terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Os pilares do seu corpo
Imagine-se morando com pessoas queridas num prédio com nove pilares. Se um fica comprometido você se preocupa, mas espera que os engenheiros tenham feito os cálculos com boa margem de segurança. Em seguida vem a notícia, derivada de estudos confiáveis e testados, de que não é um, são seis ou sete os pilares comprometidos (areia inadequada na construção, ferragem enferrujada, vazamentos de água e líquidos tóxicos…).
Qual sua reação? Foge do prédio? Para onde, se você não tem outro pouso? Fica quieto? Banca avestruz e diz que os especialistas estão errados? Ou age em defesa dos interesses seus e dos seus filhos/as e netos/as? Como agir, dado o enorme diferencial entre o seu poder e o daqueles que minimizam ou postergam o enfrentamento das causas do problema? E fazem-no por se saberem culpados, em razão de suas ações passadas e presentes, e por estarem cientes de que, por justiça, deveriam arcar com os custos da correção dos danos! E se os poderosos culpados não agem e você não tem outro pouso, fazer o quê?
Agir implica riscos e não agir resulta, mais dia menos dia, no desabamento do prédio, pois o processo de degradação dos pilares continua.
Podemos substituir a imagem dos pilares do prédio pelos do corpo de uma filha sua, ou seja, seus sistemas vitais. Imagine que as ações de certas pessoas já comprometeram, com maior ou menor severidade, o sistema circulatório dela, o muscular, o digestório, o endócrino e o urinário… Restam poucas chances de uma boa vida futura para sua querida filha, não? E você faz o quê com os responsáveis pelo comprometimento dos sistemas vitais dela? Como disse Gonzaguinha: “Você deve estampar um ar de alegria e dizer tudo tem melhorado”???!!!
Digamos que sua filha se chama Gaia, nome da deusa grega tida como a mãe-terra. Assim como sua filha, a outra Gaia, este único planeta habitável, tem sistemas vitais (atmosfera, hidrosfera, criosfera, geosfera e a biosfera) comprometidos. Todos eles, com maior ou menor severidade, degradados pela insensata marcha da civilização industrial, cuja dinâmica, em seus cerca de três séculos, conseguiu danificar os sistemas vitais do planeta, alguns além da capacidade de regeneração e, parece, prestes a explodirem. Mas essa mesma (dita) civilização não foi capaz de dar à 80% dos humanos vida digna; essa parcela de humanos “não vive, apena aguenta”!
Para salvarmos nossas filhas e netas temos que buscar maneiras de substituir os processos de degradação por outros, de recuperação; os mecanismos de competição pelos de cooperação; o foco na acumulação pela prioridade à distribuição; a busca do (indefinido) “desenvolvimento” pela qualidade de vida, já; o poder das armas pela força das ideias, da cultura e da solidariedade. Tudo o mais é promessa de políticos e seus aliados para se darem bem, cegos à violência contra as Gaias, sua filha e o planeta.
Embora possam parecer, as regras que regem a dinâmica das sociedades humanas não são eternas; algumas duram séculos, outras apenas décadas. Mudar a dinâmica atual na direção indicada acima é, pois, possível, essencial e urgente!
Qual sua reação? Foge do prédio? Para onde, se você não tem outro pouso? Fica quieto? Banca avestruz e diz que os especialistas estão errados? Ou age em defesa dos interesses seus e dos seus filhos/as e netos/as? Como agir, dado o enorme diferencial entre o seu poder e o daqueles que minimizam ou postergam o enfrentamento das causas do problema? E fazem-no por se saberem culpados, em razão de suas ações passadas e presentes, e por estarem cientes de que, por justiça, deveriam arcar com os custos da correção dos danos! E se os poderosos culpados não agem e você não tem outro pouso, fazer o quê?
Agir implica riscos e não agir resulta, mais dia menos dia, no desabamento do prédio, pois o processo de degradação dos pilares continua.
