quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Cinismo, indignação e palavrões fofinhos
O cinismo explica a política de modo mais eficiente que a indignação. Ao enveredar pelos maus humores para explicar a política, caímos no poço da indignação. Um poço fundo e escuro do qual é difícil sair.
O indignar tem sido arma de retórica de muitos. Até mesmo pelo fato de que o Brasil é um país que tem inúmeros motivos para causar indignação. O indignar, no entanto, tem sido usado de forma pouco eficiente, já que embute uma perigosa armadilha. E, ao cairmos na armadilha da indignação, temos nossos sentidos obliterados.
O indignar tem sido arma de retórica de muitos. Até mesmo pelo fato de que o Brasil é um país que tem inúmeros motivos para causar indignação. O indignar, no entanto, tem sido usado de forma pouco eficiente, já que embute uma perigosa armadilha. E, ao cairmos na armadilha da indignação, temos nossos sentidos obliterados.
Pawel Kuszynski |
Quase todos os grandes líderes da humanidade usaram a indignação como forma de manipular o povo. Mas essa não é uma prerrogativa apenas das pessoas. Instituições também manipulam as expectativas do povo, e o recurso da indignação é o caminho mais curto para se chamar a atenção.
Em um país de pobre estofo gramatical e onde a teatralidade no falar vale mais do que a literalidade das palavras, a indignação cai bem. Por isso qualquer coisa pode ser dita a um brasileiro, desde que seja dita sem exaltação. Já qualquer coisa banal dita com tom de indignação causa efeito. Dar mais valor à forma que ao conteúdo é um aspecto selvagem de nosso povo.
Ocorre com os cachorros: palavras de carinho ditas agressivamente causam temor e raiva; palavras depreciativas sussurradas carinhosamente geram alegria e satisfação. Um anúncio comercial de tubos e conexões da Tigre, em que dois operários trocam palavras doces e inconsequentes em tom de briga, mostra bem como isso funciona. O mote é: “Por um mundo sem palavrões; use palavrões fofinhos”.
Nosso povo, ao examinar a política, deveria dar mais valor ao conteúdo do que é dito do que à sua forma. Pois, no afã de se fazer ouvir, muitos gritam tolices. Criam pânico e agem como Pedro, personagem da fábula Pedro e o Lobo. Enfadado ao cuidar das ovelhas, Pedro resolveu gritar que um lobo estava a atacá-las. Foi socorrido pelos fazendeiros, que não encontraram lobo nenhum. A brincadeira se repetiu até o dia em que o lobo apareceu de verdade, comeu as ovelhas e os fazendeiros não foram socorrer, pois achavam que os gritos eram de brincadeira.
A indignação nas palavras deve ser processada com muito cuidado. O que é vendido fácil demais como verdade absoluta tem uma grande chance de ser algo que não vale o seu valor de face. O alarmismo tende a criar uma capa de insensibilidade que nos leva ao cinismo a respeito das coisas, das pessoas e das instituições. Já a prudência, por mais enfadonha que seja, pode nos levar à precisão.
Em um país de pobre estofo gramatical e onde a teatralidade no falar vale mais do que a literalidade das palavras, a indignação cai bem. Por isso qualquer coisa pode ser dita a um brasileiro, desde que seja dita sem exaltação. Já qualquer coisa banal dita com tom de indignação causa efeito. Dar mais valor à forma que ao conteúdo é um aspecto selvagem de nosso povo.
Ocorre com os cachorros: palavras de carinho ditas agressivamente causam temor e raiva; palavras depreciativas sussurradas carinhosamente geram alegria e satisfação. Um anúncio comercial de tubos e conexões da Tigre, em que dois operários trocam palavras doces e inconsequentes em tom de briga, mostra bem como isso funciona. O mote é: “Por um mundo sem palavrões; use palavrões fofinhos”.
Nosso povo, ao examinar a política, deveria dar mais valor ao conteúdo do que é dito do que à sua forma. Pois, no afã de se fazer ouvir, muitos gritam tolices. Criam pânico e agem como Pedro, personagem da fábula Pedro e o Lobo. Enfadado ao cuidar das ovelhas, Pedro resolveu gritar que um lobo estava a atacá-las. Foi socorrido pelos fazendeiros, que não encontraram lobo nenhum. A brincadeira se repetiu até o dia em que o lobo apareceu de verdade, comeu as ovelhas e os fazendeiros não foram socorrer, pois achavam que os gritos eram de brincadeira.
A indignação nas palavras deve ser processada com muito cuidado. O que é vendido fácil demais como verdade absoluta tem uma grande chance de ser algo que não vale o seu valor de face. O alarmismo tende a criar uma capa de insensibilidade que nos leva ao cinismo a respeito das coisas, das pessoas e das instituições. Já a prudência, por mais enfadonha que seja, pode nos levar à precisão.
Em nome do capital
Tempos estranhos, esses!
À frente das mais bem equipadas forças armadas do planeta, o insano presidente Donald Trump administra os Estados Unidos como uma criança mimada. Em menos de um mês, exibiu o viés autoritário de sua maneira de governar, passando por cima de preceitos jurídicos e fomentando, fosse um caubói alucinado, o ódio e o ressentimento contra minorias étnicas e religiosas e adversários econômicos. Seu lema, America First (Estados Unidos primeiro), carrega um tom nacionalista e xenófobo que remonta às ideologias totalitáriasda primeira metade do século XX, quando nos vimos mergulhados em dois conflitos que resultaram em um saldo de 34 milhões de soldados e 65 milhões de civis mortos e 56 milhões de feridos.
Também autoritário, nacionalista e xenófobo é o ex-chefe da temida KGB soviética, o presidente russo Vladimir Putin, que tem à sua disposição o segundo maior arsenal nuclear do mundo. Além de acusado de fazer desaparecer inimigos políticos internos, Putin já teve oportunidade de demonstrar seu profundo desprezo por tratados ou acordos, ao ocupar militarmente a Crimeia, parte integrante da Ucrânia. Vale lembrar que essa mesma região foi palco de uma conflagração de amplas proporções, a chamada Guerra da Crimeia, que durou de 1853 a 1856, opondo a coligação formada pelo Reino Unido, França, Sardenha e Império Otomano, com apoio do Império Austro-Húngaro, às pretensões expansionistas russas.
Autoritário, nacionalista e xenófobo também é o Partido Comunista que controla a China desde 1949. Expansionistas como os russos, os chineses ocuparam o Tibete em 1950, tornando-a uma região autônoma sob jugo da administração central de Pequim. Comandando um agressivo crescimento econômico, à revelia de direitos humanos, trabalhistas e ambientais, a China está presente hoje em todos os continentes, seja por meio de produtos baratos, seja por meio de capital. Para defender seus interesses, o presidente Xi Jinping tem à sua disposição o quinto maior arsenal nuclear do planeta e 2,3 milhões de militares ativos, a maior força armada do mundo.
Além de Estados Unidos, Rússia e China, a fechadíssima Coreia do Norte tem, de maneira patética, conquistado protagonismo geopolítico. À frente de uma ditadura hereditária, o infantil líder Kim Jong-un assumiu o poder em 2011, com a morte de seu pai, Kim Jong-il, que, por sua vez, havia sucedido seu pai, Kim Il-sung, mandante único do país entre 1948 e 1994. A Coreia do Norte, que tem com a China a principal parceria política e econômica, vem realizando testes com ogivas nucleares, buscando fabricar bombas capazes de atingir seus inimigos, como os Estados Unidos e aliados nas vizinhanças. Além disso, calcula-se que mantenha cerca de 1,1 milhão de militares em atividade para uma população de 25 milhões, o que a torna proporcionalmente a maior força mobilizada da Terra.
