sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Você ouve nossos gritos?
À medida que o inverno se instala em Gaza, lembro-me de uma época em que a estação tinha um significado diferente. Naquela época, o inverno era uma época de reuniões familiares — noites longas e aconchegantes, bebendo "sahlab", nossa bebida quente favorita, e nos aconchegando em volta do aquecedor, enrolados em cobertores quentes. Passávamos a noite conversando, jogando UNO e outros jogos de cartas. O som da chuva enchia meu coração de alegria, e eu corria para fora com meus irmãos, correndo sob as gotas de chuva, sentindo o frescor em nossos rostos. O cheiro terroso de petrichor enchia o ar, nos lembrando do frescor da natureza depois da chuva. Aqueles eram momentos simples e queridos — o inverno parecia uma estação de calor, amor e união.
Agora, acordo com o som da chuva, meu coração pesado de tristeza. O inverno chegou completamente em Gaza. O frio já começou. Deitado na cama, vestido com roupas quentes, coberto com dois cobertores e cercado pelas paredes da minha casa, ainda sinto o frio se infiltrando. Meu coração dói enquanto me pergunto: como meu povo, vivendo em tendas, consegue sobreviver a esta estação amarga? Com cada gota de chuva, meus pensamentos estão com eles — encharcados, seu único abrigo é um pedaço frágil de tecido. Muitas dessas tendas são armadas perto do mar de inverno rigoroso e implacável.
Em Gaza, este inverno não é apenas frio; é uma luta pela sobrevivência. As pessoas estão lutando contra o frio cortante, sem roupas adequadas ou aquecimento. Há poucos dias, meus primos — que perderam a casa e agora estão vivendo em uma tenda de refugiados — foram ao mercado em busca de roupas quentes, apenas para voltar de mãos vazias, chocados e desanimados com os preços exorbitantes. Quando um pijama fino e leve custa US$ 95, como alguém pode pagar por aquecimento?
O que pode parecer insignificante em outros lugares — pegar um resfriado ou ficar molhado — é uma ameaça à vida aqui, especialmente para crianças e idosos. Esses grupos vulneráveis sofrem profundamente, sem acesso a tratamento ou medicamentos, pois os hospitais de Gaza mal funcionam. Já sobrecarregados, eles não conseguem oferecer cuidados nem para as doenças mais básicas.
A higiene também se torna quase impossível, aumentando o risco de doenças. Vivendo em tendas sem acesso a água morna, as pessoas não podem tomar banho ou se limpar adequadamente. Para as mães, lavar roupa se torna ainda mais extenuante no inverno, pois as quedas de energia em Gaza — que agora se estendem por mais de 400 dias — as impedem de usar máquinas de lavar. Em vez disso, elas lavam as roupas à mão com água gelada.
Apesar do sofrimento físico, é a dor psicológica que corta mais fundo — a visão de mães assistindo seus filhos chorarem de fome durante noites longas e frias, ansiando por comida que se tornou quase impossível de encontrar. Mesmo enquanto escrevo estas palavras, estou morrendo de fome, não tendo comido nada por muitas horas.
Os moradores de Gaza há muito tempo dependem dos serviços da UNRWA para alimentos e remédios, incluindo cupons de alimentos fornecidos pelo WFP, UNICEF e UNRWA. Mas a proibição imposta por Israel à UNRWA restringiu a entrada de ajuda em Gaza, exacerbando uma situação já terrível.
A fome está se enraizando, e parece um pesadelo sem fim. O preço da pouca comida disponível é inacreditável. Um único saco de farinha agora custa mais de US$ 300. Como alguém pode pagar por isso? Mesmo se pudéssemos, a farinha geralmente está infestada de insetos e gorgulhos, tornando-a inutilizável. As padarias que antes serviam como uma tábua de salvação agora estão fechadas, incapazes de obter suprimentos. O pão — o mais básico dos alimentos — se tornou um luxo que poucos podem pagar. A fome tomou conta de nossas vidas, deixando-nos em desespero, sabendo que amanhã provavelmente trará mais do mesmo, ou pior.
