quinta-feira, 13 de março de 2025

Pensamento do Dia

 


Palavras sábias do passado

Atenção ao se informar. Passamos boa parte da vida colhendo informações. Vemos muito pouco por nós mesmos, e vivemos confiando nos outros. Os ouvidos são a porta dos fundos da verdade e a porta da frente da mentira. 

É mais frequente ver do que ouvir a verdade. Ela raramente nos chega pura, muito menos quando vem de longe. Tem as cores da paixão por que passou, ora agradável, ora detestável. Tenta sempre nos impressionar, de uma forma ou de outra. Tome mais cuidado com quem elogia do que com quem critica. Descubra qual o interesse pessoal, de que lado coxeia, para onde vai. Acautele-se quanto aos falsos e os defeituosos.
Baltasar Gracián (1601-1658)

Em breve, um ilustre presidiário

Os bolsonaristas gostam de se referir a Lula como "condenado", "descondenado" e "ex-presidiário". De fato, Lula é ou já foi tudo isso. Sergio Moro, futuro ministro de Bolsonaro, condenou-o a 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro referente a um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia. No dia 5 de abril de 2018, Lula se entregou à Polícia Federal no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo. O país testemunhou pela TV sua serena e digna caminhada até a aeronave que o levaria à carceragem da PF em Curitiba, onde passou 580 dias preso. Em 2021, o STF anulou suas condenações, considerando que tinham sido decididas por um tribunal sem competência jurisdicional.


Os seguidores de Bolsonaro não deveriam ser tão rigorosos com Lula. Afinal, o próprio Bolsonaro está às vésperas de se tornar também um presidiário. Só não se sabe se reagirá como um homem quando lhe baterem à porta. Mais provável é que tenha de ser levado à força, pedalando o ar e chorando, como o covarde que sempre foi —isso se já não tiver se escondido numa embaixada. De qualquer forma, será também um condenado. E o potentado estrangeiro que, para eles, intervirá no Brasil para descondená-lo, também tem a cueca suja: Donald Trump, presidente dos EUA, condenado em 34 acusações relacionadas a comprar o silêncio de uma atriz pornô com quem teve relações, fraudando a eleição de 2016 e a vencendo.

Se ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro estigmatiza uma pessoa, os bolsonaristas deveriam envergonhar-se de ver Bolsonaro íntimo do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL e condenado em 2012 a sete anos e dez meses pelos mesmos motivos.

Como se não bastasse, o núcleo duro da quadrilha bolsonarista conta com uma chusma de generais, coronéis, majores, brigadeiros e policiais já presos preventivamente pelo crime mais grave numa democracia: atentar contra ela.

Como, para júbilo nacional, Bolsonaro não demorará a ir lhes fazer companhia, teremos um novo presidiário ilustre.

A grande bagunça: como Trump governa os Estados Unidos

Trump governa com uma folha de papel, um lápis e uma borracha. Taxou a importação de produtos mexicanos e canadenses. Depois apagou sua decisão. Depois escreveu que ela valerá em breve.

Trump escreveu que cabe ao homem mais rico do mundo, Elon Musk, cortar despesas do governo, atuando diretamente sobre as áreas onde o número de funcionários é gigantesco e sem razão.

Diante da gritaria dos seus secretários de Estado e chefes de departamentos revoltados com as interferências de Musk, Trump reescreveu a decisão. Caberá a Musk apenas aconselhá-los.

Em entrevista a um canal na internet, perguntado se a política econômica do seu governo não poderia provocar uma recessão, ele admitiu que “talvez”. Então, o valor das ações caiu no mundo todo.


A ideia de Trump de esvaziar Gaza de palestinos para transformá-la em uma espécie de colônia de férias para milionários foi cancelada. A bem dizer, não era para sair do papel.

Vez por outra, Trump fala em tomar a Groelândia da Dinamarca e o canal do Panamá do governo panamenho. Mas, pelo menos por ora, não avançou para além da fala. Quanto à guerra na Ucrânia…

Trump encenou o maior espetáculo televisivo jamais vivido por um presidente americano; um espetáculo ao vivo e direto da Casa Branca que deixou chocados os que o assistiram.

A convite dele, Zelensky, presidente da Ucrânia, o visitou. É de praxe que os dois posassem primeiro para fotos, trocassem alguns comentários e depois se reunissem a portas fechadas.