Enfim, entre outros agentes desestabilizadores, o chamado Estado Islâmico, inimigo da civilização ocidental, grupo de militantes fanáticos alimentados pela humilhação e pelo ressentimento, que potencialmente podem causar estragos impensáveis, justamente por serem quase invisíveis. Não agem em nome da religião, que dizem professar, mas da cegueira e da autodestruição. São os deserdados da riqueza econômica, que, ao fim e ao cabo, move os interesses de todos os países citados acima.
Embora assentados em pretensas divergências ideológicas – falsas, insisto – Estados Unidos, Rússia e China convergem todas as suas diferenças para o campo da influência econômica. O que se encontra em jogo é o que determinou, sempre, o caminho da história da Humanidade: o dinheiro. Com uma pequena, mas fundamental novidade, a quase inexistência de vozes dissonantes. Não há lugar mais para a defesa do Humanismo – o mundo tornou-se um espaço áspero, desértico, estéril, no qual impera o egoísmo e a mediocridade.
Em 1919, um ano após o término da Primeira Guerra Mundial, o escritor italiano Italo Svevo (1861-1928) começou a escrever o romance A consciência de Zeno, publicado em 1923. Abalado pela violência inaudita dos conflitos daquela que seria a guerra para acabar com todas as guerras, Svevo encerra o livro de uma maneira premonitória – antecipa visionariamente a criação da bomba atômica – e apocalíptica: “Quando os gases venenosos já não bastarem, um homem feito como todos outros (...) inventará um explosivo incomparável, diante do qual os explosivos de hoje serão considerados brincadeiras inócuas. E um outro homem, também feito da mesma forma que os demais, roubará esse explosivo e penetrará até o centro da Terra para pô-lo no ponto em que seu efeito possa ser o máximo. Haverá uma explosão enorme que ninguém ouvirá, e a Terra, retornando à sua forma original de nebulosa, errará pelos céus, livre dos parasitas e das enfermidades”.
À frente das mais bem equipadas forças armadas do planeta, o insano presidente Donald Trump administra os Estados Unidos como uma criança mimada. Em menos de um mês, exibiu o viés autoritário de sua maneira de governar, passando por cima de preceitos jurídicos e fomentando, fosse um caubói alucinado, o ódio e o ressentimento contra minorias étnicas e religiosas e adversários econômicos. Seu lema, America First (Estados Unidos primeiro), carrega um tom nacionalista e xenófobo que remonta às ideologias totalitáriasda primeira metade do século XX, quando nos vimos mergulhados em dois conflitos que resultaram em um saldo de 34 milhões de soldados e 65 milhões de civis mortos e 56 milhões de feridos.
Também autoritário, nacionalista e xenófobo é o ex-chefe da temida KGB soviética, o presidente russo Vladimir Putin, que tem à sua disposição o segundo maior arsenal nuclear do mundo. Além de acusado de fazer desaparecer inimigos políticos internos, Putin já teve oportunidade de demonstrar seu profundo desprezo por tratados ou acordos, ao ocupar militarmente a Crimeia, parte integrante da Ucrânia. Vale lembrar que essa mesma região foi palco de uma conflagração de amplas proporções, a chamada Guerra da Crimeia, que durou de 1853 a 1856, opondo a coligação formada pelo Reino Unido, França, Sardenha e Império Otomano, com apoio do Império Austro-Húngaro, às pretensões expansionistas russas.
Autoritário, nacionalista e xenófobo também é o Partido Comunista que controla a China desde 1949. Expansionistas como os russos, os chineses ocuparam o Tibete em 1950, tornando-a uma região autônoma sob jugo da administração central de Pequim. Comandando um agressivo crescimento econômico, à revelia de direitos humanos, trabalhistas e ambientais, a China está presente hoje em todos os continentes, seja por meio de produtos baratos, seja por meio de capital. Para defender seus interesses, o presidente Xi Jinping tem à sua disposição o quinto maior arsenal nuclear do planeta e 2,3 milhões de militares ativos, a maior força armada do mundo.
Além de Estados Unidos, Rússia e China, a fechadíssima Coreia do Norte tem, de maneira patética, conquistado protagonismo geopolítico. À frente de uma ditadura hereditária, o infantil líder Kim Jong-un assumiu o poder em 2011, com a morte de seu pai, Kim Jong-il, que, por sua vez, havia sucedido seu pai, Kim Il-sung, mandante único do país entre 1948 e 1994. A Coreia do Norte, que tem com a China a principal parceria política e econômica, vem realizando testes com ogivas nucleares, buscando fabricar bombas capazes de atingir seus inimigos, como os Estados Unidos e aliados nas vizinhanças. Além disso, calcula-se que mantenha cerca de 1,1 milhão de militares em atividade para uma população de 25 milhões, o que a torna proporcionalmente a maior força mobilizada da Terra.
Enfim, entre outros agentes desestabilizadores, o chamado Estado Islâmico, inimigo da civilização ocidental, grupo de militantes fanáticos alimentados pela humilhação e pelo ressentimento, que potencialmente podem causar estragos impensáveis, justamente por serem quase invisíveis. Não agem em nome da religião, que dizem professar, mas da cegueira e da autodestruição. São os deserdados da riqueza econômica, que, ao fim e ao cabo, move os interesses de todos os países citados acima.
Embora assentados em pretensas divergências ideológicas – falsas, insisto – Estados Unidos, Rússia e China convergem todas as suas diferenças para o campo da influência econômica. O que se encontra em jogo é o que determinou, sempre, o caminho da história da Humanidade: o dinheiro. Com uma pequena, mas fundamental novidade, a quase inexistência de vozes dissonantes. Não há lugar mais para a defesa do Humanismo – o mundo tornou-se um espaço áspero, desértico, estéril, no qual impera o egoísmo e a mediocridade.
Em 1919, um ano após o término da Primeira Guerra Mundial, o escritor italiano Italo Svevo (1861-1928) começou a escrever o romance A consciência de Zeno, publicado em 1923. Abalado pela violência inaudita dos conflitos daquela que seria a guerra para acabar com todas as guerras, Svevo encerra o livro de uma maneira premonitória – antecipa visionariamente a criação da bomba atômica – e apocalíptica: “Quando os gases venenosos já não bastarem, um homem feito como todos outros (...) inventará um explosivo incomparável, diante do qual os explosivos de hoje serão considerados brincadeiras inócuas. E um outro homem, também feito da mesma forma que os demais, roubará esse explosivo e penetrará até o centro da Terra para pô-lo no ponto em que seu efeito possa ser o máximo. Haverá uma explosão enorme que ninguém ouvirá, e a Terra, retornando à sua forma original de nebulosa, errará pelos céus, livre dos parasitas e das enfermidades”.
No cabelo, só gumex
O presidente Michel Temer saiu-se com esta: “Nós lamentavelmente no Brasil temos um certo desprezo pela Constituição”.
Se fosse só pela Constituição, até que não haveria problema. Estaríamos respeitando as leis, decretos e portarias — regras que obedeceriam à letra e ao espírito da Constituição. Logo, esta, indiretamente, estaria sendo cumprida.
