quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pobres são 70% da população brasileira



Esta afirmação é do sociólogo Jessé Souza, novo presidente do IPEA, feita à repórter Nice de Paula que o entrevistou e publicou a matéria por sina excelente, na edição de O Globo de 27, segunda-feira. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada é vinculado ao Ministério do Planejamento. Jessé de Souza pode não permanecer durante muito tempo no cargo, pois sua tese – O Brasil faz de conta que conhece a si mesmo – colide frontalmente com a mensagem do governo Dilma Rousseff, que aponta, nos últimos doze anos, a partir de Lula, um deslocamento de frações das classes pobres para uma nova classe média. Jessé de Souza coloca-se numa rota de colisão. Acho que está certo.

Para ele, 70% da população do país não são de classe média. São pobres, portanto, deixa claro. Pois como o Brasil pode figurar entre as nações formadas em maioria pelas classes médias, se, de acordo com o próprio IBGE, 50% dos trabalhadores ganham até 3 salários mínimos por mês. E 70% não ultrapassam a barreira de cinco salários mínimos?

Como ser uma nação de classe média um país cujos assalariados recebem por ano, no total, 2 trilhões de reais e cujas dívidas atingem 1 trilhão e 400 bilhões? O endividamento alcança portanto, a escala de 70% de seus vencimentos. As favelas e os cortiços proliferam, quase 40% dos domicílios não contam com sistemas adequados de saneamento. Esgotos correm a céu aberto. Jessé de Souza anunciou à repórter Nice de Paula um projeto ambicioso de conhecimento interpretativo, uma espécie, vamos assim dizer, de radiografia dos números do IBGE. A controvérsia vai partir daí. Sua tarefa e sua caminhada não serão nada fáceis. Afinal, revelar a verdade sempre incomoda os governos. O novo presidente do IPEA quer colocar a verdade em torno do manto da fantasia. Ele definiu seu projeto de pesquisa.

Trata-se de um estudo importante e inédito porque vai unir, disse ele, três perspectivas: interpretação dos dados estatísticos; uma dimensão compreensiva e a visão das pessoas a respeito do país e do universo. Neste plano, será necessária, além da interpretação, uma tradução iluminando e expondo melhor, e mais amplamente, as vontades coletivas, suas esperanças, portanto suas decepções e desilusões, acrescento eu. Não se trata de um supercenso. Mas de uma análise do próprio senso à luz de uma inteligência lógica e objetiva. Enfim, em síntese, tudo aquilo que os governos não desejam.

Não desejam porque o reconhecimento público de vulnerabilidade destrói os mitos, como o da despoluição da Baia da Guanabara, exibido domingo pelo Fantástico, quando promessas se transferiram e acumularam de um governo do Rio de janeiro para outro, numa sequência ridícula de inações. Mas esta é outra questão. O essencial, me parece, sob a lente de Jessé de Souza, é o descortinar de um panorama evidente para poucos, porém, embora sentido diretamente por muitos, ignorado conscientemente por estes, vítimas diretas de uma situação de descalabro, como se verifica no setor da saúde, que atravessa o tempo e até o compromisso humano dos dirigentes para com aqueles que mais necessitam.

Os que mais necessitam, assim, não podem ser considerados de classe média. Este mito, portanto, necessita ser destruído, porque enquanto não houver uma compreensão exata do país, por ele mesmo, esse caminho de evolução jamais será percorrido. Essa é, a meu ver, a proposta básica do novo presidente do IPEA. Que seja efetivo enquanto dure, ou pelo menos mantido por quem o suceder. Os governos não gostam muito da verdade.

O que ensina a pancadaria promovida pela polícia de Beto Richa

Os policiais militares destacados, ontem, para garantir o funcionamento da Assembleia Legislativa do Paraná agiram em legítima defesa de suas vidas, disse o governador José Richa (PSDB).

E quem agiu em defesa da vida de quase 20 mil manifestantes, a maioria deles professores, que protestavam contra um projeto do governo que mudou as regras da previdência social dos servidores públicos?

É tarefa ou não da polícia garantir a liberdade de expressão dos cidadãos e reagir com moderação quando provocada por uma minoria? Sim, porque a se acreditar no próprio Richa, foi uma minoria que provocou a polícia.

Richa falou da ação de black blocs. Culpou-os pela violência que atingiu, pelo menos, 213 pessoas, segundo a prefeitura de Curitiba. Mas na hora do vamos ver, comentou que a polícia prendeu sete black blocs.

Não se referiu a mais do que sete. Se havia mais por que a polícia só prendeu sete? Ela foi capaz de ferir 213 pessoas, oito delas gravemente, mas só prendeu sete vândalos. Ora, que polícia é essa?

Usou cachorros para que mordessem manifestantes; balas de borracha, já descartadas por outros governos estaduais; e bombas de gás lacrimogêneo atiradas, inclusive, de helicóptero.

Por que repressão tão descabida? Tão desproporcional? Para conter a sanha de sete black blocs? De jovens desarmados e de gente idosa? De pessoas que até se locomoviam em cadeiras de roda?

