lhe atribuiu a responsabilidade pela indicação de um diretor da Petrobras, preso e acusado de corrupção. Temer respondeu que não indicou ninguém para a Petrobras. Se a denúncia feita por Delcídio ficar por isso mesmo, tudo bem para Temer. Se não ficar, o processo de impeachment de Dilma se estenderá por muitos meses à procura de uma solução.
Se Dilma cair, qual será o futuro dela, de Lula e do PT?
Não haverá futuro político para Dilma. Do anonimato ela saiu, ao anonimato voltará. Lula sempre terá algum futuro político, a não ser que acabe preso e condenado, uma vez provadas as denúncias que o atingem. Mesmo que não seja, porém, será remota a candidatura dele a presidente em 2018. A imagem de Lula sofreu um duro golpe com as investigações da Lava-Jato, e com o a revelação do conteúdo de conversas dele ao telefone. Imagine o uso que se fará desses grampos nas eleições deste ano e nas próximas. Quanto ao PT: ou aproveita a crise moral que o abateu para se reinventar ou afundará, simplesmente.
E o futuro da política brasileira?
Pouco mudou na Itália com a Operação Mãos-Limpas. É cedo para saber se a política entre nós mudará pouco ou muito com a Lava-Jato. O provável é que mude um pouco. Por exemplo: aumentará o cuidado dos políticos com o telefone. E eles terão ainda mais cuidado ao roubar. Os brasileiros elegerão o próximo presidente sob o signo do nojo à política e aos políticos. Isso não será bom. E poderá dar ensejo à eleição de um aventureiro que se apresente como a-político, disposto a “mudar tudo o que está aí”. Em 1989, Fernando Collor se elegeu assim.
Você viu o golpe pelaí?
Em todos os antros petitas, se patrocina o grito: "Não vai ter golpe!"
Até agora não explicaram de onde estaria vindo o golpe, quando o povo não mais amestrado sai às ruas sem políticos na algibeira para protestar.
Com a mente troglodita de quem pensa o mundo de 1960, repetem em alguns casos até o retardo mental de Nicolás Maduro e seu guru passarinho Hugo Chávez: a Cia estaria atrás das manifestações populares do último domingo. Para conter essa tal revolução da direita, vestiram camisas vermelhas, muito mais do que surradas, num povo carente para ir às ruas defender o quê?
Defendem o que sempre defenderam insuflados pela patifaria de coronéis de brejo. O PT repete à exaustão as palavras mágicas com que conquistou o poder e de onde não quer sair para não perder a única fonte de renda dos desocupados e rastaqueras.
Os profetas do apocalipse anunciam a volta dos militares e da direita imperialista (em algum lugar no passado já se ouviu o mesmo grito). Será que intelectuais são retardados a tal ponto que repetem a vinda do caos para defender quem não se explica nem à Justiça nem à população?
Visitar os lulopetistas é confirmar que não há golpe. Esse, se vier, será perpetrado pelos próprios profetas, de dentes arreganhados e babando ódio contra as zelites, quando são hoje a elite dos emergentes. Comandarão a massa de um exército Brancaleone dos mais carentes e mais ignorantes politicamente para que sirva a seus interesses escusos. O PT e a cambada mentem desavergonhadamente, fecham os olhos para a contradição dos seus líderes de quartelada.
Não há golpe à vista nem a prazo. A palavra tão surrada é apenas o escudo para livrar uns das grades, outros de ter procurar emprego e outros do ostracismo; e afundar um país em nome de uma ideologia criminosa. Dizer que investigações e prisões de corruptos são golpe é dar rasteira na Justiça, como aconteceu com a posse de Lula, o poderoso chefão. O que mais atemoriza a eles são as instituições, que sem serem lá aquela Brastemp, mas funcionam em sua precariedade de país espoliado por corruptos.
Quando pela primeira vez as ruas são tomadas para se defender um juiz de primeira instância (!!!) e milhões gritam seu nome não em vão, os militantes se avermelham como o diabo porque não mais o deus Lula é louvado. Heresia "da direita" que escorre da baba dessa canalha, que saiu da lama financeira e da bosta moral para arrotar grandeza de espírito e amor ao pobre.