O presidente acha que é mais ou menos assim. Disse que a lei ordinária é apenas percebida, que um decreto do governo atrai muita atenção e que a portaria, essa sim, “é sempre obedecida”.
Digamos que o pessoal é mais atento às portarias, mas não por respeito, e sim por conveniência. As portarias sempre tratam de assuntos específicos, que interessam diretamente às pessoas. Mas como no caso das outras normas, a tendência é arranjar um jeito de escapar da regra que desagrada ou atrapalha.
Nos tempos recentes, de crises, essa tendência intensificou-se. Chegou até o Supremo Tribunal Federal, quando a presidente da Corte, Cármen Lúcia, decidiu que o governo do Rio não precisaria cumprir nem a Lei de Responsabilidade Fiscal nem contratos juridicamente perfeitos.
O caso se resume assim: o governo do Rio deve à União. Não pagou. Pela lei e pelos contratos, o governo federal tem não a opção, mas a obrigação de bloquear verbas destinadas ao Rio para cobrir o valor não pago.
Alegou o governo do Rio que estava em situação calamitosa, de modo que tinha o direito de permanecer inadimplente e não sofrer qualquer consequência por isso. A ministra concordou.
De maneira que ficamos assim: o governo do Rio quebrou porque gastou além da conta e, sobretudo, ilegalmente. Sim, isso mesmo, desrespeitou os limites de gastos fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal. Diz o governo atual que não podia prever a crise. Conversa. Podia, sim. Além do mais, continuou gastando por conta mesmo quando as receitas já caíam. Logo, é culpado.
Ao dispensar o governo fluminense dos efeitos da inadimplência, a ministra caiu numa contradição insanável: uma administração que está em crise, porque gastou e se endividou irresponsavelmente e de modo ilegal, fica autorizada a gastar mais e tomar novos empréstimos.
Seria como perdoar o pessoal do caixa dois e autorizar novos caixas para as próximas eleições. Aliás, é o que deseja encaminhar o senador Edison Lobão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça.
E assim vai: policial militar, pela Constituição, não pode fazer greve. Faz e fica por isso mesmo. Não é só o caso do Espírito Santo. Bombeiros do Rio já fizeram greve, conseguiram o que queriam e foram anistiados.
Mulheres de PMs ocupam a entrada dos quartéis. Ilegal. Qual seria a resposta legal? O governo do ES deveria ir aos tribunais, obter um mandado e retirar as mulheres. Havia risco de choques violentos? Nem isso. Ontem de manhã, apenas duas senhoras estavam sentadas em frente ao principal quartel de Vitória. E sabem qual a liminar obtida? As mulheres serão multadas.
E mesmo que houvesse risco de resistência das mulheres, a ordem legal teria de ser cumprida. Assim como ocupações de escolas são ilegais e deveriam ser reprimidas, sempre com mandado legal. Mas alguém se lembra de algum ocupante, líder estudantil ou dos professores chamado a responder pelos seus atos nos tribunais?
É até estranho que não tenham pipocado greves de PMs por toda a parte.
PMs alegam que ganham mal e, por isso, têm o direito de desrespeitar as leis. Repararam que é a mesma lógica do governo do Rio? Como gastou mais do que tinha, tem o direito de pedir mais dinheiro a Brasília mesmo que o gasto tenha sido ilegal.
Mas os PMs e outras categorias têm razão quando alegam que aparece dinheiro para os salários mais altos e para benefícios do pessoal de cima.
Verdade. E com a mesma lógica de driblar a lei pelos interesses pessoais ou corporativos. Exemplo: juízes, promotores, funcionários do alto escalão e políticos acham que têm todo o direito de ganhar salários e vantagens acima do teto legal.
Aqui, aliás, é um desrespeito em série. Já foram editadas várias leis definindo o teto salarial. E que caíram quando os interessados arranjaram gambiarras para furar o limite. Quando isso acontece, em vez de se aplicar a lei e cortar vencimentos, os interessados criam outro teto, incorporando as gambiarras.
Os romanos disseram bem: dura lex sed lex. Mas como lembram os mais antigos, aqui ficou assim: dura lex sed lex, no cabelo só gumex.
De farra, claro. Mas uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, de 2014, mostrou que 81% dos entrevistados consideravam fácil desobedecer à lei, sendo por isso preferível recorrer ao jeitinho.
Pois é.
Carlos Alberto Sardenberg
Se fosse só pela Constituição, até que não haveria problema. Estaríamos respeitando as leis, decretos e portarias — regras que obedeceriam à letra e ao espírito da Constituição. Logo, esta, indiretamente, estaria sendo cumprida.
O presidente acha que é mais ou menos assim. Disse que a lei ordinária é apenas percebida, que um decreto do governo atrai muita atenção e que a portaria, essa sim, “é sempre obedecida”.
Digamos que o pessoal é mais atento às portarias, mas não por respeito, e sim por conveniência. As portarias sempre tratam de assuntos específicos, que interessam diretamente às pessoas. Mas como no caso das outras normas, a tendência é arranjar um jeito de escapar da regra que desagrada ou atrapalha.
O caso se resume assim: o governo do Rio deve à União. Não pagou. Pela lei e pelos contratos, o governo federal tem não a opção, mas a obrigação de bloquear verbas destinadas ao Rio para cobrir o valor não pago.
Alegou o governo do Rio que estava em situação calamitosa, de modo que tinha o direito de permanecer inadimplente e não sofrer qualquer consequência por isso. A ministra concordou.
De maneira que ficamos assim: o governo do Rio quebrou porque gastou além da conta e, sobretudo, ilegalmente. Sim, isso mesmo, desrespeitou os limites de gastos fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal. Diz o governo atual que não podia prever a crise. Conversa. Podia, sim. Além do mais, continuou gastando por conta mesmo quando as receitas já caíam. Logo, é culpado.
Ao dispensar o governo fluminense dos efeitos da inadimplência, a ministra caiu numa contradição insanável: uma administração que está em crise, porque gastou e se endividou irresponsavelmente e de modo ilegal, fica autorizada a gastar mais e tomar novos empréstimos.
Seria como perdoar o pessoal do caixa dois e autorizar novos caixas para as próximas eleições. Aliás, é o que deseja encaminhar o senador Edison Lobão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça.
E assim vai: policial militar, pela Constituição, não pode fazer greve. Faz e fica por isso mesmo. Não é só o caso do Espírito Santo. Bombeiros do Rio já fizeram greve, conseguiram o que queriam e foram anistiados.
Mulheres de PMs ocupam a entrada dos quartéis. Ilegal. Qual seria a resposta legal? O governo do ES deveria ir aos tribunais, obter um mandado e retirar as mulheres. Havia risco de choques violentos? Nem isso. Ontem de manhã, apenas duas senhoras estavam sentadas em frente ao principal quartel de Vitória. E sabem qual a liminar obtida? As mulheres serão multadas.
E mesmo que houvesse risco de resistência das mulheres, a ordem legal teria de ser cumprida. Assim como ocupações de escolas são ilegais e deveriam ser reprimidas, sempre com mandado legal. Mas alguém se lembra de algum ocupante, líder estudantil ou dos professores chamado a responder pelos seus atos nos tribunais?
É até estranho que não tenham pipocado greves de PMs por toda a parte.
