segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Música com estrelas

Percepções do novo

O novo é percebido de diversas maneiras. Não há um sentido unívoco que seja compreendido pela opinião pública e pelos diferentes atores políticos. Cada um veicula a sua própria noção ao sabor das conveniências e das circunstâncias.

Nos últimos anos e, sobretudo, nos últimos meses fomos tomados pela ideia de que a sociedade brasileira estaria em busca do “novo” na política, sem que haja uma maior precisão a respeito. O que disso mais se aproxima é o desejo generalizado pela moralidade pública. É como se a vida do País se reduzisse à luta contra a corrupção, relegando a segundo plano as questões relativas às reformas de que o Brasil tanto precisa.

Até recentemente, o “novo” foi também identificado à entrada de outsiders na política, como se estivéssemos diante de uma novidade que poderia alterar o rumo das coisas. Alguns saíram, inclusive, com uma boa popularidade inicial em pesquisas de opinião, porém logo abandonaram a seara pública. A política tem agruras, violências e obstáculos que fazem com que mesmo os mais bem-intencionados não resistam ao seu teste inicial.

A questão reside em que medida o anseio social pelo novo se traduz por intenções de voto. Uma coisa é o desejo generalizado por mudanças, outra muito distinta é a sua concretização em escolhas propriamente eleitorais.

Haveria um descompasso entre a demanda de renovação política, assumida teoricamente pela sociedade, e as escolhas que se apresentam do ponto de vista político-partidário. A Lava Jato tornou-se um símbolo por encarnar a luta contra a corrupção, mas as intenções de voto, em boa parte, estão dirigidas à perpetuação de personagens políticos e partidos que são símbolos desta mesma corrupção.

A política é percebida por um setor importante da opinião pública como um lugar de tráfico de influências e de negociatas dos mais diferentes tipos, relegando o bem comum a uma posição subalterna. Identifica-se a velha política à atual classe dirigente, responsável por desvios e apropriação privada de recursos públicos. Portanto, a nova política deveria ser uma espécie de redenção da velha, salientando-se os aspectos de moralidade pública como sendo os mais relevantes.

Ocorre, contudo, que os problemas nacionais não se reduzem a uma visão que se esgotaria no combate pela moralidade pública, mas colocam na ordem do dia a urgência de reformas, cuja ausência pode conduzir o País a uma situação de insolvência. Entretanto, a necessidade de reformas não é percebida por um setor importante da sociedade como sendo algo indispensável. Ela mais bem representaria uma forma da “velha política”, e não da “nova”.

Vejamos sucintamente como se articulam estas relações entre a percepção do “novo” e do “velho” nas intenções de voto para a Presidência da República em algumas das candidaturas com maiores chances eleitorais.

O deputado Jair Bolsonaro está sendo o desaguadouro de boa parte da insatisfação da sociedade, por encarnar o “novo” na luta contra a corrupção e contra a atual classe política. Não importa, para esse efeito, que ele não seja um outsider, mas alguém com uma longa trajetória parlamentar. Ele conseguiu consolidar a imagem de que não guarda nenhuma relação com a atual classe política, recusando-se a qualquer aliança política que possa denegrir essa percepção. Seja dito a seu favor que o seu passado parlamentar é limpo do ponto de vista de atos de corrupção. Encarna, nesse sentido, na perspectiva da moralidade pública, o “novo” e o descompromisso com a atual classe política. Ademais, no contexto de descalabro nacional da segurança pública, sua luta contra a criminalidade aparece também como algo “novo”, tendo em vista a desatenção a este problema por todos os governos desde a redemocratização. Do ponto de vista econômico, não tem apresentado o seu programa de governo, embora venha sinalizando pela escolha de seu ministro da Fazenda, caso eleito, para posições de tipo liberal. Estaria, hoje, mais para o governo Castelo Branco do que para o governo Geisel.

O poste de Lula, seja quem for o(a) ungido(a), tem boas chances de estar presente no segundo turno, dada a forma empregada pelo PT para instrumentalizar as orientações do ex-presidente. Ocorre, aqui, um fenômeno particularmente interessante, pois são Lula, Dilma e o PT os principais responsáveis do descalabro fiscal, dos graves problemas econômicos e sociais do País, além de serem os principais atores dos crimes de corrupção. Isto é, a escolha pelo preposto de Lula seria uma opção pela “velha política”, apesar de ser apresentada como ideologicamente palatável graças a uma suposta luta por “direitos sociais”. Do ponto de vista econômico, o PT posicionou-se contra qualquer agenda reformista, contentando-se com a repetição dos velhos chavões de outrora.

