sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Television Leads Us, Angel Boligan:
Angel Boligan

Meia dúzia de coisas que incomodam, para dizer o mínimo

O ano de 2017 entrou violento, como a querer dizer que fomos precipitados em comemorar a saída de 2016. O Brasil está numa fase que, Deus nos perdoe, torna quase que impossível ter esperança por dias melhores.

Mas há salvação... Segundo a capa da revista VEJA do último fim de semana, a grande cartada do Palácio do Planalto para tirar a popularidade do Governo do atoleiro é a agenda de aparições da jovem e bela primeira-dama, Marcela Temer. E, como todos sabemos, um governo popular pode muito mais.


Ao ler que os grandes desafios do governo, aqueles que farão 2017 um ano a ser amado, dependem pois da beleza, dom que Santo Agostinho associava à Verdade; fico mais animada pois, de fato, dona Marcela é o tipo da beleza clássica que agrada aos Céus.

Mas, e os pequenos desafios? Que entra ano sai ano, só continuam a estressar, a irritar, a incomodar o cidadão, esse ser sem importância, anônimo, sem poder? Quem vai cuidar deles? Será que o poder da Beleza dará para tudo isso, tanto os detalhes monumentais quanto os infinitesimais?

Por exemplo:

1) O descuido com as calçadas: falta manutenção permanente, para que não haja tombos que causam danos muitas vezes sérios, sobretudo em idosos; cuidar para que haja rampas de acesso para cadeirantes; não permitir objetos como caixas, mesas, cadeiras, escadas, que obstruem a passagem do pedestre que é, é bom sempre repetir, o verdadeiro dono das cidades!

2) Iluminação pública maluca: lâmpadas acesas durante o dia ou apagadas à noite. Absurdo comum em muitas ruas do Brasil.

3) A Internet: geralmente cai a linha no meio de um trabalho. Ou quando estamos enviando ou recebendo uma mensagem. Ligo para o provedor. Depois de ouvir o robô oferecer muitas opções, escolho a que me interessa: falar com o atendente. A espera é longa e duas coisas podem acontecer: ou me informarem que está havendo uma manutenção na área ou um atendente pedir para eu desconectar cabos em profusão e aguardar alguns minutos para reconectá-los e quando nada acontecer, ouvir que vão agendar uma visita da assistência técnica.

Pior: você liga, já estressado, para perguntar o que houve com sua conexão com a Internet e ainda tem que ouvir o robô lhe aconselhar a acessar o serviço via Internet!

4) Ida aos bancos: nas grandes agências, fieiras de guichês e dois ou três dedicados funcionários para atender aos clientes. Resultado, longas filas. Saio sempre intrigada: por que tantos guichês e tão poucos ocupados por funcionários?

5) Teles, ah! as teles! – Mensagem comum: Telemar: esse número não existe. Como assim, não existe, penso eu: é o número da minha casa há uns quinze anos. Está em débito automático no banco. Mas é o que a Telemar me informa. Desligo, ligo de novo e aí, miracolo! ele volta a existir!

Ainda a Telemar: Não é possível completar a sua chamada com o número discado. Por favor, consulte o serviço de auxílio às listas. Auxílio às listas? Onde? Vou é verificar onde anotei. O número é esse mesmo. Volto a ligar, ele continua inexistente. Tento mais tarde e, de repente, ele existe!

E o telemarketing? Será que existe alguém no mundo que goste de receber – e ouça? – ligações de telemarketing? Ou mensagens de celebridades que você nem conhece e que mais aborrecem que colaboram com quem quer que seja?

6) Poucas coisas me incomodam mais do que o uso estranhíssimo do verbo Estar. Antes da hecatombe que o abateu, era normal ouvi-lo para informações do tipo: estarei aí depois de amanhã. Hoje em dia, o pobre do verbo Estar aparece em horas inusitadas: estarei enviando seu vestido amanhã; estarei agendando sua hora; estarei pedindo sua receita ao médico... O que será que houve com o futuro que não pode prescindir do verbo Estar?

Uma amiga muito inteligente e arguta sugere que isso nada mais é que a pouca vontade de assumir compromissos. Tem lógica: se dissesse agendarei, em vez de estarei agendando, a pessoa assumiria um compromisso. Já com o uso do subjuntivo, o compromisso é atenuado. Concordo.

Portanto, nas coisas graves, como nas mais simples, estarei torcendo por 2017. Pela Beleza, sempre!

Escarro no pobre


O que explica um preso de Manaus custar R$ 4.100 por mês? O que sente um trabalhador ao saber disso, quando ganha um salário mínimo de R$ 937?
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E, por fim, a empresa privada que administra o presídio onde morreram 56 pessoas se chama Umanizzare. É ou não sarcasmo?
Eliane Catanhêde

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Toscana8
Marcin Sobas, Toscana (Itália)

Sistema carcerário japonês

A filosofia que dirige o sistema carcerário japonês é diferente da que rege todos os outros presídios ocidentais, que tentam reeducar o preso para que ele se reintegre a Sociedade. O objetivo, no Japão, é levar o condenado ao arrependimento. Como errou, não é mais uma pessoa honrada e precisa pagar por isso.

