sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Fala de Bolsonaro revela preconceito em relação a índios e desconhecimento sobre a questão

A fala do presidente Jair Bolsonaro sobre os índios carrega um preconceito inaceitável. Ele disse na quinta-feira que o índio está evoluindo e que, “cada vez mais”, é “um ser humano igual a nós.” Bolsonaro já falou outras coisas nesse sentido, e desta vez foi explícito. Além do preconceito, o presidente tem deixado evidente que não entendeu a questão indígena.

— O índio mudou, tá evol... Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Então, vamos fazer com que o índio se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente quer aqui — disse o presidente, na transmissão ao vivo pela Internet.

O Brasil cometeu muitos erros com os povos originais e tem uma conta histórica negativa. Na redemocratização, o debate com indigenistas foi mostrando que o melhor caminho era respeitar a maneira como cada tribo quer viver, sem forçar contatos com os povos.

O indigenismo atual surgiu após a ditadura. O período militar cometeu diversos crimes contra os indígenas. Tentou transformá-los em soldados e integrá-los nas cidades. Muitos morreram ou ficaram sem suas raízes culturais. Eles se perderam das mais variadas formas. Essa história terminou em tragédias. 

A Constituição estabeleceu vários poderes para a população indígena. Mas eles não são donos da terra, que é da União. Esse foi o começo do acerto do Brasil com suas populações originais.

O presidente não entende a importância dessa política. Os indígenas cumprem o papel de proteger o meio ambiente, é como se eles prestassem esse serviço ao restante da nação. É possível ver isso, por exemplo, no interior do Maranhão. A mata original foi derrubada. Quando aparece uma floresta, é porque chegamos a um território indígena de recente contato. É a experiência é de ter entrado em um paraíso.

Isso precisa ser entendido. Bolsonaro tem a mesma visão dos governos militares, o que provocou muita morte nos anos 1970. Sempre que o presidente fala do tema é para defender a mineração no território dos índios, se reúne com garimpeiros. A Funai é enfraquecida a cada dia, as coordenadorias regionais são transferidas com frequência. O presidente anterior da Fundação saiu alertando para o desmonte da Funai.

É grave o que está acontecendo. Além do preconceito, a frase revela os erros da política indigenista, que pode nos fazer inúmeros prejuízos em todas as áreas. O mais importante é defender as populações indígenas e entender o processo que levou a uma política mais eficiente e civilizada na relação com povos indígenas que, sim, são seres humanos desde o início, obviamente.

Brasil adianta ponteiros do Relógio do Juízo Final

O Relógio do Juízo Final teve seus ponteiros ajustados nesta quinta-feira para a marca de apenas 100 segundos para a meia-noite, simbolizando o maior perigo para a humanidade registrado desde criação do dispositivo em 1947.

O Brasil foi citado pela primeira vez como um dos causadores do aumento do nível de perigo em razão das políticas ambientais do governo e do desmantelamento da proteção à Amazônia.

O avanço dos ponteiros foi decidido pelo Boletim de Cientistas Atômicos, um painel internacional de especialistas que controla o dispositivo e conta com a participação de 13 ganhadores do prêmio Nobel.


Outros fatores levados em conta foram o aumento das tensões internacionais, a maior utilização de tecnologias destrutivas, a militarização do espaço e o desenvolvimento de novas armas supersônicas, além do risco de uma nova corrida nuclear.

"Passamos a contar em segundos o quanto estamos próximos de uma catástrofe, não em horas ou minutos", disse Rachel Bronson, presidente do organismo. O Relógio do Juízo Final foi inicialmente criado para medir os riscos de uma catástrofe nuclear, mas desde 2007 passou a incluir também as mudanças no clima do planeta e seus efeitos.

"No ano passado, alguns países agiram para combater as mudanças climáticas enquanto outros, incluindo os Estados Unidos, que deixaram o acordo de Paris, e o Brasil, que desmantelou políticas de proteção à floresta amazônica, deram vários passos para trás", afirma o grupo de cientistas em comunicado.

Entre as causas de preocupação, os cientistas destacaram o fracasso da Conferência do Clima em Madri, o aumento das emissões de CO2 e incêndios de grandes proporções ocorridos "desde o Ártico até a Austrália".

No ano passado, o aumento das queimadas na Amazônia gerou comoção internacional e fez com que o Brasil se tornasse alvo de pesadas críticas de governos e organizações ambientalistas em todo o mundo.

Em 2019, em torno de 10 mil quilômetros quadrados de floresta foram devastados no Brasil. O desmatamento na Amazônia cresceu 85,3% em comparação com 2018, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Brasil abriga 60% da Floresta Amazônica, que é um regulador chave para os sistemas vivos do planeta e também para o índice de chuvas no país. Suas árvores absorvem cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano e liberam 20% do oxigênio do planeta.