O candidato tucano está, por sua vez, atravessado por contradições importantes. Para ganhar tempo de televisão, optou por uma composição partidária que em tudo reproduz à do atual governo, cuja impopularidade em boa parte reside nestas mesmas alianças. Geraldo Alckmin teria, então, feito uma escolha pela “velha política”, distanciando-se de um eleitorado que clama pela “nova política”. Aliás, foi este mesmo o discurso utilizado pelos tucanos para se distanciarem do atual governo. Perdeu, nesse sentido, o discurso da “nova política”, além de ter em seu partido vários ex-dirigentes envolvidos em investigações e condenações. Do ponto de vista econômico, sua agenda apresenta-se como reformista. Ocorre, porém, que os tucanos nos últimos meses se posicionaram frequentemente contra a agenda reformista do atual governo, vindo, inclusive, em vários momentos a torpedeá-la. E o fizeram dizendo que não aceitavam os métodos utilizados, isto é, os mesmos que estão sendo escolhidos atualmente nas novas alianças partidárias.

Qual é, então, o sentido das mudanças exigidas pela sociedade? Vão para “algo novo” ou visam ao restabelecimento do “velho”?

Irresponsabilidade

A sociedade brasileira é, acima de tudo, irresponsável.

Em 20 anos, perdemos o controle das cadeias, a epidemia de crack invadiu cidades pequenas e entregamos os morros e as periferias ao jugo do crime organizado.

Cracolândias e as barbáries do PCC, Comando Vermelho, Família do Norte, Bonde dos Treze, Primeiro Grupo Catarinense, ADA e de outras quadrilhas com milhares de membros já não causam estranheza.


O trabalho tem me levado às periferias, favelas e lugarejos desconhecidos da maioria dos brasileiros. Semanas atrás, na pobreza da beira do rio Juruá, no Acre, entrevistei uma menina de sete anos que teve três episódios de malária nos últimos seis meses. Ao saber que a entrevista seria levada ao ar no Fantástico, a mãe disse que não poderia assistir. A família não ligava a televisão à noite, para a luz da tela não atrair os bandidos da vizinhança.

A violência da qual a classe média se queixa nas cidades é brincadeira de criança perto da que enfrentam os mais pobres. O que falta para nos convencermos de que não dá para viver em paz num país com tamanha desigualdade social?

Num sistema burocratizado, em que apenas R$ 2 de cada R$ 10 destinados à educação chegam às salas de aula, e somente um em cada 27 matriculados no ensino básico entra na universidade, represamos uma massa de despreparados para as exigências da economia moderna.

O desemprego de 12% no país em crise sobe para 25% na população de 18 a 25 anos de idade. Embora os estudos mostrem que a criminalidade aumenta em comunidades com homens desempregados, nessa faixa etária, que iniciativas tomamos para qualificar e oferecer trabalho para esse contingente?

Nesse caldo de cultura, juntamos a gravidez na adolescência. Condenarmos meninas a engravidar aos 14 anos por falta de acesso à contracepção é a maior violência que a sociedade brasileira comete contra a mulher pobre. Na Penitenciária Feminina da Capital, onde atendo, temos uma moça de 28 anos que é avó. Outra, de 40 anos, tem três bisnetos.

Queremos um Brasil sem violência nem políticos ladrões, é o que repetem todos. Acho lindo, mas com essa disparidade de renda?

Por bem ou mal, os que mais têm ou cedem uma parte ou correm risco de perder tudo; eventualmente a vida. Bill Gates criou uma fundação bilionária para financiar programas educacionais e de combate aos grandes problemas de saúde, no mundo inteiro: HIV/Aids, malária e tuberculose, por exemplo. Investe pessoalmente mais do que qualquer país europeu; só perde para o governo americano. A despeito de iniciativas isoladas, o que fazem os milionários brasileiros?

