segunda-feira, 23 de novembro de 2015

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Estado Islâmico perde!

Desde que a 129ª vítima tombou ferida de morte no Bataclan, 1543 brasileiros morreram crivados de balas nestes dez dias que nos separam daquela fatídica sexta-feira 13, se é que não superamos ainda, como acontece todos os anos, a média de 2014 quando 56.337 homens, mulheres e crianças foram assassinados nas ruas do Brasil a um ritmo de 154 por dia.

Descontados os outros 136 que morrem diariamente no trânsito em função da qualidade da educação e das estradas que nos impingem, isso é quanto nos tem custado “à vista” a plena liberdade de ação que damos aos nossos “terroristas políticos”.


Graças ao “sistema de segurança pública” único no mundo que eles nos impõem, em que duas polícias que não falam uma com a outra senão por ofícios versados numa língua que nenhum outro brasileiro entende, uma encarregada de atender ocorrências nas cenas dos crimes e outra de “investigar” esses mesmos crimes a partir de frios relatórios versados nesse dialeto, somente 8% das ocorrências registradas chegam a gerar um inquérito, dos quais 0,8% chegam a uma condenação, invariavelmente a uma pena desenhada antes para “recuperar” os assassinos que para proteger os assassinados.

Mesmo diante dessa marca que faz dos ingentes esforços do Estado Islâmico para destruir a civilização ocidental uma brincadeira de criança (na última estatística da ONU eles tinham matado pouco menos de 10 mil pessoas num ano), nós acabamos de escapar por apenas 7 votos de premiar os funcionários do sistema judiciário que produz esse brilhante resultado com um aumento geral de salários que poderia chegar a 79% e que custaria ao país R$ 36 bilhões até 2019, bem no meio da batalha do governo para impingir a uma economia que agoniza nas garras dos seus abusos sem fim um imposto altamente tóxico que pode acabar de matá-la.

Já a conta em vidas que pagamos “a prazo” pela corrupção generalizada que eles disseminam é incomparavelmente maior.

O que eles e os funcionários que nomeiam para postos privilegiados de tocaia aos dinheiros públicos roubam inflando diretamente os preços ou deixando de fazer obras de saneamento e investimentos em saude pública, resultando em epidemias crônicas de doenças medievais ao lado do sucateamento do atendimento hospitalar; a forma como pervertem todos os sistemas de prevenção e fiscalização dos abusos do poder econômico nas empresas públicas e privadas, resultando em desastres recorrentes de proporções telúricas e em devastação ambiental capaz de ameaçar a saúde do planeta inteiro; o modo como aparelham o sistema de educação para rebaixar a capacidade imunológica do país à corrupção, resultando, por tabela, na marginalização econômica de gerações inteiras de brasileiros, tudo isso mata muito mais gente do que a manifestação mais visível da sua obra deletéria que é a epidemia desenfreada de criminalidade.
Para recompensar toda essa eficiência destrutiva os salários do setor público alcançaram em 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgada na semana passada, quase o dobro, em média, do que se paga por postos e capacitações equivalentes aqui no Brasil da 2a classe. O PT recebeu um país em que essa diferença estava em 35,5%, o que já era um escândalo. No ano passado ela chegou a 43%, diferença que não mede a que mais vale que é a total isenção ao mais remoto risco de perda de emprego e proventos, seja o que for que o funcionário venha a fazer ou deixar de fazer e o tamanho das tempestades que a economia vier a atravessar.

Ate o final do governo FHC, registra a pesquisa, os salários dos funcionários estatutários estavam defasados em razão da política de contenção de despesas que resultou no fim da hiperinflação que roubava os mais pobres e no Brasil do Plano Real. A diferença começa a ficar mais forte a partir da medição divulgada em 2005, ou seja, com a inauguração dos governos do PT. Naquele ano e em 2006 os salários do funcionalismo subiram, respectivamente, 11% e 14,5% acima da inflação, contra altas de 8,6% e 7,7% para os salários do Brasil da 2a classe com carteira assinada. A partir de 2009, com a instituição da “Nova Matriz Econômica” com que o PT partiu francamente para a destruição de tudo que o Plano Real tinha conquistado, os salários da 1a classe sairam voando enquanto os da 2a começavam a ratear. Em 2014, ano da eleição na qual a vigília permanente da “militância” (leia-se o funcionalismo público) foi decisiva para tirar o grande provedor (PT) das cordas, a diferença se aprofundou.

A combinação desses aumentos nominais com a orgia de contratações que inchou os quadros do funcionalismo no país inteiro resultou na maior operação de transferência de renda do Brasil que trabalha, investe e produz para o Brasil que só queima dinheiro da história deste país. Esse efeito acelera-se exponencialmente ao longo de 2015 com o desemprego, que neste início da nossa corrida para os porões do mundo já põe 3 mil brasileiros por dia na rua da amargura, rigorosamente nenhum deles das hostes dos que ganham o dobro dos outros para fazer muito menos da metade.

O lado ruim dessa conta você está sentindo na pele. O lado bom, como diz Ricardo Paes de Barros, do Insper, reputado pelo Valor Econômico como “um dos maiores especialistas em desigualdade social e pobreza do país”, é que “Então temos uma maneira (fácil) de reduzir desigualdade, pobreza e déficit público (ao mesmo tempo): é só congelar os altos salários do setor público em geral”.