Ao manifestar sua solidariedade aos policiais autores de violência tão estúpida, Richa se revelou um líder político, no mínimo, estúpido. Durante entrevista de 14 minutos, tentou justificar o injustificável.

Só conseguiu ser repetitivo. Confuso. Contraditório. Muito aquém das exigências do cargo que ocupa. Admitiu, por exemplo, que a violência produziu “cenas chocantes, indefensáveis”. Para encaixar de imediato:

- A PM reagiu para preservar sua integridade.

Claramente na defensiva, afirmou tolamente que pôs em risco sua popularidade para defender a ordem pública, “obrigação de qualquer governante”. E daí?

A essa altura, quem, além dele, está interessado no risco que sua popularidade correu? Ou ainda corre?

O que houve em Curitiba reforça a suspeita de que governadores do PSDB parecem ter uma especial dificuldade para lidar com manifestações de rua.

Foi assim também em São Paulo quando da inauguração da jornada de junho de 2013.

Ricardo Noblat

Bendine precisa da ajuda da santa

O presidente da Petrobras usa na lapela um broche com a imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Que ela o proteja. O comissário acaba de anunciar que no seu plano de investimentos, "talvez você pegue uma SBM, que é uma importante fornecedora".

Importantíssima, porém proibida de fazer negócios com a empresa que Bendine preside. A SBM é uma das maiores companhias da Holanda. Em 2012 faturou algo como US$ 5,5 bilhões e 60% de seus negócios vieram da Petrobras, a quem aluga navios, sondas e plataformas. Dois anos depois, ela pagou uma multa de US$ 240 milhões por ter distribuído propinas pelo mundo afora. No seu acordo com o governo holandês, a empresa reconheceu que molhou mãos em Angola e na Guiné Equatorial. Em relação à Petrobras, apareceram apenas "bandeiras vermelhas". Tudo bem. Foram pagas comissões "legítimas" de US$ 139 milhões ao seu representante no Brasil, que a esta altura mora em Londres. O petrocomissário Pedro Barusco confessou que a SBM pagava-lhe propinas desde 1997. Graças a elas, fez um pé de meia de US$ 22 milhões.

Ao dizer que a SBM "é uma importante fornecedora", de duas uma: Bendine não lê jornais ou acredita que pode dizer o que bem entende. Como a primeira hipótese é implausível, resta a segunda. Maria das Graças Foster, sua antecessora, acreditou que era uma "Dama de Ferro" e talvez tenha até acreditado que na infância viveu no Morro do Alemão. Referindo-se à sua capacidade de combater roubalheiras na empresa, disse que "não ficará pedra sobre pedra". Parolagem.


Aldemir Bendine antecipou sua própria leniência para com a "importante fornecedora". Atropelou a CGU e o Tribunal de Contas da União, a quem cabe a última palavra, e deixou as duas instituições numa situação constrangedora.

Pode-se entender que bancos, empreiteiras ou fornecedores de equipamentos e propinas queiram proteger suas reputações e, sobretudo, seus investimentos em projetos micados. A pior maneira para se conseguir isso é o estilo trator, com a ajuda de hierarcas da Petrobras atropelando instâncias e empulhando a patuleia. Foi assim que se criou a encrenca desvendada pela Lava Jato. Desde 1997, a SBM, Pedro Barusco e outros petrocomissários faziam as coisas no peito. Deu no que deu.

Ganha sem apostar

Dilma aumenta megasena para ganhar 1 bilhao e aumentar arrecadacao andando B

O Brasil caminha a passos lentos, mas ninguém sabe para onde


O Brasil caminha, mas dou um doce para quem souber para qual direção. A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, não faz ideia (ou faz e não está aí para ninguém) do estrago que ela e o Partido dos Trabalhadores, com o especial apoio do ex-presidente Lula, fizeram ao país. Há 13 anos, assumiram o governo e se deslumbraram com o poder, mas, sobretudo, com a possibilidade de nele permanecerem por muitos e muitos anos. Para tanto, precisariam de quê? De dinheiro, pois a venda de camisetas e bótons ou a hospedagem em casa de militantes já não tinham sentido. O sonho de um partido puro e ético já ficara para trás, nas calendas gregas, como detalhe para ser lembrado somente na hora de pedir votos.

Ou será que o balanço da Petrobras não diz nada? As declarações da presidente (sobre ele e o nosso maior orgulho) chegaram a ser patéticas. A apuração dos crimes praticados contra a empresa não chegou ao fim, e o prejuízo oficialmente apontado ainda é pequeno. Outras descobertas virão e o farão crescer muito. Não será fácil resgatar, no Brasil e no mundo, o enorme prestígio que teve um dia.