É cômodo jogar a culpa nos políticos, dizer que por causa deles a educação e a saúde são uma vergonha, mas qual a justificativa para as grandes empresas, os conglomerados econômicos, os bancos, o agronegócio e os mais ricos não criarem escolas gratuitas, cursos profissionalizantes, postos de trabalho nas periferias e nas cadeias, unidades básicas de saúde e programas de prevenção que ajudem a reduzir os gastos do SUS?

Quando foi anunciado o Bolsa Família, a turma do "não adianta dar o peixe sem ensinar a pescar" ficou revoltada. Quanta mesquinhez diante de uma ajuda tímida que consome 1% do PIB nacional.

De outro lado, a inteligência brasileira encastelada nas universidades e nas camadas sociais que tiveram acesso a elas, de quem esperaríamos racionalidade na indicação de caminhos para reduzir as desigualdades que nos afligem, continua aturdida no atoleiro das divisões obtusas entre direita e esquerda, décadas depois da queda do muro de Berlim.

Em 1989, quando comecei no Carandiru, havia 90 mil presos no país. No fim deste ano, haverá 800 mil, quase nove vezes mais. Nossas ruas ficaram mais seguras? Faz sentido termos a terceira população carcerária e 17 entre as 50 cidades mais perigosas do mundo?

Não sejamos estúpidos, não há dinheiro para encarcerar tanta gente. Para acabar com a superlotação apenas no estado de São Paulo, precisaríamos abrir 84 mil vagas, ou seja, mais 84 cadeias. A um custo de construção de R$ 50 milhões cada, gastaríamos R$ 4,2 bilhões somente para colocá-las em pé. E para mantê-las? E os novos presos?

Permitimos que a bandidagem se organizasse a ponto de servir de paradigma a ser seguido pelas crianças da periferia e de oferecer a elas a única possibilidade de melhorar de vida. A guerra contra o crime será longa, sofrida e infrutífera.
Drauzio Varella

Bordel Brasil


Campanha terá dois mundos: o deles e o nosso

As convenções partidárias terminaram. O rol de candidatos inspira tédio e espanto. É tedioso porque a oligarquia política oferece ao eleitorado algo que Cazuza chamaria de um museu de grandes novidades. A disputa pelo Planalto será travada em dois mundos: o deles e o nosso.

No mundo deles, há um candidato fantasma num extremo e uma assombração no extremo oposto. No miolo, há postulantes cujas ideias não correspondem aos fatos e um centrão com a piscina cheia de ratos.


No nosso mundo, há 13 milhões de desempregados, mais de 60 mil de assassinatos por ano e corrupção. Faltam esgoto, bons hospitalais e escolas decentes. Para complicar, o tempo não pára —a eleição ocorrerá em 63 dias.

Na convenção do PT, Gleisi Hoffmann disse que a confirmação da candidatura fantasma de Lula é “a ação mais confrontadora que fazemos contra esse sistema podre.”

O suposto candidato petista só apareceu nas máscaras aplicadas na face da militância. O Lula real, corrupto de segunda instância, apodrece na cela especial de Curitiba desde 7 de abril. Barrado, lançará o poste Haddad, com Manuela, do PCdoB, na vice.

A pseudo-candidatura de Lula, por ilegal, não constitui bom exemplo. Mas Dilma Rousseff, o poste anterior, desfilou pela convenção como um ótimo aviso. Carrega atrás de si o rastro pegajoso de uma eleição fraudulenta e um governo ruinoso.

Na convenção tucana, Alckmin afirmou que “ninguém aguenta mais um Estado infestado pela corrupção.” Difícil discordar de um especialista. Quem olha ao redor do ninho enxerga Odebrecht, Rodoanel, Alston, Siemens, Paulo Preto, Aécio Neves… Tudo isso e mais o rebotalho do centrão.

Bolsonaro escolheu, finalmente, o seu vice. A candidatura do capitão, modelo 64, tinha um pé no quartel. Agora tem dois. O segundo da chapa, será o general Mourão. A patente é superior, mas o pensamento é igual. Apologistas da ditadura, ambos idolatram o torturador Brilhante Ustra.

Marina é o triunfo das boas intenções sem um manual de instruções capaz de traduzir seus propósitos “multicêntricos”. Ciro é uma língua à procura de um cérebro que consiga domá-la.