Podemos substituir a imagem dos pilares do prédio pelos do corpo de uma filha sua, ou seja, seus sistemas vitais. Imagine que as ações de certas pessoas já comprometeram, com maior ou menor severidade, o sistema circulatório dela, o muscular, o digestório, o endócrino e o urinário… Restam poucas chances de uma boa vida futura para sua querida filha, não? E você faz o quê com os responsáveis pelo comprometimento dos sistemas vitais dela? Como disse Gonzaguinha: “Você deve estampar um ar de alegria e dizer tudo tem melhorado”???!!!
Digamos que sua filha se chama Gaia, nome da deusa grega tida como a mãe-terra. Assim como sua filha, a outra Gaia, este único planeta habitável, tem sistemas vitais (atmosfera, hidrosfera, criosfera, geosfera e a biosfera) comprometidos. Todos eles, com maior ou menor severidade, degradados pela insensata marcha da civilização industrial, cuja dinâmica, em seus cerca de três séculos, conseguiu danificar os sistemas vitais do planeta, alguns além da capacidade de regeneração e, parece, prestes a explodirem. Mas essa mesma (dita) civilização não foi capaz de dar à 80% dos humanos vida digna; essa parcela de humanos “não vive, apena aguenta”!
Para salvarmos nossas filhas e netas temos que buscar maneiras de substituir os processos de degradação por outros, de recuperação; os mecanismos de competição pelos de cooperação; o foco na acumulação pela prioridade à distribuição; a busca do (indefinido) “desenvolvimento” pela qualidade de vida, já; o poder das armas pela força das ideias, da cultura e da solidariedade. Tudo o mais é promessa de políticos e seus aliados para se darem bem, cegos à violência contra as Gaias, sua filha e o planeta.
Embora possam parecer, as regras que regem a dinâmica das sociedades humanas não são eternas; algumas duram séculos, outras apenas décadas. Mudar a dinâmica atual na direção indicada acima é, pois, possível, essencial e urgente!
Pensar o país
Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso, mas que vive dentro do artifício. O Alemão é uma broca ou um parafuso, mas que tem o feitio de uma broca ou de um parafuso. O Italiano é um histérico, mas que se investe da sua condição no parlapatar barato, na gritaria. O Inglês é um sujeito grave de coco, mas que assume a gravidade e o ridículo que vier nela. Nós somos sobretudo ridículos porque o não queremos parecer. A politiqueirada portuguesa é uma gentalha execranda, parlapatona, intriguista, charlatã, exibicionista, fanfarrona, de um empertigamento patarreco — e tocante de candura. Deus. É pois isto a democracia?
Vergílio Ferreira, "Conta-Corrente 2"
Um buraco à espreita da América
Kurt Gödel, de origem austro-húngara, foi um dos maiores matemáticos do mundo moderno. Demonstrou a incompletude dos sistemas axiomáticos, inclusive da própria matemática, que comportaria falhas. De sua atribulada história pessoal consta o episódio conhecido como "buraco de Gödel": na solenidade de sua naturalização americana, ele quis apontar um buraco lógico na Constituição dos EUA que abriria caminho para uma ditadura. Foi contido pelo padrinho Einstein e pelo juiz, que o teria mandado calar-se. Nunca mais voltou ao assunto, jamais se soube onde estaria o furo.
A realidade é que essa Carta resulta de um país fundado por intelectuais como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton, John Adams e outros citados como "founding fathers". Segunda proclamada no mundo, em 1787, é também a menor existente, com cinco capítulos e 27 emendas. Uma simplicidade aparente, pois é a mais difícil de acolher emendas, o que explicaria a persistência de vieses antidemocráticos. Feita em nome da liberdade, passou ao largo da abolição da escravatura. Seu principal cuidado é o equilíbrio entre o poder central e o dos estados, cerceando eventuais inclinações autocráticas por um sistema de contrapesos,
Uma coisa é o formalismo de um sistema, outra a sua inserção numa forma de vida. No fluxo vital é que as palavras ganham pleno sentido e aparece a diversidade radical dos indivíduos em meio à sua aparente semelhança. Isso era significativo quando a união constitucional não destoava dos discursos civis nem de como a mídia figurava a cidadania americana.