PMs alegam que ganham mal e, por isso, têm o direito de desrespeitar as leis. Repararam que é a mesma lógica do governo do Rio? Como gastou mais do que tinha, tem o direito de pedir mais dinheiro a Brasília mesmo que o gasto tenha sido ilegal.
Mas os PMs e outras categorias têm razão quando alegam que aparece dinheiro para os salários mais altos e para benefícios do pessoal de cima.
Verdade. E com a mesma lógica de driblar a lei pelos interesses pessoais ou corporativos. Exemplo: juízes, promotores, funcionários do alto escalão e políticos acham que têm todo o direito de ganhar salários e vantagens acima do teto legal.
Aqui, aliás, é um desrespeito em série. Já foram editadas várias leis definindo o teto salarial. E que caíram quando os interessados arranjaram gambiarras para furar o limite. Quando isso acontece, em vez de se aplicar a lei e cortar vencimentos, os interessados criam outro teto, incorporando as gambiarras.
Os romanos disseram bem: dura lex sed lex. Mas como lembram os mais antigos, aqui ficou assim: dura lex sed lex, no cabelo só gumex.
De farra, claro. Mas uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, de 2014, mostrou que 81% dos entrevistados consideravam fácil desobedecer à lei, sendo por isso preferível recorrer ao jeitinho.
Pois é.
Carlos Alberto Sardenberg
Padilha não é bom exemplo, mas é ótimo aviso
Na Era petista, a Casa Civil da Presidência da República foi ocupada por seis personagens. Dois estão presos em Curitiba (Dirceu e Palocci), uma foi fisgada na Operação Zelotes (Erenice), dois encrencaram-se nas franjas da Lava Jato (Mercadnate e Gleisi) e uma outra foi vendida ao eleitorado como gerente impecável e terminou sua carreira moída pelo impeachment (Dilma). O histórico recomenda comedimento. Mas Eliseu Padilha pisa nas evidências distraído.
É preciso reconhecer que o todo-poderoso da Casa Civil de Michel Temer tem razão. Se aquela gravação em que ele foi pilhado explicando como o Ministério da Saúde saiu das mãos de um médico insigne para cair no colo de um deputado insignificante significa alguma coisa, é o triunfo a rendição do governo Temer à mesmice que sempre foi tratada como algo “absolutamente normal”. Vale a pena desperdiçar um pedaço de tempo ouvindo Padilha:
“Todos os governos que fazem composição com vários partidos colocam a participação de outros partidos no governo. Foi o que nós fizemos. O PMDB sozinho não iria governar. Aliás, a história política brasileira depois da reabertura democrática, tem mostrado que o presidencialismo é de coalizão. Vários partidos sempre vão apoiar o governo. E com isso eles têm participação no governo, o que é mais do que normal, absolutamente normal.”
Do jeito como as coisas sucedem, sob absoluta normalidade, o país vive um período de hedionda expectativa: qual será o primeiro escândalo da Era Temer? No assanhamento que toma conta dos partidos, no desassombro com que Padilha opera o balcão, no entrechoque do patrimonialismo com o interesse público, está sendo gerado o primeiro escândalo. Não se sabe onde ele explodirá. Por enquanto, é apenas um descalabro esperando para ganhar as manchetes, um fantasma precoce de uma operação que a Polícia Federal batizará com um nome criativo.
É preciso reconhecer que o todo-poderoso da Casa Civil de Michel Temer tem razão. Se aquela gravação em que ele foi pilhado explicando como o Ministério da Saúde saiu das mãos de um médico insigne para cair no colo de um deputado insignificante significa alguma coisa, é o triunfo a rendição do governo Temer à mesmice que sempre foi tratada como algo “absolutamente normal”. Vale a pena desperdiçar um pedaço de tempo ouvindo Padilha:
“Todos os governos que fazem composição com vários partidos colocam a participação de outros partidos no governo. Foi o que nós fizemos. O PMDB sozinho não iria governar. Aliás, a história política brasileira depois da reabertura democrática, tem mostrado que o presidencialismo é de coalizão. Vários partidos sempre vão apoiar o governo. E com isso eles têm participação no governo, o que é mais do que normal, absolutamente normal.”
Do jeito como as coisas sucedem, sob absoluta normalidade, o país vive um período de hedionda expectativa: qual será o primeiro escândalo da Era Temer? No assanhamento que toma conta dos partidos, no desassombro com que Padilha opera o balcão, no entrechoque do patrimonialismo com o interesse público, está sendo gerado o primeiro escândalo. Não se sabe onde ele explodirá. Por enquanto, é apenas um descalabro esperando para ganhar as manchetes, um fantasma precoce de uma operação que a Polícia Federal batizará com um nome criativo.
No episódio que Padilha considerou “absolutamente normal”, o Planalto fritou o respeitado cirurgião Raul Cutait para entregar a pasta da Saúde ao deputado-engenheiro Ricardo Barros, do PP, partido campeão no ranking dos enrolados na Lava Jato. Mal comparando, José Dirceu fez coisa parecida quando passou pela cadeira hoje ocupada por Padilha. Ao lotear o Ministério de Minas e Energia, Dirceu determinou à então titular da pasta, Dilma Rousseff, que acomodasse o engenheiro Silas Rondeau na presidência da Eletronorte.
Formado na escolha de graduação de José Sarney, Rondeau (pronuncia-se Rondô) seria guindado pouco depois ao posto de presidente da Eletrobras. Para promovê-lo, o Planalto orientou Dilma a levar à frigideira o engenheiro nuclear Luis Pinguelli Rosa. Súbito, o mensalão derrubou Dirceu. Dilma foi alçada por Lula à Casa Civil. E Rondeau a substituiu na pasta de Minas e Energia..
Em maio de 2007, um auxiliar de Rondeau foi preso por agentes federais numa operação chamada Navalha. Acusado pela PF de receber de uma empreiteira um envelope com R$ 100 mil, Rondeau viu-se compelido a deixar o ministério. A Procuradoria o denunciou por corrupção passiva. Depois, sumiu pelo caminho, soterrado por escândalos maiores, como o mensalão.
Hoje, há outros rondeaus rondando as páginas policiais. Cedo ou tarde darão o ar da graça. E muitos lamentarão não ter percebido que Eliseu Padilha, esse notável operador de normalidades, não era propriamente um bom exemplo, mas um extraordinário aviso.
Moral de elevador
Marcha sobre Brasília
Parece que os Três Poderes dessa República em avançado estado de putrefação não compreenderam bem o recado e o significado dos grandes movimentos populares contra a corrupção e a impunidade dos políticos que vêm ocorrendo no Brasil desde o mensalão. O povo brasileiro simplesmente não aceita mais ser conduzido por essa classe política nauseabunda que agoniza sem qualquer senso autocrítico. O Parlamento brasileiro já não representa a sociedade civil há muito tempo, mas ainda insiste em sórdidas manobras e conchavos nada republicanos, visando a usufruir do simulacro de representação que ainda lhe resta. Os recentes movimentos no Executivo e no Legislativo, literalmente conluiados, a essa altura, para tentar melar e desarticular a Operação Lava-Jato — no momento da verdadeira devassa que as colaborações premiadas das empreiteiras lançam ambos os poderes no epicentro da mais escancarada corrupção passiva — são agressivos. Isso dá bem a medida da ousadia e do claro enfrentamento a que se dispõem os políticos delatados, como arma de defesa.