Sobrevivemos com uma refeição por dia, e mesmo isso parece uma bênção. Mas as longas noites de inverno tornam isso mais difícil, pois as pessoas dependem do “Takaya” — uma distribuição de alimentos beneficente — que fornece apenas pequenas porções, mal o suficiente para encher um estômago vazio. Esses Takaya geralmente começam às 11h, deixando as famílias sem nada para alimentar seus filhos pelo resto do dia. O frio nos morde, e a fome torna isso ainda mais difícil de suportar.
Olho para as crianças — pálidas, magras e exaustas de fome e frio. Vejo famílias esperando em filas intermináveis, segurando recipientes vazios, na esperança de encontrar comida. Imagino o quanto mais elas podem suportar, o quanto mais qualquer um de nós pode suportar. Essa realidade brutal é uma luta diária, com famílias buscando alternativas ou contando com ajuda insuficiente para alimentar seus filhos. A escassez de alimentos limpos e acessíveis não é apenas um desafio; é uma crise que ameaça a sobrevivência de uma população já vulnerável.
O inverno em Gaza não é mais uma época de calor e união. É uma estação de solidão e isolamento. A parte mais cruel desse sofrimento é o silêncio de um mundo que observa de longe, mas não faz nada. À medida que as noites frias se estendem, o isolamento também se estende. Os moradores de Gaza não estão apenas lutando contra a fome e o frio, mas contra a dor profunda de estarem isolados, tanto física quanto emocionalmente, do resto da humanidade. Nessa reclusão forçada, nos perguntamos: alguém realmente ouve nossos gritos?
Agora, acordo com o som da chuva, meu coração pesado de tristeza. O inverno chegou completamente em Gaza. O frio já começou. Deitado na cama, vestido com roupas quentes, coberto com dois cobertores e cercado pelas paredes da minha casa, ainda sinto o frio se infiltrando. Meu coração dói enquanto me pergunto: como meu povo, vivendo em tendas, consegue sobreviver a esta estação amarga? Com cada gota de chuva, meus pensamentos estão com eles — encharcados, seu único abrigo é um pedaço frágil de tecido. Muitas dessas tendas são armadas perto do mar de inverno rigoroso e implacável.
Em Gaza, este inverno não é apenas frio; é uma luta pela sobrevivência. As pessoas estão lutando contra o frio cortante, sem roupas adequadas ou aquecimento. Há poucos dias, meus primos — que perderam a casa e agora estão vivendo em uma tenda de refugiados — foram ao mercado em busca de roupas quentes, apenas para voltar de mãos vazias, chocados e desanimados com os preços exorbitantes. Quando um pijama fino e leve custa US$ 95, como alguém pode pagar por aquecimento?
O que pode parecer insignificante em outros lugares — pegar um resfriado ou ficar molhado — é uma ameaça à vida aqui, especialmente para crianças e idosos. Esses grupos vulneráveis sofrem profundamente, sem acesso a tratamento ou medicamentos, pois os hospitais de Gaza mal funcionam. Já sobrecarregados, eles não conseguem oferecer cuidados nem para as doenças mais básicas.
A higiene também se torna quase impossível, aumentando o risco de doenças. Vivendo em tendas sem acesso a água morna, as pessoas não podem tomar banho ou se limpar adequadamente. Para as mães, lavar roupa se torna ainda mais extenuante no inverno, pois as quedas de energia em Gaza — que agora se estendem por mais de 400 dias — as impedem de usar máquinas de lavar. Em vez disso, elas lavam as roupas à mão com água gelada.
