sexta-feira, 9 de setembro de 2016
'Disto tenho certeza: ao iniciar uma briga entre passado e presente, acabaremos por perder o futuro'
A reflexão que cito no título é de Sir Winston Churchill, o grande inglês que dispensa apresentações. Ele também dizia que a verdade é incontroversa: o pânico pode ofendê-la, a ignorância diminuí-la, a maldade distorcê-la, mas ao fim, lá estará ela, vitoriosa.
E a verdade brasileira é uma só: a briga entre nosso passado recente e nosso presente recém-nascido foi inaugurada por militantes de esquerda que, portando bandeiras vermelhas e bradando por guerra contra o atual governo, arriscam fazer com que fiquemos sempre na antessala do futuro, sempre o País do Futuro, e nunca o Brasil que necessitamos.
Ironicamente, nossa maior vitória, a conquista de uma democracia segura, forte, acabou por permitir as manifestações que se repetem há alguns dias em várias cidades brasileiras.
Se não fossemos uma democracia plena, as ruas estariam livres desses movimentos que, malgrado seu direito de dizer a que vieram, extrapolam desse direito e sem civilidade alguma, com ódio, quebram, incendeiam, só perturbam a ordem pública e não conseguem avanço algum para o Brasil.
Há quem diga que a péssima situação econômica em que estamos atiça os protestos. Mas a quem devemos essa situação lastimável senão aos líderes dos manifestantes engalanados de vermelho?
Pois são eles que gritam ‘Fora, Temer’ como se isso fosse solução para nossos problemas.
Quem eles pretendem colocar no lugar de Temer?
Você, leitor, tem algum nome no bolso do colete? Quanto a mim, confesso que se me fosse dada uma varinha de condão para com ela tocar no ombro de alguém que eu desejasse ver instalado no Planalto, eu ficaria numa situação complicada, já que o único nome que vejo em quem confiar para resolver nossos problemas e ajudar o Brasil a retomar o bom caminho é de uma pessoa a quem não desejo tal provação.
Falam em novas eleições. Mas como podem pedir algo que contraria nossa Constituição? Eleições gerais só em 2018.
Não seria mais sensato, então, colaborar para que Temer reerga o Brasil e assim, possa entregar ao futuro governo um país mais organizado e menos carente?
Michel Temer é, formalmente, presidente da República há poucos dias. Queriam que ele tivesse encontrado, nesse pouco tempo, a saída para o complicado labirinto em que o PT colocou o Brasil?
O grande Churchill, que mal salvou a Grã-Bretanha de um destino pavoroso perdeu as eleições e entregou ao Parlamento seu cargo de primeiro-ministro, provou que a gratidão não faz parte do decálogo político. Sofreu. Mas como a verdade é exatamente como ele a descreveu, Churchill acabou por ser novamente eleito e pode voltar ao 10, Downing Street.
Assim é, se lhe parece, leitor. Precisamos impedir que a briga nas ruas entre o passado e o presente impeça o Brasil de crescer.
A verdade ainda vencerá aqui também mas, para isso, é imprescindível valorizar nossa democracia e fortalecer o homem que o destino pôs no Planalto.
Fica, Temer!
E a verdade brasileira é uma só: a briga entre nosso passado recente e nosso presente recém-nascido foi inaugurada por militantes de esquerda que, portando bandeiras vermelhas e bradando por guerra contra o atual governo, arriscam fazer com que fiquemos sempre na antessala do futuro, sempre o País do Futuro, e nunca o Brasil que necessitamos.
Ironicamente, nossa maior vitória, a conquista de uma democracia segura, forte, acabou por permitir as manifestações que se repetem há alguns dias em várias cidades brasileiras.
Se não fossemos uma democracia plena, as ruas estariam livres desses movimentos que, malgrado seu direito de dizer a que vieram, extrapolam desse direito e sem civilidade alguma, com ódio, quebram, incendeiam, só perturbam a ordem pública e não conseguem avanço algum para o Brasil.
Há quem diga que a péssima situação econômica em que estamos atiça os protestos. Mas a quem devemos essa situação lastimável senão aos líderes dos manifestantes engalanados de vermelho?
Pois são eles que gritam ‘Fora, Temer’ como se isso fosse solução para nossos problemas.
Quem eles pretendem colocar no lugar de Temer?
Você, leitor, tem algum nome no bolso do colete? Quanto a mim, confesso que se me fosse dada uma varinha de condão para com ela tocar no ombro de alguém que eu desejasse ver instalado no Planalto, eu ficaria numa situação complicada, já que o único nome que vejo em quem confiar para resolver nossos problemas e ajudar o Brasil a retomar o bom caminho é de uma pessoa a quem não desejo tal provação.
Não seria mais sensato, então, colaborar para que Temer reerga o Brasil e assim, possa entregar ao futuro governo um país mais organizado e menos carente?
Michel Temer é, formalmente, presidente da República há poucos dias. Queriam que ele tivesse encontrado, nesse pouco tempo, a saída para o complicado labirinto em que o PT colocou o Brasil?
O grande Churchill, que mal salvou a Grã-Bretanha de um destino pavoroso perdeu as eleições e entregou ao Parlamento seu cargo de primeiro-ministro, provou que a gratidão não faz parte do decálogo político. Sofreu. Mas como a verdade é exatamente como ele a descreveu, Churchill acabou por ser novamente eleito e pode voltar ao 10, Downing Street.
Assim é, se lhe parece, leitor. Precisamos impedir que a briga nas ruas entre o passado e o presente impeça o Brasil de crescer.
A verdade ainda vencerá aqui também mas, para isso, é imprescindível valorizar nossa democracia e fortalecer o homem que o destino pôs no Planalto.
Fica, Temer!
Política não é profissão
A cláusula de barreira volta a ser discutida. Não por se ter reconhecido que a proliferação de partidos desfigurou o sistema político, em vez de torná-lo mais representativo. O que precisa ser feito, simploriamente, poderá ser concretizado por um motivo pouco nobre: o insaciável apetite dos políticos por dinheiro. Em bom português popular, “farinha pouca, meu pirão primeiro” é a razão pela qual o Congresso vai agir: o Fundo Partidário míngua toda vez que surge um novo partido...
