sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Os senhores da razão
“O tempo é o senhor da razão”.
A frase acima era uma espécie de recado aos que o atacavam e pediam o seu impeachment. Algo assim como “vocês vão ver como eu estava certo”.
Uma forma de comunicação indireta e quase esquizoide, tentando atrair alguma simpatia dos poucos remanescentes que ainda acreditavam no homem e na lenda que ele criou sobre si mesmo.
Definitivamente, ele não era o homem que matou o facínora; aproximava-se mais do vulto do próprio facínora.Com a imagem inteiramente destruída desde que as peripécias de sua criminosa parceria com Paulo César Farias foram desvendadas por seu irmão Pedro, numa bombástica entrevista à revista Veja, Collor se tornou um morto vivo esperando apenas o momento de ser despejado do Palácio do Planalto.
A agonia de Collor teve uma certa espetaculosidade: eram as fontes do jardim da Casa da Dinda, era a Operação Uruguai (as famosas “sobras de campanha” de um empréstimo imaginário no Uruguai), era o apelo para que todos se vestissem de verde e amarelo para apoiá-lo (um desastre), eram boatos quentes e frios, até o dia em que ele finalmente foi visto pelas costas, marchando a passos largos rumo ao helicóptero que o levou para longe do poder.
Inglório final para a primeira eleição direta depois de 20 anos de ditadura militar.
Ruía o falso “caçador de marajás” depois de uma campanha política construída sobre um pedestal de barro, que transformou um político provinciano das Alagoas, com estreitas ligações com retrógrados usineiros de açúcar, em ícone da transformação e da modernização do país.
A construção da narrativa do “modernizador" e do “caçador de marajás”, reforçada na campanha por golpes baixos pessoais e morais dirigidos ao adversário, o sindicalista Lula da Silva, assentou-se na cuidadosa elaboração de um personagem fictício, que perseguia “marajás" e criticava duramente a indústria automobilística nacional, acusando-a de produzir “carroças “em vez de automóveis.
Em função da sôfrega demanda por moralização e modernização com que o País sonhava depois de 20 anos de atraso e estagnação, o eleitorado engoliu a pílula dourada e comprou gato por lebre. Ao dar-se conta do erro, escorraçou o gato e deu por encerrado esse trágico equívoco da história política do País.
O que acontece? Acontece que o tempo é o senhor da razão.
Parecia que, em 1989, o Brasil se separava irremediavelmente em dois blocos: Collor e suas fantasias e todos aqueles que, sedentos de ética, encheram as ruas pedindo seu impeachment.
Os caras pintadas, fortemente estimulados pelo PT e liderados por Carlos Lindenberg, que mais tarde seria eleito senador, invadiram a rua em busca de “ética na política”.
Collor foi posto para fora, os “éticos” chegaram ao poder, e depois deu-se tudo aquilo que as pessoas estão cansadas de saber.
Collor, derrubado por um Fiat Elba, foi absolvido pelo STF, que não encontrou nenhum dos crimes pelos quais foi afastado do poder, foi eleito senador por Alagoas, a garagem da Casa da Dinda encheu-se de Lamborghinis, Porsches e Ferraris, e agora ele é um protagonista de primeira linha da Operação Lava Jato.
O procurador geral da República, Rodrigo Janot, disse que Lula deu a Collor “ascendência" na BR Distribuidora, Cerveró diz que Dilma entregou ao “caçador de marajás” várias diretorias da empresa, e os caminhos do Bem e do Mal cruzaram-se na porta do cofre saqueado da maior empresa estatal brasileira.
O tempo é ou não é o senhor da razão?
A frase acima era uma espécie de recado aos que o atacavam e pediam o seu impeachment. Algo assim como “vocês vão ver como eu estava certo”.
Uma forma de comunicação indireta e quase esquizoide, tentando atrair alguma simpatia dos poucos remanescentes que ainda acreditavam no homem e na lenda que ele criou sobre si mesmo.
Definitivamente, ele não era o homem que matou o facínora; aproximava-se mais do vulto do próprio facínora.Com a imagem inteiramente destruída desde que as peripécias de sua criminosa parceria com Paulo César Farias foram desvendadas por seu irmão Pedro, numa bombástica entrevista à revista Veja, Collor se tornou um morto vivo esperando apenas o momento de ser despejado do Palácio do Planalto.
A agonia de Collor teve uma certa espetaculosidade: eram as fontes do jardim da Casa da Dinda, era a Operação Uruguai (as famosas “sobras de campanha” de um empréstimo imaginário no Uruguai), era o apelo para que todos se vestissem de verde e amarelo para apoiá-lo (um desastre), eram boatos quentes e frios, até o dia em que ele finalmente foi visto pelas costas, marchando a passos largos rumo ao helicóptero que o levou para longe do poder.
Inglório final para a primeira eleição direta depois de 20 anos de ditadura militar.
Ruía o falso “caçador de marajás” depois de uma campanha política construída sobre um pedestal de barro, que transformou um político provinciano das Alagoas, com estreitas ligações com retrógrados usineiros de açúcar, em ícone da transformação e da modernização do país.