Apesar do sofrimento físico, é a dor psicológica que corta mais fundo — a visão de mães assistindo seus filhos chorarem de fome durante noites longas e frias, ansiando por comida que se tornou quase impossível de encontrar. Mesmo enquanto escrevo estas palavras, estou morrendo de fome, não tendo comido nada por muitas horas.
Os moradores de Gaza há muito tempo dependem dos serviços da UNRWA para alimentos e remédios, incluindo cupons de alimentos fornecidos pelo WFP, UNICEF e UNRWA. Mas a proibição imposta por Israel à UNRWA restringiu a entrada de ajuda em Gaza, exacerbando uma situação já terrível.
A fome está se enraizando, e parece um pesadelo sem fim. O preço da pouca comida disponível é inacreditável. Um único saco de farinha agora custa mais de US$ 300. Como alguém pode pagar por isso? Mesmo se pudéssemos, a farinha geralmente está infestada de insetos e gorgulhos, tornando-a inutilizável. As padarias que antes serviam como uma tábua de salvação agora estão fechadas, incapazes de obter suprimentos. O pão — o mais básico dos alimentos — se tornou um luxo que poucos podem pagar. A fome tomou conta de nossas vidas, deixando-nos em desespero, sabendo que amanhã provavelmente trará mais do mesmo, ou pior.
Sobrevivemos com uma refeição por dia, e mesmo isso parece uma bênção. Mas as longas noites de inverno tornam isso mais difícil, pois as pessoas dependem do “Takaya” — uma distribuição de alimentos beneficente — que fornece apenas pequenas porções, mal o suficiente para encher um estômago vazio. Esses Takaya geralmente começam às 11h, deixando as famílias sem nada para alimentar seus filhos pelo resto do dia. O frio nos morde, e a fome torna isso ainda mais difícil de suportar.
Olho para as crianças — pálidas, magras e exaustas de fome e frio. Vejo famílias esperando em filas intermináveis, segurando recipientes vazios, na esperança de encontrar comida. Imagino o quanto mais elas podem suportar, o quanto mais qualquer um de nós pode suportar. Essa realidade brutal é uma luta diária, com famílias buscando alternativas ou contando com ajuda insuficiente para alimentar seus filhos. A escassez de alimentos limpos e acessíveis não é apenas um desafio; é uma crise que ameaça a sobrevivência de uma população já vulnerável.
O inverno em Gaza não é mais uma época de calor e união. É uma estação de solidão e isolamento. A parte mais cruel desse sofrimento é o silêncio de um mundo que observa de longe, mas não faz nada. À medida que as noites frias se estendem, o isolamento também se estende. Os moradores de Gaza não estão apenas lutando contra a fome e o frio, mas contra a dor profunda de estarem isolados, tanto física quanto emocionalmente, do resto da humanidade. Nessa reclusão forçada, nos perguntamos: alguém realmente ouve nossos gritos?
Ritos de ano novo
No período colonial, o ano novo começava no dia 25 dezembro. Documentos oficiais, como as atas das câmaras municipais, mudavam a indicação numérica do ano no dia de Natal. Escrevia-se 24 de dezembro de 1580, por exemplo. E, na ata seguinte, 25 de dezembro de 1581.
Lentamente, concepções relacionadas com a passagem de ano enquanto marcação da passagem do tempo, enquanto tempo litúrgico e histórico, foram sendo corroídas, envelhecendo aos poucos.
Minha geração viveu e sofreu a angústia de mudanças rituais na marcação do tempo, que a colocaram em face da consciência de protagonista de um tempo sem volta, o tempo do fim e da finitude. A criança como personificação do avesso e do invisível, do novo contido no que é velho e morre.
Por isso, o dia de ano novo tinha um significado antropologicamente particular. Foi o que notei até 1947, para minha geração o último ano novo da tradição de que, com a molecada de meu bairro operário e de minha rua, vivi a função reveladora do novo que decorre do fim e último.
