sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Inocente!
Agora a bola da vez somos
nós. O PT não pode continuar crescendo, tem que ser atacado de todos os lados,
em todas as frentes, com artilharia leve e pesada. Vamos fazer guerra eletrônica
contra o PT, não importa se é verdade ou mentira. Vamos tentar difamar,
destruir esse partido. No processo do mensalão, os companheiros que foram
julgados já estavam condenados. Esse processo da Petrobras, o que a gente está
vendo é que quando chegar na Suprema Corte, quando o Teori (Zavascki) for
analisar a delação premiada, instrumento criado por nós, a imprensa já vai ter
condenado. Todo o vazamento é contra o PT
Uma presidente pela metade
A presença do
Lula em Brasília, esta semana, para demorados encontros com a presidente Dilma
e com as bancadas do PT, indica terem sido restabelecidas as relações entre o
antecessor e a sucessora. Claro que o ex-presidente deu mais do que palpites na
formação do novo ministério. Indicou nomes e partidos, insistindo na
preservação do modelo que impôs a Dilma nos últimos quatro anos: divisão do
governo em condomínio com os partidos de sua base parlamentar, permitindo que à
sombra do loteamento de cargos possa ser formada maioria no Congresso, capaz de
garantir a aprovação de projetos de interesse do palácio do Planalto.
Em suma, nada
de novo no limiar do segundo mandato, muito pelo contrário. Fica tudo como
estava, com uma presidente da República prisioneira do fisiologismo de sua
base.
Indaga-se da
hipótese de, dispondo de vontade política, Dilma poderia virar o jogo. A
resposta é não, mesmo se desejasse. Com todo o respeito, ela exerceu e mais
exercerá a função de presidente pela metade. Despojada de ideologia própria,
chorou ao lembrar episódios de sua vida pregressa, ao receber o relatório final
da Comissão da Verdade. Demonstrou, com isso, seu despreparo em aplicar a
promessa de “governo novo, pensamento novo”. A velha fórmula de contemporizar
com a chantagem defendida pelo Lula vedou esperanças e promessas feitas nos
palanques, em outubro.
Fica óbvia a
estratégia adotada para o futuro: repetir o passado, até mesmo com concessões à
direita, tendo como propósito a permanência do mesmo grupo no poder depois de
2018.
Apenas um
obstáculo poderá atrapalhar o plano diretor dos companheiros: sua
desmoralização diante dos sucessivos escândalos praticados à sombra dos poderes
público e privado. As denúncias não param, iniciativas adotadas e por adotar no
Poder Judiciário serão capazes de erodir a estrutura plena de corrupção no
Executivo e no Legislativo.
Nessa hora,
tudo poderá acontecer, até mesmo o rompimento entre Lula e Dilma, já ensaiado
no período seguinte às passadas eleições. Quem sabe a presidente conquiste a
outra metade de suas atribuições e de seus ideais? Pode não dar tempo, caso
continuem ignoradas as lições do passado, aquele que geralmente não diz o que
fazer, mas deixa claro o que evitar.
Noite
alguns sonhos e lugares quase apagados;
mortos os povos com as guerras,
a inflação e as doenças novas,
com o ódio de classe,
a guerra fria.
muitas as orações, a fé,
razão e civilização.
O manto negro da morte.
De uma janela no céu a lua calva
olha esquálida com olhos fixos
o cadáver...
As dores se seguem pelas ruas como espectros!
Anton
Buttigieg (1912-1983)
Petrolão respinga em obras na América Latina
Porto de Mariel, em Cuba, inaugurado por Dilma, é um dos escândalos da lista |
As listas de Yousseff trazem detalhes sobre 747 obras realizadas na região e que poderiam ser a ponta do iceberg de outro escândalo enorme
Quando o
primeiro ex-diretor da Petrobras detido na Operação Lava Jato, Paulo Roberto
Costa, afirmou que a corrupção investigada “acontece em todo o Brasil”, pode
não ter dito tudo o que sabia. O documento que a Polícia Federal encontrou na
residência do cambista “arrependido” Alberto Youssef, com registros de mais de
700 contratos, ameaça ampliar ainda mais, se possível, o âmbito do maior caso
de corrupção da história brasileira.
O já célebre
juiz do Paraná, Sergio Moro, reconheceu em uma diligência que as revelações são
“perturbadoras” e sugeriu que “o esquema criminoso de fraude, licitação,
superfaturamento e subornos poderia ir muito além” da petroleira estatal. Não se
refere somente ao restante do país. O citado documento inclui obras públicas
realizadas em vários outros países latino-americanos, como Argentina e Uruguai
(parceiros do Brasil no Mercosul), Equador e Colômbia.