Depois de ter sido considerado uma história de sucesso ambiental, o Brasil vem perdendo prestígio, principalmente desde a eleição de Jair Bolsonaro à presidência. Ele já declarou várias vezes a intenção de explorar a floresta amazônica, ameaçando reservas naturais e terras indígenas, e chegou a negar a existência de mudanças climáticas.

Devido ao discurso do presidente e à agenda ambiental do governo, especialistas temem que o desmatamento no Brasil atinja níveis alarmantes nos próximos anos.

O Relógio do Juízo Final foi inicialmente acertado em sete minutos para a meia-noite. A pior marca até agora – dois minutos para a meia-noite – havia sido registrada nos anos de 2018 e 2019.

Segundo o dispositivo, o mais longe que a humanidade já esteve de uma catástrofe foi em 1991 com o fim da Guerra Fria, quando o relógio marcou 17 minutos para o fim dos tempos.
Deutsche Welle

A fé do Brasil dividido

Não passa semana sem que jornais e revistas divulguem dados e análises que mostram o declínio numérico dos católicos em relação ao conjunto das outras religiões. Ou, mais especificamente, em relação aos evangélicos. Agora mesmo, uma nova análise prevê que em 2035 o catolicismo deixará de ser a religião da maioria da população brasileira. Os evangélicos serão maioria. Essa redução do tema a mera demografia da fé esvazia as religiões do que lhes é próprio e anula seu tema essencial - que são o sagrado e os ritos por meio dos quais se expressa.

Enquanto as análises, nessa perspectiva, descosturam as religiões, o ecumenismo junta o catolicismo e diferentes religiões, protestantes e ortodoxas, numa outra unidade, de uma nova religiosidade. De oposição e de revisão crítica das crenças que sucumbiram à mentalidade de supermercado e ao afã de poder.

Não se diz, mas a maioria evangélica dessa reflexão é apenas nominal, já que dividida em diferentes igrejas, que competem entre si pela alma dos pecadores. E até pela natureza dos pecados que congregam os respectivos membros. Há pecados de ricos e pecados de pobres, difere a fé de uns e outros e, portanto, a respectiva religiosidade.

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Não é estranho, pois, que o simbolismo das vestes cerimoniais do celebrante anteponha um bispo neopentecostal revestido de paramentos judaicos a um missionário neopentecostal de outra igreja, que no púlpito não usa o quipá, mas o chapéu de vaqueiro dos filmes de faroeste. A principal questão nessas mudanças na demografia religiosa é a de saber qual é o Deus que delas nasce.

O catolicismo continuará a ser a religião da maioria dos brasileiros, mesmo depois de 2035. É que, se o catolicismo é tratado como uma religião, cada uma das igrejas evangélicas concorrentes é também única. Nesse sentido, é cada uma delas muito minoritária. Sem contar que as igrejas neopentecostais nem mesmo podem ser reduzidas às pentecostais, bem diferentes. O artifício meramente estatístico de agrupá-las, no censo, na categoria de evangélicas, não faz delas de fato uma unidade religiosa, uma igreja ou uma religião única. Há entre elas grandes diferenças de concepção do cristianismo.

O que os analistas não têm mencionado é que o catolicismo, apesar de suas diferenças internas, mantém sua unidade centrada na autoridade simbólica e doutrinária do papa. Já os evangélicos se fragmentam continuamente. O que resulta na multiplicação das pequenas igrejas neopentecostais que se instalam no pequeno espaço do que foi antes um botequim ou uma farmácia.

Essas pequenas igrejas, organizadas por pastores simples, representam uma disputa de clientela com as grandes igrejas neopentecostais. Estas tendem a expressar os anseios de ascensão social da classe média que vem se evadindo da Igreja Católica, mas também de algumas igrejas protestantes tradicionais e mesmo de outras igrejas neopentecostais e pentecostais.

As pequenas igrejas expressam os sentimentos comunitários e a religiosidade dos simples, os que carecem de vida e vida em abundância. Os que aceitam que a prosperidade na teologia da ascensão social é a recompensa dos que professam a fé mediada pelo cálculo.

As religiões ocupam um espaço cada vez maior na realidade social, não só aqui. As guerras e os riscos de guerra, na atualidade, estão dominados pela temática e pela motivação religiosa. No Brasil, o embate político principal já não é entre direita e esquerda, apesar de tudo que se diz. O embate é religioso. É busca do poder como meio de impor ao conjunto da sociedade os valores desses grupos culturalmente minoritários, conservadores e frequentemente intolerantes. Está surgindo aqui uma religião do poder e por meio dela se firma o poder da religião. Nessa metamorfose, a democracia sucumbe, não o catolicismo.