“Além de dar o devido castigo em nome das vítimas, o período de permanência na prisão serve como um momento de reflexão no qual induzimos o preso ao arrependimento”, explica Yutaka Nagashima, diretor do Instituto de Pesquisa da Criminalidade do Ministério da Justiça.

Os métodos para isso são duros para olhos ocidentais, mas em nada lembram os presídios brasileiros, famosos pela superlotação, formação de quadrilhas, violência interna e até abusos sexuais.

Organização e limpeza imperam. Os detentos têm espaço de sobra e ficam no máximo seis por cela. Os estrangeiros têm um quarto individual. Ninguém fica sem trabalhar e os detentos não têm tempo livre para arquitetar fugas.

O dia do preso japonês começa às 6h50min. Às 8h ele já está na oficina trabalhando na confecção de móveis ou brinquedos. Só para o serviço por 40 minutos para o almoço e trabalha novamente até às 16h40min. Durante todo este período nenhum tipo de conversa é permitido, nem durante as refeições.

O preso volta à cela e fica ali até 17h25min, quando saí para o jantar. Às 20h tem que retornar ao quarto, de onde só saíra no dia seguinte.

Banhos não fazem parte da programação diária. No verão eles acontecem duas vezes por semana. No inverno apenas um a cada sete dias. “Não pode ser diferente porque faltam funcionários. Mas damos toalhas molhadas para eles limparem o corpo”, justifica-se Yoshihito Sato, especialista em segurança do Departamento de Correção do Ministério da Justiça.


Apesar das reclamações, os presos estrangeiros recebem um tratamento melhor que os japoneses: além do quarto individual, ganham cama e um aparelho de televisão onde são transmitidas aulas de japonês.

A comida é diferenciada. Não é servido nada que desagrade religiosamente qualquer crença de um povo. Para os vegetarianos, por exemplo, não é oferecida carne bovina.

O Japão não aceita acordos de extradição. Afinal, como causou sofrimento à população, o criminoso tem que pagar por isso no Japão mesmo.


Logo ao chegar à penitenciária, os presos recebem uma rígida lista do que poderão ou não fazer. Olhar nos olhos de um policial, por exemplo, é absolutamente proibido. Cigarro não é permitido em hipótese alguma. Na hora da refeição o detento deve ficar de olhos fechados até que ouça um sinal para abri-los.

Qualquer transgressão a uma das determinações o detento termina numa cela isolada. Apesar de oferecer tudo o que teria num quarto normal (privada, pia e cobertor), ela tem pouca iluminação. Se houver reincidência na falha, será punido com algemas de couro, que imobilizam os braços nas costas. Sem a ajuda das mãos, o preso tem que comer como se fosse um cachorro. Também tem dificuldades para fazer as necessidades fisiológicas.

Assim, conhecido o caso japonês, é interessante ver que nenhuma ou quase nenhuma “ONG” de direitos humanos interfere no sistema, dita políticas ou o governo permite que senador (como fez, numa ocasião, o senador Eduardo Suplicy) durma entre os presos, sob a justificativa de impedir represálias do Estado após rebeliões.

Aliás, como se diria “rebelião de preso” em japonês? Esta expressão lá não existe.

Expresso Carandiru-Manaus-Brasília

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Aqui morrem a cada ano mais brasileiros do que o total de americanos mortos nos 20 anos da Guerra do Vietnam.

Quase metade dos congressistas (deputados e senadores) respondem a inquéritos ou ações penais.

Um presidiário, em Caratinga, Minas Gerais, reeleito em outubro de 2016, tomou posse como vereador, trajando o uniforme prisional e algemado. Vai continuar frequentando a Câmara Municipal, recebendo salário e dormindo no presídio. É legal, mas é moral?

O presidente do Senado, acusado em 11 processos, virou réu em ação na qual é acusado de peculato e recusou receber uma intimação do Supremo Tribunal Federal.

Governadores e ex-governadores estão sendo investigados. Pelo menos um já está preso. Diversos dirigentes partidários foram ou estão presos por corrupção.

São diversos processos contra juízes; há condenados.

Nos quatro primeiros dias do ano, estão internados, em 15 hospitais diferentes do Rio de Janeiro, 38 presos, que são custodiados por 41 policiais militares trabalhando em turnos de 12 horas, sem descanso para comer e com salários frequentemente atrasados. Nenhum desses hospitais tem uma enfermaria exclusiva para isolar os detidos dos demais pacientes. Os policiais estão lá para impedir que esses indivíduos sejam resgatados por parceiros ou assassinados por desafetos. Isso já ocorreu.


