terça-feira, 23 de julho de 2024

Pensamento do Dia

 


A Espiritualidade: Luz x Trevas

Ao ler uma entrevista recente publicada pela ‘Visão’, destacou-se-me a afirmação do psicoterapeuta João Carlos Melo quando salientou que “Assistimos ao avanço dos populismos e da direita radical, mas há também grandes grupos que resistem e têm influência para mudar esse rumo. O caminho faz-se entre a luz e as trevas”.

Com efeito, essa convicção de que a luz tem de estar presente para eliminar as trevas que assolam e afligem as nossas vidas é um pressuposto base na minha vida como cidadão e, evidentemente, como maçom.

As mudanças que ocorrem na sociedade e no mundo em que vivemos são tempos desafiantes, a nível social, económico e mesmo de saúde mental. E as encruzilhadas em que nos encontramos demonstram um avassalador acréscimo de guetos e becos sem saída.


A esse propósito, lembro um trabalho de Zygmunt Bauman (publicado entre nós em 2014 pela Relógio de Água) em resultado de um diálogo com o filósofo Leonidas Donskis em torno da perda de sensibilidade num tempo marcado pelo terrorismo, a guerra, as migrações e outras formas de violência. Donskis: “O mal não está confinado às guerras ou às ideologias totalitárias. Hoje ele revela-se com mais frequência quando deixamos de reagir ao sofrimento de outra pessoa, quando nos recusamos a compreender os outros, quando somos insensíveis e evitamos o olhar ético silencioso.”

Há, na opinião destes autores, um afastamento de demasiadas pessoas face às regras morais da sociedade. Um alheamento à dor, aos sentimentos e ao sofrimento dos outros. E é nessa atitude perante o ser mais fragilizado, perante a comunidade necessitada, ou perante a premência de ajudar a encontrar rumos justos na sociedade, que estaremos a erguer um novo mundo, aquele em que habitarão os nossos filhos e os nossos netos.

É esta a convicção que devemos manter sempre, mesmo perante a incerteza sobre o que vai acontecer. Nesse desígnio, é dever de todos estarem disponíveis e prontos a transportar a fulgurante Luz, pois é com ela que cegaremos os avanços dessa espécie de peste maléfica que, por ora, prospera no mundo.

Ora, isto prende-se com o facto de os governantes, decisores e outros intervenientes, se posicionarem perante as ocorrências como meros interlocutores dos interesses imediatos, da busca pela satisfação dos egoísmos misóginos xenófobos e da inevitável ascendência dos autoritarismos impositivos sem curar das visões alheias e das vontades do próximo, do outro, do diferente e diverso.

Esta constatação mostra flagrantemente a ausência da espiritualidade, a sonegação do divino, a supremacia da arrogância, a emergência das ignorâncias absolutas e a assunção das leviandades, das baixezas, da falta de escrúpulos, das mentiras e das descaradas apropriações de dados e fatos históricos totalmente deturpados, com o fim de assaltar os poderes e submeter os outros, tal como noutros tempos de trevas.

No livro ‘QS – Inteligência Espiritual’, a física e filósofa americana Danah Zohar aborda um tema tão novo quanto polémico: A existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e que se manifesta na necessidade de encontrar um significado para a vida. Ela baseia o seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas, só há pouco divulgadas, de cientistas de várias partes do mundo e que descobriram o que está sendo chamado “Ponto de Deus” no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas.

Compete-nos agora sermos nós os “transportadores” da luz e do conhecimento. Precisamos de estar disponíveis e sempre em pé, para que nas guaritas em que teremos de viver, possamos alertar a proveniência dos perigos e estarmos prontos para os desfeitear.

A dualidade do combate entre a Luz e as Trevas (o conhecimento e a ignorância) é uma constante do quotidiano dos maçons, onde fica claro que a Luz só provem de Deus, Grande Arquiteto Do Universo e só com essa Luz é possível aos maçons concluírem a edificação do seu Templo.

Quanto aos perigos, sendo tantos, tão dispersos e temíveis, eles contribuem para tornar maior e mais importante a responsabilidade da Maçonaria Regular. Eles não passam de ocorrências que, em si mesmas, são protagonizadas a montante e a jusante por seres humanos. É a consciência destes o nosso alvo, visando o burilar da pedra, o aperfeiçoamento da construção e a conclusão perfeita da obra.

Voltamos assim ao essencial: O ser humano precisa de ajuda, de amparo e…de luz. Essa luz que é a derradeira fonte para a solução dos problemas que enfrentamos.