O cardápio da reforma é extenso: cláusula de barreira, fim das coligações proporcionais, inclusão do voto distrital ou misto, fim da reeleição do Executivo. Mas será suficiente para produzir parlamentares éticos, competentes, comprometidos com a causa pública, e não com interesses pessoais ou familiares? Ou, ainda, para evitar a figura do político profissional? Provavelmente, não.
A política fabrica regras direcionadas a garantir mandatos sucessivos. Consequência do pânico de perder uma eleição. Afinal, como pagar as contas depois de tanto tempo longe da profissão? Essas regras produzem, então, jovens eleitos porque integram dinastias políticas, sem nenhuma experiência fora da atividade parlamentar. Ou pessoas de origem humilde que veem na política a possibilidade de ascensão social. Difícil, então, abrir mão dos privilégios que os mandatos concedem, extensivos a parentes e amigos. Isto também acaba induzindo o advogado, o médico, o engenheiro, o comerciante, os autônomos, e todos os outros profissionais, a abandonar bancas, clínicas, lojas e clientes. E, claro, existem os que não podem abrir mão de um mandato simplesmente porque o objetivo único é torná-lo um profícuo e eterno ganha-pão.
Político — é preciso insistir — não é profissão. Quando, recém-eleita vereadora, propus ao prefeito consulta aos moradores antes de indicar o representante numa região, ouvi dele: “A eleição acabou. Agora você pertence ao mundo da política”. Ou seja, tinha de dar um tchau à sociedade civil. Anos depois, um deputado federal se qualificou como parlamentar, como se fosse sua profissão, e teve sua petição devolvida. Entre muitas outras surpresas, ouvi de um colega que, com a segunda reeleição, ele estaria financeiramente independente para atuar com liberdade... Foi assassinado logo depois.
Observem o que acontece agora nas eleições no Rio de Janeiro, retrato do que se passa Brasil afora. Dos dez candidatos a prefeito, oito são parlamentares estaduais ou federais que, não importa o resultado do pleito, não arriscam seus mandatos. Sem entrar no mérito individual, constata-se que campanhas para prefeito, independentemente das chances de vitória, servem, no fundo, para alavancar candidaturas às eleições seguintes.
Como tornar menos atraente a “carreira” política, ou seja, como incentivar os que querem servir ao público por um período, em vez de se servir dele para sempre? Aí vão algumas ideias:
1 — apenas uma reeleição para o mesmo cargo no Legislativo e o fim da reeleição para o Executivo;
2 — perda definitiva do mandato para o parlamentar que optar por atuar no Executivo;
3 — renúncia ao mandato parlamentar para disputar cargo no Executivo;
4 — reforma do regimento interno das casas legislativas, reduzindo o poder ditatorial do presidente sobre os demais parlamentares.
Os políticos rejeitam amarras, mas é preciso enfatizar, sempre, que a busca por uma atividade bem remunerada, pela ascensão social e econômica, pela solução de um interesse pontual e particular não pode ser o indutor da vida política. Infelizmente, é assim que tem sido, com honrosas exceções. Mas o fato é: quem não pode perder uma eleição, não se candidate.
Andrea Gouvêa Vieira
O cardápio da reforma é extenso: cláusula de barreira, fim das coligações proporcionais, inclusão do voto distrital ou misto, fim da reeleição do Executivo. Mas será suficiente para produzir parlamentares éticos, competentes, comprometidos com a causa pública, e não com interesses pessoais ou familiares? Ou, ainda, para evitar a figura do político profissional? Provavelmente, não.
Político — é preciso insistir — não é profissão. Quando, recém-eleita vereadora, propus ao prefeito consulta aos moradores antes de indicar o representante numa região, ouvi dele: “A eleição acabou. Agora você pertence ao mundo da política”. Ou seja, tinha de dar um tchau à sociedade civil. Anos depois, um deputado federal se qualificou como parlamentar, como se fosse sua profissão, e teve sua petição devolvida. Entre muitas outras surpresas, ouvi de um colega que, com a segunda reeleição, ele estaria financeiramente independente para atuar com liberdade... Foi assassinado logo depois.
Observem o que acontece agora nas eleições no Rio de Janeiro, retrato do que se passa Brasil afora. Dos dez candidatos a prefeito, oito são parlamentares estaduais ou federais que, não importa o resultado do pleito, não arriscam seus mandatos. Sem entrar no mérito individual, constata-se que campanhas para prefeito, independentemente das chances de vitória, servem, no fundo, para alavancar candidaturas às eleições seguintes.
Como tornar menos atraente a “carreira” política, ou seja, como incentivar os que querem servir ao público por um período, em vez de se servir dele para sempre? Aí vão algumas ideias:
1 — apenas uma reeleição para o mesmo cargo no Legislativo e o fim da reeleição para o Executivo;
2 — perda definitiva do mandato para o parlamentar que optar por atuar no Executivo;
3 — renúncia ao mandato parlamentar para disputar cargo no Executivo;
4 — reforma do regimento interno das casas legislativas, reduzindo o poder ditatorial do presidente sobre os demais parlamentares.
Os políticos rejeitam amarras, mas é preciso enfatizar, sempre, que a busca por uma atividade bem remunerada, pela ascensão social e econômica, pela solução de um interesse pontual e particular não pode ser o indutor da vida política. Infelizmente, é assim que tem sido, com honrosas exceções. Mas o fato é: quem não pode perder uma eleição, não se candidate.
Andrea Gouvêa Vieira
Vaias, aplausos e silêncio
Três tipos de reações do público podem ser percebidas cada vez que o presidente Michel Temer participa de alguma cerimônia em local aberto, como ocorreu na inauguração dos Jogos Olímpicos do Rio, quando ele ainda era interino, e como voltou a ocorrer no desfile da Independência, em Brasília, e na abertura dos Jogos Paraolímpicos, no Rio, ambos na última quinta-feira. A primeira e mais contundente dessas reações é a vaia, manifestada por parte das pessoas inconformadas com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e convencidas de que o atual governo é ilegítimo. Os aplausos e os gritos de apoio ao atual chefe da nação aparecem como resposta ao apupo, protagonizados predominantemente por integrantes do governo e por pessoas que rejeitam o Partido dos Trabalhadores. Mas parte expressiva do público, tanto nas raras aparições do presidente quanto na assistência desses episódios pela mídia, permanece em silêncio, observando o embate político-ideológico pelo poder.