Policiais, procuradores e o juiz Sérgio Moro têm sido – e esperamos que continuem trabalhando com a mesma dedicação – verdadeiros “guardiões da República”. Têm-se dedicado a um combate sem tréguas contra a corrupção, nossa velha conhecida, mas que de alguns anos para cá, sobretudo a partir da gestão do PT, piorou muitíssimo. Ou piorou em consequência da má qualidade moral ou ética dos nossos representantes (que são escolhidos por nós…), ou porque o valor do nosso Produto Interno Bruto é, hoje, um atrativo a mais, ou porque, enfim, vivemos no paraíso da impunidade, que permite que a análise do risco, pelos criminosos, se subordine ao conhecido conceito do custo/benefício. As penalidades, se ocorrerem, imaginam eles, serão sempre insignificantes diante do enorme ganho material a ser alcançado.

É verdade que somos responsáveis pela escolha dos nossos governantes, mas não há como não se referir a um triste e trágico passado para dizer que o golpe militar (e civil) de 1964 é talvez o maior responsável pela má qualidade dos que hoje estão na vida pública brasileira. O estúpido garrote à universidade brasileira foi uma das principais causas desse terrível e lamentável desastre. O regime imposto ao país, durante 21 anos, sacrificou lideranças nascentes e impediu o surgimento de outras, permitindo o acesso à vida pública de figuras deploráveis, que nos envergonham no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nos governos estaduais e nas prefeituras. Somam-se, ainda, a esses pândegos os milhares de ocupantes de cargos substantivos no país. Foram essas figuras que levaram o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso a advertir, em palestra recente para alunos da Universidade de Harvard, que “não podemos deixar que a política seja espaço de gente que não deu para nada”. Uma declaração dura, leitor, mas que revela, com precisão, a realidade do que tem acontecido há anos em nosso país.

Mas é preciso virar a página e reagir ao ambiente de revolta e pessimismo, em relação à política, que perigosamente, mas com sobejas e fundadas razões, vai tomando conta dos brasileiros. Nenhum país conseguirá vencer os momentos difíceis sem contar com a política e com lideranças que a encarem com seriedade e ética. E isso já ocorreu no passado e poderá voltar a acontecer brevemente.

Ou será impossível?

A doença do Brasil

O Brasil é doente, diagnosticou o insuspeito ex-presidentre do Uruguai José Mujica, numa entrevista à BBC que O GLOBO repercutiu na sua edição do dia 24 do corrente. Para Mujica, com 80 anos e muitos quilômetros rodados na vereda política e tendo como norte a irmandade esquerdista latino-americana, a patologia nacional brasileira tem como centro o “tráfico de influência” que seria uma “tradição” do nosso sistema político.

Concordo em gênero, número e grau com Mujica.

Ele não leu o que tenho reiterado em livros e neste espaço, mas é exatamente isso que afirmo quando entendo que toda a cosmologia do Brasil se fundamenta nas relações pessoais e como essas relações são administradas.

A lógica do dar e receber (ou do dar para receber) é o coração do “favor”. Se eu te faço um favor, se eu te devo favores, esses favores nem sempre se encaixam nas divisões ideológicas e jurídicas que regem o Brasil como país.

José Mujica discerne o problema quando acentua que conseguir a maioria parlamentar no Brasil em nível local ou nacional é muito dificil porque “o Brasil é um macramé”. Ora, o macramé, como esclarece o dicionário, é uma colcha de retalhos. Em sociologuês, di-ser-ia — como elaborei num livro publicado em 1979 (“Carnavais, malandro e heróis”) — que é uma conjunto de elos imbricados, constituídos a partir de simpatias e antipatias pessoais, num palco demarcado por papéis institucionais. Se o macramé fala de liames pessoais, o lado legal do sistema demanda que ele se dobre ou venha a romper-se pelos deveres impostos pelos papéis institucionais. Um presidente de estatal não pode nomear somente companheiros de partido. Ele é obrigado pelo papel que ocupa a escolher pelo mérito. Entre esses dois impulsos ou obrigações, situa-se o que chamei de “dilema brasileiro”. Um dilema vigente em todas as democracias inspiradas nos ideias universalistas de 1789.

Num nível tudo parece muito simples: gastamos muito, erramos muito mas, acima de tudo, continuamos a imaginar a centralização como a saída para todos os problemas nacionais, esquecendo a força dos velhos costumes, os quais têm o poder das velhas tecelagens, como revela Mujica.

Tanto no plano econômico quanto no político, as regras são claras e formais. Mas o mundo das “influências” advindas da casa, uma ética da reciprocidade interfere com a do Estado e distorce o chamado “espirito do capitalismo”. Nessa tecelagem, a empresa não visa ao lucro, mas ao emprego para os amigos e recursos para o partido.

O Brasil se diferencia da Europa Ocidental, dos Estados Unidos e da América Latina porque ele não teve republicanismo e, até 1888, foi uma monarquia fundada no trabalho escravo. Na transição entre esses regimes, os conflitos foram reprimidos precisamente pela ética dos elos pessoais entre monarquistas, escravistas, republicanos e protocapitalistas que jamais abandonaram seus hábitos aristocráticos. Todos nós temos todas as coragens, menos a de negar o pedido de um amigo, conforme dizia Oliveira Vianna num ensaio de 1923.