A construção da narrativa do “modernizador" e do “caçador de marajás”, reforçada na campanha por golpes baixos pessoais e morais dirigidos ao adversário, o sindicalista Lula da Silva, assentou-se na cuidadosa elaboração de um personagem fictício, que perseguia “marajás" e criticava duramente a indústria automobilística nacional, acusando-a de produzir “carroças “em vez de automóveis.
Em função da sôfrega demanda por moralização e modernização com que o País sonhava depois de 20 anos de atraso e estagnação, o eleitorado engoliu a pílula dourada e comprou gato por lebre. Ao dar-se conta do erro, escorraçou o gato e deu por encerrado esse trágico equívoco da história política do País.
O que acontece? Acontece que o tempo é o senhor da razão.
Parecia que, em 1989, o Brasil se separava irremediavelmente em dois blocos: Collor e suas fantasias e todos aqueles que, sedentos de ética, encheram as ruas pedindo seu impeachment.
Os caras pintadas, fortemente estimulados pelo PT e liderados por Carlos Lindenberg, que mais tarde seria eleito senador, invadiram a rua em busca de “ética na política”.
Collor foi posto para fora, os “éticos” chegaram ao poder, e depois deu-se tudo aquilo que as pessoas estão cansadas de saber.
Collor, derrubado por um Fiat Elba, foi absolvido pelo STF, que não encontrou nenhum dos crimes pelos quais foi afastado do poder, foi eleito senador por Alagoas, a garagem da Casa da Dinda encheu-se de Lamborghinis, Porsches e Ferraris, e agora ele é um protagonista de primeira linha da Operação Lava Jato.
O procurador geral da República, Rodrigo Janot, disse que Lula deu a Collor “ascendência" na BR Distribuidora, Cerveró diz que Dilma entregou ao “caçador de marajás” várias diretorias da empresa, e os caminhos do Bem e do Mal cruzaram-se na porta do cofre saqueado da maior empresa estatal brasileira.
O tempo é ou não é o senhor da razão?
O certo virou errado
O governo carrega nas costas um milhão de leis que em vez de protegerem o povo protegem os criminosos. Quando menino, ouvindo alar de Sodoma no cheder, eu não entendia como toda uma cidade ou todo um país podia corromper-se. De uns tempos pra cá, passei a compreender. Sodoma tinha constituição, e nosso sobrinho, Lot, juntamente com os outros advogados, a reelaborou, de modo que o certo tornou-se errado, e o errado, certo.
Isaac Bashjevis Singer
O Brasil flerta com a morte
Tenho duas notícias para o jeca, uma ruim e outra boa: a ruim é que, sim, o sórdido lulopetismo agigantou as mazelas brasileiras para se arrumar na vida e se perenizar no poder, mas a súcia se lambuzou tanto – como admitiu aquele compositor baiano de óperas vigaristas, o Jaques – que a única dúvida é se o jeca contemplará a própria extinção política solto ou na cadeia. A boa notícia é que finalmente o técnico veio fazer a conversão do meu fogão para gás encanado.
Lúcido sempre, J. R. Guzzo, mais do que relativizar o impeachment, lembra que o Brasil perambula entre a ausência de governo e a incorporeidade da oposição. Qual a alternativa para, digamos, a prefeitura de São Paulo? O Brasil decente saberá ganhar as eleições municipais? Perguntas objetivas que apontam para a angústia no centro da alma do país indignado: a nossa fome.
O Brasil tem fome de quê? De impeachment, mas não só. Com ou sem impeachment, continuaremos tomando três refeições diárias (quem pode), escovando os dentes, dormindo, ouvindo música e tal, e também tendo de ganhar outras batalhas na luta para fazer deste um país que preste.
É nelas que as eleições municipais se inscrevem e que teriam de ser ganhas mesmo se o impeachment nem assunto fosse. OK, mas o meu, por favor, é com impeachment: aplicar a lei contra um governo ilegal mitigaria a fome de um país esbulhado apontando a importância da legalidade para uma nação minimamente viável.
Por quase uma semana, numa relação baseada nas promessas-desculpas dele e na minha cobrança indignada, eu e o técnico do fogão alcançamos uma espécie de familiaridade, estranhando-nos no país do compromisso cujas hora e data são só uma referência líquida. Apareceu com um jaleco aberto por cima de uma camiseta estampada com a foto do David Bowie e uma calça espacial de… técnicos de fogão fãs do Bowie.
Irresistível. Como detesto resistir ao irresistível, abrandei a manifestação da minha irritação pela demora: Ah, você também gosta do David Bowie? E mantive a naturalidade diante desse Brasil inverossímil e real na figura do técnico-astronauta de mármore no meio da minha cozinha e do auxiliar grave e gorduchoto que me obrigou a pensar no Sancho Pança, numa mistura camaleônica entre Cervantes e o gênio pop.
Dancei, namorei, viajei ao som de Bowie, tendo na alma a fome que nos alimenta e que, se passar, nos mata antes da morte. O Brasil flerta com a morte deixando a súcia lambuzar-se na noite lulopetista inteira; pareceu ter perdido a fome de futuro, de realizar as potencialidades que traz na alma.