Os silenciosos, que provavelmente são a maioria, aguardam as consequências da troca de governo para se manifestar. Os brasileiros inconformados com a corrupção e com a crise econômica acompanham com ansiedade e interesse a movimentação dos políticos, esperando por medidas que permitam a retomada das atividades econômicas e estanquem a onda de desemprego. Mais: exigem também que políticos, empresários, servidores públicos e outras pessoas comprovadamente envolvidas em malfeitorias sejam exemplarmente punidos, tanto no âmbito da Operação Lava-Jato quanto de outras investigações em andamento.
A maioria até pode estar quieta, mas não está conformada com o país degradado pela última administração e ainda não consertado pela atual. Pelo contrário, os brasileiros mais conscientes estão preocupados com a manutenção de práticas políticas reconhecidamente perniciosas, tais como o apadrinhamento político, a troca de cargos públicos por apoio e o descontrole de gastos. Também estão apreensivos com a violência de algumas manifestações, que deturpam o verdadeiro sentido de uma democracia que deve, sim, ter espaço para vaias e aplausos, mas sem ignorar a eloquência dos silenciosos.
A maioria até pode estar quieta, mas não está conformada com o país degradado pela última administração e ainda não consertado pela atual. Pelo contrário, os brasileiros mais conscientes estão preocupados com a manutenção de práticas políticas reconhecidamente perniciosas, tais como o apadrinhamento político, a troca de cargos públicos por apoio e o descontrole de gastos. Também estão apreensivos com a violência de algumas manifestações, que deturpam o verdadeiro sentido de uma democracia que deve, sim, ter espaço para vaias e aplausos, mas sem ignorar a eloquência dos silenciosos.
Única escola que funciona no país é a de samba
Saíram os resultados do principal indicador da educação básica no Brasil, o Ideb. Eles revelam um desastre. O Brasil não conseguiu cumprir as metas dos ensinos fundamental e médio. Confira aqui , aqui e aqui . Divulgado a cada dois anos, o Ideb leva em conta o rendimento escolar e o desempenho dos alunos em testes de português e matemática. Um fiasco.
Em tempos de Lava Jato, a desgraça potencializa a sensação de que o país já não está à beira do abismo. Escorregou para dentro da cratera. O descalabro educacional é a própria vivência do abismo.
Na seara moral, o Brasil já deixou de ser o país do futuro para tornar-se o país do faturo. Na área educacional, é o país do passado. A matemática do ensino médio, por exemplo, registrou o pior resultado desde 2005. Retrocedeu, em vez de avançar.
Deve-se cuidar agora para não adicionar ao descalabro o absurdo de transferir a culpa para os estudantes. O problema está no sistema educacional que não consegue ensinar. No Brasil, a única escola que evolui diante dos olhos de todos é a escola de samba. As outras não se cansam de aprimoarar seus defeitos. Até quando?
Em tempos de Lava Jato, a desgraça potencializa a sensação de que o país já não está à beira do abismo. Escorregou para dentro da cratera. O descalabro educacional é a própria vivência do abismo.
Deve-se cuidar agora para não adicionar ao descalabro o absurdo de transferir a culpa para os estudantes. O problema está no sistema educacional que não consegue ensinar. No Brasil, a única escola que evolui diante dos olhos de todos é a escola de samba. As outras não se cansam de aprimoarar seus defeitos. Até quando?
Os erros de cada lado
A saída de Dilma resolve um problema do PT. É muito mais fácil fazer manifestação contra do que a favor, até porque é indefensável um governo como o de Dilma. A truculência da polícia paulista dá ao PT o argumento definitivo para sustentar a “narrativa” de que há no país uma luta entre democratas e golpistas. A atitude do governo Temer de subestimar os protestos completa a festa petista.
Os atos radicais dos black blocks não legitimam o comportamento da polícia paulista que, entra secretário, sai secretário, só consegue ir para a rua se for para, a certa altura, bater em quem vê pela frente. Em outros estados, também há relatos de violência policial desnecessária, mas em São Paulo são mais frequentes. São incontáveis os jornalistas que já sofreram nas mãos de policiais, mesmo exibindo os seus crachás de imprensa brasileira ou estrangeira. Haver um grupo desordeiro em um protesto não justifica a reação violenta contra todos. O Estado tem o poder de polícia para usá-lo na defesa do cidadão, e não o contrário. Um coronel achar engraçado uma jovem de 19 anos perder a visão de um dos olhos é revoltante.
O MST foi para a rua contra a reforma da Previdência afirmando que ela trará prejuízo para os trabalhadores e nada disse sobre o fato de que trabalhadores e aposentados das estatais estavam sendo roubados pelo governo que acaba de cair. É notável também o silêncio da CUT diante das revelações da Operação Greenfield. Que parte o MST e a CUT não entenderam? Vale talvez explicar de novo: dirigentes de fundos de pensão, nomeados pelo Partido dos Trabalhadores, em cumplicidade com grandes empresários, roubaram o patrimônio dos trabalhadores e dos aposentados das estatais. Simples assim.
Uma crise é uma crise é uma crise. Nela, o mau humor das pessoas fica em alta porque a compra mensal é mais cara a cada mês, os empregos somem, as empresas quebram, os empréstimos são negados, o lazer não cabe no orçamento, o futuro se torna sombrio. Neste ambiente, aumenta a raiva. Contra quem? O governo, ora. É disso que o PT escapou com a transformação de Dilma Rousseff em ex-presidente. Quando ela pegou seu avião e despachou seus quatro caminhões para o Rio Grande do Sul estava resolvendo um problema que parecia insolúvel. Seu governo criou uma crise de grandes dimensões, mas poderá agora dizer que tudo é culpa daqueles que supostamente usurparam o poder.
O governo Temer não é aquele pelo qual alguém se disponha a ir para a rua em defesa. Os milhões que se vestiram de verde e amarelo e cantaram o hino nacional nas ruas do Brasil várias vezes desde 2013 estavam contra o governo de então, o PT, a corrupção, a crise econômica. Não voltariam às ruas para gritar “Bora Temer”. Podem ser chamados a voltar apenas para mostrar mais uma vez que são contra o PT e suas práticas, mas agora, que o partido está fora do Planalto, há muito menos interesse.
O pior que o governo Temer pode fazer ele já fez: subestimar manifestação. A política ensina que simplesmente não se faz isso. Antes, a máquina governista, os sindicatos e movimentos financiados pelo governo tinham que ser mobilizados para defender Dilma. Agora é mais fácil conseguir a adesão de quem não tem nada com isso, apenas está irritado com o ambiente hostil da economia. Se o governo diz que só há 40 pessoas nos protestos, e a polícia paulista comete seus costumeiros excessos, fica ainda mais fácil convencer os jovens de que eles vivem uma luta de resistência heroica, como a do passado.