Para o catolicismo e para as igrejas cristãs tradicionais, como se vê nos esforços e nos valores religiosos do movimento ecumênico, o que está em jogo não é a disputa entre as religiões. O que está em disputa é a vitalidade e o sentido do sagrado. Está em disputa, também, a religião contra a coisificação dos seres humanos na cultura da pós-modernidade.

Várias das religiões que estão se disseminando entre nós expressam o homogenismo materialista do pensamento único, o que torna cada vez mais difícil ser crítico e autodefensivo em relação à crescente incapacidade de muitos de ver a decisiva diferença entre Deus e poder. Entre as igrejas da caixa da esmola e as igrejas da caixa registradora.

Na nova unidade dos cristãos, a polarização não é entre católicos e evangélicos, mas entre fé e poder. Um retorno ao cristianismo da insurgência contra os vendilhões do templo e a desumanização do homem.
José de Souza Martins

Ala militar precisa conter Paulo Guedes antes que ele venda o Brasil por 30 dinheiros

Os militares que assessoram o presidente Jair Bolsonaro precisam fazer com que ele entenda que de nada adianta a independência político-territorial do país, enquanto não existir independência econômica. Na verdade, o maior risco que o Brasil corre na gestão atual é justamente perder a independência econômica, caso a equipe conduzida pelo ministro Paulo Guedes não venha a ser contida pelo chefe do governo.

Não é possível permitir que Paulo Guedes continue a desfrutar de autonomia completa, porque ele confessadamente não atua tendo por base os interesses nacionais. Agora mesmo, em Davos, o czar da economia defendeu a abertura das concorrências do governo à participação das empresas internacionais que nem estejam operando no país.


A tese que Guedes adota na filial Brazil desmoraliza completamente as práticas adotadas pela matriz USA. Basta lembrar que, para sair da Grande Depressão, em 1933 o governo Herbert Hoover aprovou no Parlamento o “Buy American Act”, uma legislação altamente protecionista, que o governo Ronald Reagan aperfeiçoou em 1983, ao estabelecer preferência ao uso de materiais produzidos no país em quaisquer aquisições para o setor de transporte de massa, financiadas pelo menos em parte por fundos federais.

Aqui no Brasil, Guedes quer fazer o contrário e desprestigiar o produto Made in Brazil. Nessa iniciativa nada patriótica, ele conta com apoio irrestrito da quase totalidade de sua equipe, especialmente do economista Roberto Castello Branco, que preside a Petrobras e diz que todos os ativos dele são privatizáves.

Doutor pela Universidade de Chicago, amigo pessoal e ex-sócio de Paulo Guedes, de quem desfruta total intimidade, no ano passado Castello deu declarações estarrecedoras a Bruno Rosa e Ramona Ordoñez, de O Globo. Revelou seu “sonho” de pôr fim a todas as empresas estatais e defendeu até a extinção do BNDES aqui na filial Brazil, esquecido de que a matriz USA não revela a menor intenção de vender suas estatais. Aliás, Inglaterra, Suécia, Japão, Coreia do Sul e muitas outras nações também não pretendem fazê-lo.

Não cabe ao presidente da Petrobras fixar a política estratégica do Ministério de Minas e Energia nem dar declarações a respeito. A fixação dessas diretrizes é atribuição direta da Presidência da República e está acima da competência do próprio ministro – no caso, o almirante Bento Albuquerque, que tem se mantido discreto.

Roberto Castello Branco, no entanto, se comporta de modo inoportuno, inconveniente e impróprio. Seria uma espécie de porta-voz informal do presidente Bolsonaro? Estaria falando em nome do ministro Guedes? Ou trata-se mesmo de um caso de internação?

Além disso, é muito estranho que ele venha a defender a extinção do BNDES, um banco de fomento criado por Getúlio Vargas em 1952 e que se mostrou importantíssimo na industrialização do país. Era o maior banco de desenvolvimento do mundo, até ser superado por sua versão chinesa, o CDB (Banco de Desenvolvimento da China), criado em 1994 à imagem e semelhança do BNDES, depois que um grupo de economistas chineses visitou o Brasil.

Paulo Guedes fala mal dos banqueiros, mas não é para valer. Na semana passada, até disse que a alternativa à sua política econômica será “o Brasil continuar dominado por seis bancos e seis empreiteiras”. Na prática, está em pleno desenvolvimento sua armação para beneficiar os banqueiros (via reforma da Previdência e extinção do BNDES), e tudo é feito às claras, sem subterfúgios.

Se os militares não percebem essas verdades, então sigam em frente, privatizem a Previdência, vendam todas as estatais, especialmente a Petrobras, que está no quarto lugar no ranking da produtividade do setor, e acabem logo com o BNDES, entreguem o país a Guedes e seus áulicos, mas nada mudará, a dívida pública continuará crescendo e o país desmoronando. Podem apostar.