Esse ano, já são seis policiais assassinados, oito fuzis apreendidos e nenhuma rua fechada com protestos contra esses covardes assassinatos.

No Presídio do Carandiru, São Paulo, em outubro de 1992, a Polícia Militar foi chamada a intervir para conter uma rebelião provocada por centenas de presos armados, num ambiente de confinamento e cujo desfecho era imprevisível. O resultado foi a morte de 111 detentos e 74 policiais processados por crime de homicídio. É possível que esse fato tenha contribuído para o surgimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1993, como uma organização criminosa (ORCRIM) disposta a desafiar o Estado. Gradualmente, assume uma dimensão nacional e se expande ao Paraguai, Colômbia e Bolívia, países tradicionais fornecedores de cocaína, maconha e fuzis de guerra.

Agora ocorreu o massacre de Manaus, com 60 mortos, metade decapitada ou mutilada. Dessa vez, não há policiais para serem acusados, pois a opção do governo do Amazonas foi terceirizar a administração dos presídios. Um negócio milionário e estranho.

Esse massacre é um sinal de que a promissora rota norte do tráfico, tipo exportação, está mudando de dono. Após esse “choque de arrumação”, é possível que se criem novas alianças, basta o Estado brasileiro continuar não se organizando de forma patriótica.

Isso tudo é descrito no livro “ZeroZeroZero”, de Roberto Saviano, que avalia que o dinheiro das drogas e a lavagem de dinheiro, de qualquer origem, indicam alianças entre organizações - de qualquer natureza -, numa interligação complexa e generalizada.

Já partiu da estação o expresso Zero-Carandiru-Zero-Manaus-Zero-Brasília.

Paisagem brasileira

Sao Luis Do Maranhao Brazil Stock Photos, Images, & Pictures – (193 Images):
São Luís (Maranhão)

A intolerância mora ao lado

A capacidade humana de se inventar é admirável. Em cada lugar habitado, pouco importa em que tempo, nós nos atribuímos uma origem diferente. Na América do Sul, alguns povos acreditavam que surgimos do milho. Outros preferiram a batata ou a mandioca. Na Noruega, viemos de árvores. Na Índia, da manteiga. O barro foi uma opção no Oriente Médio, na Grécia, na China, nas Américas do Norte e Central. No Tibete, surgimos da união de um ET com um macaco. Na Coreia, substituíram o macaco pelo urso.

No Quênia, ora descemos do céu, ora saímos de dentro de um joelho. Na Oceania, brotamos de vermes. Sim, a capacidade de nos inventarmos não tem fim.

Também não tem fim nossa capacidade de acreditar. Vi, no México, mulheres se arrastando de joelhos nus no adro da Basílica de Guadalupe, largando trilhas de sangue. Uma atmosfera de beatitude as seguia, como se estivessem fora deste mundo. No Brasil, testemunhei um pajé, em transe, entrando em contato com os deuses da tribo. Em Mianmar, num templo que comemorava 2 500 anos de existência, centenas de pessoas rezavam para encontrar o caminho ensinado por Buda. Enquanto balançavam a cabeça, queimavam incenso, e o ar adquiria cheiro de nirvana.

Editorial Illustrations 2015 - Vol. 2 on Behance:
Davide Bonazzi
Na Mesquita Azul, na Turquia, logo após o chamado do muezim, que me remeteu aos contos das Mil e Uma Noites, os muçulmanos curvavam-se em direção a Meca, em rogos compenetrados. Alá parecia estar entre eles. No templo Tanah Lot, na Indonésia, as orações, durante o incêndio de cores trazido pelo mergulho do sol no oceano, criaram clima de transcendência mesmo para quem não participava da cerimônia. Em Katmandu, no Nepal, uma garota, transformada em deusa viva, fazia cegos enxergar e paralíticos jogar fora cadeiras de roda e muletas. O mesmo aconteceu no norte da Índia, onde uma aguinha a escorrer do lingam de Shiva, pedra cinzenta com meio metro de altura, transformava a força vital do deus em milagres. Na Alemanha, na época do Natal, conheci celebrações pré-cristãs para o solstício de inverno, mantidas por uma tradição multimilenar. Na Tailândia, fiéis cobriam as imagens sagradas com folhas de ouro ao fazer pedidos ou agradecer as graças alcançadas. Sim, nossa capacidade de acreditar não tem fim.

Diante de tanta diversidade, nossa capacidade de respeitar a crença alheia teria fim? Sempre apostei na tolerância dos brasileiros. Afinal, somos o país do sincretismo religioso.

Já não estou tão seguro. Ao entrar, em Belo Horizonte, em dois templos onde se prometem milagres em troca de dinheiro, testemunhei radicalismo contra os demais credos: segundo os pregadores, quem não pertencia à seita era indigno de viver, um condenado, um intocável. Fiquei duplamente assustado. Com o discurso e com a cara de pau dos manipuladores. Em determinado momento, um deles disse que os seguidores da seita deveriam evitar até conversar com os não membros para não ser contaminados. Também precisavam, em casa, se livrar de qualquer escultura ou pintura com figuras humanas.