Na véspera do ano novo, as famílias se preparavam para o ritual que no dia seguinte, bem cedo, se processaria através das crianças. Aí pelas 7 horas da manhã, a criançada, já de café tomado, saía pela rua de sua casa, eventualmente por trechos iniciais de ruas vizinhas, batendo de portão em portão.
Quando o dono ou a dona da casa aparecia lá no fundo do corredor lateral, o que vinha da cozinha, fingindo surpresa e estranheza, a criança gritava “Feliz ano novo”, mal sabendo ela própria o que aquilo significava. A pessoa lá do fundo devolvia: “Feliz ano novo pra você também”.
Já com a mão no bolso da calça ou do avental, dirigia-se ao portão e dava para a criança uma moeda. Os mais pobres tiravam uma moeda de um tostão (dez centavos) ou de 200 réis, que ainda circulava, e a davam à criança.
A dádiva desapontadora podia ser de alguém que era reconhecidamente pobre. No caso dos que davam pouco porque sovinas, a notícia corria entre a criançada no minuto seguinte. O pão-duro ficava difamado. O azar decorrente viria com certeza. Era só esperar.
Muitos sovinas evitavam expor a sovinice porque o augúrio da criança tinha uma função ritual e mágica, nunca confessada, mas reconhecível nas formalidades que a cercavam.
As crianças eram socializadas na economia moral de definição do valor extraeconômico da economia, do dinheiro e das mercadorias. Uma moeda de 50 centavos era uma dádiva razoável. Já circulava a moeda pesada de 1 cruzeiro, com o mapa do Brasil de um lado e o número 1 bem grande do outro. Era moeda que deixava qualquer um feliz.
As crianças tinham sua própria “teoria econômica” para determinar o tamanho do seu reconhecimento ao doador generoso, que assim criava fama imorredoura, que passava de um ano para outro.
No dia de ano novo, até às 10 horas, com seus votos de porta em porta, na verdade as crianças cumpriam um rito de renovação do caráter comunitário das relações de vizinhança.
Com o tempo, compreendi esse aspecto daqueles procedimentos. No dia a dia meu irmão e eu atravessávamos a rua, abríamos o portão da casa dos avós e íamos diretamente para a cozinha ou para dentro da casa, pedíamos a bênção e lá ficávamos.
No dia de ano novo, não. Agíamos como estranhos à casa e à família. Meu avô, padrinho de meu irmão, dava-lhe uma nota de 10 cruzeiros, coisa que nem sabíamos o que era. Sendo nota de papel-moeda, era coisa de adulto, não de crianças.
Para elas, moeda era coisa para quem ainda não crescera. Aquele valor excepcional da nota desfazia para ele o rito de estranhamento e o integrava num relacionamento de proximidade parental com o avô-padrinho, seu pai putativo.
Para mim, no entanto, uma moeda era dádiva de recompensa simbólica pelos votos propiciatórios. A dádiva era retribuição do adulto à criança, uma troca. Mas negadora do que era próprio do dinheiro porque desigual na função renovadora das relações sociais e do seu caráter comunitário, aquilo que não se compra, apenas de troca.
Diferentemente do que ocorre no mundo da mercadoria e do dinheiro, em que a troca igualiza os desiguais e as desigualdades, a troca do voto pela dádiva no ano novo era rito que confirmava a desigualdade de quem dava e de quem recebia.
Nas diferentes culturas, crianças da primeira infância são o anômalo porque ainda não são membros da sociedade, à espera de quando se integraram no repetitivo das relações sociais.
Como observou Marcel Mauss, em clássico estudo sociológico sobre a magia, as crianças conservam os dons e poderes próprios dos socialmente não integrados. Elas não sabem, mas a sociedade lhes atribui a condição de porta-vozes das incógnitas do novo, do futuro e do diferente. O prenúncio.
Lentamente, concepções relacionadas com a passagem de ano enquanto marcação da passagem do tempo, enquanto tempo litúrgico e histórico, foram sendo corroídas, envelhecendo aos poucos.