Não há como instalar a ditadura da corrupção num país no qual o judiciário não foi blindado. E isso incomoda a quem se acostumou a assaltar o Erário impunemente diante de poderes submissos e complacentes com a mesada e a gorjeta.
Até agora não explicaram de onde estaria vindo o golpe, quando o povo não mais amestrado sai às ruas sem políticos na algibeira para protestar.
Com a mente troglodita de quem pensa o mundo de 1960, repetem em alguns casos até o retardo mental de Nicolás Maduro e seu guru passarinho Hugo Chávez: a Cia estaria atrás das manifestações populares do último domingo. Para conter essa tal revolução da direita, vestiram camisas vermelhas, muito mais do que surradas, num povo carente para ir às ruas defender o quê?
Defendem o que sempre defenderam insuflados pela patifaria de coronéis de brejo. O PT repete à exaustão as palavras mágicas com que conquistou o poder e de onde não quer sair para não perder a única fonte de renda dos desocupados e rastaqueras.
Os profetas do apocalipse anunciam a volta dos militares e da direita imperialista (em algum lugar no passado já se ouviu o mesmo grito). Será que intelectuais são retardados a tal ponto que repetem a vinda do caos para defender quem não se explica nem à Justiça nem à população?
Não há golpe à vista nem a prazo. A palavra tão surrada é apenas o escudo para livrar uns das grades, outros de ter procurar emprego e outros do ostracismo; e afundar um país em nome de uma ideologia criminosa. Dizer que investigações e prisões de corruptos são golpe é dar rasteira na Justiça, como aconteceu com a posse de Lula, o poderoso chefão. O que mais atemoriza a eles são as instituições, que sem serem lá aquela Brastemp, mas funcionam em sua precariedade de país espoliado por corruptos.
Quando pela primeira vez as ruas são tomadas para se defender um juiz de primeira instância (!!!) e milhões gritam seu nome não em vão, os militantes se avermelham como o diabo porque não mais o deus Lula é louvado. Heresia "da direita" que escorre da baba dessa canalha, que saiu da lama financeira e da bosta moral para arrotar grandeza de espírito e amor ao pobre.
Não há como instalar a ditadura da corrupção num país no qual o judiciário não foi blindado. E isso incomoda a quem se acostumou a assaltar o Erário impunemente diante de poderes submissos e complacentes com a mesada e a gorjeta.
Lei de Lula
Não se pode permitir que as pessoas que praticaram corrupção sejam julgadas depois que terminarem o seu mandato, como acontece habitualmente no nosso paísLula - 2003
Lula x Moro: quem é hoje o mais popular?
O Brasil vive uma novela de paixões e ódios, com um fim totalmente indefinido. Mas, se há um inimigo indiscutível, um vilão que une o país e justifica a revolta nas ruas, é a corrupção. A corrupção é mais danosa quando vem dos “representantes do povo” com foro privilegiado para crimes comuns (uma chaga que precisa acabar!). A corrupção dos poderosos ofende e insulta quem sua para ganhar a vida e pagar contas e impostos – sem retorno para a comunidade. Mesmo quem ainda defende Dilma e Lula é incapaz de apoiar a corrupção.
Quem rouba para encher seu bolso e o bolso de filhos e parentes, ou então para ganhar eleições, deveria ter uma punição exemplar. Quem desvia centenas de milhões de dólares de dinheiro público e de nossas estatais, num país em que tudo falta – educação, saúde, segurança, saneamento, habitação, transporte, infraestrutura, dignidade –, está assaltando a infância, a juventude, a velhice, os ideais e o futuro do Brasil. Para criminosos dessa estirpe, o que a Justiça dos homens deveria reservar seria a cassação de direitos políticos e cadeia. Simples assim. Deveria ser simples assim.