Tudo começou a mudar desde os anos 60 com a crescente percepção de ameaça identitária por parte de grupos sociais. Após forte onda imigratória e profundo rearranjo partidário, os republicanos consolidaram-se como bunker paranoico dos cristãos brancos, da supremacia racial e da reação aos costumes. A intensidade das mudanças, inclusive as demográficas, contribui para a percepção de fenecimento do mito da "verdadeira América".
Trump é fruto maduro dessa transformação. Em qualidades humanas, um fruto podre, ou "brain rot", a expressão do ano. Posto na balança, é uma derivação de presidentes como Reagan, Nixon, Bush, só que com aberrações pessoais expostas. No governo, não assassinou com drones tanta gente como o liberal e simpático Obama.
Nenhum desses brucutus parece ter sequer sonhado em violar a Constituição apregoada pela razão liberal como a mais sólida do mundo. Mas a razão também sonha, diz Goya, e assim "produz monstros". O pesadelo de uma brecha racional para a monstruosidade da ditadura poderia ser o "buraco de Gödel".
Talvez não se precise de furo lógico. Um buraco real já pode estar aberto na civilidade que sustenta a Constituição. A Suprema Corte parece feita de supremos cortesões. E Trump, disposto a testar a resiliência do sistema, aparelha o seu secretariado com o top de linha do sórdido em termos civis e gerenciais. "O horror, o horror", exclama o coronel Kurtz em "Coração das Trevas" e "Apocalypse Now". E trevas justificam a Lei de Murphy: o que é ruim tende a piorar.
A realidade é que essa Carta resulta de um país fundado por intelectuais como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton, John Adams e outros citados como "founding fathers". Segunda proclamada no mundo, em 1787, é também a menor existente, com cinco capítulos e 27 emendas. Uma simplicidade aparente, pois é a mais difícil de acolher emendas, o que explicaria a persistência de vieses antidemocráticos. Feita em nome da liberdade, passou ao largo da abolição da escravatura. Seu principal cuidado é o equilíbrio entre o poder central e o dos estados, cerceando eventuais inclinações autocráticas por um sistema de contrapesos,
Uma coisa é o formalismo de um sistema, outra a sua inserção numa forma de vida. No fluxo vital é que as palavras ganham pleno sentido e aparece a diversidade radical dos indivíduos em meio à sua aparente semelhança. Isso era significativo quando a união constitucional não destoava dos discursos civis nem de como a mídia figurava a cidadania americana.
Tudo começou a mudar desde os anos 60 com a crescente percepção de ameaça identitária por parte de grupos sociais. Após forte onda imigratória e profundo rearranjo partidário, os republicanos consolidaram-se como bunker paranoico dos cristãos brancos, da supremacia racial e da reação aos costumes. A intensidade das mudanças, inclusive as demográficas, contribui para a percepção de fenecimento do mito da "verdadeira América".
Trump é fruto maduro dessa transformação. Em qualidades humanas, um fruto podre, ou "brain rot", a expressão do ano. Posto na balança, é uma derivação de presidentes como Reagan, Nixon, Bush, só que com aberrações pessoais expostas. No governo, não assassinou com drones tanta gente como o liberal e simpático Obama.
Nenhum desses brucutus parece ter sequer sonhado em violar a Constituição apregoada pela razão liberal como a mais sólida do mundo. Mas a razão também sonha, diz Goya, e assim "produz monstros". O pesadelo de uma brecha racional para a monstruosidade da ditadura poderia ser o "buraco de Gödel".