Minha geração viveu e sofreu a angústia de mudanças rituais na marcação do tempo, que a colocaram em face da consciência de protagonista de um tempo sem volta, o tempo do fim e da finitude. A criança como personificação do avesso e do invisível, do novo contido no que é velho e morre.
Por isso, o dia de ano novo tinha um significado antropologicamente particular. Foi o que notei até 1947, para minha geração o último ano novo da tradição de que, com a molecada de meu bairro operário e de minha rua, vivi a função reveladora do novo que decorre do fim e último.
Na véspera do ano novo, as famílias se preparavam para o ritual que no dia seguinte, bem cedo, se processaria através das crianças. Aí pelas 7 horas da manhã, a criançada, já de café tomado, saía pela rua de sua casa, eventualmente por trechos iniciais de ruas vizinhas, batendo de portão em portão.
Quando o dono ou a dona da casa aparecia lá no fundo do corredor lateral, o que vinha da cozinha, fingindo surpresa e estranheza, a criança gritava “Feliz ano novo”, mal sabendo ela própria o que aquilo significava. A pessoa lá do fundo devolvia: “Feliz ano novo pra você também”.
Já com a mão no bolso da calça ou do avental, dirigia-se ao portão e dava para a criança uma moeda. Os mais pobres tiravam uma moeda de um tostão (dez centavos) ou de 200 réis, que ainda circulava, e a davam à criança.
A dádiva desapontadora podia ser de alguém que era reconhecidamente pobre. No caso dos que davam pouco porque sovinas, a notícia corria entre a criançada no minuto seguinte. O pão-duro ficava difamado. O azar decorrente viria com certeza. Era só esperar.
Muitos sovinas evitavam expor a sovinice porque o augúrio da criança tinha uma função ritual e mágica, nunca confessada, mas reconhecível nas formalidades que a cercavam.
As crianças eram socializadas na economia moral de definição do valor extraeconômico da economia, do dinheiro e das mercadorias. Uma moeda de 50 centavos era uma dádiva razoável. Já circulava a moeda pesada de 1 cruzeiro, com o mapa do Brasil de um lado e o número 1 bem grande do outro. Era moeda que deixava qualquer um feliz.
As crianças tinham sua própria “teoria econômica” para determinar o tamanho do seu reconhecimento ao doador generoso, que assim criava fama imorredoura, que passava de um ano para outro.
No dia de ano novo, até às 10 horas, com seus votos de porta em porta, na verdade as crianças cumpriam um rito de renovação do caráter comunitário das relações de vizinhança.
Com o tempo, compreendi esse aspecto daqueles procedimentos. No dia a dia meu irmão e eu atravessávamos a rua, abríamos o portão da casa dos avós e íamos diretamente para a cozinha ou para dentro da casa, pedíamos a bênção e lá ficávamos.
No dia de ano novo, não. Agíamos como estranhos à casa e à família. Meu avô, padrinho de meu irmão, dava-lhe uma nota de 10 cruzeiros, coisa que nem sabíamos o que era. Sendo nota de papel-moeda, era coisa de adulto, não de crianças.
Para elas, moeda era coisa para quem ainda não crescera. Aquele valor excepcional da nota desfazia para ele o rito de estranhamento e o integrava num relacionamento de proximidade parental com o avô-padrinho, seu pai putativo.
Para mim, no entanto, uma moeda era dádiva de recompensa simbólica pelos votos propiciatórios. A dádiva era retribuição do adulto à criança, uma troca. Mas negadora do que era próprio do dinheiro porque desigual na função renovadora das relações sociais e do seu caráter comunitário, aquilo que não se compra, apenas de troca.
Diferentemente do que ocorre no mundo da mercadoria e do dinheiro, em que a troca igualiza os desiguais e as desigualdades, a troca do voto pela dádiva no ano novo era rito que confirmava a desigualdade de quem dava e de quem recebia.
