quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Brasil em guerra contra o Brasil

 


Bolsonaro parece um turista no Palácio do Planalto

Nada mais simbólico do que o presidente andar de jet ski e dançar funk numa lancha, enquanto as casas de milhares de brasileiros estão sendo submersas por inundações, principalmente no sul da Bahia. Mas isso não é nenhuma novidade.

Em três anos de governo, Jair Messias Bolsonaro mostrou o desinteresse pelo cargo que ocupa. Ele tem sido um turista, e não um líder de governo e da nação. Andar de jet ski e de moto parece ser mais divertido e fácil do que liderar um país.


Bolsonaro já havia se omitido quando florestas brasileiras pegaram fogo e quando milhares morreram de coronavírus. Ele parece gostar do avanço da destruição, portanto não faz nada para detê-la. Às vezes, ainda sabota os bombeiros e joga gasolina nas chamas. Por outro lado, não sabe construir nada. Seu mandato presidencial é a continuação dos seus quase 30 anos como parlamentar, nos quais não criou nenhum projeto de lei digno de nota.

Por outro lado, ainda bem, diga-se de passagem. Assim, aqueles projetos malucos de costume, como a escola sem partido, já foram deixados de lado por ele. Assim como a criação de escolas militares em massa. Já não se fala mais em Olavo de Carvalho, graças a Deus, a não ser da fuga dele para os Estados Unidos. Aliás: de fugas hollywoodianas para lá, houve muitas ultimamente: o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, o blogueiro Allan dos Santos e aquele líder dos caminhoneiros que nem era líder dos caminhoneiros. Turma estranha.

E não se fala muito mais em Paulo Guedes. A última coisa que ouvi dele foi a explicação de como evitar pagar impostos ao criar empresas offshore no Panamá. O tal choque liberal na economia, por outro lado, ninguém viu. Ao invés de privatizar estatais como a Petrobras, o presidente quer mais interferência governamental para manipular o preço da gasolina. Como tantos outros governos antes dele já tinham feito.

E nada de combater a corrupção. Sob o governo Bolsonaro, acabou-se o lavajatismo. Ao invés disso, há rachadinhas generalizadas e orçamentos secretos. Sobraram, portanto, os velhos instrumentos dos populistas, nada mais. Alias, é a velha política que ele tinha prometido combater. Consequentemente, ele está de volta ao PL de Valdemar Costa Neto, de volta ao coração do Centrão. E não se ouve mais o general Heleno cantar "Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão".

Na América Latina, uma das regiões mais pobres e desiguais do planeta, o Brasil tinha dado sinais de se transformar num país sério, a partir de meados dos anos 1990. Tinha conseguido, pouco a pouco, ser destaque internacional na área de meio ambiente, de diplomacia global e de combate à pobreza. Tudo isso foi para o lixo no governo de Jair Messias. A única iniciativa de política externa foi repetir tudo o que Donald Trump fazia, até esse cair. Sem Trump, Jair Messias conversa com os garçons nas cúpulas internacionais.

Caetano Veloso já tinha cantado: "Nessa terra a dor é grande. E a ambição, pequena". Está na hora de ter mais ambição e botar alguém com visão e vontade de trabalhar na Presidência. O Brasil é grande demais para se apequenar com um presidente turista no Palácio do Planalto. A notícia triste é que, com tanta mamata, Jair Messias e sua família podem ficar o resto das suas vidas andando de jet ski e dançando funk num jatinho. Prova que a tal meritocracia não existe. Outra promessa que virou vento.
Thomas Milz

As Forças Armadas não são melhores do que o Brasil

Bolsonaro diz que não há corrupção em seu governo. Será uma grande ironia se, em seu último ano de governo, for confirmada a existência de um esquema milionário de desvio de dinheiro público justamente nas licitações das Forças Armadas.

O Tribunal de Contas da União está analisando indícios robustos de maracutaia nas licitações de compra de alimentos das corporações. É coisa de 87 milhões de reais.

Segundo a “Folha de S. Paulo”, o TCU identificou “alto risco de irregularidade” na atuação de empresas de fachada que têm o mesmo endereço, usam o mesmo computador e parecem estar ligadas a ex-militares.

Três dessas empresas teriam como sócio um ex-capitão do Exército, Vancler Augusto Geraldo, que foi condenado por corrupção em 2019 e expulso da corporação.

Obviamente, isso não significa que as Forças Armadas são corruptas.