Onde a fome da alma dele? Nesta coluna e territórios contíguos, na multiplicação dos indignados, no cerco inelutável conquanto lento da realidade. Meu fogão ficou perfeito e vou preparar um jantar para os amigos mais chegados que terão de trazer a própria cadeira, o que não tem importância nenhuma quando a fome não é só de comida.
Lúcido sempre, J. R. Guzzo, mais do que relativizar o impeachment, lembra que o Brasil perambula entre a ausência de governo e a incorporeidade da oposição. Qual a alternativa para, digamos, a prefeitura de São Paulo? O Brasil decente saberá ganhar as eleições municipais? Perguntas objetivas que apontam para a angústia no centro da alma do país indignado: a nossa fome.
É nelas que as eleições municipais se inscrevem e que teriam de ser ganhas mesmo se o impeachment nem assunto fosse. OK, mas o meu, por favor, é com impeachment: aplicar a lei contra um governo ilegal mitigaria a fome de um país esbulhado apontando a importância da legalidade para uma nação minimamente viável.
Por quase uma semana, numa relação baseada nas promessas-desculpas dele e na minha cobrança indignada, eu e o técnico do fogão alcançamos uma espécie de familiaridade, estranhando-nos no país do compromisso cujas hora e data são só uma referência líquida. Apareceu com um jaleco aberto por cima de uma camiseta estampada com a foto do David Bowie e uma calça espacial de… técnicos de fogão fãs do Bowie.
Irresistível. Como detesto resistir ao irresistível, abrandei a manifestação da minha irritação pela demora: Ah, você também gosta do David Bowie? E mantive a naturalidade diante desse Brasil inverossímil e real na figura do técnico-astronauta de mármore no meio da minha cozinha e do auxiliar grave e gorduchoto que me obrigou a pensar no Sancho Pança, numa mistura camaleônica entre Cervantes e o gênio pop.
Dancei, namorei, viajei ao som de Bowie, tendo na alma a fome que nos alimenta e que, se passar, nos mata antes da morte. O Brasil flerta com a morte deixando a súcia lambuzar-se na noite lulopetista inteira; pareceu ter perdido a fome de futuro, de realizar as potencialidades que traz na alma.
Onde a fome da alma dele? Nesta coluna e territórios contíguos, na multiplicação dos indignados, no cerco inelutável conquanto lento da realidade. Meu fogão ficou perfeito e vou preparar um jantar para os amigos mais chegados que terão de trazer a própria cadeira, o que não tem importância nenhuma quando a fome não é só de comida.
Ganha força o impeachment
A partir dessa nova onda de delações premiadas há quem se preocupe com a sorte do governo, da presidente Dilma, do ex-presidente Lula e do PT. Só por milagre eles recuperam popularidade e prestígio, mas podem perder mais coisa. A começar pelas eleições deste ano e de 2018, entrando na equação o próprio poder. O impeachment de Madame já não está tão longe quanto há duas ou três semanas. O volume de acusações dessa nova safra de denúncias surpreende pelo envolvimento, a participação e a tolerância de gente antes considerada acima de qualquer suspeita.
Tome-se a entrega da BR Distribuidora ao ex-presidente Fernando Collor pela presidente Dilma. Foi ao vivo, em audiência palaciana. Não há como desmentir a “doação”, confirmada pelo próprio ex-presidente e por Madame.
Nem vale à pena ficar citando as delações personalizadas de Fernando Baiano, Cerveró e outros personagens. Mesmo que estejam ampliando acusações ou até mentindo em determinadas situações, prevalece a natureza das coisas. Políticos, empreiteiros e altos funcionários públicos tem sido condenados e presos por ação da Justiça. O país inteiro toma conhecimento de suas falcatruas e roubalheiras.
Reflexos e consequências surgem inevitáveis. Primeiro o desprezo dedicado pelo cidadão comum aos políticos, mesmo com uns poucos sendo injustiçados. Depois, a descrença nas instituições. Junte-se a falência dos governos, do federal aos estaduais e municipais, e se terá a receita da rejeição, pelo povo, de quantos um dia imaginaram representá-lo.
É preciso prestar atenção no retorno de deputados e senadores a Brasília, no final do mês. Trarão na bagagem o sentimento de repúdio colhido junto às suas bases, até inutilmente dispostos a demonstrar pertencerem a outro universo, mas sabendo da mesma origem. Parece provável que venham menos tolerantes com o festival de corrupção revelado cada dia em maiores detalhes. Traduzindo: o impeachment da presidente Dilma ganhará força, senão bastante para destrona-la, pelo menos suficiente para intimidá-la. Cresce a certeza de que não adianta mais dar o dito pelo não dito e iniciar a ansiada recuperação nacional. Ninguém acreditaria. Nem eles.