Esse tão interessante aspecto da Pnad, entretanto, só foi divulgado uma vez por um único jornal de circulação restrita – o Valor – e, mesmo assim, na edição de um “feriadão” de tres dias, o de 15 de novembro. O resto da imprensa ignorou totalmente esta como tem ignorado ou deixado de fazer outras medições definidoras da realidade nacional, o que enseja que a “militância/funcionalismo” e seus patrocinadores tratem de nos arrancar mais uma CPMF, na maior cara de pau, para não ter de tocar nem no menorzinho dos seus próprios privilégios.

Paris e Mariana mostram que ainda não alcançamos a paz

Diante das recentes tragédias envolvendo conflitos humanos provenientes de agressões descabidas e de rompimento de barragem de mineradora, não podemos nos furtar em analisar nossas reações a tudo isso. Em menos de dez dias nesse mês de novembro de 2015, fomos surpreendidos com a calamidade que atingiu Mariana e demais localidades de Minas Gerais e Espírito Santo ferindo de morte trabalhadores e moradores, bem como todo o ecossistema ao seu redor, com o rompimento de barreira de mineradora em Minas Gerais. Além disso, o ataque terrorista em Paris.

A nossa estupefação com a notícia de um fato não elimina a mesma ou maior estupefação diante de outro. Uma dor não elimina a outra dor. Ambas as situações são de extrema gravidade.

Aí vão dizer: temos que nos preocupar com o que acontece no Brasil, ao nosso redor… o nosso desastre foi bem maior. O que aconteceu em Paris foi pequeno diante do que ocorreu com a queda da barreira em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, Minas Gerais. Morte por morte, a nossa guerrilha urbana mata muito mais do que as mortes ocorridas em Paris, a estatística demonstra isso.

Triste verdade, os dados estatísticos estão aí para qualquer um ver, porém, temos que analisar a fundo nossas reações ao que aconteceu em Paris, dando a esse fato, tanta consternação quanto ao que sentimos com o que ocorreu em Minas Gerais, bem perto de nós. Cada um na sua magnitude.

O desastre ambiental com a destruição de um rio importante na distribuição de água em dois estados da federação; a mortandade dos peixes ao longo da trajetória desse rio, a destruição do ecossistema ao seu redor, além das vidas humanas ceifadas com a tsunami de lama; a destruição de toda uma pequena cidade com igrejas, escolas, casas, creches e comércio – tudo isso é irreparável. Todos nós estamos atônitos e sem palavras com essa tragédia que ao dizer de muitos poderia ter sido contida e evitada, mas vivemos num país que ainda engatinha em questões de educação, segurança, saúde e infraestrutura, devido principalmente ao descaso e ao escandaloso desvio de verbas destinadas ao bem estar do seu povo.

Já o ataque em Paris foi também espantoso e assustador. Pessoas comuns, curtindo o seu lazer numa atividade simples e que faz parte da vida de qualquer um que gosta de viver, seja num bate-papo com amigos, assistindo a um show ou saboreando uma boa comida, foram surpreendidas brutalmente por atiradores armados com fuzis e metralhadoras, dando tiros a esmo, atingindo essas pessoas, numa carnificina dantesca.

E tudo isso em Paris, na Cidade Luz! Uma cidade do primeiro mundo que faz parte do nosso imaginário ideológico de segurança, alegria, liberdade! Esse é o ponto!

Cidades como Paris ou Nova Iorque, são para nós um objetivo a alcançar de civilização, organização e liberdade de ir e vir. Quando um atentado acontece numa cidade como essas, o nosso sonho desmorona junto com o seu povo atingido. A revolução francesa ainda está viva e sabemos da luta que foi para a França estabelecer a democracia! A França é o símbolo da civilização!

Foi também a mesma sensação de consternação quando as Torres Gêmeas foram derrubadas no coração de Nova Iorque. Se lá aconteceu isso, o que será de nós? Temos esperança? O nosso sonho, então, vira pesadelo!

Queremos Paz!!! Somos Paris!!!

Dizemos isso, porque não aceitamos que deixe de existir esse ideal de liberdade, de respeito, de civilização que os países do primeiro mundo alcançaram. Temos a velha Europa como meta a alcançar, pois imaginamos que lá não ocorreria nunca uma tsunami como a de Mariana.

Imaginamos que lá o dinheiro do povo volta para o benefício do povo e que ao atingir isso viveremos em paz. Imaginamos que poderemos ir lá um dia para passear felizes e conhecer a famosa Torre Eiffel, ou passear na Champs Elisées e no Rio Sena, sem o medo que sentimos ao sair para passear em nossas cidades.

A nossa esperança depende da existência desse ideal, pois paz é nada mais, nada menos que o respeito pelas diferenças. Paz é viver e deixar viver! Paz é saber, naturalmente, que o direito de uma pessoa acaba quando o da outra pessoa começa. Paz é nos contentarmos com o que podemos ter sem precisar destruir o que o outro tem. Paz é a alegria de poder sair às ruas sem reservas e conversar com um estranho sem ter medo.

Paz é Liberdade, Igualdade e Fraternidade! Je suis Paris e Mariana!!!

E o Lula lá gosta de peras?

A melhor coisa da entrevista que o Lula deu ao Roberto D’Ávila para a Globo News foi como sempre é, nos programas desse jornalista, o próprio entrevistador. Bonito, elegante, educado, inteligente, sabe perguntar e sabe ouvir, o que é, evidentemente, vital para um entrevistador.