Deus apoia, nos EUA, um narcisista patológico

Há momentos na história em que se entra numa era negra quase sem se dar por ela. No caso actual, damos de tal maneira por ela que o céu já está todo negro. Parece um filme de terror, é um filme de terror. Com a escuridão vem toda uma série de prodígios maléficos, o principal é ver o Diabo à solta travestido de Deus.

Trump e toda a convenção republicana apresentam-se como os ungidos de Deus, que, pelos vistos, entrou nas eleições americanas para apoiar um narcisista patológico. Que Deus o tenha salvo da bala muito bem, é sua obrigação, mas uma outra coisa é Deus ser agora da equipa MAGA. É por isso que suspeito que, cumprida a obrigação de Deus, entrou em cena o Diabo disfarçado de Deus, de boné MAGA na cabeça, e sentou-se na primeira fila para lançar o mundo no caos e na escuridão. Vem na Bíblia em Coríntios, 2, 12:14, “o próprio Satanás disfarça-se de anjo da Luz”.


Se Trump ganhar as eleições, o mundo vai conhecer uma crise que pode ser daquelas que marcam o fim de uma era. Estou a ser catastrofista? Podem ter a certeza de que sim, estou. E, para mim, pouco valem os argumentos desculpatórios, como o de que a democracia é assim, o povo pode querer votar no Diabo, que se ele for eleito não há volta a dar, é a democracia. Não, não é. Não basta sequer apresentar o precedente de Hitler, porque a democracia não se limita ao voto popular, é o voto popular mais o primado da lei e dos procedimentos democráticos legais. As democracias não se esgotam no voto, podendo os eleitos fazer o que quiserem, sem lei nem limites ao seu poder. Isso não é democracia, mas demagogia.

Trump poderá ter a legitimidade para governar, mas não tem legitimidade para fazer o que quiser, para se substituir à lei e à Constituição, actuar como um ditador pessoal, que está acima da lei, e ser “ditador por um dia”, vingar-se dos seus adversários e entender a sua imunidade como podendo matar alguém em plena 5.ª Avenida como uma vez afirmou. Mas, quando se apresenta um homem como sendo a mão terrestre de Deus, a pressão sobre a democracia é global, porque a vontade do ungido é que é a lei. O que vale a democracia quando é a mão de Deus que está a actuar?

Trump tem os seus fiéis, OK. Mas a força de Trump não vem só daí, ela estende-se por toda uma mancha de minimizadores, que fazem a expressão wishful thinking ganhar um pleno sentido. Nestes dias, ouvi todas as versões de explicações e justificações do tipo que, afinal, há um exagero na avaliação de Trump, ele não vai fazer nada daquilo que diz que vai fazer, a OTAN e a Europa podem estar descansadas, a Ucrânia poderá, no limite, continuar a defender-se, e as instituições americanas são suficientemente fortes para o travar.

Será que se esquecem de um homem que não aceita os resultados eleitorais quando perde, tentou de forma ilegal mudá-los, que impulsionou uma tentativa de golpe de Estado a 6 de Janeiro de 2021, que ameaça com uma guerra civil, que se gaba de ter consigo os americanos que têm armas, que violou e viola todas as leis, comete fraudes como quem respira e acha que tem imunidade para fazer tudo o que quer, pela forma como moldou o Supremo Tribunal e os juízes que escolheu, politizando a justiça sem paralelo no passado, e que mostra claros sinais de desequilíbrio narcisista apresentando-se sempre como o “melhor”, “maior”, o “mais amado”, o “único capaz”, mentindo sobre tudo, dos números do crime e da imigração à sua performance no golfe. Será capaz de querer ser outro, ou de ser outro?

Tudo será grave mal ele ganhe as eleições, começará a vingança interna no minuto seguinte e, na hora seguinte, entregará a Ucrânia a Putin. Há os que dizem que Trump é “transaccional”, ou seja, se os aliados dos EUA pagarem os custos relativos à sua defesa, não haverá mudanças significativas na política americana face à OTAN e à Rússia. Duvido muito. O célebre plano para acabar a guerra na Ucrânia, e de passagem por Gaza, passa por dar a Putin e Netanyahu o que eles querem sem restrições, quando muito um qualquer acto de vassalagem ao génio da política internacional, Trump.

Há um homem que conhece bem Trump: Putin. Sob todos os aspectos. E há outro que conhece a vaidade de Trump, e isso basta: Kim Jong-un. Ambos sabem como manipulálo, embora no caso de Putin possa haver mais do que isso. Ambos querem o mundo a seus pés, a Ucrânia derrotada, a Europa subjugada, toda a terra e mar à volta da Coreia do Norte sob a chantagem nuclear da monarquia cruel iniciada por Kim Il-sung. Ambos sabem que o seu melhor instrumento é um homem, Trump, que acha ele próprio que manda em tudo e que comprou o espelho da Rainha Má a Elon Musk, que fez um espelho muito especial, que lhe responde que é sempre o melhor em tudo. Nestas coisas o Diabo é mesmo bom.