Neste mundo marcado pela transparência eletrônica, esse hóspede não convidado pelo nosso mulatismo cultural e avesso ao confronto, as contradições surgem claramente no laço entre riqueza e poder. Entre as demandas de quem gerencia a economia (cujas regras são digitais: “não posso gastar mais do que tenho!”); e as da política, as quais incluem não apenas os jeitinhos ou “pedaladas”, mas sobretudo as relações pessoais mescladas ou não de ideologia, as quais são infinitas.

Mujica aponta que confundimos governar com mandar. E adverte: não se pode misturar a vontade de ter dinheiro com política. Se fizermos isso, complementa, estamos fritos. “Quem gosta muito de dinheiro tem que ser tirado da política”. A corrupção brasileira tem um sinal:

ela se funda na apropriação de cargos por pessoas que, mesmo quando são eleitas debaixo de uma bandeira populista ou socialista, acabam bilionárias. É impossível resistir aos amigos, mas é muito mais difícil liquidar essas sobras aristocráticas que são, a meu ver, a marca mais forte e permanente do nosso republicanismo: cargos que impedem punição, crimes que prescrevem, responsabilidades que não são cobradas. Num certo sentido, não temos noção da tal “coisa pública” — esse conceito imprescindível para uma vida igualitária e democrática — republicana.

Vergonha cúmplice

Essa mania de ser burro


Humildade é sinônimo de Inteligência. O homem sábio sabe que não sabe. Ao passo que o burro é arrogante
Não há quem não goste de imaginar impérios em guerra ou estórias de fadas. A inteligência é a imaginação, única possibilidade humana realmente livre. Talvez a imaginação seja a própria inteligência, a vocação humana. Seu exercício é saudável, alegre, leva à felicidade, ao jogo e ao sexo. Os artistas sabem disso e afirmam em seu exagero congênito que os homens somente serão felizes quando forem todos artistas. Enquanto isso, as pessoas se preparam a vida inteira para fazer o que não gostam e ensinar os filhos a fazerem o mesmo, em troca do níquel de cada dia. Inteligente ou burro? Talvez a única atitude inteligente seja viver. Para ficar mais inteligente ainda. Na certeza de que assim cairão moedas de ouro dos céus.

Somente existe uma fome: aquela do sentido de viver. O resto é burrice. Se me permitem a palavra.

Há quem prefira terceirizar o ato de imaginar. Esqueçam aquele muro francês no qual Marcuse pichou “Seja razoável: peça o impossível”. Aqui, nessas paradas tropicais, é cada vez mais proibido pensar. Especialmente perto do poder. O político brasileiro que tem uma boa ideia original, gasta imediatamente 75% da verba criando uma comissão ou um novo órgão de sete andares com impossível folha de pagamento. Para que assim o crime da opinião pessoal passe a ser dividido por um coletivo. Claro que o Juca ministro tem que ter opiniões próprias sobre a Lei Rouanet, aquele dinheirão do povo. Afinal, ele é ministro para isso, para pensar. Para fazer planos, ter convicções suas. A inação é espinha dorsal de quase todo serviço público. Se me permitem a palavra. Geraldo Mateus nos tempos idos reuniu todos os empregados do Teatro Municipal para uma conversa sincera sobre os problemas da instituição, no dia em que tomou posse na diretoria. Um senhor encanecido no fundo da multidão todavia lhe fazia sinais constantes que prometiam dizer lá fora a verdade inconfessável. Geraldo sentou-se com ele no Amarelinho e ouviu a sentença da experiência: “Doutor, o Teatro Municipal não tem problema, doutor. Quando não tem espetáculo, não tem problema. Os problemas são os espetáculos”. Ah, essa mania de ser burro! A burocracia, não é à toa que a palavra soa parecido, é uma máquina engenhosa armada há séculos para não fazer nada. Ou o mínimo possível.

Os advogados, os médicos, os engenheiros, os profissionais liberais de modo geral trabalham seguindo procedimentos e normas. Quem chegou perto sabe, não são muito inteligentes, se me permitem a palavra. Em todo agrupamento, de escoteiros até qualquer senado, a maioria é burra. Exceção feita aos leitores deste artigo, todos inteligentes.

Quando eu era menino, achava que todas as pessoas eram inteligentes. Burrice minha. Mas nunca transformei isso em julgamento moral. Os inteligentes não merecem mais que os burros. A propósito, todo homem inteligente tem por obrigação primeira perceber o esplendor do outro. Todo homem é esplêndido, burro ou inteligente, todo ele reflete o Universo.

Observa-se que entre os homens cultos é muitas vezes encontrado um índice de burrice estonteante. Em contrapartida verifica-se que a Ignorância e a Simplicidade sempre constituíram campo fértil para o aparecimento das grandes almas. Alma é sinônimo de Inteligência.