Se nunca foi assim, nada impede que passe a ser. Houve dois momentos em que se acreditou que a Ética passaria a dominar o jogo político. Um foi na primeira posse de Lula como presidente da República, quando o PT prometia moralizar a política. O outro momento de esperança ocorreu quando o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, negro, ex-faxineiro, culto, primogênito de oito filhos de um pedreiro e uma dona de casa, se tornou símbolo do combate à corrupção e à impunidade, com a guerra ao mensalão e ao caixa dois para financiar políticos.
Sem entrar no mérito da divulgação recente dos grampos de Lula, porque há argumentos válidos contra e a favor, o conteúdo das escutas telefônicas do ex-presidente desmascara o Lulinha paz e amor. A figura que emerge é preconceituosa, autoritária, ignorante e incendiária. Lula conversa com o irmão: “Domingo (13 de março, dia da manifestação pelo impeachment de Dilma) eu vou ficar um pouco escondido, porque vai ter um monte de peão na porta de casa pra bater nos coxinhas. Se os coxinhas aparecerem, vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer”. Seus militantes não são peões, Lula. E tudo o que o senhor não deveria desejar seria confronto nas ruas.
“Onde estão as mulher de grelo duro (do PT)?” “A Clara Ant (diretora do Instituto Lula) tava dormindo sozinha quando entraram cinco homens lá dentro, ela pensou que era presente de Deus, era a Polícia Federal, sabe?” “Temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado.” “Um presidente da Câmara f..., um presidente do Senado f...” “Bicho, eles (Moro e os procuradores da Lava Jato) têm que ter medo. Eles têm que ter preocupação.”
Essas palavras saídas da boca do Lula real são mais prejudiciais ao governo Dilma do que o diálogo sobre o termo de posse de Lula como ministro da Casa Civil. Essas escutas destroem a maior qualidade de Lula, exaltada por Dilma em seu discurso e reconhecida por todos – a de “hábil articulador”. Lula agora vai articular com quem? Com o povo? Está difícil.
Lula e Moro são dois símbolos. Lula simboliza a ascensão dos pobres, a retirada de milhões da miséria. Um símbolo arranhado porque, com a incompetência de Dilma, voltou à miséria boa parte dos que já se achavam classe média. Moro simboliza o combate à corrupção. Está deslumbrado, o que o fragiliza. Não é apenas porque Moro existe que se combate a roubalheira. Temos Polícia Federal livre, Ministério Público livre, milhares de investigadores e procuradores e juízes de várias instâncias livres para investigar. Todos esses caras erram e acertam e, no conjunto, fazem um grande trabalho. Temos um Supremo Tribunal Federal que não se curva aos interesses de uns e de outros. Temos uma imprensa livre. Somos uma democracia.
Nem em seus maiores pesadelos, Lula imaginou que disputaria com um juiz o amor ou a admiração popular. Com uma Oposição fraca, também venal e investigada por corrupção, seduzida igualmente pelo dinheiro das empreiteiras, Lula se achava acima do bem e do mal. Faturando em cima do fantasma dos fascistas, dos militares e dos evangélicos aloprados, Lula achou que, com seu carisma e passado, jogava um jogo ganho.
Até que o país afundou. O PT se desmoralizou. E Moro apareceu. Se, para o PT, a voz do povo é a voz de Deus, seria interessante saber quem é hoje mais popular, quem simboliza as maiores aspirações do país. Lula ou Moro?
Quem rouba para encher seu bolso e o bolso de filhos e parentes, ou então para ganhar eleições, deveria ter uma punição exemplar. Quem desvia centenas de milhões de dólares de dinheiro público e de nossas estatais, num país em que tudo falta – educação, saúde, segurança, saneamento, habitação, transporte, infraestrutura, dignidade –, está assaltando a infância, a juventude, a velhice, os ideais e o futuro do Brasil. Para criminosos dessa estirpe, o que a Justiça dos homens deveria reservar seria a cassação de direitos políticos e cadeia. Simples assim. Deveria ser simples assim.