A recessão continuará colhendo suas vítimas nos próximos meses e a melhora será lenta porque a economia afundou demais durante o governo Dilma. Quem herda o governo, paga o preço. Adiantará pouco Temer dizer que está cortando em programas sociais porque o dinheiro do orçamento é curto e mostrar que os cortes haviam começado no tempo da sua antecessora. A verdade é a primeira vítima em época de radicalização.
Os petistas perderam, na saída do poder, as muitas sondas pelas quais extraíram dinheiro do Estado, das estatais, dos fundos de pensão para se financiar e encher muitos bolsos. Mas estão na confortável situação de jogar pedras contra as vidraças nas quais eles estavam até recentemente e criticar a crise que eles mesmos criaram.
Os atos radicais dos black blocks não legitimam o comportamento da polícia paulista que, entra secretário, sai secretário, só consegue ir para a rua se for para, a certa altura, bater em quem vê pela frente. Em outros estados, também há relatos de violência policial desnecessária, mas em São Paulo são mais frequentes. São incontáveis os jornalistas que já sofreram nas mãos de policiais, mesmo exibindo os seus crachás de imprensa brasileira ou estrangeira. Haver um grupo desordeiro em um protesto não justifica a reação violenta contra todos. O Estado tem o poder de polícia para usá-lo na defesa do cidadão, e não o contrário. Um coronel achar engraçado uma jovem de 19 anos perder a visão de um dos olhos é revoltante.
Uma crise é uma crise é uma crise. Nela, o mau humor das pessoas fica em alta porque a compra mensal é mais cara a cada mês, os empregos somem, as empresas quebram, os empréstimos são negados, o lazer não cabe no orçamento, o futuro se torna sombrio. Neste ambiente, aumenta a raiva. Contra quem? O governo, ora. É disso que o PT escapou com a transformação de Dilma Rousseff em ex-presidente. Quando ela pegou seu avião e despachou seus quatro caminhões para o Rio Grande do Sul estava resolvendo um problema que parecia insolúvel. Seu governo criou uma crise de grandes dimensões, mas poderá agora dizer que tudo é culpa daqueles que supostamente usurparam o poder.
O governo Temer não é aquele pelo qual alguém se disponha a ir para a rua em defesa. Os milhões que se vestiram de verde e amarelo e cantaram o hino nacional nas ruas do Brasil várias vezes desde 2013 estavam contra o governo de então, o PT, a corrupção, a crise econômica. Não voltariam às ruas para gritar “Bora Temer”. Podem ser chamados a voltar apenas para mostrar mais uma vez que são contra o PT e suas práticas, mas agora, que o partido está fora do Planalto, há muito menos interesse.
O pior que o governo Temer pode fazer ele já fez: subestimar manifestação. A política ensina que simplesmente não se faz isso. Antes, a máquina governista, os sindicatos e movimentos financiados pelo governo tinham que ser mobilizados para defender Dilma. Agora é mais fácil conseguir a adesão de quem não tem nada com isso, apenas está irritado com o ambiente hostil da economia. Se o governo diz que só há 40 pessoas nos protestos, e a polícia paulista comete seus costumeiros excessos, fica ainda mais fácil convencer os jovens de que eles vivem uma luta de resistência heroica, como a do passado.
A recessão continuará colhendo suas vítimas nos próximos meses e a melhora será lenta porque a economia afundou demais durante o governo Dilma. Quem herda o governo, paga o preço. Adiantará pouco Temer dizer que está cortando em programas sociais porque o dinheiro do orçamento é curto e mostrar que os cortes haviam começado no tempo da sua antecessora. A verdade é a primeira vítima em época de radicalização.
Os petistas perderam, na saída do poder, as muitas sondas pelas quais extraíram dinheiro do Estado, das estatais, dos fundos de pensão para se financiar e encher muitos bolsos. Mas estão na confortável situação de jogar pedras contra as vidraças nas quais eles estavam até recentemente e criticar a crise que eles mesmos criaram.
Congresso prepara golpe contra a Lava-Jato
O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff não foi um golpe, a se julgar pela decisão tomada ontem pelo ministro Teori Zavaski de não conceder liminar em recurso impetrado pela defesa de Dilma que pedia a anulação do processo.
Mas o Congresso trama um golpe contra a Lava-Jato. Circula, ali, uma minuta de projeto para anistiar empresários, políticos e partidos envolvidos em doações irregulares a campanhas políticas. Por doações irregulares, entenda-se dinheiro de caixa dois não declarado à Justiça.
Segundo o jornal VALOR, “a ideia é criminalizar daqui pra frente as doações feitas em desacordo com a lei, perdoando o passado, em contrapartida, para aqueles que confessarem a prática à Justiça Eleitoral”. A minuta do projeto está pronta.
Ela foi concebida “no meio empresarial” e acolhida com entusiasmo por políticos e partidos encrencados com a Justiça. Isenta de penas criminais empresários que fizeram doações não oficiais a candidatos e partidos. Quem as recebeu também ficaria livre de qualquer punição.
Segundo o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), “o entendimento é que quem recebeu no passado caixa dois referente a propina não tem perdão. Agora, se foi dinheiro dado sem nada em troca, pode anistiar. "O que não pode é punir da mesma forma duas coisas distintas", diz.
Qualquer político contemplado com dinheiro de caixa dois dirá, naturalmente, que desconhecia a origem criminosa do dinheiro recebido. E que se houve algum crime, não foi ele que o cometeu. Caberá ao Ministério Público provar que ele conhecia a origem, sim.
A anistia não terá a ver apenas com dinheiro de caixa dois. Ela cobrirá todos os casos de doações "em desacordo com a lei", inclusive “contribuições de entidades que não podem doar para campanhas ou que ultrapassem os limites previstos na legislação”.
Por trás da proposta de anistia, de acordo com o jornal VALOR, está a justificativa “de que as doações ilegais até aqui eram a regra do jogo e que, a partir de agora, haveria um compromisso de mudar essa cultura por meio da criminalização”.