Difícil conceituar a Inteligência, porém fácil reconhecer-lhe atributos. O primeiro deles é, sem dúvida, a humildade. Humildade é sinônimo de Inteligência. O homem sábio sabe que não sabe. Ao passo que o burro é arrogante. Essa é a parte mais triste de toda a história, verdade capaz de fazer rolar até lágrimas de burro: o burro não ama. Sente que lhe falta algo que o inteligente possui. Mozart disse que para ser um gênio não basta talento. É preciso também um grande Amor. O burro não ama! Amor é também sinônimo de Inteligência.

Os Inteligentes, além de terem entre si grande carinho e admiração, plagiam-se constantemente, sem o menor pudor. Não tentam ser originais. Sabem que são um só acidente da Natureza. Ou terá sido seu recurso de emergência? Do qual a Natureza lançou mão para cuidar da sobrevivência da espécie, antes que os burros a destruam?

Quase tudo que é importante na sociedade atual não é apenas importante, mas também burro. Trata-se do Império da Burrice, como outrora foi o Império Romano.

Antes de publicar esse pensamento pesquisei no Google. Guguei burramente e descobri que todo cronista, de Rui Barbosa a Nelson Rodrigues, passando por Sarney e Jabor, um dia escreveram crônicas sobre a Burrice. Arrependi-me do lugar-comum. Mas o assunto continua sendo oportuno. “Respeito a burrice, porque ela é eterna” (N.R.).

A propósito: a decisão editorial do GLOBO de retirar os “tijolinhos” do teatro, não digo que tenha sido burra, já que escrevo aqui, mas foi feia à beça. O teatro já tem tão menos do que merece!
Domingos de Oliveira

Tia Amélia Honesto da Silva


Querida tia
Continuo neste maravilhoso emprego na Terra da Fantasia. Trabalho no máximo quatro vezes por semana. O salário está sempre em dia, e, quando eu e meus colegas queremos aumento, a união é completa, mesmo entre rivais. Decidimos, sem a menor dificuldade, quanto será nossa remuneração.
Tenho várias secretárias, assessores e motorista. Não gasto um tostão com eles, que inclusive ajudam na caixinha do gabinete, doando parte do salário. Não pago nada de aluguel e ainda reformaram novamente todo o apartamento. Não gastei um tostão. Também não pago correio, internet e passagens aéreas. Meu plano de saúde é o melhor do Brasil, e o carro, claro, também é totalmente grátis, incluindo manutenção e combustível.
Tem umas tais de emendas, que negocio com uns empresários – gente fina –, bastando apresentar uns projetos de obras, e lá vem dinheiro vivo. O chato é que em algumas vezes tenho que abrir conta bancária em nome de outra pessoa, numas ilhas de que nunca havia ouvido falar. Dizem que lá tem menos fraude. Dá muito trabalho, por isso há uns profissionais, os operadores, que resolvem tudo e cobram apenas uma percentagem, serviço muito bem organizado que existe há décadas. Um orgulho para todos nós!
Tenho horror em lembrar do tempo em que tinha que bater ponto, pagar aluguel e conta de luz e as férias eram só de 30 dias. Aqui é muito diferente. Tem um recesso sem nada e um tal de recesso branco, o que dá um tempão de folga extra. Acho estranho esse recesso branco, parece discriminação racial. Nem questiono, pois vejo uns bobos que querem mudar tudo. Isso é falta de coleguismo – antiético. Afinal, a vaca deles é que vai pro brejo.
O melhor de tudo é que posso ficar por aqui pelo resto da vida. Eta emprego bom! O único perigo é cometer uma tal de falta de decoro, que sinceramente ainda não sei o que é. Aí o bicho pega!
Deus me livre de ter que trabalhar 35 anos para me aposentar, possivelmente velho e doente, e ainda não receber o salário integral. Aqui não tem essa não. O pessoal fez um regulamento bem legal, e ninguém pode mudar essas coisas. Somos nós que regulamentamos tudo no país.
Por tudo isso estou te escrevendo para pedir ajuda. Têm falado muito mal de mim e de meus colegas. No meu caso, acho que é discriminação pelo meu sobrenome. Tia, a diferença entre nós dois está apenas pelo lado materno: Honesto e Desonesto. Implicam sempre com o lado do paizão Silva.
Sei que a senhora continua pobre, na fila do SUS, mas confie em mim e continue firme, pois sabe que estou aqui, na Terra da Fantasia, lutando para ajudar meus amigos, em especial as famílias dos Honestos e Esquecidos que me deixaram conseguir este empregão.
Mande em mensagem para o meu patrão, Eleitorelson Brazuca, o que a senhora e nossos amigos, os Honestos e os Indiferentes, pensam de mim. Nas redes sociais, divulguem o que faço e quem eu sou!
Um beijo.
Deputilson Desonesto da Silva

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tudo o que o Brasil não precisa é de governantes com medo

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas
genildo

Equivoca-se quem aconselhou a presidenta Dilma a não falar em rede nacional no 1º. de Maio, Dia do Trabalhador, a exemplo do que ela vinha fazendo todos os anos. Trata-se de uma decisão que não combina com sua biografia de lutadora contra a ditadura e que, além disso, humilha os trabalhadores num momento que, mais do que em outras vezes, eles precisam, sim, ser protegidos contra o medo de perder suas conquistas.