As listas
apreendidas com Alberto Youssef, preso desde março e acusado de lavagem de
dinheiro, trazem (segundo informou a TV Globo no fim de semana) detalhes sobre
747 obras realizadas por 170 empresas, na maioria construtoras, em uma relação
que apresenta grande semelhança com a das empresas investigadas na enorme
operação desencadeada pela polícia federal há 18 meses. A soma total desses
projetos é de 11,5 bilhões de reais; talvez uma quantia modesta em comparação
com a gigantesca rede de subornos, lavagem de dinheiro e financiamento ilegal
de partidos políticos descoberta no entorno da Petrobras, “mas que poderia ser
apenas a ponta do iceberg de outro escândalo enorme”, dizem a esse canal de
televisão fontes ligadas ao caso.
Um total de
59% das obras que aparecem na lista apreendida com Youssef tinha a Petrobras
como cliente final. Os principais projetos eram obras de infraestrutura de
transporte (portos, aeroportos, metrôs), bem como refinarias e obras de
mineração e saneamento. O juiz Moro pediu explicitamente uma “profunda
investigação” para confirmar as suspeitas sobre as novas irregularidades.
Rodrigo Janot, procurador-geral da República, confirmou que as novas revelações
já estão sendo analisadas pelo Ministério Público.
Entre as obras
incluídas na relação se destaca a ampliação do porto de Mariel, a 50
quilômetros de Havana (Cuba), ambicioso projeto da nova zona franca comercial
realizado com financiamento brasileiro, cuja primeira parte foi inaugurada em
janeiro com a presença da presidenta Dilma Rousseff, e que foi criticado
durante a recente campanha eleitoral pelo oposicionista Aécio Neves. Construído
pela “gigante” Odebrecht (investigada na Lava Jato, embora seja uma das poucas
empresas do suposto “clube” de empreiteiras corruptoras que não teve nenhum
diretor preso), seu valor alcança o equivalente a 22,5 bilhões de reais. No
documento aparece citado com um valor de 3,6 milhões de reais, sem maior
explicação. A construtora nega ter pago qualquer suborno.
Nas listas explosivas
de Yousseff aparece também um gasoduto argentino da província de Córdoba que
tinha recebido em 2008 ajuda no valor de 60 milhões de reais do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o principal banco de fomento
latino-americano, que na última década concedeu empréstimos de bilhões de
dólares a seu vizinho austral para a expansão da rede de gás. Porta-vozes do
BNDES se apressaram a negar qualquer participação no esquema.
Um discurso ou o dinheiro de volta?
A retórica da indignação pode fazer bem à alma dos partidários do governo e aos admiradores da presidente, mas não resolve os problemas práticos da empresa.
Entre dezenas
de debates inúteis que enchem de som e fúria as redes sociais, onde hoje se
localizam as trincheiras da guerra ideológica, está aquele que pretende
determinar, afinal de contas, se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha da
corrupção.
No tsunami
provocado pela Operação Lava Jato, que vem esquartejando aos poucos as
entranhas da maior empresa do país, a mítica Petrobrás, ao lado de cifras
estratosféricas desfilam nomes inimagináveis e esquemas indecifráveis de
propinodutos ligados a siglas partidárias, o que insinua um loteamento político
de larga escala das diretorias da empresa.
A militância
política infanto-juvenil (uma qualificação que não é cronológica mas de
amadurecimento intelectual) atribui a descoberta e investigação do escândalo à
suposta coragem do governo petista, já que nunca antes na história deste pais a
corrupção foi tão investigada como agora.
A presidente,
como ela mesma não se cansa de repetir, repudia a corrupção mais do que
qualquer outra pessoa no mundo. Aliás, o verbo repudiar nunca esteve em tanta
evidência como nestes últimos tempos. Nunca a corrupção foi tão repudiada-e ,
paradoxalmente, tão praticada- como agora.
O discurso
indignado do procurador geral da República Rodrigo Janot no Dia Internacional
de Combate à Corrupção, no qual defendeu a troca da diretoria da Petrobrás,
provocou mais impacto do que as declarações do Controlador da União, Jorge
Hage, depois de apresentar seu pedido de demissão do cargo que exerceu durante
8 anos.
Janot foi mais
emocional (“Envergonha-nos estar onde estamos”) e Hage mais técnico ( criticou
o frouxo sistema de controle do governo sobre
estatais e a falta de investimentos na CGU, que segundo ele perdeu 300
auditores desde 2008), mas ambos miravam o mesmo alvo: a falta de
profissionalismo na relação do governo com as empresas que ele controla.
A reação da
presidente à fala de Janot foi a de considerá-la um “escândalo" e
determinar ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que a respondesse, o que
ele fez naquele habitual tom de falsete, que consegue transformar questões de
Estado em arenga partidária; esse tom deve parecer adequado a alguém que cobiça
uma vaga no Supremo e sabe a quem deve agradar para consegui-lo.
O fato é que a
presidente está “indignada”, o fato é que ela “repudia" a corrupção, o
fato é que ela não tolera “malfeitos”, e ainda assim considera um escândalo que
o procurador-geral sugira o afastamento de uma diretoria sobre a qual pesa a
suspeita de uma gestão descuidada, para dizer o mínimo.
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