No nosso mundo, o desejo de mudança está no ar desde 2013, quando a insatisfação foi para a rua e bateu panela.

No mundo deles, a melhor tradução do projeto de mudança está na célebre frase do jovem Tancredi,personagem do romance O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa: ''Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude''.

Governo de partidos

A tão ansiada democracia se reduziu à partidocracia
Manuel Castells

Os tempos sombrios

Um dos ensaios do livro Homens em tempos sombrios (Companhia de Bolso), da filósofa judia-alemã Hanna Arendt, é dedicado ao poeta, dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) e discute a relação entre a verdade e a humanidade. Considerado um dos maiores representantes do Iluminismo alemão, Lessing é autor da peça Nathan, o sábio, de 1779, que se destaca pela defesa do livre pensamento e da tolerância religiosa, além da crítica ao antissemitismo.

À época, a peça foi proibida pela Igreja; mais tarde, o mesmo aconteceu sob o nazismo e, depois, no comunismo. A obra descreve o modo como o comerciante judeu Nathan, o sultão Saladin e um cavaleiro templário superaram as diferenças entre o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo. Simultaneamente, aborda os temas da amizade, da tolerância, do relativismo divino e da necessidade de comunicação.

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Filho de um pastor luterano, Lessing estudou latim e matemática em Kamens, sua cidade natal, e, depois, medicina, teologia, literatura e filosofia na Universidade de Leipzig, mas trocou tudo pelo teatro. Acabou mudando-se para Berlim, onde se tornou dramaturgo e crítico de arte. Entretanto, por causa de suas ideias avançadas, nunca foi aceito nos círculos da corte de Frederico II, o Grande, da Prússia, principalmente por causa de Voltaire, que então lá vivia e cuja dramaturgia criticou duramente.

Isolado, Lessing mudou-se para Breslau e, depois, Hamburgo, onde se tornou bibliotecário do duque Brunswick at Wolfenbüttel, o que lhe garantiu uma renda fixa, com a qual pode manter a família e quitar as suas dívidas. No seu tempo, a verdade única era a grande questão filosófica e religiosa, com a qual Lessing polemizava. Divertia-se com o fato de que, tão logo enunciada, a “verdade” imediatamente se transforma numa opinião entre muitas outras, que era contestada, reformulada e reduzida a um tema de discurso entre outros.

Com perdão pelo pleonasmo, nada mais verdadeiro em tempos de sociedade líquida e de choques de narrativas. Uma única verdade absoluta, se pudesse existir, seria a morte de todas as discussões. No seu ensaio sobre Lessing, Arendt estabelece a diferença entre as noções de possuir a verdade e estar certo, mas destaca que os dois pontos de vista têm algo em comum: os que assumem um ou outro geralmente não estão preparados, em caso de conflito, para sacrificar seu ponto de vista à humanidade ou à amizade.”

Chegamos ao que mais nos interessa. Nenhuma avaliação da natureza do islamismo, do judaísmo ou do cristianismo, segundo a Arendt, teria impedido Lessing de travar uma amizade com um mulçumano convicto, um judeu piedoso ou um cristão crente. “Qualquer doutrina que, de princípio, barrasse a possibilidade de amizade entre seres humanos seria rejeitada por sua consciência livre e certeira. Teria imediatamente tomado o lado humano e não ligaria para a discussão culta ou inculta em cada parte”, destaca. A humanidade de Lessing pode ser resumida numa única frase: “Que cada um diga o que acha que é verdade, e que a própria verdade seja confiada a Deus!”.

Nos “tempos sombrios” a que se refere Hanna Arendt, o pano de fundo são a radicalização e o totalitarismo, em contraposição à amizade e ao humanismo. Há o trauma alemão decorrente do apoio ao nazismo e à guerra, um dos temas recorrentes da filósofa, e também o trauma do que denominou de “emigração interna” dos judeus, antes mesmo de Hitler ter chegado ao poder: a fuga do mundo para a ocultação; da vida pública, para o anonimato. “A fuga do mundo em tempos sombrios de impotência sempre pode ser justificada, na medida em que não se ignore a realidade, mas é constantemente reconhecida como algo a ser evitado”, afirma Arendt em seu ensaio.

