sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Pobreza atinge metade das crianças e adolescentes no Brasil

Mais da metade das crianças e adolescentes brasileiras vivem em situação de pobreza multidimensional, segundo o estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta quinta-feira.

De acordo com o Unicef, 28,8 milhões de crianças e adolescentes até 17 anos viviam nesta situação em 2023, o equivalente a 55,9% do total. O número, porém, é menor do que o observado em anos anteriores. Em 2017, a pobreza atingia 34,3 milhões de crianças e adolescentes, mais de 6 em cada 10.

A pobreza multidimensional extrema também caiu, de 13 milhões (23,8%) de pessoas, em 2017, para 9,8 milhões (18,8%), em 2023.

A análise considera não apenas a renda das famílias, mas também o nível de educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia, proteção contra o trabalho infantil e segurança alimentar.

"A pobreza infantil é multidimensional porque vai além da renda. Ela é resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos", diz Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil, em nota publicada no site da instituição.

"Os resultados deste estudo mostram que o Brasil conseguiu avançar nas diversas dimensões avaliadas, reduzindo a pobreza multidimensional e impactando positivamente meninas e meninos em todo o país", conclui.

Segundo o estudo, que se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução dos indicadores de pobreza foi impulsionada principalmente pela ampliação de programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, instituído em resposta à crise provocada pela pandemia e, a partir de 2022.

Segundo a pesquisa, cerca de 17,9 milhões de famílias eram beneficiárias dos programas no primeiro trimestre de 2022. Esse número aumentou para aproximadamente 21,6 milhões de famílias no primeiro trimestre de 2023.

Em termos absolutos, o estudo mostra que, em 2019, 750 mil crianças e adolescentes saíram da pobreza devido aos programas de transferência de renda. Em 2022, esse número saltou para 2,9 milhões, até crescer mais uma vez para 4 milhões, em 2023.

Com isso, a dimensão renda foi uma das que apresentaram a redução mais significativa de famílias em situação de vulnerabilidade no período analisado. Em 2017, por exemplo, uma a cada quatro crianças e adolescentes de até 17 anos vivia abaixo da linha da pobreza monetária (25,4%), cuja renda familiar era inferior a R$ 355 mensais por pessoa. Em 2023, esse percentual caiu para 19,14%, o que equivale a aproximadamente uma em cada cinco crianças e adolescentes.

O percentual de crianças sem acesso à informação também teve uma mudança drástica no período analisado, caindo de 17,5% para 3,5% no período analisado.

Na dimensão água, o recuo foi de 6,8% para 5,4%. No caso do saneamento o percentual caiu de 42,3% para 38%.

Já em relação a moradia, os valores oscilaram de 13,2% para 11,2% crianças sem condições adequadas de habitação em seis anos.

A insegurança alimentar também teve redução de 50,5% em 2018 para 36,9%, em 2023.

Com relação ao percentual de crianças e adolescentes em trabalho infantil, houve estabilidade, de 3,5% para 3,4%, o que ainda significa que 1,7 milhão de meninos e meninas estão nesta situação.

A organização destaca o impacto negativo da pandemia da covid-19 nesse período. Em 2023, cerca de 30% das crianças entre sete e oito anos de idade não estavam alfabetizadas, em comparação a 14% em 2019, por exemplo.

Apesar das reduções, o país apresenta ainda diversas desigualdades. A pobreza multidimensional entre crianças e adolescentes negros permanece, segundo o estudo, mais alta em comparação com brancos. Enquanto, entre meninas e meninos brancos, 45,2% estão em pobreza multidimensional, entre negros o percentual é de 63,6%.

Há também diferenças geográficas. Dados da pesquisa mostram que a maior parte das crianças e adolescentes que residem em áreas rurais enfrentam privações de direitos. Esse percentual passou de 96,3% em 2017 para 95,3%, em 2023. No caso de áreas urbanas a privação recuou de 55,3% para 48,5%.

A privação ao saneamento básico é o maior destaque, chegando a quase 92% das crianças e adolescentes de áreas rurais, enquanto nas áreas urbanas é de 28%.

"A pobreza afeta mais as crianças e adolescentes justamente porque estão em um momento de desenvolvimento. Qualquer direito que não seja garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo para o desenvolvimento das crianças, e a longo prazo também para a economia de um país", diz Chopitea.
Deutsche Welle

Brasil: um farol para a humanidade na era Trump?