Se há uma coisa da qual não necessita o Brasil de hoje, desencantado e preocupado com seu presente e seu futuro, é de ver seus governantes fugirem das vaias. Precisa vê-los firmes, seguros, capazes de enfrentar o protesto e de dar a cara a tapa.

Como mulher e como alguém que não recuou nas suas convicções juvenis na época em que militava nos grupos da guerrilha armada e enfrentou a prisão e a tortura, Dilma não deveria temer o ruído das vaias.

Se poucos meses depois de iniciado seu primeiro mandato, como primeira mulher à frente do país, ela teve a coragem de colocar oito ministros na rua, inclusive alguns herdados de seu tutor, o ex-presidente Lula, e foi aplaudida e elogiada como a uma presidenta com mais coragem que os homens na luta contra a corrupção, hoje não pode nem deve aparecer por medo de ser contestada.

No último Dia da Mulher, quando seu discurso ao país foi recebido com panelaços, aquela resposta foi mais a suas palavras do que à sua pessoa, que continua sendo tratada com respeito. Equivocou-se quem a aconselhou na ocasião a “pedir paciência” para uma sociedade irritada com o Governo por causa sua política econômica, considerada errada, e pela elevação do nível de corrupção política, da mesma forma como se equivocam agora aqueles que tentam escondê-la.

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas. Essa dívida é com os 54 milhões que lhe deram seu voto e sua confiança nas urnas depois de ela lhes pintar um país cor de rosa, sem crise econômica, e seus opositores como os verdugos que se propunham entregar a o país e suas conquistas sociais nas mãos dos ricos e dos banqueiros.

Enquanto a presidenta não reconhecer não que mentiu aos eleitores, como muitos pensam, mas que simplesmente errou e que hoje está se esforçando para reparar seus equívocos passados, esse medo de ser vaiada continuará sendo real.

No Brasil, governantes e políticos podem se atemorizar com a hipótese de reconhecer seus possíveis erros e tranquilizar os cidadãos de que estão dispostos a repará-los e a melhorar as coisas.

Não é assim, por exemplo, nos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo, onde parece natural que o presidente Obama vá à televisão pedir desculpas por algum de seus erros táticos, seja na economia, no aspecto social ou até na política externa. Essa admissão de culpa não só não o diminui como também o fortalece.

O que o Brasil menos necessita hoje é ver seus governantes fugindo amedrontados de serem contestados por uma sociedade cada vez mais exigente, que aceita menos do que antes ser enganada.

Não é só Dilma, aliás, que hoje é vaiada em público. Seu vice, Michel Temer, acaba de ser vaiado em São Paulo, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, é vaiado aonde quer que vá. E vaiado foi, dias atrás, Geraldo Alckmin, governador do mais populoso e mais rico Estado do país.

Cretinice à solta!




Dilma é a única liderança capaz de conduzir o governo neste momento, de tirar o governo dessa situação de inquietude para uma estabilidade
Edinho Silva, ministro da Comunicação

Do Dia do Trabalhador para o Dia do Empreiteiro

Triste mesmo foi a decisão da presidente Dilma de não se pronunciar por ocasião do Dia do Trabalhador, através de cadeia de rádio e televisão. Madame seguiu o conselho de pelo menos dez ministros, além do Lula. Todos entenderam que haveria reação por parte da população. No caso, mais um panelaço. Sendo assim, melhor esconder-se.

A gente pergunta o que acontecerá se a moda pegar. A presidente vai sumir a partir de agora, por medo de um bater de panelas? Governantes fujões sempre podem ser identificados, através da História, geralmente para evitar golpes e revoluções, até para salvar a própria vida. Mas para evitar uma democrática e ruidosa manifestação não há registro, pelo menos no Brasil. Vaias costumam ser rotineiras, entre nós. Haverá que conviver com expressões de descontentamento, para quem optou pela vida pública.

Tempo ainda há, no caso dois dias, para Dilma rever o vexame, apesar de já ter sido anunciado pelo ministério da Comunicação Social.

Outra indagação refere-se ao trabalhador, que, se começa a utilizar telefones celulares, só rarissimamente pode dar-se ao luxo de assinar a Internet. Assim, a mensagem que a presidente pretende divulgar pelas redes sociais não atingirá o alvo. Humilhados e ofendidos estão os milhões que vivem do salário mínimo. Também os assalariados que recebem pouco mais.

Quando se recorda estar no governo o Partido dos Trabalhadores, a conclusão é de não ser partido, muito menos dos trabalhadores.

Uma dúvida que fica refere-se aos conselheiros da omissão. Que ministros tenham sugerido à presidente ficar calada, senão justifica, explica-se: quiseram poupar-se dos respingos do panelaço. Agora, ter o Lula também se pronunciado pelo silêncio da sucessora, não dá para entender. Se não é, já foi trabalhador. Como torneiro-mecânico, quantas vezes celebrou o dia de seus companheiros? Como presidente da República, por oito anos, jamais deixou de dirigir-se à categoria. Estaria pensando em recomendar a Dilma discursar no Dia do Empreiteiro?