O futuro da educação no Brasil
Chegamos ao início de 2016 rodeados e preocupados com uma forte crise econômica vivida pelo país. Um cenário de incertezas ronda a cabeça de todos os brasileiros e dezenas de perguntas permanecem sem respostas. Entre as dúvidas está o desenvolvimento da educação nacional.
No Brasil, todos os governos afirmam que a educação é uma meta prioritária. Ela foi e ainda é utilizada na plataforma eleitoral de todos os partidos. No entanto, a maior parte das promessas feitas durante a corrida eleitoral não é cumprida pelos que assumem o poder.
O desleixo com a educação no Brasil não é tema de debate recente. Em 1932, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, um documento que continha um diagnóstico conciso e propunha ações necessárias para uma mudança drástica no setor de educação. Em 1959, uma nova versão do mesmo manifesto foi feita.
O primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) foi pensado em 1962. Apenas 26 anos depois, em 1988, ele foi aprovado pelo Congresso e só em 2001 foi implantado. O PNE continha um conjunto de metas e estratégias para um período de dez anos. O segundo PNE foi aprovado recentemente pelo Congresso.
O que todos esses projetos têm em comum? A resposta é simples: eles não têm sido executados em sua totalidade. O futuro da educação nacional é incerto, mas é possível traçar possíveis caminhos na busca pela excelência e democratização do modelo educacional brasileiro. Para não perdermos em competitividade é preciso formar mão de obra qualificada; para atender as demandas da crescente classe média, que busca oportunidades de um futuro melhor, é preciso garantir a todos o acesso ao conhecimento.
De acordo com pesquisa realizada em 2013 pela consultoria McKinsey & Company, 48% dos empregadores brasileiros consideram a escassez de competências como a principal razão para vagas não preenchidas no nível iniciante. Para melhorar a educação é preciso pensarmos de forma ampla, e também podemos avaliar fórmulas que dão certo em outros países.
No Brasil, o ensino superior público é sinônimo de gratuidade e – não tanto quanto antes – essas instituições são reconhecidas, também, pela sua qualidade de ensino e pelo foco na formação acadêmica. Nos Estados Unidos, entretanto, até as universidades públicas são pagas. Lá, há uma diversidade de instituições voltadas à capacitação profissional de jovens que optam por seguir um caminho menos tradicional e acadêmico e mais voltado para o mercado de trabalho, as community colleges.
Na Europa, em 1999, 29 países aderiram à Declaração de Bolonha, visando estabelecer um padrão para o ensino superior na Europa. Na prática, a Declaração estabeleceu que por lá o ensino superior estaria dividido em três ciclos: o primeiro, com duração mínima de três anos, irá garantir o grau de licença ou graduado; o segundo corresponde ao grau de mestre e deve durar entre um ano e meio e dois anos; e o terceiro ciclo equivale ao grau de doutor. Esse sistema é válido para todos os Estados que aderiram à Declaração, promovendo um ciclo comum entre as instituições e proporcionando a mobilidade dos estudantes e pesquisadores.
Claro que elevar o padrão de qualidade da nossa educação não é só um requisito para a modernização do país e a melhoria das condições de vida dos brasileiros. É um requisito também para a inclusão demandada por uma sociedade desigual. O ensino de qualidade, especialmente no nível fundamental, que é o nível que mais afeta a cidadania, deve ser visto como um compromisso de todos.
Os conteúdos desnecessários em todos os níveis de ensino devem ser substituídos por exercícios que estimulem o pensar, a argumentação, a criatividade e a prática aplicada na resolução dos problemas. Não há outro caminho para o Brasil melhorar, para as ruas serem atendidas, para diminuir o grau de corrupção, para que se elejam políticos e governantes dignos, probos, para melhorar a qualidade do serviço público, da pesquisa, da tecnologia, de tudo no país, se não investirmos na educação de forma intensiva.
Janguiê Diniz
No Brasil, todos os governos afirmam que a educação é uma meta prioritária. Ela foi e ainda é utilizada na plataforma eleitoral de todos os partidos. No entanto, a maior parte das promessas feitas durante a corrida eleitoral não é cumprida pelos que assumem o poder.
O desleixo com a educação no Brasil não é tema de debate recente. Em 1932, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, um documento que continha um diagnóstico conciso e propunha ações necessárias para uma mudança drástica no setor de educação. Em 1959, uma nova versão do mesmo manifesto foi feita.
O primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) foi pensado em 1962. Apenas 26 anos depois, em 1988, ele foi aprovado pelo Congresso e só em 2001 foi implantado. O PNE continha um conjunto de metas e estratégias para um período de dez anos. O segundo PNE foi aprovado recentemente pelo Congresso.
O que todos esses projetos têm em comum? A resposta é simples: eles não têm sido executados em sua totalidade. O futuro da educação nacional é incerto, mas é possível traçar possíveis caminhos na busca pela excelência e democratização do modelo educacional brasileiro. Para não perdermos em competitividade é preciso formar mão de obra qualificada; para atender as demandas da crescente classe média, que busca oportunidades de um futuro melhor, é preciso garantir a todos o acesso ao conhecimento.