A comparação com o ex-presidente chega a ser cruel. Lula, por mais banhos de loja que leve, continua tosco, desajeitado, desarticulado e deselegante.

Interrompe as perguntas do entrevistador para melhor evitar responder com sinceridade àquilo que lhe é perguntado. Gabola, como já disse alguém, ele está convencido que o brasileiro é besta e que acredita em tudo que ele diz. Os palanques lhe fizeram esse mal: as plateias são convocadas e as palmas e aplausos obrigatórios. Desse modo, o ex-presidente se convenceu que sua palavra é sempre ouvida e respeitada.


E aí, sai dizendo tolices atrás de tolices. São frase e pensamentos que de tão repetidos todas as vezes que ele se vê diante de um microfone, já poderiam ser ditos em coro com os convocados para encher o espaço onde ele fala.

De sua mãe, conta com orgulho que ela nasceu analfabeta como, aliás, todas as nossas mães nasceram. Pena que dona Lindu não tenha aproveitado melhor a força do filho que, já em 1975, era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, para fazer um curso de alfabetização de adultos e poder ter o prazer de ler sozinha as notícias diárias que os jornais estampavam sobre seu Lula. Ela faleceu em 1980.

Na entrevista que deu ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT, em 5 de novembro, Lula fala aquilo que repete desde sempre: que duvida que haja alguém, seja lá quem for, que tenha se aproximado dele com um papo menos republicano, digamos assim.

Falando com Roberto D’Ávila em 18 de novembro, esquece que quinze dias antes deu entrevista ao SBT e menciona que há cinco anos não dá entrevistas para não atrapalhar o governo de sua eleita! E torna a dizer que nunca ninguém se aproximou dele com uma oferta menos ortodoxa, nem uma pera lhe ofereceram!

Será que ele gosta de peras? Ou prefere um ’poire’? Ou é homem fiel a uma boa cerveja? Sei lá, nunca vi o Lula em pessoa. Não sei, com certeza, do que ele gosta, a não ser do Corinthians. Mas deduzo algumas coisas: que adora viajar em jatinhos, hotéis seis estrelas (do tipo que oferece menu de travesseiros), e casas de campo super confortáveis, com boas piscinas e campos de futebol. Ah! e mesas para um bom carteado...

Peras? Que ideia!

Também pudera!

Também pudera! Não dava mesmo para esperar resultado diferente. Sofrimento era e sempre foi inevitável. Dizem que dois erros não fazem um acerto. Verdade. Conjuntos incontáveis de erros convidam desastres. E desastre parece ser nossa vocação.

Houve época que a gente confundiu desmatamento com progresso. Conquistar a floresta para subjuga-la era quase missão civilizatória, talvez até vista como divina. Deu no que deu. Florestas eliminadas, falta de agua, mudança climática, desertificação e provavelmente um monte de outras coisas que não consigo ou não sei.

Já achamos que fumaça era progresso. Em todo o canto, chaminé de fabrica era motivo de orgulho. Sem considerar em momento algum, como reduzir a poluição do ar. E, consequentemente, condenando gerações a respirar ar sujo.

Assistimos ao extermínio (ou tentativa de) da escola publica. Já faz muito tempo, os pais não querem seus filhos matriculados nelas. E também faz tempo que a escola publica piora. Culpar o governante de plantão é fácil (embora parcialmente verdadeira). O difícil é reconhecer que a melhoria da escola publica depende do envolvimento da sociedade e, em especial, dos pais. Culpa de todos, portanto.

Na saúde, a mesma coisa. Faz tempo que piora. Tanto tempo, tantas décadas de piora na qualidade, acesso e disponibilidade da saúde pública não da para ser culpa exclusiva do governo da vez. Requer considerável parcela de alienação, desinteresse e apatia da população. Quem pode, prefere pagar saúde privada. Melhorar a saúde publica não parece prioridade da população. Se fosse, alguma coisa já teria melhorado.

Ninguém gosta de impostos. Sejamos francos. Mas eles são necessários. Desde que gastos pelas razoes e da maneira certa. Mas a carga tributaria continua aumentando e os serviços piorando e diminuindo. Orçamento é considerado tema sem interesse para a população em geral. É razoável esperar melhorias na politica publica se a população não se interessa em como o dinheiro publico esta sendo gasto?

Democracia é bom. Votar é bom. É a oportunidade de escolher lideres corrigir rumos, navegar na direção certa. Mas, para funcionar, democracia exige muita coisa. Controle permanente. Envolvimento. Discussão. Negociação. Pactuar objetivos e métodos. Dá trabalho, enfim.

No final, a qualidade dos lideres eleitos refletem as exigências e o controle que a população exerce sobre eles. E isto tudo, gera os resultados colhidos no tempo.

Também, pudera!

Entre Dilma e Marina, votamos pelo desastre

A memória curta encobre de lama nossos olhos d’água. Quem chora hoje pela morte do Rio Doce, pelo drama de soterrados e desabrigados... quem chora pela imagem dantesca, alaranjada e sólida que fez sumir comunidades inteiras, antes ribeirinhas... talvez tenha esquecido que, num momento, lá atrás, Dilma Rousseff, ministra de Lula nas Minas e Energia e na Casa Civil, ganhou uma briga de foice com Marina Silva, então ministra do Meio Ambiente.