Mas o Congresso trama um golpe contra a Lava-Jato. Circula, ali, uma minuta de projeto para anistiar empresários, políticos e partidos envolvidos em doações irregulares a campanhas políticas. Por doações irregulares, entenda-se dinheiro de caixa dois não declarado à Justiça.
Segundo o jornal VALOR, “a ideia é criminalizar daqui pra frente as doações feitas em desacordo com a lei, perdoando o passado, em contrapartida, para aqueles que confessarem a prática à Justiça Eleitoral”. A minuta do projeto está pronta.
Segundo o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), “o entendimento é que quem recebeu no passado caixa dois referente a propina não tem perdão. Agora, se foi dinheiro dado sem nada em troca, pode anistiar. "O que não pode é punir da mesma forma duas coisas distintas", diz.
Qualquer político contemplado com dinheiro de caixa dois dirá, naturalmente, que desconhecia a origem criminosa do dinheiro recebido. E que se houve algum crime, não foi ele que o cometeu. Caberá ao Ministério Público provar que ele conhecia a origem, sim.
A anistia não terá a ver apenas com dinheiro de caixa dois. Ela cobrirá todos os casos de doações "em desacordo com a lei", inclusive “contribuições de entidades que não podem doar para campanhas ou que ultrapassem os limites previstos na legislação”.
Por trás da proposta de anistia, de acordo com o jornal VALOR, está a justificativa “de que as doações ilegais até aqui eram a regra do jogo e que, a partir de agora, haveria um compromisso de mudar essa cultura por meio da criminalização”.
Impeachment incompleto
O impeachment demonstra o fracasso das forças de esquerda, que ficaram ultrapassadas nas ideias e propostas, perderam vigor transformador para reformar as estruturas sociais e se contaminaram com a corrupção na política; mas ficará incompleto se limitado à substituição da presidente por seu vice. Precisamos fazer o impeachment do modelo que ficou arcaico e não percebeu as mudanças que ocorrem no mundo. O impeachment só se justificará plenamente se servir para levar as forças progressistas na direção de sua atualização em relação às novas realidades e aos novos sonhos no mundo.
A nova esquerda deve partir do reconhecimento de que o impeachment decorre do fracasso da esquerda velha, que deveria ter feito uma autocrítica, o que a arrogância e o acomodamento no poder não permitiram. Deve perceber que a sociedade justa depende de uma economia eficiente; isso exige respeitar os limites fiscais e entender que a propriedade privada dos meios de produção e o mercado dinamizam a economia, criando os recursos a serem aplicados na sociedade.
Entender que não há muita margem para influir no funcionamento da economia com base em vontade ideológica; que o espaço da esquerda está na definição do uso de recursos da economia eficiente para servir ao social; também que o populismo leva a desastres sociais. Deve assumir e explicitar seu compromisso com a democracia, as liberdades individuais e de imprensa; deve entender que o capital está no domínio do conhecimento; substituir a proposta de estatizar os meios de produção pelo compromisso de universalizar o capital do conhecimento, colocando os filhos dos trabalhadores em escolas com a mesma qualidade daquelas dos filhos dos patrões; entender que não é mais o crescimento econômico e a distribuição de seu produto e renda que fazem o mundo melhor, mas a elevação do bem-estar social, em equilíbrio ecológico.
Para isso, a esquerda deve olhar para o futuro, e não para o passado; pelo para-brisa, não pelo retrovisor da história; assumindo a liderança das reformas necessárias: da Previdência, para garantir a futura aposentadoria dos jovens de hoje; trabalhista, considerando também os direitos dos desempregados; tributária, taxando os ricos e colocando os recursos a serviço dos interesses públicos; do Estado, para servir com eficiência ao público, e não ao próprio Estado ou aos grupos corporativos que se apropriam da máquina estatal; política, para fazer a sociedade participativa, as funções políticas regidas pela ética, tanto no comportamento dos políticos como nas prioridades da política.
O governo substituto pode não fazer as reformas que os 13 anos de governo de esquerda não fizeram, mas poderá permitir a estabilidade e o diálogo necessários para a travessia em que uma nova esquerda vá se formando. Isso seria difícil com o mesmo modelo arcaico no poder, impedindo o avanço conceitual e contaminando a moral das esquerdas, comprometendo ainda mais o funcionamento de uma economia eficiente.
Qualquer semelhança não é coincidência...
Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humanaMikhail Bakunin
À espera da ação penal contra Lula
Sempre se repete o velho ditado caipira segundo o qual a gente não deve brigar com quem usa saia, ou seja, mulher, padre e juiz. O ex-presidente Lula, com sua primariedade cultural e nada invejável educação, alguns meses atrás mandou o juiz Sergio Moro enfiar num determinado lugar o processo judicial no qual era investigado – e repetiu aquelas duas letras, tão conhecidas e sempre evitadas. Milhões de pessoas ouviram a frase, repetida várias vezes pelas rádios, televisões e pelos jornais.
Por essa ofensa, com certeza o exemplar magistrado não decairá de sua grandeza na hora de julgá-lo e sentenciá-lo, caso tenha havido descumprimento da lei. Mas, sem dúvida, Lula tem razões de sobra para estar com os nervos à flor da pele, pois bem sabe o tamanho da grosseria feita. Para sua sorte, o juiz não é igual a ele e por isso mesmo não se deve esperar um gesto de vingança, mas tão somente um julgamento como tantos outros.
Na relação processual entre o Estado e o réu, o juiz não é parte e por isso tem o dever de agir sempre com absoluta imparcialidade. As decisões de Sergio Moro às vezes podem mostrar-se por demais rigorosas, porém é necessário ter em conta que ele está submetido ao que dispõe a lei, ou seja, o juiz não deixa de ser a lei vivificada, que fala por sua pessoa.
Crimes de extrema gravidade praticados contra o Estado brasileiro e sua principal empresa, a Petrobrás, resultaram em decisões judiciais em favor da prisão de empresários e políticos extremamente rico e sem nenhum escrúpulo. Sempre se dizia que rico no Brasil não vai para a cadeia, e sim para Miami; mas agora, inaugurando uma fase bastante promissora de nossa história política e social, vê-se que dinheiro e poder não têm servido para retirar das grades os detentores de grandes fortunas.
Vê-se também que tanto faz para um juiz que o infrator seja a pessoa mais simples do planeta ou uma figura presunçosa e arrogante que se apresenta como o homem mais honesto do Brasil, ao mesmo tempo que não consegue explicar as razões de o dinheiro desviado da Petrobrás ter servido para reformar determinado apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia.