Talvez não se precise de furo lógico. Um buraco real já pode estar aberto na civilidade que sustenta a Constituição. A Suprema Corte parece feita de supremos cortesões. E Trump, disposto a testar a resiliência do sistema, aparelha o seu secretariado com o top de linha do sórdido em termos civis e gerenciais. "O horror, o horror", exclama o coronel Kurtz em "Coração das Trevas" e "Apocalypse Now". E trevas justificam a Lei de Murphy: o que é ruim tende a piorar.
Filho golpista não tem pai
Filho feio não tem pai. As Forças Armadas hoje procuram afastar os laços com Braga Netto, considerando-o traidor da farda e, ao lado de Bolsonaro, arquiteto do golpe de 2022. Nem sempre foi assim.
Em 2018, quando a popularidade da caserna atingia o auge, os políticos tradicionais eram demonizados e Bolsonaro já ocupava o segundo lugar nas pesquisas eleitorais para presidente, Braga Netto foi escolhido para chefiar a intervenção federal no Rio. A operação foi um desastre digno do governo Temer, não mudou o quadro de insegurança, deixou um rastro de casos de corrupção e os milicianos aproveitaram para matar Marielle. Mas o caminho para a entrada dos generais no poder estava aberto.
Quatro estrelas no ombro, Braga Netto era um deles. Construiu a imagem de discreto, o perfil técnico que iria moderar os arroubos do capitão. Dizia-se nos bastidores que detestava política. Como ministro da Casa Civil, decidiu sobre a compra ou não de vacinas, abafou a crise de oxigênio em Manaus, aprovou a importação e a fabricação de cloroquina. Em 2020, durante a pandemia, chegou a receber quase R$ 1 milhão de salário. Deve ter sido aí que passou a gostar de política.
Candidato a vice-presidente derrotado na chapa de Bolsonaro, partiu para o terror, combinando em sua própria casa a eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. É difícil imaginar que Braga Netto tenha pensado em tudo sozinho. Outras cabeças estão livres. Por enquanto.
Braga Netto usou à vontade a estrutura do PL para montar um QG do golpe e ainda deixou documentos impressos como prova. Ao conspirar contra a democracia na sede da sigla, fica evidente que o filho feio não pertence apenas ao Exército. Valdemar Costa Neto assumiu a criança com orgulho. O partido só desistiu de lançar a candidatura do general a prefeito do Rio quando ele se tornou inelegível. Alexandre Ramagem, não à toa também indiciado pela Polícia Federal na trama golpista, era o plano B.
Mauro Cid disse que Braga Netto recebeu dinheiro do "pessoal do agronegócio", repassando-o em sacolas de vinho aos kids pretos. Nunca se viu um rebento com tantos progenitores.
Alvaro Costa e Silva
Em 2018, quando a popularidade da caserna atingia o auge, os políticos tradicionais eram demonizados e Bolsonaro já ocupava o segundo lugar nas pesquisas eleitorais para presidente, Braga Netto foi escolhido para chefiar a intervenção federal no Rio. A operação foi um desastre digno do governo Temer, não mudou o quadro de insegurança, deixou um rastro de casos de corrupção e os milicianos aproveitaram para matar Marielle. Mas o caminho para a entrada dos generais no poder estava aberto.
Quatro estrelas no ombro, Braga Netto era um deles. Construiu a imagem de discreto, o perfil técnico que iria moderar os arroubos do capitão. Dizia-se nos bastidores que detestava política. Como ministro da Casa Civil, decidiu sobre a compra ou não de vacinas, abafou a crise de oxigênio em Manaus, aprovou a importação e a fabricação de cloroquina. Em 2020, durante a pandemia, chegou a receber quase R$ 1 milhão de salário. Deve ter sido aí que passou a gostar de política.
Candidato a vice-presidente derrotado na chapa de Bolsonaro, partiu para o terror, combinando em sua própria casa a eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. É difícil imaginar que Braga Netto tenha pensado em tudo sozinho. Outras cabeças estão livres. Por enquanto.