Será que não está claro que optamos contra o verde, contra a proteção ambiental e a favor da autonomia total e falta de fiscalização de mineradoras, ao dar carta branca para um país com a cara da Dilma? Ninguém lembra mais a rixa entre Dilma e Marina? Lula nomeou Marina ministra do Meio Ambiente em 2003. 

Mas Dilma achava Marina uma xiita ambiental e a acusava de atrasar licenças ambientais para “obras de infraestrutura” e hidrelétricas. Qual era a resposta de Marina, hoje indisputável em face de Mariana?

“A discussão entre conservação do meio ambiente e desenvolvimento para mim é um falso dilema. Ainda que na prática tenha de ser superada, não é possível advogar pelo desenvolvimento sem promover a conservação ambiental. As duas questões fazem parte da mesma equação.” Marina buscava o desenvolvimento sustentável com uma obsessão: preservar a biodiversidade e a vida. Sobre a demissão de Marina em 2008, Lula declarou: “O importante é que tenha alguém isento para tocar o Plano Amazônia Sustentável. A Marina não é isenta”.

Depois de cinco anos como ministra, Marina saiu desgastada. Perdeu a luta histórica contra os transgênicos e contra a usina nuclear de Angra III. Ao pedir demissão, citou a Bíblia: “É melhor um filho vivo no colo de outro”. O filho era a política ambiental. Ela tinha brigado com outra mãe cheia de energia, Dilma.


Na última campanha eleitoral, com Marina na disputa, Dilma passou a discursar sobre meio ambiente. Mandou beijos e acenos para pequenos agricultores, quilombolas, pescadores e indígenas, prometeu quintuplicar os produtores de orgânicos, sem agrotóxicos. Defendeu assentamentos agrários. Hoje, uma grande aliada de Dilma e sua ministra da Agricultura é Kátia Abreu, empresária, pecuarista, porta-voz dos ruralistas.

O vazamento de 62 milhões de metros cúbicos de lama, considerado a pior hecatombe ambiental de nossa história, não deve ser atribuído apenas a Dilma. Mas não chamem de “acidente” o horror que cimenta as águas e o solo e avança por 800 quilômetros até o mar. Em dez anos, cinco barragens se romperam em Minas Gerais. Mas só agora, com o rompimento da barragem da Samarco, controlada pela Vale e pela BHP, anuncia-se a busca de formas alternativas de disposição de rejeitos de mineração.

O que houve foi um crime num país negligente que adotou uma legislação frouxa com empresas como a Vale, que despejam milhões para financiar eleição de parlamentares. As leis são tolerantes, as multas são ridículas e a fiscalização é zero. A omissão dói. A região só foi sobrevoada por Dilma uma semana depois. A atual ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em reunião com procuradores, sem saber o que prometer, disse: “As hidrelétricas estão paradas por questão de segurança, okay? Então isso é passivo, o governo está avaliando etecetera”. “Okay” e “etecetera”? Ninguém mais sabe falar no país?

Acho lindo que todo mundo se una, comovido, para salvar o Rio Doce. Dilma já disse que ficará melhor do que era! Mas não posso me conformar com o descaso oficial. Há 402 barragens de mineração cadastradas no Brasil e o laudo de risco vem assinado pelas próprias empresas. Oi? Na barragem de Mariana, estava “tudo bem”, segundo o laudo. Agora, Exército, caminhões-pipa e helicópteros estão mobilizados. Bombeiros seguem urubus para encontrar corpos. São feitos buracos na lama para liberar cheiro de decomposição.

No DNPM – Departamento Nacional de Proteção Mineral –, só há cinco fiscais especializados em barragens. Cinco. De que adianta acionar “os sistemas de alerta” à população, simular novos rompimentos, instalar câmeras e monitoramento – se o negócio em si não é fiscalizado? O DNPM está “sucateado”, segundo os próprios diretores.

Não vou falar das tartarugas, dos mamíferos, dos golfinhos, dos peixes, dos corais. Não vou falar da recuperação dos olhos-d’água dos rios. E nem das vítimas cujas vidas foram desviadas de seu leito normal. Só vou falar do caráter nacional de leniência e impunidade que propicia “desastres naturais”. Só vou falar de nossa responsabilidade. Vamos tirar a lama que cobre nossos olhos e enxergar as escolhas que fizemos. Para decidir em que Brasil queremos viver.

Ruth de Aquino

Foi-se o que era Doce

Semana brava, com desastre ambiental no Brasil, atentado em Paris. Ao chegar em casa, com as botas enlameadas, vejo que algumas pessoas me criticam porque não fiz discurso sobre Mariana. Se fizesse, reclamariam por Paris, se fizesse por Paris, reclamariam por Bagdá. Pensei que deixaria as patrulhas no universo analógico. Mas elas sobrevivem no mundo digital. Detalhes.

Na década de 80, esta frase me impressionou em Minas: olhe bem as montanhas. Eu a vi em muitos carros. Na minha interpretação, a frase completa seria essa: olhe bem as montanhas, antes que desapareçam.

Minas Gerais minerais, dizia Drummond, que nasceu em Itabira, na cidade toda de ferro em que as ferraduras batem como sinos.