A relevância da conduta antijurídica pode estar não apenas na propriedade ou não desses dois imóveis, mas também na circunstância afrontosa de aceitar dinheiro sujo para reformá-los. Ainda que o imóvel possa ser de terceiros, se o nada educado ex-presidente usou tal dinheiro para reformar os imóveis, é claro que terá de responder por isso.
O pior para seu estado psicológico é que o juiz com competência e obrigação de julgá-lo poderá ser mesmo aquele a quem ofendeu grosseiramente, em público, numa torpe valentia. O inquérito policial que indiciou Lula por vários crimes corre pela Justiça Federal e está umbilicalmente vinculado à Operação Lava Jato.
O inconformismo do ex-presidente e o seu rancor contra Sergio Moro ganharam expressão quando foi coercitivamente levado para depor, no contexto da Operação Alethéia (24.ª fase da Lava Jato), acompanhado de policiais federais. Na verdade, tratava-se de um ato de rotina, porque quando o juiz pretende ouvir algum investigado, mas pressente que ele poderá fugir ao ser oficialmente intimado para depor em determinada data, é normal optar pelo comparecimento coercitivo.
Esse procedimento é frequente e, no caso de com Lula, repita-se, tratou-se de um ato de rotina, sem representar nenhuma afronta à sua vida de político e de ex-presidente da República, tampouco qualquer perseguição pessoal. Afinal, todos são iguais perante a lei, mesmo presidentes ou ex-presidentes da República, porque igualmente amam, sofrem, choram, têm dor de barriga.
O poder moral do juiz e seu senso de justiça estão assentados na segurança que advém da lei e das normas de direito presentes na vida de uma nação. Nessa linha, o poder coativo da lei não permite desigualar pessoas, ainda que ostentem títulos e fortuna.
Reitere-se: sem decair de sua grandeza, o juiz Sergio Moro não se sentirá impedido de julgar alguém que procurou ofendê-lo ou outros desses políticos que pensavam ser donos do Brasil e enriqueceram com dinheiro sujo, ao mesmo tempo que o grau de pobreza da população brasileira a cada dia se mostrava maior.
O ato agressivo de Lula contra o direito, quando mandou o juiz enfiar o processo naquele lugar, faz lembrar o fenômeno do ciúme no amor, que muitas vezes se volta contra si mesmo e acaba por destruir aquilo que pretendia resguardar.
Como se divulgou, em inquérito policial levado a efeito pela Polícia Federal Lula foi indiciado, ou seja, entendeu-se que há culpa envolvendo a sua conduta e que por isso deverá responder perante a sociedade. O indiciamento não é um ato discricionário da autoridade policial, para ter validade jurídica deve se basear em provas suficientes para tal.
O propósito do Estado ao investigar e apontar o autor do delito tem por base a segurança da ação da Justiça e do próprio acusado. Há, em verdade, uma instrução prévia, pela qual a polícia judiciária reúne as provas preliminares que sejam suficientes para apontar, com razoável segurança, a ocorrência de um delito e seu autor.
A pessoa suspeita da prática de infração penal passa a figurar como indiciada a contar do momento em que, no inquérito policial instaurado, são claras as possibilidades de ser ela o agente responsável pelo delito. Depois do indiciamento, ainda que possa vir a ser absolvida, em sua folha de antecedentes sempre figurará a informação constrangedora.
Os crimes imputados a Lula são de ação penal pública. Isso quer dizer que o Ministério Público, pela Lei n.º 8.038/90, tem o prazo de 15 dias para oferecer denúncia ou pedir o arquivamento do inquérito.
Aloísio de Toledo César
Por essa ofensa, com certeza o exemplar magistrado não decairá de sua grandeza na hora de julgá-lo e sentenciá-lo, caso tenha havido descumprimento da lei. Mas, sem dúvida, Lula tem razões de sobra para estar com os nervos à flor da pele, pois bem sabe o tamanho da grosseria feita. Para sua sorte, o juiz não é igual a ele e por isso mesmo não se deve esperar um gesto de vingança, mas tão somente um julgamento como tantos outros.
Crimes de extrema gravidade praticados contra o Estado brasileiro e sua principal empresa, a Petrobrás, resultaram em decisões judiciais em favor da prisão de empresários e políticos extremamente rico e sem nenhum escrúpulo. Sempre se dizia que rico no Brasil não vai para a cadeia, e sim para Miami; mas agora, inaugurando uma fase bastante promissora de nossa história política e social, vê-se que dinheiro e poder não têm servido para retirar das grades os detentores de grandes fortunas.
Vê-se também que tanto faz para um juiz que o infrator seja a pessoa mais simples do planeta ou uma figura presunçosa e arrogante que se apresenta como o homem mais honesto do Brasil, ao mesmo tempo que não consegue explicar as razões de o dinheiro desviado da Petrobrás ter servido para reformar determinado apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia.
A relevância da conduta antijurídica pode estar não apenas na propriedade ou não desses dois imóveis, mas também na circunstância afrontosa de aceitar dinheiro sujo para reformá-los. Ainda que o imóvel possa ser de terceiros, se o nada educado ex-presidente usou tal dinheiro para reformar os imóveis, é claro que terá de responder por isso.
O pior para seu estado psicológico é que o juiz com competência e obrigação de julgá-lo poderá ser mesmo aquele a quem ofendeu grosseiramente, em público, numa torpe valentia. O inquérito policial que indiciou Lula por vários crimes corre pela Justiça Federal e está umbilicalmente vinculado à Operação Lava Jato.
O inconformismo do ex-presidente e o seu rancor contra Sergio Moro ganharam expressão quando foi coercitivamente levado para depor, no contexto da Operação Alethéia (24.ª fase da Lava Jato), acompanhado de policiais federais. Na verdade, tratava-se de um ato de rotina, porque quando o juiz pretende ouvir algum investigado, mas pressente que ele poderá fugir ao ser oficialmente intimado para depor em determinada data, é normal optar pelo comparecimento coercitivo.
Esse procedimento é frequente e, no caso de com Lula, repita-se, tratou-se de um ato de rotina, sem representar nenhuma afronta à sua vida de político e de ex-presidente da República, tampouco qualquer perseguição pessoal. Afinal, todos são iguais perante a lei, mesmo presidentes ou ex-presidentes da República, porque igualmente amam, sofrem, choram, têm dor de barriga.