De acordo com pesquisa realizada em 2013 pela consultoria McKinsey & Company, 48% dos empregadores brasileiros consideram a escassez de competências como a principal razão para vagas não preenchidas no nível iniciante. Para melhorar a educação é preciso pensarmos de forma ampla, e também podemos avaliar fórmulas que dão certo em outros países.
No Brasil, o ensino superior público é sinônimo de gratuidade e – não tanto quanto antes – essas instituições são reconhecidas, também, pela sua qualidade de ensino e pelo foco na formação acadêmica. Nos Estados Unidos, entretanto, até as universidades públicas são pagas. Lá, há uma diversidade de instituições voltadas à capacitação profissional de jovens que optam por seguir um caminho menos tradicional e acadêmico e mais voltado para o mercado de trabalho, as community colleges.
Na Europa, em 1999, 29 países aderiram à Declaração de Bolonha, visando estabelecer um padrão para o ensino superior na Europa. Na prática, a Declaração estabeleceu que por lá o ensino superior estaria dividido em três ciclos: o primeiro, com duração mínima de três anos, irá garantir o grau de licença ou graduado; o segundo corresponde ao grau de mestre e deve durar entre um ano e meio e dois anos; e o terceiro ciclo equivale ao grau de doutor. Esse sistema é válido para todos os Estados que aderiram à Declaração, promovendo um ciclo comum entre as instituições e proporcionando a mobilidade dos estudantes e pesquisadores.
Claro que elevar o padrão de qualidade da nossa educação não é só um requisito para a modernização do país e a melhoria das condições de vida dos brasileiros. É um requisito também para a inclusão demandada por uma sociedade desigual. O ensino de qualidade, especialmente no nível fundamental, que é o nível que mais afeta a cidadania, deve ser visto como um compromisso de todos.
Os conteúdos desnecessários em todos os níveis de ensino devem ser substituídos por exercícios que estimulem o pensar, a argumentação, a criatividade e a prática aplicada na resolução dos problemas. Não há outro caminho para o Brasil melhorar, para as ruas serem atendidas, para diminuir o grau de corrupção, para que se elejam políticos e governantes dignos, probos, para melhorar a qualidade do serviço público, da pesquisa, da tecnologia, de tudo no país, se não investirmos na educação de forma intensiva.
Janguiê Diniz
Ano novo, problemas crônicos
Iniciamos 2016 com problemas conhecidos desses meses mais chuvosos: alagamentos, inundações, quedas de barreiras, comunidades isoladas. Apesar de não se ter controle sobre as precipitações hídricas, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira, a cada R$ 1 que poderia ser gasto em prevenção a desastres no Brasil, o Poder Executivo gasta R$ 37 para a recuperação e reconstrução. A grande questão é: Por que, no Brasil, insiste-se em atuar mais na resposta aos eventos, se o valor de reconstrução e/ou reparação após um desastre acaba custando muito mais que a prevenção e a mitigação dos danos dos mesmos? Não investir na redução de risco de desastres no período de normalidade, bem como em prevenção e mitigação de danos, faz com que os problemas ocasionados por eventos de origem natural, como inundações e alagamentos, se tornem crônicos, aumentando a magnitude dos prejuízos econômicos e socioambientais.
Patrícia Sottoriva (Leia mais)
Mais estado, menos Estado
Desde a proclamação da República, o Brasil, em seu próprio nome, se diz uma federação. Começamos com “República dos Estados Unidos do Brasil”, depois passamos a simplesmente “Estados Unidos do Brasil”, e mais recentemente nos assumimos “República Federativa do Brasil”. Mas deixemos os nomes de lado e olhemos para a realidade: seria o Brasil uma federação de fato?
A Constituição Federal de 1988 enterrou qualquer ideia de federação. Na verdade, ela trouxe muitos outros males para o país, mas o assunto é suficiente para uma série inteira de artigos – coisa para um futuro próximo. No tocante ao assunto de hoje, é importante dizer que nossa última Constituição tira autoridade e recursos das mãos de estados e municípios e os centraliza na União, um movimento exatamente oposto ao federalismo.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, cheio de diferenças marcantes entre populações e realidades regionais, e com uma diversidade cultural imensa, favorecer um poder central não é, de forma alguma, uma boa solução. Os estragos que podem ser feitos num modelo como esse são do pior tipo, e fazem parte da atualidade brasileira: temos um governo federal inchado, em cujos meandros se instalou uma casta de corruptos, com instituições aparelhadas e uma política econômica equivocada ao extremo. Os estados não têm praticamente como fazer frente a nenhuma decisão do governo federal, pois lhes falta autonomia legislativa, e seus orçamentos dependem de repasses feitos pela União. São como filhos adolescentes, que não decidem nada de importância em casa e vivem sob a ameaça do corte da mesada.