O PMDB, nitidamente desfigurado de seu papel histórico, uma vez que da cúpula partidária há egressos de legendas espúrias de todos os matizes, menos do velho partido de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, debate-se em fétidos estertores. Qual a única saída para essa súcia? Apostar no quanto pior, melhor. Uma Comissão de Constituição e Justiça do Senado, prenhe de delatados e investigados, ainda por cima presidida pelo notório Edison Lobão, é uma verdadeira cusparada no rosto de uma sociedade cada vez mais distante e horrorizada com a representação política em nosso país, em meio à maior crise econômica, federativa e social, cujo emblema de frontispício é o maior desemprego de que se tem notícia na História do Brasil.
A desarticulação e a desorganização das forças que, bravamente, tentam resistir e que têm conseguido colocar, via internet, essas multidões em pacíficas passeatas nas ruas só atendem aos interesses dos maus políticos. De nada adianta ficarem essas massas inorgânicas desfilando aos domingos pelas avenidas das cidades quando tudo o que de menos republicano ocorre fica a centenas, às vezes milhares de quilômetros dos grandes centros urbanos, no Planalto Central do Brasil, em meio a uma arquitetura de ficção científica. E ocorre nos dias úteis (ou seriam inúteis?). Os prédios tombados de Oscar Niemeyer são hoje o abrigo dessa conspiração espúria: melar a Lava-Jato, transformando juízes como Sérgio Moro e Marcelo Bretas em pérfidos, cruéis e desumanos algozes; os jovens procuradores da República em precipitados e levianos advogados públicos e os policiais federais em atores de algum filmezinho qualquer de seriado de TV. Não é bem assim. Há uma nova geração de homens e mulheres públicos e públicas concursados e concursadas, idealistas, estudiosos e estudiosas da História, que não aceita mais o cinismo dessas raposas de cabelos pintados e implantados e desses bigodes tingidos, traçando os destinos da Nação em seus ternos de grife e colarinhos brancos enxovalhados com a imundície dos desvios de dinheiro público. Dinheiro que poderia estar minorando a precariedade dos serviços essenciais a uma população majoritariamente desatendida e depauperada, a morrer desumanamente nos corredores dos hospitais sucateados ou pelas balas perdidas, na verdadeira guerra urbana potencializada pelas rebeliões nos fétidos e superpopulados presídios. Todos vítimas de uma educação falida e mal paga, com as principais universidades brasileiras fechando as portas por falta até de papel higiênico. Essa é a realidade do Brasil de hoje que essas hienas nos entregam sem qualquer arrependimento ou escrúpulo.
Em qualquer outro país do mundo, uma tal ordem (ou desordem) dessa natureza já teria sido rompida, pelo menos para tentar-se uma nova ordem. Imaginar que esses marginais da política, ainda investidos em seus mandatos, irão entregar o poder que têm, por bem, é acreditar em Papai Noel. Sem que o povo brasileiro abdique de suas comodidades urbanas e promova uma gigantesca marcha sobre a Capital Federal, distante e alienada desse país continental, nada ocorrerá. A Marcha sobre Brasília é uma imposição da História. Milhões de brasileiros e brasileiras criando um grande congestionamento nas largas avenidas de Lucio Costa e cercando os prédios de Niemeyer, em apoio a esses jovens juízes, promotores e policiais federais, certamente irá promover um grande debate interno dentro dos palácios, onde uma tímida oposição a esse descalabro mal consegue alguma voz na mídia. Esta prefere dar voz à ignomínia dessas aves de rapina que infestam e infectam a vida pública. Vorazes predadores inconsequentes de uma república agônica e desgovernada em direção a algum fatal iceberg.
Nelson Paes Leme
O PMDB, nitidamente desfigurado de seu papel histórico, uma vez que da cúpula partidária há egressos de legendas espúrias de todos os matizes, menos do velho partido de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, debate-se em fétidos estertores. Qual a única saída para essa súcia? Apostar no quanto pior, melhor. Uma Comissão de Constituição e Justiça do Senado, prenhe de delatados e investigados, ainda por cima presidida pelo notório Edison Lobão, é uma verdadeira cusparada no rosto de uma sociedade cada vez mais distante e horrorizada com a representação política em nosso país, em meio à maior crise econômica, federativa e social, cujo emblema de frontispício é o maior desemprego de que se tem notícia na História do Brasil.
A desarticulação e a desorganização das forças que, bravamente, tentam resistir e que têm conseguido colocar, via internet, essas multidões em pacíficas passeatas nas ruas só atendem aos interesses dos maus políticos. De nada adianta ficarem essas massas inorgânicas desfilando aos domingos pelas avenidas das cidades quando tudo o que de menos republicano ocorre fica a centenas, às vezes milhares de quilômetros dos grandes centros urbanos, no Planalto Central do Brasil, em meio a uma arquitetura de ficção científica. E ocorre nos dias úteis (ou seriam inúteis?). Os prédios tombados de Oscar Niemeyer são hoje o abrigo dessa conspiração espúria: melar a Lava-Jato, transformando juízes como Sérgio Moro e Marcelo Bretas em pérfidos, cruéis e desumanos algozes; os jovens procuradores da República em precipitados e levianos advogados públicos e os policiais federais em atores de algum filmezinho qualquer de seriado de TV. Não é bem assim. Há uma nova geração de homens e mulheres públicos e públicas concursados e concursadas, idealistas, estudiosos e estudiosas da História, que não aceita mais o cinismo dessas raposas de cabelos pintados e implantados e desses bigodes tingidos, traçando os destinos da Nação em seus ternos de grife e colarinhos brancos enxovalhados com a imundície dos desvios de dinheiro público. Dinheiro que poderia estar minorando a precariedade dos serviços essenciais a uma população majoritariamente desatendida e depauperada, a morrer desumanamente nos corredores dos hospitais sucateados ou pelas balas perdidas, na verdadeira guerra urbana potencializada pelas rebeliões nos fétidos e superpopulados presídios. Todos vítimas de uma educação falida e mal paga, com as principais universidades brasileiras fechando as portas por falta até de papel higiênico. Essa é a realidade do Brasil de hoje que essas hienas nos entregam sem qualquer arrependimento ou escrúpulo.
Em qualquer outro país do mundo, uma tal ordem (ou desordem) dessa natureza já teria sido rompida, pelo menos para tentar-se uma nova ordem. Imaginar que esses marginais da política, ainda investidos em seus mandatos, irão entregar o poder que têm, por bem, é acreditar em Papai Noel. Sem que o povo brasileiro abdique de suas comodidades urbanas e promova uma gigantesca marcha sobre a Capital Federal, distante e alienada desse país continental, nada ocorrerá. A Marcha sobre Brasília é uma imposição da História. Milhões de brasileiros e brasileiras criando um grande congestionamento nas largas avenidas de Lucio Costa e cercando os prédios de Niemeyer, em apoio a esses jovens juízes, promotores e policiais federais, certamente irá promover um grande debate interno dentro dos palácios, onde uma tímida oposição a esse descalabro mal consegue alguma voz na mídia. Esta prefere dar voz à ignomínia dessas aves de rapina que infestam e infectam a vida pública. Vorazes predadores inconsequentes de uma república agônica e desgovernada em direção a algum fatal iceberg.