Às vésperas de Hitler chegar ao poder, a força do escapismo brotava da perseguição aos judeus fugitivos na forma de resistência íntima, silenciosa e individual. “Mas há uma grande diferença entre força e poder. O poder surge apenas onde as pessoas agem em conjunto, mas não onde as pessoas se fortalecem como indivíduos”, adverte. O Brasil está passando por um momento sombrio, de radicalização política decorrente de projetos autoritários, em meio a um choque de narrativas nas quais a primeira vítima das “certezas” e “verdades” é a fraternidade, o humanismo.

O escapismo em relação ao processo eleitoral é um fenômeno real, ainda mais porque o sistema político descolou-se da maioria da sociedade. Entretanto, não resolve os problemas da política e da economia, muito menos da disseminação do ódio e da exacerbação de inimizades, inclusive em ambientes familiares. Faz muito sentido a advertência de Hanna Arendt no ensaio sobre Lessing: “Como era tentador, por exemplo, simplesmente ignorar o falastrão insuportavelmente estúpido dos nazistas. Mas, por mais sedutor que possa ser, render-se a tais tentações e isolar-se em sua própria psique, o resultado será sempre uma perda do humano com a deserção da realidade”.

Pequena fábula

Principal missão do presidente eleito é tirar o país da falência

Claro que é melhor ter dívida interna do que externa, mas precisava ter todo esse custo insuportável? Um dos argumentos mais usados pelos petistas na defesa de Lula, é que o ex-presidente pagou a dívida externa brasileira, recuperando crédito junto ao FMI. Esse foi o discurso do PT para a classe menos informada do país, e que por absoluta tristeza nossa, compõe a maioria dos brasileiros.

No dia 22 de fevereiro de 2008, o Governo Lula anunciou, por meio do Ministério da Fazenda e do Banco Central, que a dívida externa brasileira havia sido quitada. E ainda mais: já éramos até credores.

Tal notícia foi estampada, na época, na manchete dos principais jornais do país, como, por exemplo, no jornal Estado de S. Paulo: “O relatório divulgado ontem pelo Banco Central, segundo o qual o Brasil, pela primeira vez em 508 anos de história, deixa o papel de devedor e ingressa no seleto time dos credores do mercado internacional, é a consolidação de uma virada histórica”.


Quando Lula assumiu o seu primeiro mandato em 2002, a dívida externa era de R$ 212 bilhões, enquanto a dívida interna era de R$ 640 bilhões. Ou seja, o total, dívida externa mais interna, chegara aos inacreditáveis R$ 852 bilhões.

Em 2008, quando Lula assumiu ter pago a dívida externa, a interna já estava em – pasmem – R$ 1,4 trilhão. Total da dívida: R$ 1,4 trilhão – 65% do PIB do Brasil. Agora em 2018 chegou a 3,7 trilhões, incluindo estados, municípios e estatais.

Por que nosso endividamento aumentou tanto? Então aí vai a resposta que os petistas, que tanto abrem a boca pra falar em “elite e burguesia”, não queriam ouvir. Para pagar a dívida externa e ao FMI, Lula captou dinheiro junto aos banqueiros, que compraram os títulos da dívida. O Brasil, que pagava 4% de juros ao ano para o FMI, passou a pagar 19,5% ao ano para os banqueiros e “investidores”, beneficiando-os.

Ou seja, os banqueiros e “investidores” (ou a “elite” satanizada pelos petistas) passaram a ser donos do Brasil, que foi entregue por Lula para sustentar uma mentira política. E esses dados são da CPI da Dívida, que ocorreu entre 2009 e 2010 da Câmara dos Deputados, com farta documentação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, sendo assim incontestáveis!

Mais uma vez os petistas desinformados haverão de chorar na cama, que é lugar quente. Ainda com um endividamento crescente, Lula não deixou de pegar novamente dinheiro no exterior. Não para pagar qualquer parcela da dívida interna que se avolumava, mas para sustentar os falsos programas sociais como PAC e obras faraônicas superfaturadas que nunca foram concluídas.

Além de pagarmos juros extorsivos aos banqueiros e investidores, voltamos a ter dívida externa. Isso causou um impacto na economia sem precedentes, e posso dizer que vivemos numa bolha de endividamento prestes a estourar, pois já chegamos a R$ 3,7 trilhões no nosso endividamento total. Isso porque Lula assumiu com um endividamento de R$ 852 bilhões e fez o “favor” de mais que triplicá-lo.