No dia 8 de janeiro deste ano, o governador do estado norte-americano do Texas divulgou um documento extenso e bem fundamentado, cuja nome traduz-se como “Restaurando o Estado de Direito com os estados liderando o caminho”. Nele, o governador Greg Abbott sugere nove emendas à Constituição dos Estados Unidos, todas fortalecendo os estados e tirando poder do governo federal. São elas:
1. Proibir o Congresso Nacional de regular atividades que ocorram exclusivamente em um estado;
2. Exigir que o Congresso Nacional execute o equilíbrio fiscal;
3. Proibir as agências reguladoras e administrativas – e seus burocratas não eleitos – de criar leis federais;
4. Proibir as agências reguladoras e administrativas – e seus burocratas não eleitos – de impedir leis estaduais;
5. Permitir que uma maioria de dois terços dos estados anule uma decisão da Suprema Corte;
6. Exigir uma “supermaioria” de sete juízes para qualquer decisão da Suprema Corte que invalide uma lei democraticamente aprovada;
7. Restaurar o equilíbrio de poder entre os governos federal e estaduais, limitando aquele aos poderes expressamente delegados pela Constituição;
8. Dar aos oficiais estaduais o poder de processar os oficiais federais em cortes federais quando estes agirem além de seus limites;
9. Permitir que uma maioria de dois terços dos estados anule uma lei ou um regulamento federal.
Embora os Estados Unidos tenham uma Constituição muito voltada ao federalismo e os estados possuam bastante autonomia para legislar e para arrecadar, o governo federal americano atingiu níveis de burocracia, dívida pública, intervencionismo e intromissão na vida dos cidadãos que são incompatíveis com uma democracia de verdade. Mas a própria Constituição americana fornece o remédio para tal situação em seu Artigo 5.º, remédio do qual Greg Abbott ameaça lançar mão: uma Convenção dos Estados, capaz de propor e aprovar emendas constitucionais de forma independente. É a democracia acontecendo dentro da estrutura mesma de poder.
A realidade brasileira é bem diferente, e nosso governo federal interfere na vida dos cidadãos em níveis intoleráveis. O isolamento dos poderes em Brasília, o comportamento legislador de nossa suprema corte, a submissão do Congresso Nacional ao Poder Executivo, a fraqueza dos estados e municípios, o desequilíbrio de representatividade entre os cidadãos de diferentes estados, os níveis mundialmente inéditos de burocracia estatal e todos os direitos afirmativos garantidos pela Constituição de 1988, só para citar alguns problemas, são como uma âncora, impedindo o país de avançar social e economicamente.
Onde está o nosso Greg Abbott?
A Constituição Federal de 1988 enterrou qualquer ideia de federação. Na verdade, ela trouxe muitos outros males para o país, mas o assunto é suficiente para uma série inteira de artigos – coisa para um futuro próximo. No tocante ao assunto de hoje, é importante dizer que nossa última Constituição tira autoridade e recursos das mãos de estados e municípios e os centraliza na União, um movimento exatamente oposto ao federalismo.
No dia 8 de janeiro deste ano, o governador do estado norte-americano do Texas divulgou um documento extenso e bem fundamentado, cuja nome traduz-se como “Restaurando o Estado de Direito com os estados liderando o caminho”. Nele, o governador Greg Abbott sugere nove emendas à Constituição dos Estados Unidos, todas fortalecendo os estados e tirando poder do governo federal. São elas:
1. Proibir o Congresso Nacional de regular atividades que ocorram exclusivamente em um estado;
2. Exigir que o Congresso Nacional execute o equilíbrio fiscal;
3. Proibir as agências reguladoras e administrativas – e seus burocratas não eleitos – de criar leis federais;
4. Proibir as agências reguladoras e administrativas – e seus burocratas não eleitos – de impedir leis estaduais;
5. Permitir que uma maioria de dois terços dos estados anule uma decisão da Suprema Corte;
6. Exigir uma “supermaioria” de sete juízes para qualquer decisão da Suprema Corte que invalide uma lei democraticamente aprovada;
7. Restaurar o equilíbrio de poder entre os governos federal e estaduais, limitando aquele aos poderes expressamente delegados pela Constituição;
8. Dar aos oficiais estaduais o poder de processar os oficiais federais em cortes federais quando estes agirem além de seus limites;
9. Permitir que uma maioria de dois terços dos estados anule uma lei ou um regulamento federal.
Embora os Estados Unidos tenham uma Constituição muito voltada ao federalismo e os estados possuam bastante autonomia para legislar e para arrecadar, o governo federal americano atingiu níveis de burocracia, dívida pública, intervencionismo e intromissão na vida dos cidadãos que são incompatíveis com uma democracia de verdade. Mas a própria Constituição americana fornece o remédio para tal situação em seu Artigo 5.º, remédio do qual Greg Abbott ameaça lançar mão: uma Convenção dos Estados, capaz de propor e aprovar emendas constitucionais de forma independente. É a democracia acontecendo dentro da estrutura mesma de poder.
A realidade brasileira é bem diferente, e nosso governo federal interfere na vida dos cidadãos em níveis intoleráveis. O isolamento dos poderes em Brasília, o comportamento legislador de nossa suprema corte, a submissão do Congresso Nacional ao Poder Executivo, a fraqueza dos estados e municípios, o desequilíbrio de representatividade entre os cidadãos de diferentes estados, os níveis mundialmente inéditos de burocracia estatal e todos os direitos afirmativos garantidos pela Constituição de 1988, só para citar alguns problemas, são como uma âncora, impedindo o país de avançar social e economicamente.
