Alguns lobos velhos da imprensa, desdentados de tanto rancor, veem golpe até na própria sombra. É alguém ameaçar Dilma e o Planalto com a lei, com a Constituição, com as instituições, e eles tossem suas ignomínias: “Golpe… Cof, cof, cof… Golpe!”.
Alguns estão mais para vampiros com sede de sangue. Sangue do povo nas ruas.
Michel Temer, vice-presidente, veio a público e deu a seguinte declaração:
“A Câmara dos Deputados tomou uma deliberação ontem no exercício legítimo da sua competência. E posteriormente, em face de medida judicial, o Supremo suspendeu temporariamente e preliminarmente esta medida, para o exame posterior pelo plenário. Isso revela exatamente que nós vivemos num regime de normalidade democrática extraordinária. As instituições estão funcionando, e nós devemos preservar aquilo que as instituições estão fazendo e revelar, com isto, a democracia plena do país”.
Eis aí. Entre outras coisas, é disto que o país precisa: de alguém que seja capaz de fazer baixar as tensões em vez de elevá-las.
Não faltará quem sustente que a fala de Temer não diz nada. Diz, sim! A Câmara tomou uma decisão legítima, ao contrário do que gritam os petistas. E o STF concedeu uma liminar contra a forma de votação, também no exercício de sua competência — que será ou não referendada pelo pleno. Fim da papo.
Onde está a crise?
Não está no exercício legítimo das atribuições da Câmara.
Não está no exercício legítimo das atribuições do Supremo.
A crise está na economia, com a inflação furando a estratosfera dos 10%. A crise é política: o Planalto não dispõe de interlocutores competentes e não entende o exercício da democracia — além, claro, de ver alguns de seus protagonistas no mar de lama.
A crise está com aqueles que pretendem apelar a manobras espúrias para suspender o recesso.
Também a imprensa precisa começar a distinguir a crise da solução.
Reinaldo Azevedo