Sem entrar no mérito da divulgação recente dos grampos de Lula, porque há argumentos válidos contra e a favor, o conteúdo das escutas telefônicas do ex-presidente desmascara o Lulinha paz e amor. A figura que emerge é preconceituosa, autoritária, ignorante e incendiária. Lula conversa com o irmão: “Domingo (13 de março, dia da manifestação pelo impeachment de Dilma) eu vou ficar um pouco escondido, porque vai ter um monte de peão na porta de casa pra bater nos coxinhas. Se os coxinhas aparecerem, vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer”. Seus militantes não são peões, Lula. E tudo o que o senhor não deveria desejar seria confronto nas ruas.
“Onde estão as mulher de grelo duro (do PT)?” “A Clara Ant (diretora do Instituto Lula) tava dormindo sozinha quando entraram cinco homens lá dentro, ela pensou que era presente de Deus, era a Polícia Federal, sabe?” “Temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado.” “Um presidente da Câmara f..., um presidente do Senado f...” “Bicho, eles (Moro e os procuradores da Lava Jato) têm que ter medo. Eles têm que ter preocupação.”
Essas palavras saídas da boca do Lula real são mais prejudiciais ao governo Dilma do que o diálogo sobre o termo de posse de Lula como ministro da Casa Civil. Essas escutas destroem a maior qualidade de Lula, exaltada por Dilma em seu discurso e reconhecida por todos – a de “hábil articulador”. Lula agora vai articular com quem? Com o povo? Está difícil.
Lula e Moro são dois símbolos. Lula simboliza a ascensão dos pobres, a retirada de milhões da miséria. Um símbolo arranhado porque, com a incompetência de Dilma, voltou à miséria boa parte dos que já se achavam classe média. Moro simboliza o combate à corrupção. Está deslumbrado, o que o fragiliza. Não é apenas porque Moro existe que se combate a roubalheira. Temos Polícia Federal livre, Ministério Público livre, milhares de investigadores e procuradores e juízes de várias instâncias livres para investigar. Todos esses caras erram e acertam e, no conjunto, fazem um grande trabalho. Temos um Supremo Tribunal Federal que não se curva aos interesses de uns e de outros. Temos uma imprensa livre. Somos uma democracia.
Nem em seus maiores pesadelos, Lula imaginou que disputaria com um juiz o amor ou a admiração popular. Com uma Oposição fraca, também venal e investigada por corrupção, seduzida igualmente pelo dinheiro das empreiteiras, Lula se achava acima do bem e do mal. Faturando em cima do fantasma dos fascistas, dos militares e dos evangélicos aloprados, Lula achou que, com seu carisma e passado, jogava um jogo ganho.
Até que o país afundou. O PT se desmoralizou. E Moro apareceu. Se, para o PT, a voz do povo é a voz de Deus, seria interessante saber quem é hoje mais popular, quem simboliza as maiores aspirações do país. Lula ou Moro?
Ver sem ser visto
O mais grave proibido inscrito nas nossas consciências não nos impede de romper tabus. O que está na nossa ordem dia fala do roubar em nome do povo como uma crença religiosa
É uma das delícias da vida, embora seja repleta de significado e perigo. Mas quem, vivo e ocupante físico de um espaço, não gostaria de virar invisível e, como um espectador de cinema, ver o mundo sem que o mundo saiba que está sendo visto e, eis o barato, sem descobrir quem os observa?
Quem vê sem ser visto trama sem ser descoberto, rouba pensando que o seu rabo não ficou de fora, pensa que pode ser Deus. Não é apenas uma questão de poder se isso ou aquilo de mandar enfiar “naquele lugar” o processo. Não! É imaginar-se como o nosso Deus. Eu sei tudo, eu posso tudo e eu estou em todo lugar.
Se, na evolução humana, passamos, como se dizia em tempos antigos, do ouvido e da fala para o olhar, que se tornou o mais importante dos chamados cinco sentidos. O voyeurismo com o seu charme de mistério e perversão em francês sempre foi e hoje é, mais do que nunca, o nosso modo principal de falar do mundo.