Nos próximos dias Donald Trump assumirá a presidência dos Estados Unidos. O mundo está apreensivo com essa sua volta. O temor não se deve unicamente pelo que aconteceu em seu primeiro mandato (2016/2020), mas principalmente pelas ameaças que ele tem feito nos últimos meses. Entre elas as mais impactantes estão a retirada de seu país do Acordo de Paris para redução das emissões de CO2, o aumento do protecionismo e favorecimento para as empresas norte-americanas dentro dos Estados Unidos, o fim dos controles sobre discursos de ódio e fake news nas redes sociais, a ameaça de invasão da Groenlândia e Panamá e a anexação do Canada.

Os métodos de Trump se caracterizam pela truculência e talvez o mais emblemático seja o que aconteceu em 6 de janeiro de 2021, quando uma turba de mais de 1500 militantes, apoiadores do então presidente, invadiu o Capitólio – o parlamento dos Estados Unidos – para contestar o resultado das eleições do final de 2020, que deu a vitória para Joe Biden. A justiça norte-americana não conseguiu condenar Trump pelo ato, mas condenou sim os invasores, sendo que a maioria destes foi presa. No entanto Trump já anunciou que um de seus primeiros atos como presidente será o de conceder indulto para todos aqueles invasores que ainda estão presos.


Há muito de bravata, mas o fato é que não podemos esperar cenários de paz e tranquilidade pelos próximos anos principalmente porque, ao contrário de seu primeiro mandato, desta vez Trump terá maioria tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado.

O presidente eleito dos EUA em entrevista coletiva recente deixou bem clara a sua insatisfação com o Brasil e manifestou seu desejo em aumentar os impostos sobre os produtos brasileiros vendidos ao seu país. Além disso em dezembro 2023, também Elon Musk, que foi o principal contribuidor da campanha eleitoral de Trump e que irá ocupar um cargo importante em seu governo, teve entreveros com o governo brasileiro e com o STF.

Mas o principal sinal de que nossa vida na era Trump não será fácil foi dada pelo discurso de Mark Zuckerberg no último dia 8. Zuckerberg, que é o CEO da Meta, afirmou que sua empresa não mais fará checagem de fatos em relação ao que é publicado em suas redes sociais, ou seja, Facebook e WhatsApp. Ele segue Elon Musk que, nos Estados Unidos já faz o mesmo com sua rede social, a X, antigo Twitter. Ambos, estão apenas seguindo Donald Trump que há tempos vem dizendo que não vai admitir o que ele chama de “censura nas redes sociais”.

A mudança da postura de Zuckerberg é puramente oportunista e busca a simpatia de Trump, pois em 2018 quando houve uma suspeita de movimentação irregular nas redes sociais às vésperas da eleição para Presidente da República em nosso país, ele próprio colocou a direção do WhatsApp à disposição do STF para que se investigasse o que poderia estar ocorrendo para explicar os milhões de mensagens de ódio contra um dos candidatos.

Nós, brasileiros, também não podemos esquecer que os atentados contra as instituições de nosso país no dia 8 de janeiro de 2023 só aconteceram porque foram insuflados através das redes sociais. E estas agora vêm nos dizer que não deve haver nenhum controle sobre o que publicam! O ministro Alexandre de Moraes diz e reitera que os atentados não teriam ocorrido sem o apoio e suporte dado pelas redes sociais.

Em suma, tempos difíceis se afiguram. Nas questões ambientais, será lamentável a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, mas nós, no Brasil, estamos fazendo a lição de casa combatendo o desmatamento e usando cada vez mais fontes renováveis para gerar nossa energia. Nas questões econômicas temos aliados importantes como a China e parceiros comerciais em todos os continentes.

Nas questões do fluxo livre de informações, somos um exemplo de um país que pelo menos já tem uma boa proposta de regulamentação das redes para impedir disseminação de notícias falsas e discursos de ódio sendo discutida no Congresso, além de que poderemos contar com o apoio e a aliança da Comunidade Europeia. Ou seja, os tempos serão difíceis, mas temos instrumentos e meios para enfrentá-los.

Os invasores não entrarão em nossa casa


Os invasores não entrarão em nossa casa,
Eles não mexerão em nossas roupas velhas,
Eles não quebrarão o porta-retratos da minha mãe,
Eles não rasgarão nosso Alcorão, nossa Bíblia,
Nem derramarão nosso óleo sobre nossa farinha.
Não, os invasores não entrarão em nossa casa.

Naquela noite, vi meu avô,
Suas mãos acariciando gentilmente a terra
Ao redor de uma pequena oliveira.
Ele prometeu que seu óleo iluminaria o céu da Palestina
Por mil anos.
“Os invasores entraram em nossa casa?”
Ele perguntou.
Eu disse: Não.