​O mundo conhece o efeito dos excessos. A história está cheia de exemplos. A humanidade, em sua múltipla capacidade de se inventar e de acreditar, é maior que qualquer culto. Cultos passam, a humanidade fica. A intolerância não é o caminho, nem a verdade, muito menos a vida. É apenas o casamento da presunção com a sede de poder.

Autoridades em transe

O sistema de Justiça do Brasil é muito reativo e espetaculoso. Foi preciso que a Família do Norte, máfia amanuense, arrancasse as cabeças de 60 integrantes do Primeiro Comando da Capital, a máfia paulista, para as autoridades entrarem em transe e começarem a anunciar soluções para tudo.

Pela reação da presidente do Supremo e do ministro da Justiça, tem-se a impressão de que eles não sabiam de nada sobre o que acontecia nos presídios brasileiros.


De repente, bilhões que estavam guardados começaram a ser distribuídos para os estados – parte para construção de novos presídios, cerca de 1,2 mil vagas por unidade da Federação, totalizando 30 mil, parte para aquisição de aparelhos para detectar a entrada de drogas, celulares e armas nas prisões.

A presidente do Supremo correu para Manaus e reuniu juízes e promotores para saber onde estão as falhas do sistema: estamos prendendo demais, soltando de menos ou deixando a execução penal a cargo das organizações criminosas?

O ministro da Justiça, chamando os chefes das organizações criminosas de “lideranças”, anunciou, com pompas, a montagem de um grupo especial para monitorar os presídios, dando ênfase ao trabalho de Inteligência. Isso já é feito há anos no Distrito Federal. As outras unidades não o fazem porque não querem.

Enquanto isso, os lobistas já começaram a vislumbrar oportunidades de negócios, a partir dos recursos que serão liberados em tempos de vacas magras.

Será que pacientes dos hospitais públicos vão ter de começar a arrancar as cabeças uns dos outros para o governo iniciar uma mobilização com o objetivo de resolver o caos na área de saúde?

Espera-se que o dinheiro não seja desviado quando se aplacar o clamor das instituições internacionais e a população brasileira esquecer o episódio.

Miguel Lucena

O silêncio de Temer

Estão reclamando que o presidente Michel Temer não disse uma palavra a respeito do massacre de Manaus, quando até o Papa pediu orações para as famílias dos massacrados. Realmente, o chefe do governo bem que poderia ter lamentado ou prometido que de agora em diante tudo vai ser diferente. Só que não adiantaria nada. Os 56 mortos estão sendo enterrados, as cadeias continuam privatizadas e as diversas entidades criminosas permanecem mandando nos presídios. O que poderia Temer fazer?

Primeiro, mudar o ministro da Justiça. Alexandre de Moraes chegou atrasado na capital do Amazonas. Se a Polícia Federal tinha sido avisada, a informação perdeu-se no trajeto até Brasília. Alguém foi responsável pela inação.

A intervenção federal no sistema penitenciário dos Estados também seria oportuna, porque não apenas o governador amazonense tem sua parcela de culpa. Os demais governadores também, sem exceção. Todos aceitaram a privatização dos estabelecimentos penais, em maior ou menor grau. Deixaram de investigar os efeitos dessa ação celerada onde atuam grupos econômicos empenhados em receber centenas de milhões dos cofres estaduais, sem contribuir para a recuperação da massa carcerária. Pelo contrário, ampliam o número de presos amontoados nas prisões porque recebem por internação.

Poderia o presidente da República, também, apelar para a participação do Ministério Público e do Poder Judiciário para enfrentar o caos que os Estados não conseguem debelar.

Em suma, nem só da reforma da Previdência Social e de outras reformas o palácio do Planalto deveria cuidar. Existe um outro Brasil à margem, abandonado, dentro e fora das penitenciárias.

Django, o mágico

Muito além de Deus e do diabo

O excelente artigo de Juan Arias, publicado neste dia 3 de janeiro, chama a atenção para o crescente aumento da importância dos pentecostais e neopentecostais na política, que começou de maneira discreta na década de 1990, ganhando força ao longo dos anos seguintes até se tornar fundamental no balcão de negócios em que se transformou o Congresso Nacional. Hoje, a bancada evangélica, composta por 87 deputados federais e três senadores, conquistou poder suficiente para determinar o rumo das discussões que preocupam a população brasileira, contribuindo de maneira cabal para o conservadorismo moral e a hipocrisia social que vem caracterizando o país.