A frase “você viu o que eu vi!” tem substituído de modo avassalador a antiga questão com a qual eu, velho professor, repetidamente questionava meus alunos: “Vocês estão me ouvindo?”. Porque naquele tempo, o “ouvir” significava mais do que escutar. Ele dizia respeito ao “compreender”, ao assimilar, ao memorizar e ou obedecer e seguir. E assim produzia o confronto permanente entre isso e aquilo. Entre a norma ouvida que estabelecia o não e a curiosidade ou a má-fé de fazer o contrário.
Noto, de passagem, pois a crônica é uma porta giratória, que não há na nossa cabeça coisas definitivamente “proibidas”. Pois tudo pode ser imaginado, até mesmo o não imaginado. O mais grave proibido inscrito nas nossas consciências não nos impede de romper tabus. O que está na nossa ordem dia fala do roubar em nome do povo como uma crença religiosa.
Para nós, humanos — seres sem o comando imperativo e inescapável dos chamados instintos (um camelo nasce e morre camelo), as normas de conduta explícitas, como os mandamentos e as leis —, incluindo aí as regras da boa educação e das belas maneiras à mesa — tudo pode ser ultrapassado, esquecido ou violado em nome de alguma outra causa ou investimentos.
Não é, pois, por acaso, por burrice ou ignorância que os apaixonados atuem com mais convicção do que os possuídos por orixás. Os que se convenceram que pegaram alguma coisa pela raiz — os “radicais” — têm uma aura especial que consiste precisamente na mais absoluta ausência de dúvida. Ora, se o humano, o demasiadamente humano, consiste em subtrair a certeza, quem vive com certeza impressiona tanto ou mais do que Hitler. O tal “encanto radical” consiste exatamente nesse narcisismo capaz de tudo compartimentalizar e de tudo juntar a favor de uma causa que seria a “raiz” ou o centro de todo bem. E quem sabe do bem, sabe ainda muito mais do mal.
Nada, pois, mais satisfatório o não ser visto, não ter feito, não ter dito tendo evidentemente visto, feito e dito. O ato de se esconder corresponde a uma terceira posição. Freud chama-a de negação. Nos filmes de Chaplin e nas noveletas que são hoje o tesouro literário do Brasil, elas consistem no personagem que vê, ouve ou faz de um lugar fora do ação, mas dentro da cena. Aquele que vê sem ser visto é personagem que, oculto pela semiaberta, descobre que é pai do seu próprio irmão, pois — como Édipo ou o Papa Gregório da Pedra —, para ficarmos com dois casos impressionantes e comoventes, é esse “escondido” que representa o segredo. E o segredo é o tabu que não pode ser punido pela lei dos juristas, pois ele não consegue distinguir o certo e o errado ou legal e o ilegal. Ultrapassando essas fronteiras do mero legislar humano, o tabu aponta o erro que os gregos explicavam como “destino” ou tragédia. Como o que deveria a todo custo ser evitado, mas que foi plena e absolutamente realizado com o concurso da inocência dos seus perpretadores. O que, sou obrigado a terminar, nos faz duvidar da inocência como um estado primordial on final da existência humana. Como ser humano sem simultaneamente se conhecer como inocente e pervertido mas se reconhecer separando pela honra e pela vergonha um lado do outro?
Nessa linha tivemos “herança maldita” e “imprensa golpista”. Agora, neste domingo nublado pela natureza mas ensolarado pela esperança de um Brasil honrado, será que quem não quer ver, vai enxergar um “povo golpista”?
Roberto DaMatta
É uma das delícias da vida, embora seja repleta de significado e perigo. Mas quem, vivo e ocupante físico de um espaço, não gostaria de virar invisível e, como um espectador de cinema, ver o mundo sem que o mundo saiba que está sendo visto e, eis o barato, sem descobrir quem os observa?
Quem vê sem ser visto trama sem ser descoberto, rouba pensando que o seu rabo não ficou de fora, pensa que pode ser Deus. Não é apenas uma questão de poder se isso ou aquilo de mandar enfiar “naquele lugar” o processo. Não! É imaginar-se como o nosso Deus. Eu sei tudo, eu posso tudo e eu estou em todo lugar.