Assim, tornou-se impraticável qualquer pretensão de reforma tributária, e o que aconteceu foi o contrário: A carga de impostos aumentou e foi regressiva, prejudicando as classes menos favorecidas. Lula deu vários incentivos para que a indústria barateasse seus produtos (mais uma vez a elite), estimulando o consumo. As indústrias tiveram a chance de vender seus produtos com prazos longos, lastreados pelos bancos e financeiras que já estavam com os cofres abarrotados.

Por outro lado, Lula deu uma falsa vantagem ao povo de baixa renda, pois carregou nos impostos sobre os produtos, diminuindo o poder de compra da população carente. O pobre podia comprar a TV dos sonhos, mas em prestações com juros extorsivos, e achando que Lula era “o cara”, que só enriqueceu mais ainda os bancos.

Já não bastasse a população estar com pele de vira-lata mas latindo como pastor alemão, iludida por Lula, foi também a mais prejudicada e achatada pela política do PT, pois o Brasil chegou a maior parte de sua receita total comprometida com a amortização da dívida e pagamento de spreads (juros) tanto ao banqueiros quanto aos “investidores”, e com isso sacrificou todos os investimentos em serviços públicos.

Vejamos em 2011 como a nossa receita foi distribuída: Amortização da dívida e pagamento de juros, 43,8%; Saúde, 4,17%; Educação, 3,34%; Trabalho, 2,42%; Ciência e Tecnologia, 0,34%; Cultura, 0,05%; e Saneamento, 0,04%.

Ou seja, tudo aquilo que é essencial ao povo brasileiro representou apenas 10,36% do dinheiro aplicado pelo governo, sendo que foram utilizados quatro vezes mais só para beneficiar banqueiros e pagar dívidas. Lula pagou alguma coisa, mas nos colocou no caminho da falência financeira e social, que o futuro presidente terá de desfazer.

Ódio aos pobres sai da escuridão

“Há pouco tempo, três jovens entraram no terminal de caixa eletrônico onde durmo, na Gran Vía, e roubaram uma sacola com minhas coisas. Outro dia, bêbados vieram tirar dinheiro e me chutaram enquanto riam. Em outras ocasiões são insultos: ‘Olhe pra você, sujo de merda.’” Raúl, argentino de 53 anos, relata com voz pausada o desprezo e as agressões que sofre por dormir na rua. Sua história, comum a várias pessoas que pernoitam na Plaza Mayor de Madri, deixa claro que o recente caso de Benidorm — um grupo de ingleses pagou 100 euros (430 reais) a um mendigo para que tatuasse seu nome na testa — está longe de ser uma exceção.

Segundo a Fundação Rais, entidade que luta contra a exclusão social na Espanha, uma em cada três pessoas nessa situação foi insultada ou recebeu tratamento vexatório, e esse tipo de notícia cada vez assume maior relevância. A filósofa espanhola Adela Cortina colocou nome ao fenômeno: aporofobia, o ódio ao pobre. Em setembro, o Senado espanhol votará um projeto de lei do Podemos para incluí-lo como agravante em caso de agressão e equipará-lo a outros crimes de ódio.

Alberto dorme no pórtico da Plaza Mayor de Madri (Víctor Sainz)

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, há 23.000 moradores de rua na Espanha. A Fundação Rais eleva essa cifra a 31.000, pois inclui os que nunca comparecem aos centros assistenciais. Todos eles são submetidos a um ódio intangível, mas muito real. “Dormir e viver na rua têm um componente de violência estrutural que é agravado pela violência direta da qual são objeto”, explica Gema Castilla, da Rais. Em 2016, a ONG apresentou um relatório sobre esse coletivo com conclusões aterradoras: quase metade dos sem-teto sofreu algum incidente ou crime relacionado com a aporofobia, em 80% dos casos mais de uma vez. E um em cada cinco foi agredido.