O poder moral do juiz e seu senso de justiça estão assentados na segurança que advém da lei e das normas de direito presentes na vida de uma nação. Nessa linha, o poder coativo da lei não permite desigualar pessoas, ainda que ostentem títulos e fortuna.
Reitere-se: sem decair de sua grandeza, o juiz Sergio Moro não se sentirá impedido de julgar alguém que procurou ofendê-lo ou outros desses políticos que pensavam ser donos do Brasil e enriqueceram com dinheiro sujo, ao mesmo tempo que o grau de pobreza da população brasileira a cada dia se mostrava maior.
O ato agressivo de Lula contra o direito, quando mandou o juiz enfiar o processo naquele lugar, faz lembrar o fenômeno do ciúme no amor, que muitas vezes se volta contra si mesmo e acaba por destruir aquilo que pretendia resguardar.
Como se divulgou, em inquérito policial levado a efeito pela Polícia Federal Lula foi indiciado, ou seja, entendeu-se que há culpa envolvendo a sua conduta e que por isso deverá responder perante a sociedade. O indiciamento não é um ato discricionário da autoridade policial, para ter validade jurídica deve se basear em provas suficientes para tal.
O propósito do Estado ao investigar e apontar o autor do delito tem por base a segurança da ação da Justiça e do próprio acusado. Há, em verdade, uma instrução prévia, pela qual a polícia judiciária reúne as provas preliminares que sejam suficientes para apontar, com razoável segurança, a ocorrência de um delito e seu autor.
A pessoa suspeita da prática de infração penal passa a figurar como indiciada a contar do momento em que, no inquérito policial instaurado, são claras as possibilidades de ser ela o agente responsável pelo delito. Depois do indiciamento, ainda que possa vir a ser absolvida, em sua folha de antecedentes sempre figurará a informação constrangedora.
Os crimes imputados a Lula são de ação penal pública. Isso quer dizer que o Ministério Público, pela Lei n.º 8.038/90, tem o prazo de 15 dias para oferecer denúncia ou pedir o arquivamento do inquérito.
Aloísio de Toledo César
Milagres
Cartomantes, quiromantes, profetas, espíritas, adivinhos de toda a casta, a Santa de Coqueiros e o padre Cícero. Quando um desses está em evidência, os jornais aumentam a tiragem. Lemos as notícias, bocejamos, sentimos desgosto. Realmente o povo é supersticioso.
Pensando assim, afastamos por um momento as nossas superstições, censuramos com azedume as superstições alheias. Depois voltamos às nossas.
Adoramos vários deuses, uns imateriais, outros de ferro, movidos por água ou alimentados a carvão e a gasolina. É necessário que alguém nos salve, a Divina Providência ou Henry Ford.
Faltam-nos muitas coisas, e o pior é não nos esforçarmos por obtê-las. Esperamos que elas nos venham de fora do céu, da Rússia, dos Estados Unidos ou da Itália.
Milagres. Quem reduzirá o aluguel das casas e elevará o câmbio? O governo, provavelmente. Não podemos viver sem tabus: eleições, por exemplo, o voto secreto.
O essencial é que o país tenha um homem, ou antes um super-homem, um herói. Enquanto ele não chega, contentamo-nos imaginando alguns. Os que estão perto diminuem e os que estão longe aumentam, o que parece um disparate, mas não é.
Há por aí numerosos talentos. Deviam ser aproveitados. Acreditamos neles, oh! Temos grande confiança neles. Um dia lemos o que eles escrevem – e o entusiasmo encolhe-se.
Como é indispensável darmos empregos às nossas aptidões de basbaques, procuramos outros. Onde andam eles? Meu Deus! Por que foi que o Rui Barbosa morreu? Um cavalheiro que produziu tantos discursos que a gente admirava sem perigo! Se ele ainda vivesse, a constituição estaria pronta. A constituição é uma réplica.
A constituição, sim senhor, é o que vai fazer milagres. Como será a constituição? Comprida ou curta? Semelhante à primeira ou diferente dela? Escrita em português ou em brasileiro? Ninguém sabe, e inspira por isso um imenso respeito.
Mas o milagre que nos convém será gramatical ou geográfico? Projetaram estraçalhar o mapa e cosê-lo de novo. Improvisaram uma divisão encrencada, com estados, províncias e territórios. Como ficaria essa manta de retalhos? Os pedaços seriam irregulares, como em toda parte ou quadrados, como na América do Norte, onde a própria terra é quadrada.
De qualquer modo desejamos um milagre de oito milhões de quilômetros para o Brasil e outro muito maior para o resto do mundo. Democrático ou aristocrático? Quem sabe lá? Uns querem um governo popular, outros apelam para os figurões.
Milagre de natureza parlamentar ou de ordem técnica?
Necessitamos estradas, portos, um bando de coisas que todos pedem e ninguém se aventura a executar.
E a instrução, é bom não esquecer a instrução. Como estamos longe do tempo em que, pela graça divina, sem professores, dicionários e outras maçadas, um sujeito aprendia do pé para a mão as línguas do mundo inteiro! A verdade é que hoje seria muito bem recebido um milagre, ou um decreto, que nos armasse depressa, não apenas com as línguas, mas com todos os conhecimentos que distinguem os homens da Academia de Letras, do Liceu Alagoano, da Sociedade de Medicina etc.
Também seria importante a supressão repentina dos bandidos do Nordeste e o desaparecimento das secas.
Milagre estupendo era o que Pernambuco nos queria impingir há dias, essa história de agarrar a eletricidade que anda pelas nuvens. Um milagre terrível! Infelizmente a eletricidade portou-se mal, fez como esses defuntos mal-educados que, nas sessões de espiritismo, quando se anuncia uma demonstração espalhafatosa, metem a viola no saco.
E o milagre gorou.
É conveniente que se arranjem outros.
Graciliano Ramos
Por que Jogos Paralímpicos ainda existem?
À primeira vista, a ideia parece insólita, quase absurda: esportistas com e sem deficiências participando do mesmo evento. Desse modo não se faz justiça nem a uns, nem a outros, argumentam há anos autoridades desportivas, descartando, assim, rapidamente o tema "verdadeira inclusão no esporte". Mas será que essa hipótese sequer ainda se sustenta?