Resultado de imagem para deus e o diabo

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de evangélicos cresceu 61,5% entre 2000 e 2010, passando a representar 22,2% do total da população, contra 64,6% dos católicos. Com seu assistencialismo e sua fé de resultados, algumas das denominações tornaram-se verdadeiros fenômenos. A participação política de pentecostais e neopentecostais ganhou maior visibilidade a partir da aliança estratégica com o PT, no começo do século XXI, apoio que possibilitou a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002, após três derrotas consecutivas. Um dos aliados mais importantes do PT, na época, foi a Igreja Universal do Reino de Deus, chefiada por Edir Macedo, que em 2005 fundou o Partido Municipalista Renovador, hoje Partido Republicano Brasileiro (PRB), ao qual era filiado o vice de Lula, o católico José de Alencar, que exerceu papel essencial na aproximação do empresariado e dos evangélicos com o petista.

O PRB funciona informalmente como o braço político da Igreja Universal. Nas últimas eleições municipais cresceu 33% em relação ao desempenho em 2012, elegendo 106 prefeitos, inclusive Marcello Crivella, que encontra-se agora à frente da segunda mais importante cidade do Brasil, o Rio de Janeiro. Crivella, cantor de música gospel com mais de uma dezena de discos gravados e senador, já foi ministro na administração Dilma Rousseff. Além disso, o partido possui uma bancada formada por 23 deputados federais, entre eles o mais votado do país, Celso Russomano, com 1,5 milhão de votos, candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo em 2016. Mas, para provar que os evangélicos não têm outros interesses que não os próprios, o PRB desembarcou do governo petista diretamente para o governo do presidente não eleito, Michel Temer. O titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Marcos Pereira, foi diretor da TV Record do Rio de Janeiro entre 1995 e 1999, e vice-presidente da Rede Record de Televisão, entre 2003 e 2009.

Fundada em 1977, a Igreja Universal conta hoje com cerca de 12 mil pastores, sete mil templos e quase sete milhões de seguidores no Brasil, e outros quase dois milhões de fiéis espalhados por mais de uma centena de países, segundo estimativas da própria entidade. Sua receita é estimada em cerca de R$ 1,4 bilhão de reais por ano – mas não há qualquer controle sobre esse valor, já que por lei as instituições religiosas estão isentas de impostos. Além dos fiéis, a Igreja Universal controla a Rede Record, que cobre 93% do território nacional e está presente em 150 países, a TV Universal, com mais de 20 retransmissoras, e a Rede Aleluia, que possui quase oitenta emissoras de rádio AM e FM, presente em 75% do território nacional. Faz parte ainda do grupo o portal universal.org., o jornal Folha Universal, as revistas Plenitude, Obreiro de Fé e Mão Amiga, a editora Unipro, que registra milhões de exemplares vendidos de livros de Edir Macedo e de outros pastores, e a gravadora Line Records, especializada em música religiosa.

Os evangélicos progridem onde se ausenta o Estado. Assim como os traficantes de droga. As periferias das cidades hoje estão divididas entre eles. O Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil, vem expandindo seus interesses para fora dos limites de São Paulo, onde nasceu, e já domina cadeias no Rio de Janeiro, Maranhão, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. A mais recente investida, segundo parece, resultou em um massacre de 56 presos em Manaus (AM). Ambos os grupos almejam o mesmo objetivo: ampliar as suas hordas. Assistimos impotentes à ampliação do fanatismo e da violência, que hoje se encontram infiltrados no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Em nome de Deus, uns, e do Diabo, outros, pouco a pouco submetem o que resta do Brasil.

Os decapitados

Cortar cabeças e esquartejar adversários no Brasil foi uma prática corrente nos conflitos sociais e políticos. Na História do Brasil, são inúmeros os exemplos, a começar pelo massacre dos paulistas por portugueses e baianos no Capão da Traição, nas proximidades de Tiradentes (MG), na Guerra dos Emboabas (1707-1709). O próprio alferes Joaquim José da Silva Xavier, nosso mártir da Independência, foi enforcado e esquartejado (21/4/1792). Muitas cabeças rolaram na Balaiada (1838-1841), no Maranhão, e na Cabanagem (1835-1840), no Pará. Ninguém sabe direito o que aconteceu a Solano Lopes e seus últimos combatentes em Cerro Corá. A ira do Conde D’Eu foi implacável no fim da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Em Canudos (1896-1897), o coronel Moreira Cesar, herói da guerra do Paraguai, foi esquartejado pelos jagunços e seus pedaços pendurados nos galhos. Euclides da Cunha relata no Os Sertões o destino dado a Antônio Conselheiro e aos que o acompanharam até a liquidação do arraial baiano. “Ao entardecer, quando caíram os últimos defensores, que todos morreram. Eram apenas quatro: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”

Destino não muito diferente teve o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, cuja cabeça foi cortada, como a de Maria Bonita, sua companheira, e outros cangaceiros do bando, em Angicos, no Sertão de Sergipe, em 1938. Acusado de atacar pequenas fazendas e cidades em sete estados além de roubo de gado, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações, estupros e saques, foi tratado por muitos como uma espécie de Robin Hood do sertão brasileiro.

Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira e Mergulhão, que também tiveram as cabeças arrancadas em vida. Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela foram os demais decapitados. Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus. As cabeças, arrumadas cuidadosamente na escadaria da Prefeitura de Piranhas, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas.

Depois, foram levados a Maceió e ao Sudeste do Brasil, de onde seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA e, depois, por três décadas, no Museu Antropológico Estácio de Lima localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965, que teve origem nos meios universitários de Brasília. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas em 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram o enterro uma semana depois.

lampiao

A glamourização de Lampião e bando não foi apenas obra da cultura popular. Câmara Cascudo atribui a ele a autoria de Mulher Rendeira. Foi graças ao premiado filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, de 1953, com diálogos de Raquel de Queiroz, que a fama correu mundo. Chegou à academia como um dos personagens estudados pelo historiador britânico Eric Hobsbawn, autor do polêmico conceito de “bandido social”, claramente inspirado no mito de Robin Hood, ao lado de Salvatore Giuliano (Itália), Pancho Vila (México), Jesse James (Estados Unidos). O estudo foi publicado em livro na década de 1950, com o título acima, e já está na quinta edição aqui no Brasil (Editora Paz e Terra).

Talvez venha daí a glamourização da malandragem e de marginais como Lúcio Flávio, que não se misturava com policiais corruptos: “Bandido é bandido; polícia é polícia”. É nessa categoria romanesca que poderia ser enquadrado Marcinho VP, que inspirou o jornalista Caco Barcellos a escrever o livro Abusado, a história do tráfico de drogas no Morro Dona Marta, da qual o traficante é personagem principal. Uma cultura de violência rege a vida do andar de baixo nas favelas e periferias e, de forma concentrada, nos presídios.

Domingo, durante 16 horas de rebelião no maior presídio do Amazonas, o Complexo Penitenciário Anísio Jobim, 56 presos foram assassinados, muitos dos quais decapitados; na tarde de segunda, na Unidade Prisional do Puraquequara, mais quatro presos morreram. Retificando: Atribui-se à facção Família do Norte, que controla os presídios, a ordem para o massacre. Vídeos mostram que os integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) levaram a pior no confronto. Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola (Osasco, 13 de abril de 1968), é o líder do PCC. Comanda com mão de ferro uma organização que já manda na maioria dos presídios brasileiros, domina o tráfico de drogas em São Paulo e entrou nas favelas do Rio de janeiro. Agora, tenta controlar as fronteiras brasileiras e se internacionalizar.

O Estado precisa de indiferentes, fracos e covardes para alastrar-se irrefreadamente

Você está caminhando pela calçada, quando, abruptamente, tem início um enfrentamento entre duas pessoas, bem ali na sua frente; é visível que uma delas encontra-se em franca desvantagem, e começa a apanhar copiosamente, de forma covarde (podemos até imaginar a cena do vendedor ambulante espancado até a morte em São Paulo); de súbito, você se dá conta de que a única coisa que pode por fim aquele padecimento é você mesmo. Mas para prestar este auxílio – ou seja, lutar contra o algoz juntamente com a vítima e equilibrar a disputa – faz-se necessário reunir, no mínimo, três elementos sem os quais não há chance de uma reação sequer ser esboçada: empatia, coragem e força.

A empatia costuma ser definida como a capacidade psicológica para sentir o que sente outra pessoa caso estivéssemos na mesma situação vivenciada por ela. In your shoes, como dizem os usuários da língua inglesa, ou seja, estamos tratando da predisposição em imaginar como seria levar tamanha surra sem possuir recursos para reverter o quadro – e, consequentemente, concluir que algo precisa ser feito a respeito.

O conceito de coragem, ajustado ao caso em tela, nada mais seria do que a força espiritual necessária para ultrapassar aquela circunstância difícil, ou o destemor requerido para, mesmo ciente da real possibilidade de apanhar feito condenado e ter sua integridade física comprometida, ainda assim partir para o embate.

E a força adquire, nestas circunstâncias, um conceito amplo: seria a energia necessária para subjugar e eliminar a ameaça que põe em risco a vida do cidadão que está sendo massacrado. Pode ser a inteligência (gritar que a polícia está chegando e afugentar o valentão), a habilidade motora (uma gravata bem aplicada), a capacidade de improviso (usar objetos próximos como arma), a potência física (um bom soco no queixo) ou, melhor ainda, uma pistola na cintura (nem precisa explicar). É o espinafre do Popeye, em suma.