Onde está o nosso Greg Abbott?
Corrupção e o PT: avalanche de melado
Nos noticiários as TVs apresentam amenidades, acidentes, notícias do exterior, poucas notas políticas. Tudo repetido à exaustão. O Brasil de férias quase não toma conhecimento dos recorrentes assaltos à coisa pública, que vão sendo descortinados por delatores loucos para salvar a pele. Eles vendaram a alma ao “diabo” do PT e agora estão pagando com juros e correção monetária.
Enquanto isto o melado com o qual o PT se lambuzou continua a percorrer distâncias e vai envolvendo figuras do alto escalão governamental. Parece a lama sinistra que se abateu sobre o distrito de Mariana soterrando tudo, matando gente, invadindo lonjuras, contaminando rios, confiscando o azul dos mares. Foi a maior catástrofe ambiental já havida no País, assim como a avalanche de melado da corrupção da era PT não tem comparação com as roubalheiras do passado, tal seu grau de institucionalização e volume.
Interessante é que o autor da frase, “o PT se lambuzou”, ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, agora se encontra lambuzado, sendo que outros ministros comeram também bastante do melado. Pelo menos é o que se lê no O Estado de S. Paulo, de 8 de janeiro de 2016:
“Lava Jato – Além de Jaques Wagner, Edinho Silva (Comunicação) e Henrique Alves (Turismo) são citados em diálogos do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, condenado a 16 anos de prisão”.
Também é mencionado no respectivo jornal o atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Ao mesmo tempo, o notório Cerveró, ex-diretor da Petrobras, menciona Jaques Wagner em algumas grossas, como diria Lula da Silva, maracutaias.
Nada acontece com o presidente de fato, que depôs pela quarta vez na Polícia Federal sobre uma generosa medida provisória que beneficiou um de seus filhos. E enquanto seus outrora “amigos íntimos”, aqueles que privaram de sua intimidade, que festejaram juntos em magníficos banquetes, que se divertiram com Brahma em suntuosas viagens estão vendo o sol nascer quadrado, “o pobre operário” segue indiferente à desdita dos companheiros de partido e “das zelites”. Não sei se esse traço de personalidade é próprio da humanidade como um todo ou mais acentuado em certos indivíduos sem caráter.
Em todo caso, o espertíssimo ex-presidente da República, grande beneficiado da locupletação geral não sabe de nada, não viu nada e, se duvidar, não conhece nenhum imbecil que caiu na esparrela, conforme taxou o senador petista e ora detento, Delcídio Amaral.
Lula da Silva foge dos “imbecis” como o diabo da cruz. Eles podem contaminar seu projeto de poder. Afogá-lo no pote de melado. No momento vislumbra-se apenas um fiozinho de melado a lhe escorrer pela barba. Foi posto por Cerveró que o mencionou quase que de passagem, a lembrar de que até a sorte acaba um dia nesse mundo de finitudes. Nada, porém, de previsões açodadas porque Brahma ou Boi até agora escapou. Ele conta com proteções internas e possivelmente externas, como as do Foro de São Paulo.
Há de se convir que o PT ainda detém força suficiente para evitar males piores. Exemplo disto foi o anteparo do STF que evitou por duas vezes o impeachment de Rousseff, com evidente e indevida intromissão no Legislativo. Ela ficará por mais três anos sem nenhuma condição de governabilidade, fazendo discursos que são peças de propaganda enganosa a se desmanchar na primeira ida das donas de casa ao supermercado. Enquanto isso o País afundará cada vez mais na recessão e na sua insignificância de potência regional sul-americana, a ser suplantada pela Argentina sob a presidência de Mauricio Macri.
Seguem-se outros exemplos do poder petista, como aqueles que tentam torpedear a extraordinária e inédita Operação Lava-Jato. É o caso do chamado desmonte da PF através do corte de R$ 133 milhões no seu orçamento. Foi votado no Congresso, mas tem evidente dedo do Executivo. Outro exemplo foi o da medida provisória assinada por Rousseff, que altera as bases da Lei Anticorrupção. Desse modo, se aprovada no Congresso empresas corruptas poderão fazer acordos de leniência com a CGU sem precisar colaborar com as investigações nem prestar contas ao TCU. Também poderão fechar contratos com o governo e receber verbas públicas. Não faltam também investidas do ministério da Justiça contra o competente e ilibado juiz Sérgio Moro.
Sem dúvida, o PT resiste diante do mar de melado que o submerge. Seu grande teste, porém, será nas eleições municipais desse ano. Se o povo achar que são lícitas as doçuras corruptas do poder, enquanto amarga a inflação, o desemprego, a inadimplência, ótimo para os petistas. Se não Lula terá, em 2018, que pensar em outro plano B.