Nas diferentes culturas, crianças da primeira infância são o anômalo porque ainda não são membros da sociedade, à espera de quando se integraram no repetitivo das relações sociais.
Como observou Marcel Mauss, em clássico estudo sociológico sobre a magia, as crianças conservam os dons e poderes próprios dos socialmente não integrados. Elas não sabem, mas a sociedade lhes atribui a condição de porta-vozes das incógnitas do novo, do futuro e do diferente. O prenúncio.
Neurociência e Marketing: A urgência de uma ética aplicada
É indiscutível que, enquanto indivíduos, estamos inevitavelmente inseridos na condição de consumidores, sendo grande parte das nossas ações diárias intrinsecamente associadas a práticas de consumo. Essa realidade traduz-se numa constante exposição a um fluxo avassalador de estímulos publicitários, oriundos de múltiplos canais e disseminados numa velocidade vertiginosa.
Surge, assim, uma questão de profunda relevância: de que forma o nosso cérebro processa tamanha quantidade de informações? O que explica a retenção de apenas uma fração diminuta deste conteúdo? E, mais intrigante ainda, quais os fatores que nos levam a privilegiar uma marca em detrimento de outra?
O cérebro humano, inquestionavelmente, representa um dos campos mais desafiantes e insondáveis da ciência contemporânea. A sua complexidade intrínseca reflete-se na singularidade de cada mente, onde padrões de comportamento frequentemente desafiam os princípios da lógica e da racionalidade.
É deste encontro entre a neurociência e o marketing que emerge um novo e promissor domínio científico: o neuromarketing. Esta disciplina, situada na intersecção entre o conhecimento aprofundado do sistema nervoso e as estratégias comerciais, configura-se como uma ferramenta há muito aguardada por profissionais da comunicação e especialistas em comportamento do consumidor.
O cérebro humano, inquestionavelmente, representa um dos campos mais desafiantes e insondáveis da ciência contemporânea. A sua complexidade intrínseca reflete-se na singularidade de cada mente, onde padrões de comportamento frequentemente desafiam os princípios da lógica e da racionalidade
Enquanto campo multidisciplinar, a neurociência dedica-se ao estudo sistemático do sistema nervoso, integrando áreas como anatomia, biologia molecular, genética e psicologia. O progresso alcançado neste domínio tem sido notável e amplamente reconhecido. Simultaneamente, o conceito de neuromarketing, introduzido por Ale Smidts, procura compreender de forma rigorosa as influências neurológicas dos estímulos de marketing no comportamento do consumidor, permitindo uma otimização das estratégias comunicacionais e a conceção de campanhas mais eficazes e direcionadas.
Desde as primeiras explorações realizadas em 2002, o neuromarketing consolidou-se como uma abordagem central no estudo da relação entre estímulos publicitários e decisões de consumo. Contudo, como acontece com muitas áreas emergentes da ciência, este campo não está imune a controvérsias éticas. A utilização imprudente ou oportunista de tais ferramentas levanta sérias preocupações, uma vez que possuem o potencial para manipular o comportamento humano de forma pouco ética ou mesmo prejudicial.
A necessidade de estabelecer limites éticos é incontornável! É imperativo que este campo seja regulado com rigor, promovendo um debate abrangente sobre as implicações dos avanços nas ciências da mente e nas tecnologias associadas ao marketing.
Embora o conhecimento científico sobre o cérebro humano ainda se encontre numa fase incipiente, é crucial que a sua aplicação prática seja guiada por princípios éticos que assegurem o progresso social e a proteção da dignidade humana.
Surge, assim, uma questão de profunda relevância: de que forma o nosso cérebro processa tamanha quantidade de informações? O que explica a retenção de apenas uma fração diminuta deste conteúdo? E, mais intrigante ainda, quais os fatores que nos levam a privilegiar uma marca em detrimento de outra?