Nelson Paes Leme
Tempos perigosos...
O Brasil vive uma guerra civil.
Uma guerra civil sui generis, pois não se trata da luta de uma ideologia revolucionária pela conquista do poder politico, mas sim da inacreditável associação de bandidos, empresários, traficantes e políticos na busca da construção um Estado desmoralizado, que não perturbe seus negócios escusos.
Alguma dúvida? Vamos começar a discutir um índice que determine quando uma guerra civil passa a existir? O número de mortes violentas é suficiente? Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Publica, em 2015, 58.383 pessoas perderam a vida no Brasil em “crimes violentos letais intencionais”. O montante movimentado pelo impensável sistema nacional de corrupção, mais de 15 bilhões de reais nos últimos anos, é um numero razoável para fundamentar a assertiva ou o dado ainda é assimilável pela generosidade popular? O tráfico de drogas, com suas ramificações e subornos, trazendo o crime para as ruas e amedrontando as pessoas, ainda é suportável? Decência e dignidade são valores integrais a serem cultivados pela cidadania ou podem ser relativizados de acordo com as conveniências de cada um?
Repilo as explicações simplistas e demagógicas de que a crise global é oportunidade de progresso. Besteira. O nível de erosão da sociedade liquida os sonhos de um povo sofrido. A degradação das instituições e dos valores morais impossibilita pensar em recuperação nacional com esta majoritária “turma” que aí está no Congresso Nacional e no Executivo. Sem a confiança da população, nas instituições, nos dirigentes e parlamentares, nada de bom e de duradouro poderá ser feito.
Repilo a desculpa para a inação com o argumento de que, antes, é preciso pesquisar, estudar e debater as causas da atual crise global. Bobagem. Tudo o que é importante já está suficientemente estudado, debatido e diagnosticado. Há um quadro social de emergência. É preciso que pessoas patriotas, corajosas, honestas e competentes, assumam as responsabilidades impostas pela cidadania e elaborem apenas algumas poucas leis e exercitem, com a urgência necessária, medidas evidentemente prioritárias tais como na área da educação, da saúde e da segurança.
Repilo, igualmente, a progressiva estupida submissão das mentes da população aos ditames do “politicamente correto”, que amedronta as pessoas fazendo-as repetir aquilo que os minoritários grupos interessados, organizados e diligentes, querem, como por exemplo: “tudo precisa ser debatido pelo povo”, tentativa de substituir a já desmoralizada democracia representativa pela empulhação da democracia interna do partido único proposta pelo comunismo; propagar uma ultrapassada e distante “revolução parisiense de 1968”, com o “tudo é permitido – é proibido proibir”, com a intenção de escamotear de vez os valores éticos que propiciaram a construção e a manutenção da Civilização Ocidental; a rejeição da proposta sem um prévio honesto debate democrático, como se tratasse de uma solerte ação fascista, sobre o direito dos analfabetos e ignorantes votarem, pois o atual mundo complexo exige, para a honesta participação política, discernimento e capacidade critica, condição para serem escolhidas as melhores opções para a sociedade e os melhores nomes para garantirem o funcionamento da Republica; revisão, imediata, do errado conceito de que bandidos precisam ser tratados com “severidade contida”: - bandidos que reagem às ações policiais, agredindo, deverão ser neutralizados pela força, sem tornar os homens da lei réus por presumível crime, inibindo a reação à desmoralização da necessária ordem publica.
A cidadania digna e patriótica, a maioria silenciosa, se nada de razoável acontecer para a solução da crise global, saberá fazer sentir sua força e indignação. Que os atuais desmoralizados governantes e parlamentares, reunindo o pouco de dignidade que lhes resta, tratem de providenciar eleições gerais já, com novos honestos personagens e renovados poucos partidos ideologicamente definidos. Isto não é ingenuidade - é imposição da responsabilidade histórica. O Brasil está destroçado, o tempo que resta é pouco.
Eurico Borba
Uma guerra civil sui generis, pois não se trata da luta de uma ideologia revolucionária pela conquista do poder politico, mas sim da inacreditável associação de bandidos, empresários, traficantes e políticos na busca da construção um Estado desmoralizado, que não perturbe seus negócios escusos.
Alguma dúvida? Vamos começar a discutir um índice que determine quando uma guerra civil passa a existir? O número de mortes violentas é suficiente? Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Publica, em 2015, 58.383 pessoas perderam a vida no Brasil em “crimes violentos letais intencionais”. O montante movimentado pelo impensável sistema nacional de corrupção, mais de 15 bilhões de reais nos últimos anos, é um numero razoável para fundamentar a assertiva ou o dado ainda é assimilável pela generosidade popular? O tráfico de drogas, com suas ramificações e subornos, trazendo o crime para as ruas e amedrontando as pessoas, ainda é suportável? Decência e dignidade são valores integrais a serem cultivados pela cidadania ou podem ser relativizados de acordo com as conveniências de cada um?
Repilo as explicações simplistas e demagógicas de que a crise global é oportunidade de progresso. Besteira. O nível de erosão da sociedade liquida os sonhos de um povo sofrido. A degradação das instituições e dos valores morais impossibilita pensar em recuperação nacional com esta majoritária “turma” que aí está no Congresso Nacional e no Executivo. Sem a confiança da população, nas instituições, nos dirigentes e parlamentares, nada de bom e de duradouro poderá ser feito.
Repilo a desculpa para a inação com o argumento de que, antes, é preciso pesquisar, estudar e debater as causas da atual crise global. Bobagem. Tudo o que é importante já está suficientemente estudado, debatido e diagnosticado. Há um quadro social de emergência. É preciso que pessoas patriotas, corajosas, honestas e competentes, assumam as responsabilidades impostas pela cidadania e elaborem apenas algumas poucas leis e exercitem, com a urgência necessária, medidas evidentemente prioritárias tais como na área da educação, da saúde e da segurança.
Repilo, igualmente, a progressiva estupida submissão das mentes da população aos ditames do “politicamente correto”, que amedronta as pessoas fazendo-as repetir aquilo que os minoritários grupos interessados, organizados e diligentes, querem, como por exemplo: “tudo precisa ser debatido pelo povo”, tentativa de substituir a já desmoralizada democracia representativa pela empulhação da democracia interna do partido único proposta pelo comunismo; propagar uma ultrapassada e distante “revolução parisiense de 1968”, com o “tudo é permitido – é proibido proibir”, com a intenção de escamotear de vez os valores éticos que propiciaram a construção e a manutenção da Civilização Ocidental; a rejeição da proposta sem um prévio honesto debate democrático, como se tratasse de uma solerte ação fascista, sobre o direito dos analfabetos e ignorantes votarem, pois o atual mundo complexo exige, para a honesta participação política, discernimento e capacidade critica, condição para serem escolhidas as melhores opções para a sociedade e os melhores nomes para garantirem o funcionamento da Republica; revisão, imediata, do errado conceito de que bandidos precisam ser tratados com “severidade contida”: - bandidos que reagem às ações policiais, agredindo, deverão ser neutralizados pela força, sem tornar os homens da lei réus por presumível crime, inibindo a reação à desmoralização da necessária ordem publica.