Nessa viagem por Minas, levava na mochila o livro de Drummond e nele o poema “Canto mineral”:

“Minas exploradas
no duplo, no múltiplo
sem sentido,
minas esgotadas,
a suor e ais”


Vi uma montanha pela metade, em Mariana. A face escura da pedra, seus restos circulando em longos trens de carga era a Minas nos ferindo com “suas pontiagudas lascas de minério, laminados de ironia”. Dessa vez não bastava olhar apenas as montanhas. Os rios estão sumindo, alguns exauridos pela seca, e o Doce afogado pela montanha liquefeita, a lama mineral.

Sei que a hora pede discursos, comunicados, “não vamos mais tolerar” etc. Mas o Rio Doce para mim não é apenas uma palavra de ordem. É uma memória azulada que queria compartilhar com os amigos que moram na cidade onde ele se forma: Rio Doce. É uma cidade de três mil habitantes que não conhece um assassinato há 50 anos. Calma, limpa, 100% saneada, ônibus escolares cruzando suas ruas desertas. Povo e polícia se entendem bem, a cidade se protegeu da violência. O lugar onde o Rio Doce se forma era uma atração turística. Coberto de lama.

A orla do Doce, ponto de lazer da cidade, foi devastada. A mais bonita fazenda da região, a Porto Alegre, coberta de lama. A morte violenta, que os habitantes não viam há meio século, apareceu na forma de nove cadáveres arrastados desde Mariana. Em Rio Doce, pensei também Paris, não para agradar as patrulhas, mas porque Paris para mim também não é apenas uma bandeira, é uma cidade onde passei alguns dos melhores momentos de minha vida. A conclusão a que cheguei na pousada da Cachoeira, quase toda ocupada por bombeiros que vieram de Ubá, é de que não existe uma defesa inexpugnável contra o mundo exterior.

Uma cidade tão limpa invadida pela lama, tão pacífica, recebendo nove corpos, uma cidade luz atacada pelas trevas do extremismo religioso de bandeiras negras. Num momento como esse, de terror, desastre ambiental, corrupção, cinismo, não há como negar o mundo que temos. E encará-lo de frente. Empurrar com a barriga significa mais força para o terrorismo do ISIS, mais desastre ambiental, mais impunidade.

“Ideologia, eu quero uma pra viver.” Esse verso de Cazuza passou muitas vezes pela minha cabeça. Conheci Cazuza em 1986 e o visitei depois em Petrópolis. Por tudo o que sei dele, o termo “ideologia” aqui não significa uma visão de mundo totalizante, que tudo explica, explica, às vezes antes de acontecer, às vezes sem sequer examinar os fatos.

“Ideologia” aqui, creio, significa um sentido na vida, ainda que precário e incompleto. Este sentido está em falta no país: somos um gigante desengonçado, que não discute nem sabe para onde vai. Vivemos uma crise econômica, política, ética e ambiental — um bicho de quatro cabeças. É feio, mas está aí. É absolutamente necessário combatê-lo de forma integrada.

Temos uma oposição que não aponta o caminho, mas não se dispõe a sair perguntando. Um governo cujo sonho de consumo é nos entupir de carros e eletrodomésticos e comprar refinarias enferrujadas, para chamar de “minha Ruivinha”. A única saída é conversar por baixo, discutir intensamente, embora isso seja contraditório com a rotina dura do trabalho.

Olhe bem as montanhas. Ainda bem que olhei o Doce muitas vezes antes de vê-lo em seu caixão de barro. A contemplação apenas me entristece. Preciso fazer mais, sem patrulhas nos calcanhares. Cada um sabe de seus limites, embora, de vez em quando, precise ultrapassá-los. As pessoas da minha geração talvez não vejam mais o Rio Doce. Visitei um dos seus formadores, o Piranga; águas normais, apenas um pouco castigadas pela seca. Na Serra do Caparaó subi pelas cabeceiras do rio José Pedro. Também está raso, mas joga água limpa no Doce, através do Manhuaçu.

Isso é uma esperança para as novas gerações. O Doce pode sair da UTI em alguns anos. Depende de nós, assim como enfrentar o monstro de muitas cabeças.

O país que conhecemos está desaparecendo. É preciso uma aliança com os que podem desfrutá-lo depois de nós, com base numa visão ainda que modesta de nosso futuro comum.

Um rumo, um sentido até que fariam bem nesse vale enlameado.

 Fernando Gabeira

A escrivaninha vazia de Negrão de Lima

Deputado Federal, Ministro da Justiça, das Relações Exteriores, Prefeito do Distrito Federal, Embaixador em Portugal, por último Governador da Guanabara, Negrão de Lima trouxe de Minas Gerais múltiplas lições de competência política. Uma delas, de jamais ir para casa, à noite, sem despachar o último papel levado ao seu gabinete ou adotar a derradeira decisão inadiável. Deixava limpa a sua escrivaninha e explicava não ter certeza de que voltaria na manhã seguinte para continuar a trabalhar. Em especial quando depois de eleito governador, candidato das oposições ao regime militar e sob a má vontade dos então detentores do poder. Tentaram impedir sua posse e viu-se processado como comunista em Inquéritos Policiais Militares, livrando-se deles por sua óbvia resistência a todo tipo de radicalismos. Era visto como adversário, até como inimigo pelos generais-presidentes, mas conseguiu conviver com todos e cumpriu os cinco anos de seu mandato. Morreu pobre.

Lembra-se a memória de um dos grandes políticos que o Brasil já teve por conta da escrivaninha vazia de todas as noites. Se não voltasse, nada ficaria devendo às suas obrigações.