Em seguida, haveria um almoço, e depois uma entrevista coletiva à imprensa. Não foi assim. Zelensky, dependente da ajuda americana para enfrentar a Rússia, caiu numa armadilha.

Logo na etapa inicial do encontro, Zelensky foi humilhado por Trump e pelo vice-presidente JR Vance, aliados da Rússia até o talo. E acabou sendo despejado da Casa Branca.

Em público, jamais um visitante fora tratado daquela maneira na Casa Branca, jamais. O maior vencedor daquele encontro foi Vladimir Putin, o autocrata russo que invadiu a Ucrânia.

Inúmeras decisões tomadas por Trump até aqui, com base no que lhe passa pela cabeça, já foram derrubadas ou suspensas pela justiça americana. Washington está em pânico e perplexa.

Entenda-se: Trump não é um estadista, sequer um aspirante a estadista. É um empreendedor imobiliário, habituado a blefar para extrair vantagens nos negócios, e um homem de televisão.

Zelensky chegou ao poder no seu país como o afamado protagonista de uma série bem-sucedida de televisão onde fazia o papel de presidente da Ucrânia. Apesar disso…

Não é páreo para Trump, a quem precisa adular e se submeter caso queira ajuda em armas e em dinheiro. Nos últimos três anos, Zelensky viajou pelo mundo como uma estrela. Seu show acabou.

O show de Trump mal começou, e ele não precisa cortejar ninguém, nem viajar atrás de apoios. Ele só não pode perder apoio em casa. Começa a perder, segundo as pesquisas.

Winston Churchill, o estadista inglês que combateu Hitler praticamente sozinho no início da Segunda Guerra Mundial, perdeu apoio em casa quando a vitória militar estava à vista.

Os ingleses concluíram que ele fora o melhor líder de que dispunham para ir à guerra, mas que não seria o melhor para reconstruir o país. Vencido em 1945, dedicou-se à pintura.

Essa é justamente uma das belezas do regime democrático: a alternância no poder. Ninguém é insubstituível. A vontade do povo se expressa por meio do voto livre. Cada eleitor, um voto.

Tarifas de Trump enferrujam patriotismo de bolsonaristas

O patriotismo de Bolsonaro e seus devotos, já bem carcomido pela radioatividade do golpismo, passou a ser corroído também pela ferrugem trumpista. Formou-se na direita brasileira uma militância pró-Trump. O silêncio diante das tarifas que o imperialista laranja impôs aos metais importados do Brasil submete os membros dessa tribo ao risco de atrair uma antiga maledicência do ensaísta inglês Samuel Johnson (1709-1784): "O patriotismo é o último refúgio do canalha".


Carbono de Trump no Brasil, Bolsonaro fez da submissão um objetivo de vida. "Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível", declarou às vésperas da posse do ídolo. "Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato" em 2026. O deputado Eduardo Bolsonaro passou a dar mais expediente em Washington do que em Brasília. Já não tinha pátria. As tarifas de Trump o deixaram sem discurso.

Entre todos os silêncios, o mais constrangedor é o de Tarcísio de Freitas. Quando Trump venceu a eleição, o governador de São Paulo correu às redes sociais para celebrar: "Grande dia", escreveu. Fez pose num vídeo com um boné da "América Grande de Novo". Informou o que esperava de Trump: "Uma economia mais forte, com menos impostos, uma outra visão acerca da América Latina, uma postura diferente em relação às disputas comerciais que podem virar oportunidades para nós se bem lidas e aproveitadas".

Deu tudo errado. Trump promete ampliar o leque de tarifas a partir de abril. Mais de um terço das exportações brasileiras para os Estados Unidos saem de São Paulo. Sabe-se que Tarcísio será candidato a alguma coisa em 2026. Falta definir o cargo. Caindo-lhe a ficha, perceberá em algum momento que precisará pedir votos no Brasil.

O homem privatizado


Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.