O caso será apenas mais uma demonstração de que elas não podem se imaginar blindadas contra os maus instintos, nem possuidoras de um status moral superior ao das demais instituições brasileiras.

Graças a personagens infames como Bolsonaro, cavilosos como Augusto Heleno e incompetentes como Pazuello, nós, na verdade, já sabíamos que os processos rigorosos de formação e treinamento do Exército não são necessariamente “purificadores”.

Sabíamos também que muitos militares podem se comportar como sindicalistas de capacete e coturno, tão ávidos quanto qualquer integrante da CUT para se aboletar em cargos públicos bem remunerados. No governo Bolsonaro, são mais de 6 mil ocupando posições na administração federal.

Se o caso de corrupção for comprovado, será outro golpe na boa imagem que as Forças Armadas conquistaram nas últimas décadas.

As Forças Armadas não são melhores do que o Brasil. Nada as autoriza a exercer um “poder moderador” em momentos de crise interna, como quiseram fazer crer alguns militares e juristas assanhados nos últimos dois anos, com leituras desonestas do artigo 142 da Constituição.

Bolsonaro faz por merecer ser chamado de vagabundo nas redes

A vida de um chefe de Estado costuma ser muito dura e, como qualquer servidor público, ele tem direito a tirar férias. Todos tiram. No caso de Bolsonaro, o problema é que ele tirou férias quando chuvas torrenciais inundam a Bahia, matando 24 pessoas e desabrigando milhares delas. E agora avançam sobre Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas não só por isso.

Ao longo de sua vida, ele jamais se destacou como um sujeito que gostasse de trabalhar. Como soldado, gostava de disputar corridas de curto fôlego e foi elogiado por isso. Como vereador, primeiro, e deputado federal por quase 30 anos, dedicou-se mais ao descanso bem remunerado. Frequentemente era visto cochilando durante as sessões da Câmara. Compareceu a poucas reuniões de comissões.


É um presidente que mal dorme, mas não porque o emprego assim exija. Tem insônia e aproveita as madrugadas para bisbilhotar o que dizem a seu respeito nas redes. Chega ao Palácio do Planalto por volta das 7 horas da manhã. Cochila depois do almoço, e antes das 6 horas da tarde parte para o Palácio da Alvorada, onde mora. Terceiriza tudo o que pode, menos as diversões.

Somente este mês, esteve em Guarulhos, no litoral de São Paulo, entre os dias 17 e 23. Passeou de lancha e dançou funk. Voltou a Brasília para gravar sua mensagem de Natal ao lado de Michelle, a primeira-dama. Mas dois dias depois já estava na praia em São Francisco do Sul, Santa Catarina, onde se valeu de um jet-ski da Marinha para navegar com a mulher e a filha Laura.

É esperado em Brasília no próximo dia 4. Mandou avisar que no dia 5 participará de um jogo de futebol beneficente promovido por uma dupla de cantores sertanejos. Desconhece-se, por enquanto, o que pretende fazer ao longo de janeiro, ou o que parece mais provável: não fazer. Seus assessores garantem, contudo, que ele despacha com ministros por telefone.


São curtos despachos, como curtos são seus pronunciamentos oficiais. Deve-se ao seu vocabulário rastaquera e à sua falta de paciência para ler qualquer texto que exceda uma página. Nem mesmo portarias, decretos, Medidas Provisórias ele lê de cabo a rabo. Pede que leiam por ele, e assina-os. O que não o impede de alardear que não desejaria a ninguém a vida estafante que leva.

Não foi à Bahia depois que a situação por lá se agravou. E não pretende ir porque do ponto de vista eleitoral, ouviu Evandro Éboli, repórter deste blog, de um dos seus acompanhantes, a Bahia é um Estado “perdido” para ele. De fato, a Bahia é governada há 16 anos pelo PT. Votou em Lula duas vezes, duas vezes em Dilma, e está pronto para eleger Lula de novo.

Ocorre que ali Bolsonaro também tem muitos votos. E poderá perdê-los dada a sua indiferença com o sofrimento dos baianos. O governo argentino ofereceu ajuda humanitária aos atingidos pela chuva no Estado. Orientado por Bolsonaro, o Ministério das Relações Exteriores recusou a ajuda. O governo argentino é de esquerda e recepcionou Lula outro dia. Bolsonaro detestou.

A hashtag #BolsonaroVagabundo ficou entre os principais assuntos do Twitter por dois dias seguidos. Nesta madrugada, ainda estava. Faz sentido.