O cérebro humano, inquestionavelmente, representa um dos campos mais desafiantes e insondáveis da ciência contemporânea. A sua complexidade intrínseca reflete-se na singularidade de cada mente, onde padrões de comportamento frequentemente desafiam os princípios da lógica e da racionalidade.
É deste encontro entre a neurociência e o marketing que emerge um novo e promissor domínio científico: o neuromarketing. Esta disciplina, situada na intersecção entre o conhecimento aprofundado do sistema nervoso e as estratégias comerciais, configura-se como uma ferramenta há muito aguardada por profissionais da comunicação e especialistas em comportamento do consumidor.
O cérebro humano, inquestionavelmente, representa um dos campos mais desafiantes e insondáveis da ciência contemporânea. A sua complexidade intrínseca reflete-se na singularidade de cada mente, onde padrões de comportamento frequentemente desafiam os princípios da lógica e da racionalidade
Enquanto campo multidisciplinar, a neurociência dedica-se ao estudo sistemático do sistema nervoso, integrando áreas como anatomia, biologia molecular, genética e psicologia. O progresso alcançado neste domínio tem sido notável e amplamente reconhecido. Simultaneamente, o conceito de neuromarketing, introduzido por Ale Smidts, procura compreender de forma rigorosa as influências neurológicas dos estímulos de marketing no comportamento do consumidor, permitindo uma otimização das estratégias comunicacionais e a conceção de campanhas mais eficazes e direcionadas.
Desde as primeiras explorações realizadas em 2002, o neuromarketing consolidou-se como uma abordagem central no estudo da relação entre estímulos publicitários e decisões de consumo. Contudo, como acontece com muitas áreas emergentes da ciência, este campo não está imune a controvérsias éticas. A utilização imprudente ou oportunista de tais ferramentas levanta sérias preocupações, uma vez que possuem o potencial para manipular o comportamento humano de forma pouco ética ou mesmo prejudicial.
A necessidade de estabelecer limites éticos é incontornável! É imperativo que este campo seja regulado com rigor, promovendo um debate abrangente sobre as implicações dos avanços nas ciências da mente e nas tecnologias associadas ao marketing.
Embora o conhecimento científico sobre o cérebro humano ainda se encontre numa fase incipiente, é crucial que a sua aplicação prática seja guiada por princípios éticos que assegurem o progresso social e a proteção da dignidade humana.
Com o contínuo avanço da neurociência e a expansão do seu âmbito de aplicação, mergirão inevitavelmente novas e complexas questões éticas. É plausível imaginar um futuro em que se obtenha um controlo sem precedentes sobre as preferências, emoções e comportamentos humanos. Tal cenário exige uma reflexão profunda sobre os limites aceitáveis para tais práticas.
O desafio ético que se apresenta é inescapável. É imprescindível que esta temática permaneça no centro de um diálogo interdisciplinar e que se definam fronteiras claras para garantir a liberdade de escolha do consumidor. Apesar das diferenças nos ritmos e objetivos de ciência e sociedade, o progresso sustentável só será alcançado quando ambas se complementarem de forma harmoniosa.
Maria Nascimento Cunha
O desafio ético que se apresenta é inescapável. É imprescindível que esta temática permaneça no centro de um diálogo interdisciplinar e que se definam fronteiras claras para garantir a liberdade de escolha do consumidor. Apesar das diferenças nos ritmos e objetivos de ciência e sociedade, o progresso sustentável só será alcançado quando ambas se complementarem de forma harmoniosa.
Maria Nascimento Cunha
Sem noção de sua importância ao votar
Na virada de 1999, vários órgãos nos EUA foram convidados a listar os americanos mais admirados, influentes ou importantes do século 20. Saíram centenas de nomes, famosos ou nem tanto, todos dignos de admiração. Mas houve unanimidades, pessoas sobre as quais não restava a menor dúvida, representantes do que de melhor o povo americano poderia produzir. Eis algumas.