A cidadania digna e patriótica, a maioria silenciosa, se nada de razoável acontecer para a solução da crise global, saberá fazer sentir sua força e indignação. Que os atuais desmoralizados governantes e parlamentares, reunindo o pouco de dignidade que lhes resta, tratem de providenciar eleições gerais já, com novos honestos personagens e renovados poucos partidos ideologicamente definidos. Isto não é ingenuidade - é imposição da responsabilidade histórica. O Brasil está destroçado, o tempo que resta é pouco.
Eurico Borba
Não falta opinião, mas o que mais interessa é a defesa dos privilégios
Ausentei-me de Belo Horizonte por seis dias. Guiando meu próprio automóvel, enfrentei 350 km para visitar meu irmão Luís Lara Resende, também jornalista. Depois que deixou a faina diária na TV Globo, ao longo de mais de 30 anos, Luís divide o tempo entre Rio e Pedro do Rio. Nem por isso admite refugiar-se por lá da mais grave crise por que já passou o Estado do Rio de Janeiro. Os terríveis destroços dessa crise se mostram, com maior ênfase, em seu interior, e seu reflexo maior está nas olheiras do governador Luiz Fernando Pezão, que ainda passou maus bocados no tratamento de um câncer insidioso.
Cercado pelos diversos matizes do verde, foi de Pedro do Rio, onde também nasce a mais bonita das luas, em manhã de sol e céu estonteantemente azul, sob temperatura extremamente amena, que me detive outra vez a pensar sobre nosso país. Lembrei-me, então, de que, há seis décadas, pelo menos, me preocupo com seu destino, com o que vai nos acontecer, mas, em especial, com o que vai acontecer aos desvalidos, que constituem a imensa maioria de nosso povo. São os deserdados de tudo. Que não têm vez nem voz. “São intrinsecamente bons, mas se tornam violentos diante da injustiça”, como disse certa vez o escritor italiano Domenico De Masi, um eterno apaixonado pelo Brasil.
O que não nos falta é opinião sobre o que se deve fazer para que o país saia o mais rápido possível dessa desafiante crise, agravada, diga-se a bem da verdade, tanto na política quanto na economia, pelos governos da ex-presidente Dilma. O ex-presidente Lula deve estar arrependido de tê-la indicado como sua sucessora e, depois, de não a ter demovido, em 2014, de ser novamente candidata. Nenhum país, muito menos o nosso, poderia ser entregue a mãos tão inábeis. Talvez seja esse, entre os cometidos pelo petista, seu erro mais grave.
As opiniões, que não nos faltam, sobretudo agora, com a sagrada liberdade de imprensa e com o advento das redes sociais, que aceitam tudo e mais alguma coisa, atendem todos os gostos. Vêm da esquerda ou da direita, de centro-esquerda ou centro-direita, ou dos radicais, tanto da direita quanto da esquerda. Todos opinam, mas nunca se esquecem de deixar claro que o que mais lhes interessa é a defesa de seus próprios privilégios. Nossos políticos, em maioria, ainda não perceberam o risco que correm quando defendem, criminosamente, “seu pirão primeiro”. Brincam com a paciência de um povo que já provou, em diversas oportunidades, como o fez agora no Espírito Santo (o Estado mais bem-governado do país), que a violência, que jamais poderá servir de exemplo, pode, num átimo, transformar-se em realidade.
O prefeito recém-eleito do Rio (pobre e sofrida cidade de são Sebastião!), Marcelo Crivella, esteve em Brasília para convencer ministros do Supremo Tribunal Federal de que, ao nomear o filho seu secretário da Casa Civil, não praticou ato de nepotismo. E, ao defender o guapo rebento, ainda afirmou: “Ele não é suscetível nem melindroso. Ele sabe que a vida pública não é concurso de beleza. Tem controvérsias. É o preço que se paga para conquistar um lugar no coração do povo”.
É bem provável que a melhor opinião esteja com o ex-ministro Carlos Ayres Brito: “Que ninguém se atreva, sozinho ou enturmadamente, a estancar o curso do amazônico rio da Justiça. Da justa e jurídica tomada penal de contas dos defraudadores da inegociável honra do país”. Vale dizer: que todos, enfim, sejam iguais perante a lei.
Cercado pelos diversos matizes do verde, foi de Pedro do Rio, onde também nasce a mais bonita das luas, em manhã de sol e céu estonteantemente azul, sob temperatura extremamente amena, que me detive outra vez a pensar sobre nosso país. Lembrei-me, então, de que, há seis décadas, pelo menos, me preocupo com seu destino, com o que vai nos acontecer, mas, em especial, com o que vai acontecer aos desvalidos, que constituem a imensa maioria de nosso povo. São os deserdados de tudo. Que não têm vez nem voz. “São intrinsecamente bons, mas se tornam violentos diante da injustiça”, como disse certa vez o escritor italiano Domenico De Masi, um eterno apaixonado pelo Brasil.
As opiniões, que não nos faltam, sobretudo agora, com a sagrada liberdade de imprensa e com o advento das redes sociais, que aceitam tudo e mais alguma coisa, atendem todos os gostos. Vêm da esquerda ou da direita, de centro-esquerda ou centro-direita, ou dos radicais, tanto da direita quanto da esquerda. Todos opinam, mas nunca se esquecem de deixar claro que o que mais lhes interessa é a defesa de seus próprios privilégios. Nossos políticos, em maioria, ainda não perceberam o risco que correm quando defendem, criminosamente, “seu pirão primeiro”. Brincam com a paciência de um povo que já provou, em diversas oportunidades, como o fez agora no Espírito Santo (o Estado mais bem-governado do país), que a violência, que jamais poderá servir de exemplo, pode, num átimo, transformar-se em realidade.
O prefeito recém-eleito do Rio (pobre e sofrida cidade de são Sebastião!), Marcelo Crivella, esteve em Brasília para convencer ministros do Supremo Tribunal Federal de que, ao nomear o filho seu secretário da Casa Civil, não praticou ato de nepotismo. E, ao defender o guapo rebento, ainda afirmou: “Ele não é suscetível nem melindroso. Ele sabe que a vida pública não é concurso de beleza. Tem controvérsias. É o preço que se paga para conquistar um lugar no coração do povo”.
É bem provável que a melhor opinião esteja com o ex-ministro Carlos Ayres Brito: “Que ninguém se atreva, sozinho ou enturmadamente, a estancar o curso do amazônico rio da Justiça. Da justa e jurídica tomada penal de contas dos defraudadores da inegociável honra do país”. Vale dizer: que todos, enfim, sejam iguais perante a lei.
O segredo da Islândia para fazer com que seus jovens deixassem de beber e fumar
Na Islândia, não é moda entre adolescentes consumir bebidas alcoólicas. E encontrar um jovem que fume tabaco ou maconha é até difícil.
Os dados sobre o uso de substâncias que causam dependência expõem um cenário em que apenas 5% dos jovens entre 14 e 16 anos dizem ter consumido álcool no mês anterior.
Além disso, apenas 3% dizem fumar tabaco diariamente e 7% consumiram maconha ao menos uma vez nos últimos 30 dias.
Enquanto isso, a média europeia é de 47%, 13% e 7%, respectivamente. Na América Latina, 35% dos jovens entre 13 e 15 anos dizem ter consumido álcool no último mês e 17% fumam diariamente, segundo dados da Unicef.
Mas a Islândia nem sempre foi um modelo a se seguir: no final dos anos 90, era um dos países europeus com maior incidência de consumo de álcool e tabaco entre jovens.