Mas naquela manhã, os invasores chegaram —
Um vento frio e cortante.
Suas peles traziam as marcas de tribos distantes,
Suas línguas falavam palavras que eu não conseguia entender.
Eu me movi para frente, apenas um ou dois passos,
E gritei para eles:
"Vocês não entrarão em nossa casa."

Mas eles não se viraram.
Seus olhos, como sombras,
Suas palavras, como ventos inquietos.
Eles passaram por mim,
Mas minha voz permaneceu,
Gritando nas paredes,
Gritando na terra:
Os invasores não entrarão em nossa casa.

Quando os invasores partiram,
A casa estava envolta em fumaça.
O túmulo do meu avô profanado,
Suas pedras sagradas profanadas com palavras estrangeiras.
O corpo da minha mãe estava despedaçado,
Fragmentado em mil pedaços.
Minhas memórias, e todos aqueles que as fizeram,
Pereceram.

Mas a oliveira permaneceu.
Ela cresceu mais forte,
Suas raízes alcançando mais fundo na terra.
Seu óleo iluminou o céu—
Por mil anos.
Ramzy Baroud

O que Jair Bolsonaro e Alice Weidel têm em comum?

Talvez acalme algumas cidadãs e cidadãos mais exaltados eu lembrar que Elon Musk não está se imiscuindo apenas na política do Brasil. Ele não bate de frente só com o juiz Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes ou com o presidente Lula, mas também com políticos britânicos e alemães.

Durante 75 minutos, ele conversou online e ao vivo com Alice Weidel, candidata da Alternativa para a Alemanha (AfD) à chefia do governo alemão. Antes, Musk afirmara repetidamente que esse partido, o mais à direita no espectro político nacional, era o único capaz de salvar o país.

A Alemanha escolherá em 23 de fevereiro seu novo governo, e a AfD ocupa o segundo lugar nas intenções de voto, com 22%. O fato de o americano, dono da plataforma X, estar fazendo propaganda eleitoral de graça para a sigla talvez seja uma infração das leis alemãs. No momento, o caso está sendo examinado.

Mas a conversa foi bem decepcionante. Musk não tem a menor ideia da política alemã, e Weidel mal conseguia controlar os risinhos, tamanha a alegria pelo golpe de publicidade que estava dando. De qualquer modo, a questão não eram conteúdos, mas sim provocar, e mostrar que a AfD é parte de uma rede mundial composta tanto por políticos muito de direita como de multibilionários com marcas globais.
 
No núcleo mais central do "clube" organizado por Musk está não só o presidente americano eleito, Donald Trump, como Javier Milei, o mandatário da Argentina, que não se encaixa em nenhuma categoria.

Quem também gostaria de integrar o clubinho é o clã Bolsonaro, que vem tentando desesperadamente provar que Jair Messias foi convidado de fato para a posse de Trump (e por isso quer que Moraes lhe devolva o passaporte).

Ou seja, são indivíduos que afirmam: A) pertencer à ala anti-establishment e B) ser tratados de modo desleal pela imprensa ou pela Justiça. E, no caso, a alegação de Trump ou Musk de serem anti-establishment soa tão bizarra quanto a de Bolsonaro sobre eleições presidenciais manipuladas.

O ex-presidente brasileiro e seu clã venceram tantas disputas eleitorais nos últimos 35 anos que atualmente a família e seu círculo de amizades se tornaram políticos de carreira e pesam no bolso dos contribuintes. Menos anti-establishment, impossível.

Também Weidel apresenta estranhas contradições: os alemães são "escravos" dos Estados Unidos, afirmava ela apenas dois dias antes da videochamada com Musk – o qual, afinal, também é cidadão americano. Além disso, teria provocado "dor física" na ultradireitista ver quão injustamente a mídia e a política da Alemanha trataram Trump, o amigo de Musk. Mais autoescravização voluntária em relação a americanos como Musk e Trump, não é possível.

Alice Weidel e os Bolsonaros vão, sem dúvida, se entender bem nesse clube. Ambos acreditam, por exemplo, que Adolf Hitler era, na verdade, de esquerda, até mesmo comunista.

Tempos estranhos, estes, e desconfio que as mídias sociais sejam também culpadas por eles estarem cada vez mais estranhos. Quem berra alto e se declara vítima ganha simpatias e eleições. Isso vale tanto para a esquerda como para a direita, por todo lado os ânimos estão exaltados, no momento.

Aqui na minha casa decidimos desconectar as redes sociais imediatamente. Vai fazer bem para a nossa saúde mental. E, de qualquer modo, dinheiro para um Tesla, a gente não tem mesmo.