Se, na evolução humana, passamos, como se dizia em tempos antigos, do ouvido e da fala para o olhar, que se tornou o mais importante dos chamados cinco sentidos. O voyeurismo com o seu charme de mistério e perversão em francês sempre foi e hoje é, mais do que nunca, o nosso modo principal de falar do mundo.
Noto, de passagem, pois a crônica é uma porta giratória, que não há na nossa cabeça coisas definitivamente “proibidas”. Pois tudo pode ser imaginado, até mesmo o não imaginado. O mais grave proibido inscrito nas nossas consciências não nos impede de romper tabus. O que está na nossa ordem dia fala do roubar em nome do povo como uma crença religiosa.
Para nós, humanos — seres sem o comando imperativo e inescapável dos chamados instintos (um camelo nasce e morre camelo), as normas de conduta explícitas, como os mandamentos e as leis —, incluindo aí as regras da boa educação e das belas maneiras à mesa — tudo pode ser ultrapassado, esquecido ou violado em nome de alguma outra causa ou investimentos.
Não é, pois, por acaso, por burrice ou ignorância que os apaixonados atuem com mais convicção do que os possuídos por orixás. Os que se convenceram que pegaram alguma coisa pela raiz — os “radicais” — têm uma aura especial que consiste precisamente na mais absoluta ausência de dúvida. Ora, se o humano, o demasiadamente humano, consiste em subtrair a certeza, quem vive com certeza impressiona tanto ou mais do que Hitler. O tal “encanto radical” consiste exatamente nesse narcisismo capaz de tudo compartimentalizar e de tudo juntar a favor de uma causa que seria a “raiz” ou o centro de todo bem. E quem sabe do bem, sabe ainda muito mais do mal.
Nada, pois, mais satisfatório o não ser visto, não ter feito, não ter dito tendo evidentemente visto, feito e dito. O ato de se esconder corresponde a uma terceira posição. Freud chama-a de negação. Nos filmes de Chaplin e nas noveletas que são hoje o tesouro literário do Brasil, elas consistem no personagem que vê, ouve ou faz de um lugar fora do ação, mas dentro da cena. Aquele que vê sem ser visto é personagem que, oculto pela semiaberta, descobre que é pai do seu próprio irmão, pois — como Édipo ou o Papa Gregório da Pedra —, para ficarmos com dois casos impressionantes e comoventes, é esse “escondido” que representa o segredo. E o segredo é o tabu que não pode ser punido pela lei dos juristas, pois ele não consegue distinguir o certo e o errado ou legal e o ilegal. Ultrapassando essas fronteiras do mero legislar humano, o tabu aponta o erro que os gregos explicavam como “destino” ou tragédia. Como o que deveria a todo custo ser evitado, mas que foi plena e absolutamente realizado com o concurso da inocência dos seus perpretadores. O que, sou obrigado a terminar, nos faz duvidar da inocência como um estado primordial on final da existência humana. Como ser humano sem simultaneamente se conhecer como inocente e pervertido mas se reconhecer separando pela honra e pela vergonha um lado do outro?
Nessa linha tivemos “herança maldita” e “imprensa golpista”. Agora, neste domingo nublado pela natureza mas ensolarado pela esperança de um Brasil honrado, será que quem não quer ver, vai enxergar um “povo golpista”?
Roberto DaMatta
Mentira tem rabo
O estilo é o homem
Getúlio e Dutra eram austeros; Juscelino, exuberante; e Jango, tímido. Mas não se conhece uma frase deles que não pudesse ser lida por senhoras no café da manhã. E Janio, sempre três uísques à frente da humanidade, nunca errou uma mesóclise.
Castello Branco achava-se um intelectual, fazia citações em francês. Costa e Silva era grosso, mas sóbrio. Médici tinha a profundidade de um manequim de vitrine. Geisel amarrava a cara para não ter de falar. Figueiredo, sim, deixou frases para a história (“Prefiro o cheiro de cavalo ao cheiro de povo”), mas que só chocavam pelo conteúdo. E Sarney, Collor e FHC eram bons de verbo e divergiam apenas na maneira de mentir –com sinceridade ou cinismo.