Alberto, 47, dorme sob os pórticos da Plaza Maior. Veste uma camiseta com a bandeira da Espanha, tem uma mala pequena, quase vazia, e se cobre com uma manta branca encardida. “Numa véspera de Ano Novo, eu estava dormindo num terminal de caixa eletrônico em Salamanca quando algumas pessoas se aproximaram e me deram um chute. Isso costuma acontecer quando chega um bêbado ou um drogado”, conta, com a voz grave. “Na Plaza Mayor é muito tranquilo. As pessoas estão acostumadas a nos ver. Há câmeras de segurança. Prefiro estar aqui e que me vejam, pois os moradores de rua são parte da realidade. Quero que me vejam”, lamenta.

Jesús, de 65 anos, vive numa passagem que conecta a Plaza Mayor com a rua homônima. “Um dia, eu caminhava pela rua Barquillo, porque havia combinado com o assistente social, e um homem me perguntou que horas eram. Quando respondi, ele de repente começou a me bater. Eu pedi que me deixasse em paz, mas me deu dois socos”, recorda. A passagem onde empilha seus papelões — que divide com outras quatro pessoas — desemboca na entrada do estacionamento e de um restaurante. “Às vezes passam pessoas violentas, que gritam e me insultam. Em outras, nos dizem que damos nojo, que temos que tomar banho. Mas é preciso seguir adiante do jeito que for”, admite.

Adela Cortina, catedrática de Ética, publicou no ano passado um livro para batizar esse ódio: Aporofobia, El Rechazo al Pobre (Aporofobia, a rejeição ao pobre). “Os que incomodam são os pobres, os que não têm poder, os que parece que não podem nos ajudar a viver melhor e que trazem problemas. Criei o termo a partir do grego aporoi”, diz Cortina. Em sua opinião, “a pessoa sem casa é extremamente vulnerável, carece de um espaço de intimidade”. Daí a importância de realizar programas para evitar esse problema. A palavra teve repercussão: em 20 de dezembro passado, a Real Academia Espanhola a incluiu em seu Dicionário, e em 27 de dezembro a Fundação do Espanhol Urgente (Fundéu) a escolheu como a palavra do ano porque podia “ajudar a transformar a realidade”.

O Ministério do Interior espanhol inclui a aporofobia como um dos crimes de ódio: em 2016, registrou 10 denúncias por essa causa; em 2017, foram 11. “Quando um morador de rua é agredido, não tem um espaço seguro aonde ir. O agressor pode voltar e matá-lo. Por isso, a agressão não costuma ser denunciada. Mas existem muitos casos além dos contabilizados pelo Ministério do Interior. Basta ler as notícias da imprensa”, diz a porta-voz da Rais. “Além disso, também é ‘aporofobia’ que um sem-teto entre num bar e não seja atendido por ser pobre, ou que não o deixem usar o banheiro.”

O Podemos acredita que isso pode mudar com a inclusão da aporofobia como um agravante no Código Penal, a exemplo do que ocorre com outros crimes de ódio, como o racismo e a islamofobia. Assim, ano passado o partido apresentou uma moção no Senado que teve o apoio de todos os grupos de partidos (salvo o Foro Astúrias). Como o recurso ainda não se materializou, o senador Joan Comorera, da coalizão En Comú Podem, apresentou um projeto de lei — que será votado possivelmente em setembro — para conseguir o objetivo.
Violência contínua

“A Procuradoria-Geral, em seu relatório anual de 2015, já indicava a necessidade de incluir a ‘aporofobia’ como agravante. Acreditamos que, com esse projeto, resolveríamos uma omissão intolerável”, explica Comorera. De fato, em 2005 dois jovens queimaram viva uma mulher — Rosario Endrinal — que dormia num terminal de caixa eletrônico em Barcelona, e não foi possível aplicar nenhum agravante.

“Se os partidos apoiarem, [o projeto] passará ao Congresso (câmara de deputados) e a reforma poderia ser feita antes do fim do ano. E [o agravante] poderia ser aplicado em casos como o que acabamos de ver em Benidor”, afirma o senador. Porta-vozes do PP e do PSOE no Senado — que já votaram a favor da moção anterior — se mostram favoráveis à iniciativa, embora ainda precisem conhecer todos os detalhes. Um representante do Cidadãos na Câmara — o partido não tem senadores — diz que, se a reforma pune a discriminação, sua legenda também apoiará a iniciativa quando chegar à câmara baixa.