O jurista Oliver Wendell Holmes (1841-1935), o advogado Clarence Darrow (1857-1938), o educador John Dewey (1859-1952), o arquiteto Frank Lloyd Wright (1867-1959), a conferencista Helen Keller (1880-1968), o presidente Franklin Roosevelt (1882-1945), o fundador do A.A., Bill W. (1895-71), o dançarino Fred Astaire (1899-1987), o inventor da vacina contra a pólio Jonas Salk (1914-95), o jazzista Louis Armstrong (1901-71), a antropóloga Margaret Mead (1901-78), o pediatra Benjamin Spock (1903-98), a atriz Bette Davis (1908-89), a ativista Rosa Parks (1913-2005), o compositor Stephen Sondheim (1930-2021), o boxeur Muhammad Ali (1942-2016). Sim, eu sei, faltou este ou aquele, favor completar.
São pessoas que nos acostumamos a amar e a identificar com os EUA, e nos fazem perguntar como um país que produziu gente dessa qualidade pode ser tão cruel em política externa, primitivo em relações raciais e dado a metralhar inocentes em escolas. Como se explica? A resposta é: talvez eles não sejam os EUA. Mas, se eles não são, quem será? Uma amiga que, em jovem, morou durante um ano com uma família do Idaho, num programa de intercâmbio, me forneceu a descrição.
Os EUA são exatamente esse homem do Idaho, 40 anos, branco, casado com mulher "do lar", quatro filhos, casa própria, três carros. Planta, compra ou vende batatas, que é o negócio da região. Sai para caçar no sábado e vai com a família à igreja aos domingos. Não lê nada, só vê esportes na TV e às vezes toma cerveja com os amigos. Admite negros ou latinos, mas só na sua lavoura. Nunca saiu do Idaho, exceto para os vizinhos Utah e Wyoming. Não tem a menor ideia de que seu voto para presidente pode afetar o equilíbrio do mundo.
Vota em Donald Trump
O jurista Oliver Wendell Holmes (1841-1935), o advogado Clarence Darrow (1857-1938), o educador John Dewey (1859-1952), o arquiteto Frank Lloyd Wright (1867-1959), a conferencista Helen Keller (1880-1968), o presidente Franklin Roosevelt (1882-1945), o fundador do A.A., Bill W. (1895-71), o dançarino Fred Astaire (1899-1987), o inventor da vacina contra a pólio Jonas Salk (1914-95), o jazzista Louis Armstrong (1901-71), a antropóloga Margaret Mead (1901-78), o pediatra Benjamin Spock (1903-98), a atriz Bette Davis (1908-89), a ativista Rosa Parks (1913-2005), o compositor Stephen Sondheim (1930-2021), o boxeur Muhammad Ali (1942-2016). Sim, eu sei, faltou este ou aquele, favor completar.
São pessoas que nos acostumamos a amar e a identificar com os EUA, e nos fazem perguntar como um país que produziu gente dessa qualidade pode ser tão cruel em política externa, primitivo em relações raciais e dado a metralhar inocentes em escolas. Como se explica? A resposta é: talvez eles não sejam os EUA. Mas, se eles não são, quem será? Uma amiga que, em jovem, morou durante um ano com uma família do Idaho, num programa de intercâmbio, me forneceu a descrição.
Os EUA são exatamente esse homem do Idaho, 40 anos, branco, casado com mulher "do lar", quatro filhos, casa própria, três carros. Planta, compra ou vende batatas, que é o negócio da região. Sai para caçar no sábado e vai com a família à igreja aos domingos. Não lê nada, só vê esportes na TV e às vezes toma cerveja com os amigos. Admite negros ou latinos, mas só na sua lavoura. Nunca saiu do Idaho, exceto para os vizinhos Utah e Wyoming. Não tem a menor ideia de que seu voto para presidente pode afetar o equilíbrio do mundo.
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