INDIFERENTES Fecha: 4 de mayo de 2007 Medidas: 95 x 65 cm Soporte: Papel Geler. Técnicas utilizadas: Sanguina y carbón sobre papel. Más detalles en mi web: http://obes.es/indiferentes:
Gonzalo Obes
Reunidos os três atributos em uma mesma pessoa, ela certamente irá intervir no conflito e evitar o que pode vir a ser uma tragédia – sorte que não teve Luis Carlos Ruas quando da agressão brutal que ceifou sua vida. Mas minha intenção aqui não é julgar os transeuntes que testemunharam a cena na estação de metrô e nada fizeram em socorro do pobre senhor (até porque, humildemente, reconheço que não sei qual seria meu comportamento perante um episódio de tamanha violência), e sim correlacionar esta omissão com a inaptidão de nosso povo em conter o avanço desenfreado do Estado sobre sua vida.

Quando o governo começa a querer ditar regras demais na sociedade, e passa a determinar até mesmo como a pizza deve ser vendida ou proibir o comerciante de dar descontos, certamente é porque já chegou a hora de dar um basta no intervencionismo estatal. O enfrentamento contra esta imoderada invasão da esfera de mútuo entendimento entre os cidadãos já deveria ter sido deflagrado há tempos.

O cenário atual, todavia, mostra que estamos a assistir impavidamente às casas legislativas (e até mesmo o Executivo, com seus decretos draconianos, e o judiciário, com suas decisões teratológicas) emitirem leis e regramentos que nos dizem como criar e educar nossos filhos, especificam quem pode trabalhar ou não em determinada profissão, proíbem estados confederados de cobrarem menos tributos para atraírem empresas, estipulam qual cerveja pode ser vendida na praia, resolvem quanto deve custar para estacionar no shopping, desautorizam a extração de gás de xisto pelo método de fracionamento de rochas (processo que possibilita que os Estados Unidos sonhem com a independência energética), submetem a processo penal quem mata bandido em legítima defesa, e por aí vai.

E lá está o brasileiro, estático na calçada, vendo sua liberdade, sua autodeterminação, ser pisoteada sem misericórdia. E aí vem o questionamento: o que falta ao nosso povo para tomar uma atitude condigna? Empatia? Coragem? Força? Quem aguentou ler até aqui já deve ter deduzido que a situação de nossa autonomia como cidadãos não é animadora; provavelmente ela ainda vai tomar uma sova antes que alguém levante um dedo em seu favor. Mas por quê?

A predileção de nossa cultura por princípios coletivistas nos fornece uma boa pista. Na medida em que se exacerba a renúncia individual (pretensamente) em favor da sociedade, a submissão do cidadão aos supostos interesses comunitários (decididos por meia dúzia de “intelectuais”), perde-se, gradativamente, a noção de cooperação voluntária para com o próximo. Se o natural e aceito passa a ser convergir boa parte de nossos recursos para uma entidade centralizadora a partir da qual, aí sim, nossa ajuda poderá (em tese) chegar aos mais necessitados, a assistência direta de um indivíduo para o outro deixa de ser uma prática comum. Se eu já pago tanto imposto para o Estado, ele que ajude quem está precisado. E este sentimento, após décadas de cultivo no inconsciente coletivo, leva à indiferença mútua.

A empatia, neste cenário, resta deveras comprometida, e escasseia ainda mais quando distrações das mais diversas naturezas desviam o foco dos indivíduos dos reais problemas enfrentados diariamente por seus concidadãos. Enquanto a violência, a falta de saneamento básico, o desemprego, o transporte caótico são adversidades que assolam parcela significativa da população, os demais membros nada podem fazer a respeito, visto que estão “ocupados” demais sendo bombardeados pela mídia com libertinagem sexual, drogas em profusão e a cultura de que a única forma de “aproveitar a vida” é farrear 99% do tempo. É o circo dos tempos modernos – mas neste picadeiro só entram adultos; bom, isso enquanto o tal de “amor intergeracional” não for insuflado mais vigorosamente pela rede progressista de televisão.

Já a coragem torna-se artigo de luxo a partir, especialmente, do conforto proporcionado pelo próprio capitalismo. Se eu posso fazer quase tudo do sofá de casa, a comodidade toma conta do estado anímico do homem médio, e aquilo que, a priori, é extremamente benéfico para nossa evolução, acaba por nos “emascular”. Some-se a isso o efeito do politicamente correto e da ideologia de gênero, que convence a todos que “palavras machucam” e que o sexo das pessoas pode “flutuar” ao sabor do vento, e esse processo de amansamento excessivo dos membros de nossa sociedade ganha contornos de filme de terror. O resultado: marmanjões “pacifistas” protestando contra estupros usando saias e europeus recebendo “refugiados” (de países que não estão em guerra?!) com flores na mão (síndrome de Estocolmo – ou seja, medo – em estado puro).