Velhas e Novas Extremas-Direitas

Em todo o mundo, as extremas-direitas que na geografia política estão no seu extremo, radicais, duras, sem alternativas factíveis, em tudo distantes dos inúmeros ramos clássicos da direita que perfaz conservadores, liberais, conservador-liberal, liberal-conservador, entre tantas desenhos possíveis que os englobam, são um fenômeno emotivo tanto aliciante para uma minoria e repulsiva para o Grande Número.

Eles desenvolvem a maior desconfiança dos filiados da direita clássica. Eles irritam além dessas Direitas, os Centros e as Esquerdas. Recentemente essa rejeição pelo Centro se deu em França como declarou o antigo primeiro-ministro do Centro de Macron, Édouard Philippe: “É necessário bloquear o "Reunião Nacional" (Rassemblement National, partido de extrema-direita). E no domingo (no último dia 7) do segundo turno votou num candidato de esquerda.

Apesar desta rejeição universal, a extrema-direita permanece. O que os caracteriza?

Primeiro, a crítica ao liberalismo político, inseparável da democracia pluralista. Em vez disso, aspiram a uma ordem política autoritária eleita, capaz de mobilizar as capacidades coercivas do Estado para manter a sociedade sob controle e disciplinada. Por isso se percebe que cultivam uma ideologia antiliberal a despeito de alguns deles se alegarem liberista e admirarem ditos líderes fortes.

Em segundo lugar, um foco intenso nas questões de segurança numa chave do século XVIII leitora de Hobbes, partindo do pressuposto de que vivemos num estado de exceção permanente, sitiados num ambiente de ameaças e riscos. Tal como no poema de 1904 de Konstantínos Kaváfis existimos sob a advertência de que os bárbaros chegarão hoje.

Terceiro, a vontade contínua de travar uma guerra ideológica e rodear-se de paliçadas morais. Com isto, colocaram os setores da direita clássica como Sparrings, fazendo-os parecer indiferentes e/ou pouco dispostos a defender fronteiras simbólicas e imaginárias à revelia das físicas e constitucionais. Ao mesmo tempo, transformam os Centros e as Esquerdas – por vezes como cúmplices – de um conglomerado de reivindicações tais como dos identitários, antinacionais, anticostumes e inimigas do bom senso.

É assim que a extrema-direita surge na cena global em toda a sua variedade: autoritária, contrária aos limites e equilíbrios da democracia liberal, com uma mentalidade de manada sitiada, disposta a reunir os ressentimentos da sociedade numa cruzada cultural contra os Centros que seriam Fracos e as ditas Esquerdas Woke.

Há espaço para tudo, desde o chamado anarcocapitalismo de Milei até ao capitalismo de compadrio de Putin; das ideologias eurocéticas as ultranacionalistas; desde aqueles “nostálgicos do fascismo”, como parcela dos Irmãos de Itália (Fratelli d'Italia), os cúmplices da ditadura de Pinochet; do “Deus acima de tudo”, pátria e família de Bolsonaro ao “a guerra foi vencida no nível espiritual” do elsalvadorenho Bukele; desde a acusação contra a direita clássica de ser uma “direita covarde e fraudadora”, como disse o chefe do Vox na Espanha, e até o José Antonio Kast que negou que o Chile nos governos do recém-falecido Sebastián Piñera era governos de direita.

Pois bem. Após termos acompanhado a Convenção do Partido Republicano em Milwaukee nos últimos dias é inequívoco dizer que houve nele a ascensão avassaladora de uma visão, de valores e de um projeto de restauração conservadora; de um nacionalismo cristão a favor de uma guerra ideológica contra tudo o que não é “norteamericano”. E inimigo do estrangeiro, diverso, híbrido. Ao mesmo tempo, um populismo surpreendente – vindo de um partido tradicionalmente plutocrático. A guerra ideológica da extrema-direita estava lá.

Daí que nós defensores e defensoras da democracia, liberdade e igualdade seguiremos a encorajar sempre a tolerância e a doçura emanadas da flor de lótus e as nossas tendências confessas a favor da paz.

Ataques a Kamala Harris: quando a misoginia é arma política

"Kamala Harris assumiu o controle do partido democrata por meio de suas habilidades de sexo oral”. Esse comentário misógino foi feito por um usuário americano do X (ex-Twitter) na noite de domingo pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciar que havia desistido de concorrer à reeleição e endossar Kamala Harris, sua vice, para concorrer em seu lugar.