Lula, por sua vez, transferiu a Presidência para o mictório do botequim. Em 2004, ao ouvir de um assessor que a Constituição o proibia de expulsar um jornalista estrangeiro, ejaculou, “Foda-se a Constituição!”. O único a registrar a frase foi o repórter Ricardo Noblat, em seu blog. Não era algo a sair em letra de forma. Mas, hoje, como um ex-presidente em tempos mais liberais, Lula pode exercer seu estilo.
Está “de saco cheio” quanto a perguntas sobre “a porra” do seu tríplex que não é dele. A história do pedalinho é uma “sacanagem homérica”. “Ninguém nasce com ‘Eu sou um filho-da-puta’ carimbado na testa”. E eles que “enfiem no cu tudo o processo”. O estilo é o homem. Perdão, leitores.
Ruy Castro
Malulaíma, o herói sem nenhum caráter
No fundo do mato-virgem, nasceu Malulaíma, herói da nossa gente. Sua mãe dizia: “Meu filho, cresce depressa e vai pra São Paulo ganhar muito dinheiro”. Malulaíma vivia deitado, mas, se punha os olhos em dinheiro, dandava pra ganhar vintém. Se o incitavam a falar, exclamava: “Ai! Que preguiça!”. Um pajé avisou que o herói era inteligente. Malulaíma cresceu, ficou amigão de dois feiticeiros, pai Duda e pai João. Queriam transformá-lo em imperador. Malulaíma tinha nascido feio. Pai Duda fez uma mágica. Deu nele um banho de loja, ficou igualzinho a um banqueiro loiro de olhos azuis. Malulaíma deixou a consciência na foz dum rio, bandeou-se para São Paulo. Ao chegar lá, pôs-se a realizar a profecia da mãe. “Eu tenho uma opinião de sapo e, quando encasqueto, aguento firme no toco”, dizia. Pai Duda se afogou num temporal de lama, mas pai João sobreviveu para dourar os sonhos de Malulaíma. O herói campeava léguas a fio, mas não queria saber de trabalhar. Ficava contrariado. Ter de trabucar, ele, herói... E murmurava desolado: “Ai! Que preguiça!”.
Descobriu em São Paulo que tudo era máquina. Resolveu ir brincar com a máquina para se tornar imperador. De onde tirar dinheiro? Ele tinha um amuleto lá do mato, uma pedra em formato de estrela vermelha, enfeitiçada por pai João: a Petequitã. Com ela, hipnotizava incautos e poderosos. Todos abriam os bolsos pro herói, em especial os engravatados que construíam prédios e pontes, os empreiteiros. Malulaíma também recebia ajuda de outros engravatados, os políticos. Ele tinha muita lábia. Chamava os políticos de “monstros na grandiosidade incomparável da audácia, da sapiência, da honestidade e da moral”. Nem percebia quando enganava. “Não foi por querer não. Quando reparei, estava mentindo.” Foi assim, com sua lábia e o feitiço de pai João, que Malulaíma virou enfim imperador.
Ele se dizia perseguido, fazia pose de pobre — e lá vinha mais dinheiro pingando no seu bolso. Seu maior truque era se fazer de vítima do gigante Efeagacê, um comedor de gente que morava num palacete lá na Rua Maranhão. Malulaíma enganou os três filhos do gigante: Aecim, Geraldim e Zezim. Uma feita, foi até flechado por Efeagacê, mas, malandro, levou a melhor. Dizia ter desprezo pela elite, tudo aquilo que as paulistanas aprenderam com as mestras de França. Aí aparecia fantasiado, pegava a máquina telefone, ligava pros cabarés, pedia lagostas e francesas. Depois ligava pros empreiteiros, pedia mais dinheiro. O cacau vinha até do estrangeiro. Apartou 40 vezes 40 milhões de bagos de cacau. Às vezes, despejava uma batelada para seus seguidores, uma esteira de chocolate onde se regalavam, seguindo a Petequitã.