Para responder à pergunta, é preciso esclarecer o que se quer dizer com "inclusão no esporte". A prática esportiva conjunta para deficientes e não deficientes é uma meta perseguida há anos por todo o mundo, porém, geralmente somente no esporte de massa ou escolar. O esporte de alto desempenho, na maioria dos casos, se contenta com uma justaposição de ambos: primeiro os Jogos Olímpicos, depois os Paralímpicos, como apêndice, com mais de duas semanas os separando.
Mesmo que, desse modo, as Paralimpíadas se beneficiem das infraestrutura olímpica, tal constelação não é uma boa ideia: porque assim a atenção aos para-atletas decai; porque a essa altura já se realizam outros eventos esportivos, como a Bundesliga, a Liga dos Campeões, o US Open, etc. E porque assim o esportista portador de deficiência permanece sendo, de certo modo, algo diferente do que ele é, na realidade: simplesmente um esportista.
É claro que, do ponto de vista esportivo, a grande maioria dos portadores de deficiência não é capaz de acompanhar os não portadores. Por isso, "inclusão" não deve ser jamais entendida como uma confrontação entre os dois grupos. De fato, isso é algo que não faz o menor sentido dentro do espírito de competição justa – também não, aliás, quando atletas dotados de próteses high-tech biomecanicamente otimizadas correm ou saltam melhor do que os colegas, com suas pernas de carne e osso.
Verdadeira inclusão olímpica seria os torneios com portadores ou não de deficiência transcorrerem paralelamente, na mesma arena, diante do mesmo público. Isso não só valorizaria genuinamente o esporte com deficientes, como também evitaria situações como a atual, no Rio de Janeiro: os Jogos Paralímpicos 2016 estiveram manifestamente ameaçados de cancelamento, porque as verbas haviam sido todas gastas com os Jogos Olímpicos e os cofres estavam vazios.
Somente com a liberação a toque de caixa do equivalente a 70 milhões de euros pelos governos federal e estadual se conseguiu evitar "a pior situação na história do movimento paralímpico", como descreveu Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC).
Chega de tratar os Paralímpicos como "dever inconveniente" depois dos Jogos "de verdade". É exatamente essa a impressão que passa Thomas Bach quando, enquanto presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), permanece longe da cerimônia de abertura da Paralimpíada.
Os mais de 1,5 milhão de ingressos vendidos até o momento mostram o potencial que têm as competições com portadores de deficiência. Um bilhão espectadores diante das telas de TV provam perfeitamente, além disso, o alcance de massa das decisões.
Se, além disso, se conseguisse livrar as competições do estigma do fora do comum, de esporte restrito, então, todo o esporte de ponta galgaria um novo patamar. Decerto seriam necessários numerosos passos para tal, como, por exemplo, a simplificação do sistema de categorias de deficiências, que no momento serve para espantar os espectadores, por ser confuso. E os Jogos Paralímpicos deveriam ser mais concisos, no geral.
Até o evento no Rio, na realidade o IPC estava considerando encerrar sua atividade como associação profissional para atletas deficientes, transferindo a responsabilidade às diversas federações esportivas.
Algumas delas, como a de triatlo ou canoagem, já participam, organizando competições para portadores ou não de deficiência. Porém, muitas outras, como a de atletismo ou natação, praticamente não demonstram interesse nesse tipo de iniciativa. Sem um sinal claro do Comitê Olímpico Internacional no sentido da inclusão verdadeira no esporte de ponta, pouco deverá mudar.
Para responder à pergunta, é preciso esclarecer o que se quer dizer com "inclusão no esporte". A prática esportiva conjunta para deficientes e não deficientes é uma meta perseguida há anos por todo o mundo, porém, geralmente somente no esporte de massa ou escolar. O esporte de alto desempenho, na maioria dos casos, se contenta com uma justaposição de ambos: primeiro os Jogos Olímpicos, depois os Paralímpicos, como apêndice, com mais de duas semanas os separando.
É claro que, do ponto de vista esportivo, a grande maioria dos portadores de deficiência não é capaz de acompanhar os não portadores. Por isso, "inclusão" não deve ser jamais entendida como uma confrontação entre os dois grupos. De fato, isso é algo que não faz o menor sentido dentro do espírito de competição justa – também não, aliás, quando atletas dotados de próteses high-tech biomecanicamente otimizadas correm ou saltam melhor do que os colegas, com suas pernas de carne e osso.
Verdadeira inclusão olímpica seria os torneios com portadores ou não de deficiência transcorrerem paralelamente, na mesma arena, diante do mesmo público. Isso não só valorizaria genuinamente o esporte com deficientes, como também evitaria situações como a atual, no Rio de Janeiro: os Jogos Paralímpicos 2016 estiveram manifestamente ameaçados de cancelamento, porque as verbas haviam sido todas gastas com os Jogos Olímpicos e os cofres estavam vazios.
Somente com a liberação a toque de caixa do equivalente a 70 milhões de euros pelos governos federal e estadual se conseguiu evitar "a pior situação na história do movimento paralímpico", como descreveu Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC).
Chega de tratar os Paralímpicos como "dever inconveniente" depois dos Jogos "de verdade". É exatamente essa a impressão que passa Thomas Bach quando, enquanto presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), permanece longe da cerimônia de abertura da Paralimpíada.
Os mais de 1,5 milhão de ingressos vendidos até o momento mostram o potencial que têm as competições com portadores de deficiência. Um bilhão espectadores diante das telas de TV provam perfeitamente, além disso, o alcance de massa das decisões.
Se, além disso, se conseguisse livrar as competições do estigma do fora do comum, de esporte restrito, então, todo o esporte de ponta galgaria um novo patamar. Decerto seriam necessários numerosos passos para tal, como, por exemplo, a simplificação do sistema de categorias de deficiências, que no momento serve para espantar os espectadores, por ser confuso. E os Jogos Paralímpicos deveriam ser mais concisos, no geral.
Até o evento no Rio, na realidade o IPC estava considerando encerrar sua atividade como associação profissional para atletas deficientes, transferindo a responsabilidade às diversas federações esportivas.
Algumas delas, como a de triatlo ou canoagem, já participam, organizando competições para portadores ou não de deficiência. Porém, muitas outras, como a de atletismo ou natação, praticamente não demonstram interesse nesse tipo de iniciativa. Sem um sinal claro do Comitê Olímpico Internacional no sentido da inclusão verdadeira no esporte de ponta, pouco deverá mudar.
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