Questão de honra, não de humor

Uma sociedade moralmente sedentária

Li "O homem medíocre" pela primeira vez em 1999. Na época, o cetro do poder político brasileiro estava em outras mãos e a oposição de então apresentava-se como modelo das mais seráficas virtudes. Um capítulo do livro, em especial, chamou-me a atenção por parecer escrito para aquela realidade.

O autor, José Ingenieros, tratava, ali, da diferença entre a mera honestidade e a virtude, bem como da falsa honestidade daqueles que a exibem como troféu. “Em todos os tempos, a ditadura dos medíocres é inimiga do homem virtuoso. Prefere o honesto e o exibe como exemplo. Mas há nisso um erro ou mentira que cabe apontar. Honestidade não é virtude, ainda que não seja vício. A virtude se eleva sobre a moral corrente, implica uma certa aristocracia do coração, própria do talento moral. O virtuoso se empenha em busca da perfeição."

Com efeito, não fazer o mal é bem menos do que fazer todo o bem que se possa. Ser e proclamar-se honesto para consumo externo é moldar-se às expectativas da massa e isso fica muito aquém da verdadeira virtude. "Não há diferença entre o covarde que modera suas ações por medo do castigo e o cobiçoso que age em busca da recompensa", afirma o filósofo portenho enquanto sentencia sobre o homem medíocre: "Ele teme a opinião pública porque ela é a medida de todas as coisas, senhora de seus atos". Temia, filósofo Ingenieros, temia. O medíocre não mais teme a opinião pública porque a nação tolerou prostituir-se em troca de umas poucas moedas.

Não demorou muito, daquela minha leitura, para que as palavras de Ingenieros desnudassem a intimidade do novo círculo de poder que se instalara no país! Presentemente, após 12 anos disso, sempre em dose crescente, estou convencido, como nunca, de que jamais enfrentaremos de modo correto a degradação das práticas políticas brasileiras se não compreendermos o que é a virtude e como ela se expressa no plano pessoal e no plano institucional.

Há alguns anos, quando se discutia com disposição semelhante à de agora a conveniência e o conteúdo de uma reforma política, instalou-se na opinião pública ampla convergência quanto à indispensabilidade de ser criado preceito que impusesse a fidelidade partidária. "É preciso estabelecer a fidelidade partidária!", clamavam as vozes nas calçadas, em torno das mesas de bar, nas academias e nos salões do poder. Cansei de alertar, em sucessivos artigos, contra a falsa esperança que a nação depositava nesse instrumento de coerção. Tudo que se lia sobre o assunto passava a impressão de que a infidelidade partidária sintetizava nossos males políticos e era o coração ético de uma boa reforma. Por quê? Nunca entendi. Há coisas que se repetem sem explicação plausível.

Decorridos, já, sete anos de vigência do instituto da fidelidade partidária está demonstrado que ela em nada melhorou o padrão das relações institucionais entre o governo e o parlamento, nem a conduta dos agentes políticos nacionais.

É preciso distinguir, portanto, a virtude que se alcança por adesão voluntária a um determinado bem, da virtude intrínseca a modelos institucionais que inibem a conduta não virtuosa. A fidelidade será, sempre, um produto da vontade humana. O pérfido só renunciará a perfídia quando ela se mostrar inconveniente. O venal pode trocar de camiseta, mas só não terá preço se não houver negócio a ser feito. É por esse motivo que quando o STF proclamou a constitucionalidade da Lei da Ficha Lima, eu escrevi que estávamos trocando de fichas, ou de fraldas como diriam alguns, mas não estávamos acabando com a sujeira que, logo iria encardir outras tantas.

Por quê? Porque essa lei parece desconhecer que a corrupção tem causas em duas fragilidades, a da moralidade individual e a institucional. No plano das individualidades, só teremos pessoas virtuosas em maior número quando forem enfrentadas certas questões mais amplas, na ordem social.

Ou seja, quando:
· a virtude for socialmente reconhecida como um bem a ser buscado;
· escolas e universidades retomarem o espírito que lhes deu origem e levarem a sério sua missão de formação e informação e não cooptação;
· famílias e meios de comunicação compreenderem a relação existente entre o desvario das condutas instalado na vida pública e o estrago que vêm produzindo na formação da consciência moral e na vida privada dos indivíduos;
· o Estado deixar de ser fonte de privilégios;
· for vedada a filiação partidária dos servidores públicos;
· forem extintos os CCs na administração direta, indireta e Estatais;
· a sociedade observar com a atenção devida o método formativo e educacional das corporações militares;
· voltar a ser cultivado o amor à Pátria;
· a noção ideológica de "la pátria grande" for banida por inspirar alta traição;
· as Igrejas voltarem a reconhecer que sua missão salvadora nada tem a ver com sociedade do bem estar social, mas com sociedade comprometida com os valores que levam ao supremo Bem.