Enquanto isso, a condição de morador de rua continua penalizando seres humanos pelo fato de serem pobres. Que o diga Jesús Sandín, responsável pelo programa de pessoas sem teto da ONG espanhola Solidarios para el Desarrollo. “As pessoas que em situação de pobreza sofrem uma violência contínua que afeta a autoestima, a motivação e a maneira de estar no mundo”, afirma. Por isso, há 22 anos a ONG “gera um espaço de encontro horizontal a partir da igualdade, criando um vínculo afetivo e rompendo a solidão dos que moram na rua”. A iniciativa mobiliza 150 voluntários todo ano. “Não são vagabundos. Não são diferentes. A única coisa diferente é sua circunstância, e nós queremos mudar a maneira como a sociedade os vê”, diz Sandín. “Dar nomes às realidades sociais perversas, como a rejeição ao pobre, é fundamental para acabar com elas”, conclui Adela Cortina.

Falso, fake, mentira, lorota pura

Se ser falso fosse carimbo na testa ia ter muita gente precisando cobrir bem com maquiagem pesada para sair por aí. Mas agora estamos às voltas com o pior, com a irresponsabilidade descarada de fazer ou ajudar a circular informações, afirmações, falsas. O que já tem trazido consequências devastadoras e perigosas. Por exemplo, o baixo índice de vacinação e imunização para doenças graves que já estavam prescritas e voltam a nos assolar.

Nosso país é no geral, ignorante, e isso não afeta só pessoas pobres ou que não tenham estudos – elas muitas vezes sabem até mais do que muitos letrados, conhecem a vida e a verdade na própria carne. Temo que, porque justamente de origem essas informações falsas estejam sendo passadas na maldade, por quem sabe exatamente o foguete que está lançando e até sendo pago para isso, estejam fazendo maior estrago. Tentam aparentar ter alguma chancela, nobreza, testemunho; tudo falso.

Afinal, em um país onde os telefones de emergência recebem mais trotes do que chamados reais, o campo é fértil. Num país que qualquer zinhoque coloque um Dr. na frente de seu nome escancara portas… Qualquer que mostre carteira com brasão e se empine todo…

Mas é a propagação que deve ser analisada, como se fôssemos bombeiros diante de um incêndio. Primeiro joga a água, esfria.

E o dedinho nervoso? Que compartilha insanamente tudo o que recebe? Aquelas vozes sinistras em gravações de áudio: “Aqui é o fulano…”. Pior se ainda põe o recado “Repasso, como chegou” … “Não chequei, mas veio de boa fonte…” e aí aparece como “fonte” o primo do irmão do avô do tio, filho da mãe de um amigo, que garante ser verdade. Vou falar: vejo (e recebo) até de jornalistas importantes, nomões, que em redações creio que jamais fariam isso. Seria a comichão vontade de participar, dizer que sabe, soube? Talvez. Isso fora quem distorce, torce e torce os fatos de alguma afirmação correta até ela se tornar falsa.

Beleza falsa – outro tema da hora – é pouco. Temos falsos profissionais, médicos, mecânicos; remédios falsos; falsos sites, e-mails, falsos alarmes; falsos ricos, falsos conquistadores; falsas campanhas de caridade! Mais falso que os nomes verdadeiros de artistas, a arte falsa.

Falsos sequestros! Eu que não tenho filhos vivo recebendo aviso de que algum deles foi sequestrado. Outro dia segurei, disfarçando a voz e me fazendo teatralmente de pai desesperado, mais de dez minutos de conversa com um bandido que ligou aqui. É impressionante, gente, a violência, virulência e contundência. No meio da conversa, fazem fortes ameaças, e, claro, citam Deus, se dizem família também, e fazem jorrar frases feitas e bíblicas na linguagem modo “mano”. E o coitado do “filho” fica berrando lá atrás como se estivesse sendo estripado: socorro, papai, paga logo o que eles estão pedindo!

Ganhar na loteria a gente não ganha, mas receber esse tipo de chamada é comum.

Sei é que está tudo tão falso como a tal nota de três reais, os discursos de campanha e risadas em programas de humor.

Dá vontade de se esconder em algum fundo falso até tudo passar. Ah! E usar roupas com bolsos falsos para não ser roubada!

Marli Gonçalves