Bertolt Brecht

Casa Branca vira uma concessionária Tesla

 Foi outra encenação difícil de acreditar e ainda mais difícil de esquecer. Donald Trump transformou o gramado sul da Casa Branca no cenário de um anúncio dos carros Tesla na terça-feira, de propriedade do homem mais rico do mundo e seu colaborador mais próximo, Elon Musk. O presidente dos EUA e seu Primeiro Amigo posaram esta tarde em frente a uma fileira de cinco veículos elétricos da empresa (quatro utilitários e uma daquelas caminhonetes em ângulo reto) em um evento para a imprensa onde Trump queria mostrar seu apoio ao empresário em vista da queda vertiginosa do preço das ações de sua empresa e da campanha difamatória que sua entrada na política desencadeou.

Trump anunciou que ficaria com um deles, um Model S, pelo qual, segundo ele, pagaria o preço integral (a partir de US$ 79.900, de acordo com o site da Tesla). Ele o comprará “sem nenhum desconto”, acrescentou, antes de posar para fotógrafos ao volante de um carro vermelho e ouvir de Musk que era “tão fácil de dirigir quanto um carrinho de golfe”. Trump também detalhou, como se fosse um comercial da Tesla, os preços de cada modelo e as parcelas mensais disponíveis para compras a prazo.

Não havia nada de incomum no que aconteceu, nem o apoio público de um presidente a uma empresa privada, com as questões éticas que tal gesto levanta. A Casa Branca se recusou a abordar essas preocupações quando questionada por repórteres, talvez porque, como anunciou o comprador, que disse ter pago com cheque, o veículo permanecerá no local para uso de seus funcionários.

As vendas da Tesla despencaram nas últimas semanas em resposta a Musk, que também é dono da SpaceX e da rede social X, liderando o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Seu mandato é simplificar a administração, e ele já demitiu dezenas de milhares de funcionários e congelou bilhões de dólares em programas públicos. A cruzada desencadeou protestos, proprietários furiosos de Tesla abandonando seus carros e ataques a veículos elétricos e estações de carregamento. Os números da empresa caíram não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, China e Austrália.

 

“Acho que ele foi tratado de forma muito injusta por um grupo muito pequeno de pessoas, e só quero que as pessoas saibam que ele não pode ser penalizado por ser um patriota, e ele é um grande patriota, e fez um trabalho incrível com a Tesla”, disse Trump sobre Musk no gramado da Casa Branca. O evento, que foi convenientemente transmitido pela X, também contou com a presença do filho de quatro anos do empresário, com quem ele costuma desfilar por Washington, dos corredores do Capitólio ao Salão Oval.

A compra da Tesla alimenta ainda mais a crítica daqueles que criticam os potenciais conflitos de interesse que Musk pode estar enfrentando, já que ele mantém contratos lucrativos com o governo, que ele está trabalhando para desmantelar internamente.

Trump anunciou sua intenção de comprar o carro na terça-feira em sua plataforma de mídia social, Truth, pouco depois da meia-noite. A ideia era “mostrar [sua] confiança e apoio a Elon Musk, um verdadeiro grande americano”, escreveu ele. Não está claro quando ele terá a chance de dirigir seu novo brinquedo . Por razões de segurança, os presidentes dos EUA são obrigados a viajar na The Beast, a limusine presidencial, e os moradores de Washington estão acostumados a vê-la circulando pela cidade, protegida na frente e atrás por um enxame de veículos pretos de alta potência que passam rapidamente pelas ruas antes bloqueadas.

Em uma palavra: bandidos. Em muitas: demônios

Era um dia de agosto. O ano, 1941. Fazia calor em Minsk. Era início de estação, verão. Parecia domingo. Feito festa. Tudo fruição.

A gente do Reich avançava por todo o Leste da Europa. Bielorrússia, Ucrânia, Rússia. Quilômetro por quilômetro. Seu destino: Moscou. Sentido: Ural. Objetivo: triunfar sobre os herdeiros de Tolstói e forjar vitórias totais e sem partilha. Tudo por uma Grande Alemanha. Tipo aquilo projetado em 1938, com a anexação de Anschluss, por um espaço vital que inaugurou uma verdadeira guerra colonial. Teoricamente, por princípios existenciais. Ou, como dizia um general alemão,

“A guerra contra a Rússia é uma parte essencial do combate pela existência do povo alemão. Trata-se do velho combate dos germânicos contra os eslavos, a defesa da cultura europeia contra a invasão moscovito-asiática, a defesa contra o bolchevismo judaico”.