No passado escolheu José Dirceu, depois Antonio Palocci e deu no que deu. Agora Jaques Wagner era (ou é?) o plano B, mas comeu muito melado. Dilma, a “faxineira”, vai mantê-lo no cargo? Certamente, mas nem tomando banho de ervas e sal grosso, Jaques Wagner, codinome compositor, se livrará do melado.
Maria Lucia Victor Barbosa
Enquanto isto o melado com o qual o PT se lambuzou continua a percorrer distâncias e vai envolvendo figuras do alto escalão governamental. Parece a lama sinistra que se abateu sobre o distrito de Mariana soterrando tudo, matando gente, invadindo lonjuras, contaminando rios, confiscando o azul dos mares. Foi a maior catástrofe ambiental já havida no País, assim como a avalanche de melado da corrupção da era PT não tem comparação com as roubalheiras do passado, tal seu grau de institucionalização e volume.
Interessante é que o autor da frase, “o PT se lambuzou”, ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, agora se encontra lambuzado, sendo que outros ministros comeram também bastante do melado. Pelo menos é o que se lê no O Estado de S. Paulo, de 8 de janeiro de 2016:
“Lava Jato – Além de Jaques Wagner, Edinho Silva (Comunicação) e Henrique Alves (Turismo) são citados em diálogos do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, condenado a 16 anos de prisão”.
Também é mencionado no respectivo jornal o atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Ao mesmo tempo, o notório Cerveró, ex-diretor da Petrobras, menciona Jaques Wagner em algumas grossas, como diria Lula da Silva, maracutaias.
Nada acontece com o presidente de fato, que depôs pela quarta vez na Polícia Federal sobre uma generosa medida provisória que beneficiou um de seus filhos. E enquanto seus outrora “amigos íntimos”, aqueles que privaram de sua intimidade, que festejaram juntos em magníficos banquetes, que se divertiram com Brahma em suntuosas viagens estão vendo o sol nascer quadrado, “o pobre operário” segue indiferente à desdita dos companheiros de partido e “das zelites”. Não sei se esse traço de personalidade é próprio da humanidade como um todo ou mais acentuado em certos indivíduos sem caráter.
Em todo caso, o espertíssimo ex-presidente da República, grande beneficiado da locupletação geral não sabe de nada, não viu nada e, se duvidar, não conhece nenhum imbecil que caiu na esparrela, conforme taxou o senador petista e ora detento, Delcídio Amaral.
Lula da Silva foge dos “imbecis” como o diabo da cruz. Eles podem contaminar seu projeto de poder. Afogá-lo no pote de melado. No momento vislumbra-se apenas um fiozinho de melado a lhe escorrer pela barba. Foi posto por Cerveró que o mencionou quase que de passagem, a lembrar de que até a sorte acaba um dia nesse mundo de finitudes. Nada, porém, de previsões açodadas porque Brahma ou Boi até agora escapou. Ele conta com proteções internas e possivelmente externas, como as do Foro de São Paulo.
Há de se convir que o PT ainda detém força suficiente para evitar males piores. Exemplo disto foi o anteparo do STF que evitou por duas vezes o impeachment de Rousseff, com evidente e indevida intromissão no Legislativo. Ela ficará por mais três anos sem nenhuma condição de governabilidade, fazendo discursos que são peças de propaganda enganosa a se desmanchar na primeira ida das donas de casa ao supermercado. Enquanto isso o País afundará cada vez mais na recessão e na sua insignificância de potência regional sul-americana, a ser suplantada pela Argentina sob a presidência de Mauricio Macri.
Seguem-se outros exemplos do poder petista, como aqueles que tentam torpedear a extraordinária e inédita Operação Lava-Jato. É o caso do chamado desmonte da PF através do corte de R$ 133 milhões no seu orçamento. Foi votado no Congresso, mas tem evidente dedo do Executivo. Outro exemplo foi o da medida provisória assinada por Rousseff, que altera as bases da Lei Anticorrupção. Desse modo, se aprovada no Congresso empresas corruptas poderão fazer acordos de leniência com a CGU sem precisar colaborar com as investigações nem prestar contas ao TCU. Também poderão fechar contratos com o governo e receber verbas públicas. Não faltam também investidas do ministério da Justiça contra o competente e ilibado juiz Sérgio Moro.
Sem dúvida, o PT resiste diante do mar de melado que o submerge. Seu grande teste, porém, será nas eleições municipais desse ano. Se o povo achar que são lícitas as doçuras corruptas do poder, enquanto amarga a inflação, o desemprego, a inadimplência, ótimo para os petistas. Se não Lula terá, em 2018, que pensar em outro plano B.
No passado escolheu José Dirceu, depois Antonio Palocci e deu no que deu. Agora Jaques Wagner era (ou é?) o plano B, mas comeu muito melado. Dilma, a “faxineira”, vai mantê-lo no cargo? Certamente, mas nem tomando banho de ervas e sal grosso, Jaques Wagner, codinome compositor, se livrará do melado.
Maria Lucia Victor Barbosa
O mundo a partir de casa
É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo.
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo. Al Berto (Alberto Raposo Pidwell Tavares, 1948-1997, in "Entrevista à revista Ler-1989)"
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