Transplantando aqueles idos para hoje, a conclusão é de que fazem falta as lições de Negrão de Lima. Porque a prática dos governantes de agora é de não fazer hoje o que pode ser deixado para amanhã. Quantas decisões a presidente Dilma vem protelando, especialmente depois de reeleita? Da reforma do ministério que levou quase um ano para acontecer de forma pífia, até convencer-se de que vivíamos uma crise dos diabos, Madame hesitou e ainda hesita. Precisaria virar o jogo, adotando um programa de sacrifícios e de retomada do crescimento, mas não se decide. Deveria, mas não ousa, enquadrar as elites através do imposto sobre grandes fortunas e a taxação de heranças. Passa ao largo da necessidade de estabelecer amplo projeto de combate ao desemprego por meio de obras públicas. Deixa de elaborar mudanças essenciais no pacto federativo, como se Estados e Municípios não lhe dissessem respeito. Volta as costas para aumentar investimentos em educação e saúde públicas. Tergiversa frente à importância de reduzir juros e duplicar o salário mínimo.

Essas e quantas outras iniciativas a presidente leva para casa, todas as noites, sequer sem trazer soluções no dia seguinte? Ao retornar, encontra a mesa de trabalho sempre mais atulhada de obrigações adiadas. Deveria, ao menos, encomendar uma biografia de Negrão de Lima...

Ilhas do tempo

De todas as ilhas visitadas, duas eram portentosas. A ilha do passado, disse, onde só existia o tempo passado e na qual seus moradores se entediavam e eram razoavelmente felizes, mas onde o peso do ilusório era tal que a ilha ia afundando no rio cada dia um pouco mais. E a ilha do futuro, onde o único tempo que existia era o futuro e cujos habitantes eram sonhadores e agressivos, tão agressivos, Ulisses disse, que provavelmente acabariam se comendo uns aos outros
Roberto Bolaño

Pobreza pode voltar a crescer na América Latina

A fase de ouro da redução da pobreza na América Latina pode estar com os dias contados, e este mal histórico deve voltar a crescer. O Banco Mundial (Bird) alerta que 38% da população - 241 milhões de pessoas que não são pobres nem chegaram à classe média -são vulneráveis a caírem na pobreza, ou seja, a viverem com menos de US$ 4 por dia. E os pobres temem ser jogados na miséria. A primeira consequência a ser sentida será a volta da informalidade no trabalho, que passará dos atuais 37% para mais da metade da população adulta do continente se nada for feito.

Mais de 18 mil lojas de informática fecharam no país em um ano
A América Latina e o Caribe, que formam a região mais desigual do mundo, sofrem com a queda no preço das commodities, a falta de investimentos em educação e a desaceleração chinesa. O CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina calcula que uma redução de 1,5 ponto percentual no crescimento da China faça a economia local encolher 1,75 ponto percentual.

- Todos os países da região terão mais dificuldade para se recuperar - alerta Pablo Sanguinetti, diretor corporativo de Análise Econômica do CAF, para quem os governos podem atenuar estes riscos.

Os dados mostram que a pobreza na região está estagnada desde 2012. São 167 milhões de pobres, sendo 71 milhões de miseráveis. A extrema pobreza já começa a mostrar tendência de alta, inclusive no Brasil. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), a miséria por aqui subiu, e cerca de 6% dos brasileiros são miseráveis.

- No Brasil, onde esperamos que o PIB (Produto Interno Bruto) vá cair em 2015 e em 2016, o nível de pobreza deve aumentar, ainda que menos que nos anos 80, quando havia menos políticas de suporte à renda dos menos afortunados. Todavia, um possível aumento da pobreza no país seria temporário - afirma Marcello Estevao, especialista do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas Oscar Calvo-Gonzales, gerente para a área de pobreza do Bird, acredita que os problemas da região são estruturais:

- Hoje a região enfrenta condições externas difíceis, que não são transitórias e que podem durar muito tempo. Uma nova geração de programas sociais vai além da rede de segurança em tempos de crise, mas também ajuda a aumentar a produtividade e reforçar o capital humano, permitindo novos progressos na redução da pobreza.

O Brasil, o país que mais reduziu a pobreza, hoje é um dos mais ameaçados, devido à forte crise econômica e política. Tem de lidar, simultaneamente, com o empobrecimento e o problema fiscal.

- O desafio hoje é não piorar muito, enquanto há alguns anos estávamos debatendo como acelerar a queda na pobreza - sintetiza Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue. - Mas ninguém quer deixar de ser pobre temporariamente, e isso pode gerar pressão social para que as reformas, enfim, saiam do papel.

Na vizinhança da sede do Banco Central brasileiro, uma cena resume a situação do país. Ao lado do prédio que guarda US$ 370 bilhões - a enorme poupança de dólares para proteger o Brasil da crise - famílias vivem do lixo. Nos contêineres dos arredores, nada que possa ser vendido permanece muito tempo.
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Os meninos do Brasil

Enquanto a Europa discute o que fazer com seus jihadistas, o Brasil sequer discute o que fazer com sua juventude transviada que se agrupa em hordas sob a bandeirinha do PT para cacarejar e gritar palavras de ordem em homenagem aos seus guerreiros, forrados de grana na cueca. É um espanto.

Evidente que aquela e esta agremiação criminosa deveriam ser proscritas. Mais evidente ainda a comoção que causará, com o resto da lama que ainda falta boiar no território destes alegres milicianos do atraso e do barbarismo, que desnudarão ainda mais dejetos que os que já contabilizamos.