Braga Netto usou à vontade a estrutura do PL para montar um QG do golpe e ainda deixou documentos impressos como prova. Ao conspirar contra a democracia na sede da sigla, fica evidente que o filho feio não pertence apenas ao Exército. Valdemar Costa Neto assumiu a criança com orgulho. O partido só desistiu de lançar a candidatura do general a prefeito do Rio quando ele se tornou inelegível. Alexandre Ramagem, não à toa também indiciado pela Polícia Federal na trama golpista, era o plano B.
Mauro Cid disse que Braga Netto recebeu dinheiro do "pessoal do agronegócio", repassando-o em sacolas de vinho aos kids pretos. Nunca se viu um rebento com tantos progenitores.
Alvaro Costa e Silva
A lealdade do general Braga Netto a Bolsonaro não é retribuída
Uma vez que a política é como uma nuvem que muda de forma a cada momento, não cobre acertos em demasia a quem é obrigado a observá-la e a escrever a respeito. O “Repórter Esso”, o primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil, se dizia “testemunha ocular da história” entre os anos 1940 e final dos anos 1960.
Mas isso era força de expressão acima de tudo. “Testemunha ocular” é quem presencia diretamente um fato ou evento, podendo relatar em detalhes o que viu, ouviu ou percebeu. Raramente, e não só aqui, assistimos de fato o que acontece. Ouvimos muito sobre o que aconteceu depois do acontecido, e aí registramos.
Feita a ressalva… Em off, sempre em off, parte dos que se oferecem como porta-vozes informais do meio militar diz que por ali reina paz apesar da prisão de um general de quatro estrelas, da detenção de oito altos oficiais e do indiciamento de outros 25 por suspeita de terem tramado a derrubada do Estado Democrático de Direito.
Outra parte dos porta-vozes informais do meio militar, contudo, em off, sempre em off, diz que não é bem assim. Reina muito nervosismo entre militares da ativa e da caserna, e tanto mais porque espera-se, em breve, o indiciamento de novos oficiais de alta patente, inclusive generais, implicados no golpe que fracassou.
O atual comando do Exército e da Aeronáutica é legalista; o da Marinha, há poucas semanas, revelou-se menos ao postar em suas redes um vídeo que exaltava a vida dura dos militares em contraste com a aparente boa vida dos paisanos. Lula ficou furioso e cobrou explicações. Aguarda um pedido de desculpas do comandante.
Quem também aguarda é José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conhecido entre os colegas como “ministro-do-deixa disso”. Múcio foi pego de surpresa pelo vídeo. Desde que tomou posse, Lula já almoçou ou jantou com os comandantes quatro vezes – uma única, na casa de um deles, justamente o da Marinha.
Presidente da República não pede desculpas. Se não quiser ser substituído, então que o comandante da Marinha peça desculpas. Não é humilhação admitir que errou. Múcio já substituiu um comandante do Exército antes que Lula exigisse sua demissão. Lula sabe ser bonzinho quando quer, ou mau como um pica-pau.
Bolsonaro é useiro e vezeiro em abandonar quem lhe fez companhia e acabou mais tarde caindo em desgraça. Deu sinais de que continuará se comportando assim ao saber da prisão de Braga Netto, seu ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e candidato a vice-presidente em sua chapa nas eleições de 2022.
Levou 12 horas para dizer algo. E quando disse, não foi para defender o general, mas para reclamar da Polícia Federal que o teria indiciado depois do encerramento do inquérito. Braga Netto notou a diferença. Se condenado, os crimes que lhe são atribuídos poderão render uma pena de prisão superior a 30 anos.
Um trecho da nota de defesa do general dá uma pista de como ele poderá reagir ao abandono anunciado por Bolsonaro. Eis o trecho:
– Durante o governo passado, [o general] foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis.
