Agora, acordo com o som da chuva, meu coração pesado de tristeza. O inverno chegou completamente em Gaza. O frio já começou. Deitado na cama, vestido com roupas quentes, coberto com dois cobertores e cercado pelas paredes da minha casa, ainda sinto o frio se infiltrando. Meu coração dói enquanto me pergunto: como meu povo, vivendo em tendas, consegue sobreviver a esta estação amarga? Com cada gota de chuva, meus pensamentos estão com eles — encharcados, seu único abrigo é um pedaço frágil de tecido. Muitas dessas tendas são armadas perto do mar de inverno rigoroso e implacável.
Em Gaza, este inverno não é apenas frio; é uma luta pela sobrevivência. As pessoas estão lutando contra o frio cortante, sem roupas adequadas ou aquecimento. Há poucos dias, meus primos — que perderam a casa e agora estão vivendo em uma tenda de refugiados — foram ao mercado em busca de roupas quentes, apenas para voltar de mãos vazias, chocados e desanimados com os preços exorbitantes. Quando um pijama fino e leve custa US$ 95, como alguém pode pagar por aquecimento?
O que pode parecer insignificante em outros lugares — pegar um resfriado ou ficar molhado — é uma ameaça à vida aqui, especialmente para crianças e idosos. Esses grupos vulneráveis sofrem profundamente, sem acesso a tratamento ou medicamentos, pois os hospitais de Gaza mal funcionam. Já sobrecarregados, eles não conseguem oferecer cuidados nem para as doenças mais básicas.
A higiene também se torna quase impossível, aumentando o risco de doenças. Vivendo em tendas sem acesso a água morna, as pessoas não podem tomar banho ou se limpar adequadamente. Para as mães, lavar roupa se torna ainda mais extenuante no inverno, pois as quedas de energia em Gaza — que agora se estendem por mais de 400 dias — as impedem de usar máquinas de lavar. Em vez disso, elas lavam as roupas à mão com água gelada.
Apesar do sofrimento físico, é a dor psicológica que corta mais fundo — a visão de mães assistindo seus filhos chorarem de fome durante noites longas e frias, ansiando por comida que se tornou quase impossível de encontrar. Mesmo enquanto escrevo estas palavras, estou morrendo de fome, não tendo comido nada por muitas horas.
Os moradores de Gaza há muito tempo dependem dos serviços da UNRWA para alimentos e remédios, incluindo cupons de alimentos fornecidos pelo WFP, UNICEF e UNRWA. Mas a proibição imposta por Israel à UNRWA restringiu a entrada de ajuda em Gaza, exacerbando uma situação já terrível.
A fome está se enraizando, e parece um pesadelo sem fim. O preço da pouca comida disponível é inacreditável. Um único saco de farinha agora custa mais de US$ 300. Como alguém pode pagar por isso? Mesmo se pudéssemos, a farinha geralmente está infestada de insetos e gorgulhos, tornando-a inutilizável. As padarias que antes serviam como uma tábua de salvação agora estão fechadas, incapazes de obter suprimentos. O pão — o mais básico dos alimentos — se tornou um luxo que poucos podem pagar. A fome tomou conta de nossas vidas, deixando-nos em desespero, sabendo que amanhã provavelmente trará mais do mesmo, ou pior.
Sobrevivemos com uma refeição por dia, e mesmo isso parece uma bênção. Mas as longas noites de inverno tornam isso mais difícil, pois as pessoas dependem do “Takaya” — uma distribuição de alimentos beneficente — que fornece apenas pequenas porções, mal o suficiente para encher um estômago vazio. Esses Takaya geralmente começam às 11h, deixando as famílias sem nada para alimentar seus filhos pelo resto do dia. O frio nos morde, e a fome torna isso ainda mais difícil de suportar.
Olho para as crianças — pálidas, magras e exaustas de fome e frio. Vejo famílias esperando em filas intermináveis, segurando recipientes vazios, na esperança de encontrar comida. Imagino o quanto mais elas podem suportar, o quanto mais qualquer um de nós pode suportar. Essa realidade brutal é uma luta diária, com famílias buscando alternativas ou contando com ajuda insuficiente para alimentar seus filhos. A escassez de alimentos limpos e acessíveis não é apenas um desafio; é uma crise que ameaça a sobrevivência de uma população já vulnerável.
O inverno em Gaza não é mais uma época de calor e união. É uma estação de solidão e isolamento. A parte mais cruel desse sofrimento é o silêncio de um mundo que observa de longe, mas não faz nada. À medida que as noites frias se estendem, o isolamento também se estende. Os moradores de Gaza não estão apenas lutando contra a fome e o frio, mas contra a dor profunda de estarem isolados, tanto física quanto emocionalmente, do resto da humanidade. Nessa reclusão forçada, nos perguntamos: alguém realmente ouve nossos gritos?
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