Talvez a existência de um Cunha explique a existência de um Lula, pois para a roubalheira ser completa sempre é necessário quem furte as galinhas e quem abra a porta da granja. Neste quesito, talvez a única verdade consumada pela vigarice é que eles só fazem aquilo que todos já fizeram ou ainda fazem, só que com muito mais audácia, desprendimento e irresponsabilidade. Para muitos, parecem qualidades insofismáveis. Para o todo, no entanto, os prontuários dessas entidades só os credencia para as dependências da polícia.

Eu sempre me pergunto o que fazer do espólio moral que essa gente vai deixar por aqui. O que será dos “meninos do Brasil” entregues à própria sorte de terem que pensar com as próprias cabeças? Não bastasse a índole alvejada, a ideologia torta, a burrice faraônica e a ignorância rombuda que todos exibem faceiros em suas agitações frenéticas de bandeirinhas tortas, o culto à pobrice como estética do manco vai fazendo uma escola perigosa para o país.

As barragens não caem sozinhas, meus caros. Elas precisam de um longo processo de solapamento, devidamente descaracterizado como movimento importante, que um dia será o estopim de uma tragédia anunciada. Eu começo a acreditar que esses políticos simplesmente não se dão conta de com que forças estão mexendo. Dançam uma dancinha esquisita, no alto do vertedouro de suas ideologias pilantras, acreditando cegamente que a estrutura jamais virá abaixo, soterrando-os num amontoado de dejetos.

Eu já disse aqui mesmo – e muita gente não me interpretou corretamente – que não é a quadrilha desse mamulengo que vai me fazer sair daqui. É a herança maldita, deixada por todos estes grupamentos, que condenou inexoravelmente o país a ser um quintal de si mesmo, onde suas muambas vão sendo negociadas a céu aberto para fabricar os novos cretinos que almejam nos governar em seguida.

O reinado de Lulão, Marinão, Macedão, Dilmão e contramão não termina nunca. Ele é uma extensão do nosso cérebro, da nossa finitude marreta, da nossa malemolência e da nossa simpática apatia. Ele é o produto certo, para o consumidor certo que cultivamos por aqui. Uma lástima. 

Metade das espécies de árvores da Amazônia pode estar ameaçada


Metade de todas as espécies de árvores da região amazônica pode estar ameaçada, o que aumentaria em mais de um quinto o número de espécies de plantas em risco no mundo. A conclusão, publicada na revista Science Advances, é de um grupo com 158 pesquisadores de 21 países, liderados por Hans ter Steege, do Museu de História Natural de Leiden, na Holanda.

No estudo, os cientistas usaram dados de mais de 1.500 levantamentos sobre a floresta amazônica. Dessa forma, eles puderam determinar como o desmatamento tem afetado, desde 1900, o número de árvores de cerca de 15 mil espécies. A equipe também estimou os efeitos do desmatamento até 2050.

Os resultados foram, então, comparados com os critérios da Lista Vermelha da União Mundial para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), que faz um inventário de espécies em risco. O resultado mostra que de 36% a 57% de todas as espécies da região amazônica podem ser tidas, mundialmente, como ameaçadas. Entre elas, há espécies como a castanheira-do-Brasil, que chega a 50 metros de altura, e o cacaueiro.

Os pesquisadores ressaltam que os resultados não são o suficiente para a criação de uma Lista Vermelha completa das árvores da Amazônia. Para isso, cada uma das espécies deveria ser individualmente examinada pela IUCN. No entanto, as descobertas reforçaram a extensão e urgência dessa tarefa.

No Brasil, a cobertura florestal tem diminuído há décadas, mas existe pouca informação sobre a quantidade de espécies de árvores afetadas. "Não estamos dizendo que a situação na região amazônica se deteriorou de repente", explica o co-autor da pesquisa Nigel Pitman, do Museu Field de História Natural, em Chicago. "Fornecemos uma nova estimativa de como as árvores foram afetadas pelo desmatamento no passado e serão no futuro."

Rompimento das barragens: Por que ninguém será punido

O rompimento das barragens em Minas Gerais provocou uma avalanche de publicações no sentido de tentar fazer a sociedade ver a tragédia como resultado do capitalismo, já que a Vale, controladora da Samarco, é apresentada como uma empresa privada − privatizada por FHC!

Se considerarmos que um partido político é uma instituição privada, sim, a Vale foi privatizada. A Vale é do PT. A Samarco também.

O processo de tomada do controle da Vale pelo PT é muito bem descrito num dos capítulos do livro "Reinventando o Capitalismo de Estado", de Aldo Musacchio e Sergio Lazzarini.


Um resumo:

A privatização da Vale promovida por Fernando Henrique Cardoso em 1997 foi parcial. O governo vendeu pouco mais de 41% das ações da empresa para a Valepar, holding que na época era liderada pelo empresário Benjamin Steinbruck. Porém, o governo manteve o controle das golden shares, ações que lhe dava poder de decisão em vários assuntos, por exemplo, sobre os objetivos da empresa.