Na medida, outrossim, em que o contínuo processo de divisão e especialização do trabalho permite que muitas pessoas desempenhem tarefas puramente intelectuais (e mesmo trabalhos outrora pesados foram “amaciados” pela tecnologia), diversos desafios enfrentados pela humanidade em períodos remotos (como caçar para sobreviver, lutar contra invasores de espada em punho, arar a terra manualmente ou até rachar lenha) e que forjavam um caráter beligerante na sociedade deixaram de existir, contribuindo, também, para que a intrepidez se tornasse uma qualidade rara. Quando os “protestos” de nossa era resumem-se a hashtags revoltadas, fica mais fácil visualizar este inconveniente. Podemos terceirizar a segurança de nossas casas, mas o preço disso é o relaxamento do espírito combativo instintivo do ser humano.

E de que servem coragem e empatia, pois, se não possuirmos meios de contrapormo-nos a imposições contrárias a nossos valores? Não por acaso, o desarmamento da população é questão de honra para todo governo com pretensões totalitárias. A noção mais comezinha de qualquer estratégia tirânica é a de que o cidadão ordeiro, cumpridor das leis, não pode portar um artefato com o qual ele possa opor resistência ao detentor do monopólio do uso da força. Ademais, uma vez desarmado, sem a menor chance contra marginais que até armas militares ostentam (amparados por legislações penais caricatas), este indivíduo honesto irá sentir-se impotente e amedrontado – dois coelhos com uma cajadada, portanto. Quem assiste ao seriado The Walking Dead e conhece o personagem Negan sabe do que estou falando.

Já o desenvolvimento da inteligência, uma das mais poderosas armas do indivíduo contra a dominação, também é sonegado em nossas paulofreirianas escola: se o conhecimento deve ser “construído” pelo próprio aluno, desobriga-se o professor de transmitir conhecimento e o aluno, em verdade, não constrói coisíssima nenhuma em sua mente; bom, talvez ele saia do colégio entoando canções de cunho marxista. Cidadãos idiotizados não tem como resistir ao avanço do Estado sobre suas vidas. Sequer dar-se-ão conta do que está acontecendo a sua volta.

Outra forma de enfraquecer um povo é levá-lo ao estado de penúria. A miséria humilha o ser humano na medida em que reduz suas ambições a, tão somente, sobreviver mais um dia. Toda sua energia precisa ser canalizada para sua própria subsistência e a de seus dependentes. Não deve estar nada fácil, neste contexto, para que os venezuelanos deem um basta nos desmandos de Maduro.

Já a comunicação entre os potenciais agredidos e a decorrente possibilidade de expressarem publicamente seu descontentamento independentemente da mídia tradicional – recurso materializado pelas ferramentas da grande rede mundial de computadores – também representa uma poderosa arma em favor da liberdade, e, por isso, é alvo de ofensivas constantes, tais quais o medonho marco civil da Internet e, mais recentemente, a lorota do “fakenews” ou “pós-verdade” – mero bater de pés dos descontentes com o avanço do conservadorismo e do liberalismo clássico.

Por fim, existe um núcleo de convivência que costuma agregar muita força quando unido: a família. Eis porque esta sofre ataques constante das milícias “progressistas”, visto ser um dos últimos focos de resistência contra aspirações absolutistas governamentais. Afinal, o paternalismo estatal pode perfeitamente substituir a falta de referências paternas, não é mesmo?

E, neste sentido, torna-se mandatório agredir a cultura judaico-cristã, especialmente permitindo a entrada indiscriminada de muçulmanos no Ocidente, visto serem eles, juntamente com os regimes comunistas, os principais responsáveis pela caça aos “infiéis” no último século – apenas em 2016, foram 90.000 que perderam a vida por sua fé. Ainda, como muitos grupos religiosos costumam promover inúmeras campanhas visando ajudar ao próximo, “usurpando” a competência do Estado em distribuir esmolas, fica mais claro ainda porque eles precisam ser malditos dia e noite por quem nos quer ver debilitados e dependentes da administração pública.

Por nos sentirmos enfraquecidos, acovardados e não contarmos com a empatia de nossos semelhantes, clamamos, pois, por mais e mais proteção estatal – justamente o ente mais interessado e maior beneficiário de nossas insensibilidade, fraqueza e covardia.

E isso tudo, por acaso, faz parte de uma conspiração orquestrada por indivíduos reunidos em uma sala e fumando charutos, e que possui agentes em todos os cantos infiltrados? Não creio – muito embora o Foro de SP não corrobore com este entendimento. A maioria das pessoas que colabora com a perpetração deste processo de agigantamento do Estado o faz por…medo, fraqueza e apatia! É, pois, um sistema que se retroalimenta, e cresce como uma bola de neve. E impor obstáculos a livre descida desta bola é dever de todo cidadão dotado de empatia, coragem e força, especialmente transmitindo tais predicados, em suas mais diversas facetas, ao maior número possível de pessoas. Muito embora não seja possível comprá-los na esquina, até o menor dos animais, quando acuado, encontra força e coragem para contra-atacar. E o Leão já nos encurralou na parede faz tempo…

O hino gaúcho afirma que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. E acaba mesmo…escravizado por membros de seu próprio povo!