Que valores e princípios inegociáveis são esses? A lealdade é um dos valores mais cultuados pelos militares. A obediência é outro valor. Soldado algum obedece à ordem de ir à guerra e arrisca-se a morrer se seu superior não for leal a ele, e vice-versa. Não se abandonam feridos e mortos em campos de batalha.
Como tudo isso acabará um dia? Não faço ideia. Torço para que acabe bem, com a punição dos culpados e o fortalecimento da democracia. Mas aprendi há muito tempo que não posso confundir o que desejo que aconteça com o que irá acontecer. Daí porque sigo observando a nuvem com meu olho já cansado.
Mas isso era força de expressão acima de tudo. “Testemunha ocular” é quem presencia diretamente um fato ou evento, podendo relatar em detalhes o que viu, ouviu ou percebeu. Raramente, e não só aqui, assistimos de fato o que acontece. Ouvimos muito sobre o que aconteceu depois do acontecido, e aí registramos.
Feita a ressalva… Em off, sempre em off, parte dos que se oferecem como porta-vozes informais do meio militar diz que por ali reina paz apesar da prisão de um general de quatro estrelas, da detenção de oito altos oficiais e do indiciamento de outros 25 por suspeita de terem tramado a derrubada do Estado Democrático de Direito.
Outra parte dos porta-vozes informais do meio militar, contudo, em off, sempre em off, diz que não é bem assim. Reina muito nervosismo entre militares da ativa e da caserna, e tanto mais porque espera-se, em breve, o indiciamento de novos oficiais de alta patente, inclusive generais, implicados no golpe que fracassou.
O atual comando do Exército e da Aeronáutica é legalista; o da Marinha, há poucas semanas, revelou-se menos ao postar em suas redes um vídeo que exaltava a vida dura dos militares em contraste com a aparente boa vida dos paisanos. Lula ficou furioso e cobrou explicações. Aguarda um pedido de desculpas do comandante.
Quem também aguarda é José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conhecido entre os colegas como “ministro-do-deixa disso”. Múcio foi pego de surpresa pelo vídeo. Desde que tomou posse, Lula já almoçou ou jantou com os comandantes quatro vezes – uma única, na casa de um deles, justamente o da Marinha.
Presidente da República não pede desculpas. Se não quiser ser substituído, então que o comandante da Marinha peça desculpas. Não é humilhação admitir que errou. Múcio já substituiu um comandante do Exército antes que Lula exigisse sua demissão. Lula sabe ser bonzinho quando quer, ou mau como um pica-pau.
Bolsonaro é useiro e vezeiro em abandonar quem lhe fez companhia e acabou mais tarde caindo em desgraça. Deu sinais de que continuará se comportando assim ao saber da prisão de Braga Netto, seu ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e candidato a vice-presidente em sua chapa nas eleições de 2022.
Levou 12 horas para dizer algo. E quando disse, não foi para defender o general, mas para reclamar da Polícia Federal que o teria indiciado depois do encerramento do inquérito. Braga Netto notou a diferença. Se condenado, os crimes que lhe são atribuídos poderão render uma pena de prisão superior a 30 anos.
Um trecho da nota de defesa do general dá uma pista de como ele poderá reagir ao abandono anunciado por Bolsonaro. Eis o trecho:
– Durante o governo passado, [o general] foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis.
Que valores e princípios inegociáveis são esses? A lealdade é um dos valores mais cultuados pelos militares. A obediência é outro valor. Soldado algum obedece à ordem de ir à guerra e arrisca-se a morrer se seu superior não for leal a ele, e vice-versa. Não se abandonam feridos e mortos em campos de batalha.
Como tudo isso acabará um dia? Não faço ideia. Torço para que acabe bem, com a punição dos culpados e o fortalecimento da democracia. Mas aprendi há muito tempo que não posso confundir o que desejo que aconteça com o que irá acontecer. Daí porque sigo observando a nuvem com meu olho já cansado.
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