No ano de 2001, o conselho de administração da Vale aprovou a nomeação de Roger Agnelli como CEO da empresa. Um ano depois, a privatização foi concretizada com o BNDES vendendo 31,5% de sua participação. No entanto, no ano seguinte, 2003, início do governo Lula, o mesmo BNDES recomprou 1,5 bilhão em ações da empresa. Nesse mesmo ano, Lula apadrinhou a nomeação do ex-sindicalista e ex-vereador petista Sergio Rosa (hoje investigado pela Operação Lava Jato) como CEO do Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil.

Sob a liderança de Agnelli, a Vale deu um salto de produtividade, de rentabilidade, de admissão de funcionários e de pagamento de impostos e de royalties.

A partir de 2009, o grupo que reúne fundos de pensão de empresas estatais controlados pelo PT (Previ, Petros e Funcef) se utilizou da Litel, holding criada por eles mesmos, para assumir o controle da Valepar e por meio dela obter 49% das ações da Vale, o que somados aos 11,5% que já estavam nas mãos do BNDESPAR, braço de investimentos do BNDES, deu ao PT o controle sobre mais de 60% das ações da empresa.

Começou, então, a pressão de Lula sobre Agnelli para que a Vale fizesse mais investimentos no Brasil, principalmente na aquisição de siderúrgicas e na encomenda de navios, mesmo que os similares estrangeiros custassem a metade do preço.

Lula também tentou fazer um certo Eike Batista chegar à presidência da Vale. Não conseguindo, tentou substituir Agnelli por Sergio Rosa. Também não conseguiu.

A despeito das pressões, Agnelli continuou seus projetos na Vale, incluindo a encomenda de navios na China e na Coreia do Sul, o que enfureceu Lula. Em 2011, logo após a Vale registrar um lucro trimestral quase 300% acima do trimestre anterior, Agnelli foi demitido. Seu sucessor e atual presidente, Murillo Ferreira, foi indicado por Lula – e até dois meses atrás, Ferreira também ocupava uma cadeira no conselho de administração da Petrobrás. Desde então, os rumos da Vale são ditados pelos interesses PT.

Ignorando normas de licitação e do TCU, a mineradora firmou diversos contratos com empresas beneficiadas pelo programa de proteção e de incentivo à indústria nacional iniciado por Lula e que, obviamente, formava o grupo de financiadores (Odebrecht, por exemplo) de seu partido e de todos os movimentos que o apoiavam.

Não por acaso, desde então a Vale vem registrando perdas. Hoje, a Litel tem, sozinha, 52,5% das ações da Vale.

Em tempo: Todos os setores que foram beneficiados pelo protecionismo do PT estão hoje em colapso e todos os fundos de pensão de empresas estatais controlados por petistas estão deficitários.

Três perguntas:

O grupo que detém o controle acionário da Vale não seria o maior responsável pelos projetos de suas empresas?

O governo não foi negligente na concessão de alvarás e na fiscalização?

O PT, que controla a Vale, que governa Minas Gerais e o Brasil não tem nada, absolutamente nada a ver com isso?

E assim, mais uma vez nos deparamos com a razão do estado não poder participar do mercado. Quando participa, o próprio estado se torna o mais interessado em abafar as responsabilidades em caso de incompetência e de negligencia, deixando a sociedade completamente desamparada institucionalmente. As pessoas que perderam suas casas, suas fontes de renda e familiares na tragédia com toda certeza ouvirão muitas promessas do governo e talvez recebam algum dinheiro, mas a probabilidade é de que não verão ninguém sendo punido.

A realidade que deveria ser vista pela sociedade é que a maioria das grandes empresas brasileiras estão sob influência direta ou indireta do governo, estão sujeitas aos interesses de militantes do PT e de políticos de sua base aliada que geram lucros para si mesmos e prejuízos para a sociedade. Os bancos, os fundos de pensão e as agências regulatórias do estado não passam de instrumentos políticos. Para saber quais são as empresas que estão sob o controle do PT, basta checar seus quadros acionários, os benefícios fiscais, a quantidade de dinheiro que receberam do BNDES e os valores que doaram aos partidos nos últimos anos.

Se estivéssemos num país regido pelo livre mercado, a Samarco e a Vale seriam empresas realmente privadas e suas responsabilidades nesse acidente seriam realmente levantadas, julgadas e punidas, já que o governo não teria interesse em livrá-las do peso da justiça. Se fossem privadas, o estado iria com toda sua força contra as empresas. Se fossem privadas, alguém iria para a cadeia.

Como se fosse pouco as mortes e os prejuízos ambientais, a tragédia também levará consigo muitos bilhões de reais investidos pelos fundos de pensão que controlam as duas empresas, ou seja: Os prejuízos serão estendidos aos funcionários da Caixa, da Petrobrás e do Banco do Brasil.

Um acidente como o ocorrido em Minas poderia ter acontecido com qualquer empresa e em qualquer lugar do mundo, como já ocorreu tantas vezes, porém, o caso em questão evidencia mais uma vez que a participação do estado na economia potencializa a impunidade. Ninguém será punido pela tragédia em Minas, assim como ninguém foi punido pelos acidentes nas plataformas da Petrobrás nem pelos prejuízos sociais e ambientais provocados pela falência das empresas de Eike Batista, o ilustre filho bastardo das políticas “desenvolvimentistas” do PT.

Para evitar problemas, dias depois da tragédia em Minas, Dilma assinou o decreto 8572 que diz que “…considera-se também como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens que ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais”. Com uma simples canetada, Dilma tirou da Samarco e da Vale toda a responsabilidade sobre a tragédia.