Eis o tom da Barbarossa. 1941 foi o momentum Barbarossa e do deus Molotov-Ribbentrop.

Vivia-se junho-julho. O ano, 1941.

Moscou não era Varsóvia nem Atenas tampouco Paris. A blitzkrieg, por isso, fora insuficiente.

A resiliência do Exército Vermelho era impressionante. Muito maior que dos franceses, gregos e poloneses. O que impôs à Wehrmacht conjuntos de perdas inimagináveis.

Stalin exigia determinação integral de seus oficiais. Hitler também. Era difícil saber quem tinha mais razões para lutar. Ninguém hesitava. Do mais raso ao mais graduado militar, marinheiro ou aeronauta. O limite era morrer. Quem medrasse, sabia, morria. Quem fosse demasiado corajoso, também. Era certo. De qualquer lado. O que brutalizou sobremodo o conflito. Fazendo da violência uma ubiquidade banal. Mais que outrora e mais que jamais.

Tanto que em um, dois meses os alemães perderam mais homens e materiais que em todas as suas batalhas anteriores desde 1939. O pavor tomou conta. Mesmo os mais experimentados oficiais do Reich jamais tinham visto tanta determinação. Exceto em Verdun, La Somme ou La Marne.

A Eurásia era um inferno. Inferno vermelho.

Que, de súbito, fez-se Medusa diante de Hitler.

Que, por seu turno, metamorfoseou a mentalidade do Reich. Evocando, mais que nunca, a superioridade germânica. Tendo por contraparte os judeus. Judeus-bolcheviques. De todas as idades e condições. Homens, mulheres e crianças. Que passaram a ser exterminados sem preguiça nem perdão. Adicionando ao embate dimensões étnicas, para muito além das ideologias.

O mês ainda era julho. E o ano, 1941.

Malgrado as perdas, a bandeira do Reich era mais e mais hasteada. Concretando a fúria de Hitler em todo o Leste da Europa. Capturando populações. Neutralizando-as e confinando. Para, em seguida, eliminar. Enviando para guetos. Impondo privações. Trabalho forçado. Fome, miséria, desnutrição, infecção. E, por fim, fuzilando. Feito espetáculo.

Prender, confinar, fuzilar. Sem piedade nem perdão. Desejo de Hitler. Desígnio do Reich. Desde sempre. Especialmente desde 1939.

Volte-se, então, a outubro de 1939.

O Reich dava início ao plano Nisko. Um processo de deportação de judeus para a região de Lublin, na Polônia, com o propósito de humilhação, desmoralização, eliminação. Era o início da limpeza étnica nazista. Que depois se somou ao projeto Madagascar. Para onde foram enviados milhares de judeus doentes e sadios. Amplificando o martírio. Que, para muitos, não cessaria nunca mais.

Nem com a morte.

Entre 1939 e 1945, porquanto, houve 1941. Início da Barbarossa. Que levou a gente do Reich a mudar de planos, esquecer das deportações para Lublin e Madagascar para focar na Sibéria.

Território de Stalin. Onde, em seu entender, os judeus, antes de morrer, sofreriam ainda mais.

Mas logo se notou não fazer sentido enviar todo mundo para a Sibéria. Os judeus eram muitos e muito espalhados. O que sugeria ao Reich otimizar a receita prender, confinar, fuzilar.

Além de nazistas, aqueles nazistas eram sádicos. Sedentos por sangue, horror e morte. O que os conduziu a criar um pelotão especializado em fuzilar. Chamaram-no Einsatzgruppen. Esquadrão da morte do Reich.

Criado naquele junho-julho de 1941, ele inaugurou as atividades otimizadas de fuzilamento. Que no primeiro exercício assassinou 23.600 judeus em Kamenets-Podolski duma vez só. E, por entenderem ser bom, chegaram ao número mágico de meio milhão de judeus fuzilados em poucas semanas depois dali.

O início passou. Junho-julho também. Chegou agosto. O ano, 1941.

Fazia calor em Minsk. Era início de estação. Parecia domingo. Fazia-se festa. Tudo em fruição.

O oficialato nazista em solo soviético quis evidenciar a sua performance aos seus superiores em Berlim. Convidaram, então, Führer pra ver. Mas ele não foi. Mas enviou Himmler.

