domingo, 21 de dezembro de 2014
Dilma chora pela Petrobras?
Queria ver as lágrimas dela por não ter impedido a roubalheira na maior estatal do paísEntendo que a presidente Dilma Rousseff chore pelo trauma da tortura e da prisão durante a ditadura militar. Queria ver a presidente chorando também, com sinceridade, pelas revelações da “outra” Comissão Nacional da Verdade. Uma verdade investigada e denunciada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Quantas mentiras foram ditas pela senhora, presidente, neste ano eleitoral?
Algum dia veremos lágrimas de Dilma pela má gestão petista da Petrobras? Ninguém pede perdão no Brasil, nem os presidentes militares nem os civis. Será que, no escurinho de seus aposentos no Palácio da Alvorada, Dilma já percebeu que Graça Foster está com os dias contados, porque seu comando na Petrobras se tornou indefensável, por conivência ou desleixo?
Será que Dilma chora às escondidas ao reconhecer, para si mesma, que a Petrobras deixou de ser o orgulho nacional para se tornar a vergonha nacional, processada até no exterior? Será que Dilma chora pelas perdas de todos os pequenos investidores enganados pela empresa?
“Roubaram o orgulho dos brasileiros”, afirma o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o escândalo. Janot defende a demissão de toda a cúpula da Petrobras pelo “cenário desastroso na gestão da companhia”. Dilma escuta Lula dizer que tem de “botar o dedo na cara” da oposição.
Se Dilma chora pelas 434 vítimas do golpe militar – e nos emociona – , será que chora de tristeza, vergonha e, quem sabe, arrependimento por não ter detido a roubalheira na maior estatal do país, por não ter impedido a compra da Refinaria de Pasadena, por ter deixado rolar os desvios bilionários que sucateiam nossos serviços públicos e punem a população?
A lama já chegou ao Congresso. Logo teremos a lista de políticos no “corredor da cassação”. O deputado fanfarrão André Vargas, recém-cassado, diz ser “apenas um cisco” na Lava Jato. Sabemos que é verdade. Vargas foi um dos anéis defenestrados para o partido manter os dedos. Haverá outros. Em abril, Lula já dizia: “No final quem paga o pato (da amizade de Vargas com o doleiro preso Alberto Youssef) é o PT.” Será que um dia anistiaremos os bandidos?
É um exercício didático lembrar o que Dilma falou, em abril, em Ipojuca, Pernambuco, numa cerimônia alusiva à viagem do navio Dragão do Mar. Ela criticou a “campanha negativa” de denúncias contra a Petrobras e discursou para os operários. “Mais que uma empresa”, disse Dilma há oito meses, “a Petrobras é um símbolo da afirmação do nosso país, e um dos maiores patrimônios de cada um dos 200 milhões de brasileiros. Por isso, a Petrobras jamais se confundirá com qualquer malfeito, corrupção ou qualquer ação indevida de quaisquer pessoas, das mais às menos graduadas.” Ela chora, hoje? Ou só a gente chora?
Tomara que caia
Quem, em sã consciência, pode apostar que um grupo que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo fará tudo diferente agora?Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff propôs um pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de Pasadena não foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A dúvida é se os critérios para a compra da refinaria e para o pacto anticorrupção serão os mesmos.
O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do esquema do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma — essa mesma que foi reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As faxinas da presidente deixariam o FBI de cabelo em pé.
Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo popular, com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O problema é que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar os companheiros na última instância. Também não tem um ministro da Justiça servindo de garoto de recados do marqueteiro petista. Como incluir os americanos, holandeses e suíços lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que o apoio deles custa mais do que os da UNE e do MST?
Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos anos foi a do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão — cuja transmissão televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim Barbosa publicamente, fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos mensaleiros. André Vargas chegou à vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. Aos inocentes que não entendiam aquela ascensão meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas era comparsa do doleiro Alberto Youssef, o operador do petrolão.
Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil, não há nada mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A qualquer tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga o dinheiro.
Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista. Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou: mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente equivocada.
O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no caminho: trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já mostraram que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior medo do PT não era perder a eleição presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.
Primeira lição
Na escola primária
Ivo viu a uva
e aprendeu a ler.
Ao ficar rapaz
Ivo viu a Eva
e aprendeu a amar.
E sendo homem feito
Ivo viu o mundo
seus comes e bebes.
Um dia num muro
Ivo soletrou
a lição da plebe.
E aprendeu a ver.
Ivo viu a ave?
Ivo viu o ovo?
Na nova cartilha
Ivo viu a greve
Ivo viu o povo.
Lêdo Ivo
Uma corda sobre o abismo
A vitória deu ao PT a oportunidade de corrigir erros que não foram poucos, mas não lhe garantirá salvo-conduto para continuar atentando contra a ética e a inteligência dos brasileiros
Senador Aécio Neves
Cadeia neles!
Depois de milênios em conflito, Deus e o Capeta resolveram promover a paz universal e eterna no universo. Decidiram que para evitar a continuação de conflitos e desgraças, melhor seria construir uma ponte entre o Céu e o Inferno. Assim estariam prevenidos e garantidos. A combinação foi de que cada lado se encarregasse de metade da ponte. Logo o Capeta lançou-se na sua empreitada, mobilizando legiões de diabinhos e cumprindo rigorosamente o cronograma das obras. Quando olhava para cima, no entanto, via que nada estava sendo feito. Preocupado e tendo quase completado a sua obrigação, pediu uma audiência para reclamar. Afinal, meia ponte não resolveria nada em prol dos objetivos combinados.
O Padre Eterno ouviu calado as críticas sobre sua inação, mas no final falou: “Quer saber porque não iniciamos nossa parte da ponte? Por culpa sua! Aqui no Céu não encontramos um empreiteiro sequer, para contratar. Você levou todos para o Inferno!”
A anedota se ajusta bem à realidade que vivemos. Presos ou temerosos da prisão, não haverá um só empreiteiro, grande ou pequeno, contratado ou não pela Petrobras, que deixe de ser chamado a prestar contas, demonstrando sua lisura ou merecendo queimar até o fim dos tempos. O corpo técnico das empreiteiras é excepcional. Seus engenheiros, planejadores, mestres de obras e operários fazem milagres em matéria de hidrelétricas, portos, pontes, túneis e tudo o mais que envolva obras públicas e privadas. O diabo (com perdão de nosso personagem citado acima) são certos donos. Proprietários das empresas, pelo berço ou por malandragens, ávidos de multiplicar suas contas bancárias e seu poder. Responsáveis por uma injusta generalização.
É mentira dizer que não sabiam o que seus operadores faziam em matéria de superfaturamento, aditivos contratuais, propinas e compra de políticos e de altos funcionários do governo. Bobagem igual, só a do Lula ao proclamar que não tinha conhecimento do mensalão, ou da própria Dilma, para quem foi uma surpresa verificar a lambança na Petrobras.
Assinar:
Postagens (Atom)