Malulaíma fazia muitos negócios, não se incomodava de vender fiado. Tanto fiou, tanto fiou, tanto brasileiro não pagou que afinal quebrou. Ficou injuriado. Campeou légua e meia e topou com uma macumba cheia de empregados-públicos. Foi lá que provou o caxiri temível, cujo nome é cachaça. Não teve jeito e apareceu a polícia. “Teje preso!”, falou o grilo. “Preso por quê? Não estou fazendo nada.” Até que Malulaíma caiu no chão e invocou a Jararaca Elitê. “Com a jararaca ninguém pode não.” O povo ficou com vontade de pelear e, de todos os lados, gritavam: “Larga!”, “Não leva!”, “Solta!”. Formou-se um furdunço temível. Então Malulaíma se aproveitou da trapalhada, pegou a Petequitã — e pernas pra que vos quero! Foi tentar arrumar uma pensão do governo. Jacaré ficou preso? Nem ele. Acabou-se a história e morreu a vitória. Tem mais não.
Helio Gurovitz
Descobriu em São Paulo que tudo era máquina. Resolveu ir brincar com a máquina para se tornar imperador. De onde tirar dinheiro? Ele tinha um amuleto lá do mato, uma pedra em formato de estrela vermelha, enfeitiçada por pai João: a Petequitã. Com ela, hipnotizava incautos e poderosos. Todos abriam os bolsos pro herói, em especial os engravatados que construíam prédios e pontes, os empreiteiros. Malulaíma também recebia ajuda de outros engravatados, os políticos. Ele tinha muita lábia. Chamava os políticos de “monstros na grandiosidade incomparável da audácia, da sapiência, da honestidade e da moral”. Nem percebia quando enganava. “Não foi por querer não. Quando reparei, estava mentindo.” Foi assim, com sua lábia e o feitiço de pai João, que Malulaíma virou enfim imperador.
Ele se dizia perseguido, fazia pose de pobre — e lá vinha mais dinheiro pingando no seu bolso. Seu maior truque era se fazer de vítima do gigante Efeagacê, um comedor de gente que morava num palacete lá na Rua Maranhão. Malulaíma enganou os três filhos do gigante: Aecim, Geraldim e Zezim. Uma feita, foi até flechado por Efeagacê, mas, malandro, levou a melhor. Dizia ter desprezo pela elite, tudo aquilo que as paulistanas aprenderam com as mestras de França. Aí aparecia fantasiado, pegava a máquina telefone, ligava pros cabarés, pedia lagostas e francesas. Depois ligava pros empreiteiros, pedia mais dinheiro. O cacau vinha até do estrangeiro. Apartou 40 vezes 40 milhões de bagos de cacau. Às vezes, despejava uma batelada para seus seguidores, uma esteira de chocolate onde se regalavam, seguindo a Petequitã.
Malulaíma fazia muitos negócios, não se incomodava de vender fiado. Tanto fiou, tanto fiou, tanto brasileiro não pagou que afinal quebrou. Ficou injuriado. Campeou légua e meia e topou com uma macumba cheia de empregados-públicos. Foi lá que provou o caxiri temível, cujo nome é cachaça. Não teve jeito e apareceu a polícia. “Teje preso!”, falou o grilo. “Preso por quê? Não estou fazendo nada.” Até que Malulaíma caiu no chão e invocou a Jararaca Elitê. “Com a jararaca ninguém pode não.” O povo ficou com vontade de pelear e, de todos os lados, gritavam: “Larga!”, “Não leva!”, “Solta!”. Formou-se um furdunço temível. Então Malulaíma se aproveitou da trapalhada, pegou a Petequitã — e pernas pra que vos quero! Foi tentar arrumar uma pensão do governo. Jacaré ficou preso? Nem ele. Acabou-se a história e morreu a vitória. Tem mais não.
Helio Gurovitz
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