Como se disse, parecia ser festa. Um espetáculo foi armado. Não era o Coliseu. Não era cristãos. Não existiam animais. Mas previa-se muito fogo. Deu-se o start. Iniciaram-se os fuzilamentos. Os verdugos da SS, incorporados ao Einsatzgruppen, descarregaram uma quantidade impressionante de munição sobre dezenas de milhares de pessoas simplesmente por serem judeus. Tudo à luz do dia. Pouco mais ou menos que meio-dia. Causando sensações. Alguns carrascos sorriam. Uns poucos choravam. Outros, somente, sentiam. Tudo diante de Himmler, que tudo anotava.

Eram todos, certo, nazistas. Muitos deles, epidermicamente assassinos. Mas todos, inequivocamente, tinham coração. Ainda eram humanos, demasiado humanos. E, por isso, malgrado a pressão, ainda não tinham sido completamente lobotomizados pelo Mein Kampf. O que lhes permitia nesgas de consciência, escrúpulos, decência. Quem sabe, até sentimentos. Nobres ou não. Decentes ou indigentes. Uma confusa piedade. Transformada em hesitação. Eram petrificantes as cenas de martírio. Mesmo que contra seus inimigos. Em sua maioria, mulheres. Quase todas indefesas.

Algumas gestantes. Outras lactantes. Com filhos nos braços ou por vir. Consumidas pelo medo. Clamando por perdão.

Himmler viu tudo aquilo. Era brutalizante. O que o levou à meditação.

A desgraça, o ódio e o desamor eram desmedidos. Eis a conclusão.

Chocado com tudo isso, de volta a Berlim, Himmler reportou o que viu e sentiu ao Führer. Que entendeu a mensagem e providenciou solução. Não por ser sensível por ser artista ou pintor. Mas por interpretar as externalidades negativas daquele despautério, desumano e desumanizador, sobre o próprio Reich. Que poderia ver seus oficiais delirar. O que já acontecia. E produzir sinistros nefastos na saúde mental da tropa. Que, malgrado jovem, sabia e sentia o que fazia.

A demanda de Himmler era por métodos “mais humanos”. A solução era criar alternativas. Quem sabe, até mais baratas. Hitler sugeriu o gás. Para ele, mais ameno e profilático. Incumbiu-se, assim, Reinhard Heydrich para materializar a solução.

O mês ainda era agosto. O ano, 1941.

Reinhard Heydrich consultou Viktor Branck, responsável pelos experimentos com gás desde 1939. Sim: desde 1939 que os alemães assassinavam judeus em casas da morte em Hartheim, Sonnenstein, Hadamar, Bernburg Grafeneck e Brandenburg.

Viktor Branck atestou ser possível sofisticar e aumentar a escala do experimento. Mas a custo de recursos e logística. O que impôs uma reunião interministerial que teria lugar na conferência de Wannsee em fins de 1941.

Essa conferência reuniu apenas tecnocratas. Quinze ao todo. Todos representantes de ministérios relevantes do Reich. Que sabiam, intelectual e tecnicamente, do que se tratava. E, forjados em sinergia, planificaram a solução.

A nota final da conferência foi enviada ao Führer no dia 20 de janeiro de 1942. Dela constavam todos os detalhes. Que foram imediatamente aprovados e mandados obrar. Como slogan, “solução final”. Foi aí que surgiu a expressão. “Solução final às populações judaicas”.

Prender, confinar, gaseificar.

Os olhos de Hitler reluziam. O seu semblante também. O seu prazer era incontido. Ele sabia se tratar de um verdadeiro turning point na evolução do Reich. A sua compleição humana começava a se transfigurar.

Prender, confinar, gaseificar.

“Solução final”.

Hitler não tinha palavras para expressar gratidão. E, por isso, apenas disse: “cumpra-se”. Mas não simplesmente no Leste da Europa. Mas em toda parte. Notadamente na “deutsches Einfluβgebient in Europa” [esfera de influência alemã na Europa]. Que envolvia toda a Europa e todos os domínios europeus no Norte da África.

Fez-se, assim, Belzec, Sobibor, Treblinka, Kulmohof, Majdank, Auschwitz, Birkenau. Vagões e mais vagões de judeus foram nesses campos desembarcados. 5.700.000 foram exterminados.

Impossível esquecer. Insuportável relembrar.

Never more.