Desde então, esse tipo de comentário passou a circular em massa nas redes sociais. Kamala é chamada por odiadores de "Blow Job Harris”, algo como "Boquete Harris” e outras ofensas misóginas horríveis.

Vale lembrar que Kamala ainda não é, até o fechamento desta coluna, a candidata oficial. Seu nome recebeu o endosso, além de Biden, de democratas poderosos como Bill e Hillary Clinton. A chance de que ela seja a indicada é alta. Mas de fato isso só deve ser oficialmente divulgado na convenção do partido, em agosto.

Mas só o fato de uma mulher negra ser a favorita para a vaga que vai concorrer contra o radical de direita Donald Trump já foi o suficiente para que uma tempestade de misoginia e racismo fosse despejada nas redes sociais. Kamala é chamada pelos haters de vadia, de louca e "retardada” (sic).


Esse tipo de ataque de ódio não começou no domingo e é incitado pelo próprio Donald Trump. Em um comício em Michigan, no sábado, o candidato radical de direita disse: "Eu a chamo de 'Kamala risonha'. Vocês já viram ela rindo? Ela é maluca. Ela é louca.”. Essa frase de Trump, famoso por sua misoginia, já mostra o tom da campanha de ódio que será lançada se Kamala de fato for candidata: o líder incita, seus súditos e apoiadores seguem na linha do ataque.
O ódio como método

A misoginia contra uma mulher que disputa um espaço de poder, ainda mais contra um famoso "machão”, não é empregada por acaso. Há método. A ideia é desqualificar a candidata usando o repertório sexista que conhecemos bem: falar que é louca, descontrolada, e que só chegou onde chegou por causa de habilidades sexuais e por ter se relacionado com homens poderosos.

Então, não é por acaso que, desde domingo, apoiadores de Trump vêm compartilhando no X uma mensagem que diz que Kamala só conquistou poder porque foi "amante de um famoso político democrata, um homem muito mais velho e casado”.

Trata-se de Willie Brown, ex-prefeito de São Francisco. A agência de notícias Reuters publicou uma checagem ainda em 2020, quando Harris disputava com Biden a vice-presidência. À época, mensagens desse tipo já circulavam, como ataque contra a candidata. O fato: Kamala Harris realmente namorou Brown na década de 90. Só que ele já estava separado há dez anos e o relacionamento com Kamala nunca foi um segredo. Mas quem liga para a realidade? "Amante”, dizem os haters nas redes.

Ataques fazem parte da disputa política, ainda mais a americana, que costuma ser realmente pesada. Mas tudo fica muito pior quando o alvo é uma mulher. Se for uma mulher negra, então, que é o caso de Kamala, a guerra é suja. A gente tem que se preparar para ver todo o tipo de preconceito sendo dito sem vergonha nos próximos meses.

Não estou falando que Kamala Harris não possa ser criticada. Claro que pode. E deve. Faz parte da democracia. Mas uma coisa é crítica sobre posições e atitudes de uma política. Outra coisa é usar misoginia e racismo para desqualificar uma mulher. Isso não dá para aceitar.

A misoginia rola solta no ambiente da política no mundo todo. Mas, nessas eleições, o desprezo às mulheres parece estar mesmo em alta nos EUA.

Em 14 de julho, Donald Trump sofreu um atentado, durante um comício na Pensilvânia, um fato que obviamente deplorável e que precisa ser condenado. Uma vítima e o assassino, um homem filiado ao Partido Republicano, morreram no local.

É absurdo e chocante que uma coisa assim tenha acontecido. Mas o que os republicanos influentes próximos a Trump fizeram depois do ataque? Disseram que a culpa era das…. agentes mulheres do Serviço Secreto, que, segundo eles, não tinham capacidade para proteger o ex-presidente.

Segundo essas pessoas, a inclusão de mais mulheres no Serviço Secreto nos últimos anos teria enfraquecido a capacidade de segurança da agência. No momento do atentado, várias mulheres com óculos e a vestimenta típica do serviço se lançaram para proteger Trump. Sim: se colocaram na linha de tiro, se arriscaram para fazer seu trabalho.

Mas a resposta dos misóginos foi atacar essas mulheres nas redes sociais. "Não deveria haver mulheres no Serviço Secreto. Os agentes devem ser os melhores e nenhum dos melhores é mulher”, escreveu no X o ativista de extrema direita Matt Walsh. Escuta, o assassino era um homem. Mulheres podem trabalhar onde quiserem. Deixem-nas fora disso.

O problema dessas pessoas com mulheres é patológico. E, sim, tudo indica que nós, mulheres, vamos passar muita raiva nos próximos meses.