As razões do êxito islandês estão no programa Youth in Iceland (Juventude na Islândia), iniciado em 1998, cujo pilar está na pesquisa contínua dos hábitos e preocupações dos adolescentes.
"Se você fosse o diretor de uma empresa farmacêutica, você não lançaria um novo analgésico no mercado sem fazer uma pesquisa prévia", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Jón Sígfusson, diretor do Centro Islandês para a Pesquisa e Análise Social, responsável pelo Youth in Iceland.
"É o mesmo com qualquer setor, desde a agricultura à infraestrutura. Por que não seria assim quando se trata de jovens?", pergunta, retoricamente.
"Muitas vezes se atua em função apenas de impressões. E isso é muito perigoso. É preciso ter informações que sejam confiáveis e, a partir disso, podem ser tomadas decisões", explica Sígfusson.
Ele explica que o programa mapeia, por meio de questionários aplicados a cada dois anos, adolescentes de todas as escolas do país.
Entre outras variáveis, são coletados dados sobre padrões de consumo, características das famílias, evasão escolar e problemas emocionais dos jovens.
Com esses elementos, são elaborados informes específicos para cada distrito e escola.
"Fazemos a coleta de dados e, dois meses depois, as escolas recebem os resultados novos", destaca o responsável pelo programa.
Responsabilidade dos adultos
O passo seguinte é analisar esses dados num trabalho conjunto entre escolas, comunidades e municípios, que identificam os principais fatores de risco e proteção contra o consumo de álcool e drogas.
A partir daí, pensa-se em como fortalecer os segundos e enfraquecer os primeiros.
"Nada aconteceu de um dia para o outro. Mas foi possível atuar porque os dados nos ensinavam, por exemplo, a grande importância do fator parental", indica Sígfusson.
"Isso mostrou a necessidade de informar os pais e lhes explicar que eles são o principal fator preventivo para seus filhos: passar tempo com eles, apoiá-los, controlá-los, vigiá-los", explica.
Segundo o diretor do Youth in Iceland, antes de começar o programa, uma das principais medidas preventivas que era ensinar às crianças os efeitos negativos do uso de drogas.
Porém, essa ação sozinha não funcionava. Foi então que o enfoque sofreu uma drástica mudança.
"Os responsáveis não são as crianças, e sim nós, adultos. Devemos criar um entorno onde eles fiquem bem e tenham a opção de preencher seu tempo com atividades positivas. Isso diminui a probabilidade de eles consumirem substâncias maléficas", afirma.
Os estudos mostraram que a maior participação em atividades extracurriculares e o aumento do tempo passado com os pais diminuem o risco de se consumir álcool e outras substâncias.
Por isso, a Islândia aumentou os recursos destinados à oferta de atividades para adolescentes, como esportes, música, teatro e dança.
E desde 2002 foi proibido que, salvo exceções, as crianças menores de 12 anos e adolescentes de 13 a 16 anos andem sozinhos na rua depois das 20h e das 22h, respectivamente.
Os resultados obtidos pela Islândia levaram à criação, em 2006, do programa Youth in Europe (Juventude na Europa), cujo objetivo é expandir a metodologia do país nórdico a outras localidades do continente.
Em apenas dez anos, mais de 30 municípios europeus adotaram o projeto.
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Os dados sobre o uso de substâncias que causam dependência expõem um cenário em que apenas 5% dos jovens entre 14 e 16 anos dizem ter consumido álcool no mês anterior.
Além disso, apenas 3% dizem fumar tabaco diariamente e 7% consumiram maconha ao menos uma vez nos últimos 30 dias.
Enquanto isso, a média europeia é de 47%, 13% e 7%, respectivamente. Na América Latina, 35% dos jovens entre 13 e 15 anos dizem ter consumido álcool no último mês e 17% fumam diariamente, segundo dados da Unicef.
Mas a Islândia nem sempre foi um modelo a se seguir: no final dos anos 90, era um dos países europeus com maior incidência de consumo de álcool e tabaco entre jovens.
Projeto está por trás do êxito na redução de consumo de substâncias |
Como foi possível transformar, em menos de duas décadas, os hábitos de adolescentes no território de pouco mais de 300 mil habitantes? Pesquisa de comportamento.
As razões do êxito islandês estão no programa Youth in Iceland (Juventude na Islândia), iniciado em 1998, cujo pilar está na pesquisa contínua dos hábitos e preocupações dos adolescentes.
"Se você fosse o diretor de uma empresa farmacêutica, você não lançaria um novo analgésico no mercado sem fazer uma pesquisa prévia", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Jón Sígfusson, diretor do Centro Islandês para a Pesquisa e Análise Social, responsável pelo Youth in Iceland.
"É o mesmo com qualquer setor, desde a agricultura à infraestrutura. Por que não seria assim quando se trata de jovens?", pergunta, retoricamente.
"Muitas vezes se atua em função apenas de impressões. E isso é muito perigoso. É preciso ter informações que sejam confiáveis e, a partir disso, podem ser tomadas decisões", explica Sígfusson.
Ele explica que o programa mapeia, por meio de questionários aplicados a cada dois anos, adolescentes de todas as escolas do país.
Entre outras variáveis, são coletados dados sobre padrões de consumo, características das famílias, evasão escolar e problemas emocionais dos jovens.
Com esses elementos, são elaborados informes específicos para cada distrito e escola.
"Fazemos a coleta de dados e, dois meses depois, as escolas recebem os resultados novos", destaca o responsável pelo programa.
Responsabilidade dos adultos
O passo seguinte é analisar esses dados num trabalho conjunto entre escolas, comunidades e municípios, que identificam os principais fatores de risco e proteção contra o consumo de álcool e drogas.
A partir daí, pensa-se em como fortalecer os segundos e enfraquecer os primeiros.
"Nada aconteceu de um dia para o outro. Mas foi possível atuar porque os dados nos ensinavam, por exemplo, a grande importância do fator parental", indica Sígfusson.
"Isso mostrou a necessidade de informar os pais e lhes explicar que eles são o principal fator preventivo para seus filhos: passar tempo com eles, apoiá-los, controlá-los, vigiá-los", explica.
Segundo o diretor do Youth in Iceland, antes de começar o programa, uma das principais medidas preventivas que era ensinar às crianças os efeitos negativos do uso de drogas.
Porém, essa ação sozinha não funcionava. Foi então que o enfoque sofreu uma drástica mudança.
"Os responsáveis não são as crianças, e sim nós, adultos. Devemos criar um entorno onde eles fiquem bem e tenham a opção de preencher seu tempo com atividades positivas. Isso diminui a probabilidade de eles consumirem substâncias maléficas", afirma.
Os estudos mostraram que a maior participação em atividades extracurriculares e o aumento do tempo passado com os pais diminuem o risco de se consumir álcool e outras substâncias.
Por isso, a Islândia aumentou os recursos destinados à oferta de atividades para adolescentes, como esportes, música, teatro e dança.
E desde 2002 foi proibido que, salvo exceções, as crianças menores de 12 anos e adolescentes de 13 a 16 anos andem sozinhos na rua depois das 20h e das 22h, respectivamente.
Os resultados obtidos pela Islândia levaram à criação, em 2006, do programa Youth in Europe (Juventude na Europa), cujo objetivo é expandir a metodologia do país nórdico a outras localidades do continente.
Em apenas dez anos, mais de 30 municípios europeus adotaram o projeto.
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