Não há virtude onde não há uma robusta adesão da vontade ao Bem. E isso não acontece por acaso. É uma busca que exige grande empenho.
Contudo, a democracia (governo de todos), não é necessariamente aristocracia (governo dos melhores). E será sempre tão sensível à demagogia quanto a aristocracia é sensível à oligarquia. Portanto, numa ordem democrática, como tanto a desejamos, é necessário estabelecer instituições que, na melhor hipótese, induzam os agentes políticos a comportamentos virtuosos ou, com expectativas mais modestas, inibam as condutas viciosas.

Ora, o modelo político brasileiro parece ter sido costurado para compor guarda-roupa de cabaré. Não há como frear a corrupção que se nutre num modelo institucional que a favorece tão eficientemente, seja na ponta das oportunidades, seja na ponta da impunidade, vale dizer, pela via das causas e pela via das consequências. Não estou falando de leis que a combatam, mas de um modelo político que a desestimule.

Como? Adotando procedimentos e preceitos comuns nas Forças Armadas. Libertando a administração pública dos arreios partidários, por exemplo. Ao entregar para o aparelhamento partidário a imensa máquina da administração (que a mais elementar prudência aconselharia afastar das ambições eleitorais), o Brasil amarra cachorro com linguiça e dá operosidades e dimensões de serraria industrial ao velho e solitário "toco".

"É politicamente inviável fazer isso no Brasil", estará pensando o leitor destas linhas em coro com a grande maioria dos que, entre nós, exercitam poder político. Eu sei, eu sei. Não sou ingênuo. Está tudo errado, mas não se mexe. As coisas são assim, por aqui.

Do mesmo modo como a fusão do Governo (necessariamente partidário e transitório) com a Administração (necessariamente técnica e neutra porque permanente no tempo) cria problemas e distorções de conduta, a fusão do Governo com o Estado (que, por ser de todos, não pode ter partido) faz coisa ainda pior no plano da política interna e externa. Desde a proclamação da República, todo governante trata de aparelhar o Estado e exercer influência sobre suas estruturas.

Por fim, quero lembrar que o relativismo moral veio para acabar com a moral. O novo totalitarismo elegeu como adversário os valores do Ocidente. Multidões, sem o perceber, tornaram-se moralmente sedentárias. Abandonaram os exercícios que moldam a consciência e fortalecem a vontade. Ao fim e ao cabo, em vez de uma sociedade onde os indivíduos orientam suas vidas segundo os conceitos que têm, constituímos uma sociedade onde os indivíduos conformam seus princípios e seus valores à vida que levam.

Gestão temerária


Avesso à fiscalização e alérgico à crítica, Gabrielli estabeleceu na Petrobras um novo paradigma administrativo: perdas diárias de R$ 17,4 milhões, em seis anos e sete meses

É recorde: R$ 17,4 milhões em perdas por dia, ou R$ 726,4 mil por hora, durante seis anos e sete meses seguidos.

Essa é a herança administrativa deixada por José Sérgio Gabrielli depois de 2.370 dias no comando da Petrobras.

Na semana passada, a companhia informou que seu patrimônio encolheu em R$ 47,4 bilhões, por desvalorização de ativos e cancelamento de projetos considerados inviáveis há pelo menos meia dúzia de anos.

Desse total, R$ 41,2 bilhões têm origem em iniciativas danosas ao patrimônio da estatal anunciadas na gestão de Gabrielli (a conta não inclui o custo do repasse da corrupção).

De cada real registrado como perda no balanço da empresa, 87 centavos correspondem a prejuízos produzidos sob a presidência de Gabrielli.

Puro desastre gerencial. O buraco cavado nas finanças da Petrobras é maior que a soma das vendas realizadas pelas redes de supermercados Carrefour e Walmart em 2013. Equivale à receita anual conjunta de três montadoras de veículos, a General Motors, a Mercedes Benz e a Honda. E supera em 15% o exuberante lucro somado do Bradesco e do Itaú no ano passado.

Ao aterrissar na diretoria financeira da Petrobras, na quinta-feira 22 de janeiro de 2003, Gabrielli tinha 53 anos e portava duas credenciais: professor de Economia e militante do Partido dos Trabalhadores na Bahia. Sua escolha ocorrera durante a montagem do governo Lula, quando atuou no mapeamento de cargos disponíveis em empresas e bancos públicos.

A companhia havia sido entregue ao ex-senador José Eduardo Dutra, geólogo, antigo dirigente da CUT que acabara de ser derrotado na disputa pelo governo de Sergipe. Dutra marcara data para sair, porque sonhava com o Senado na eleição seguinte (ele perdeu em 2006, de novo). No páreo da sucessão despontou Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, logo defenestrado pela ministra e presidente do conselho Dilma Rousseff. Em julho de 2005, Lula nomeou Gabrielli.

A Petrobras começara a concentrar gastos em plataformas, navios e sondas de perfuração, em contratos controlados por diretores indicados pelo PT e pelo PMDB. O novo presidente multiplicou dívidas com projetos em série, como as refinarias de Pernambuco, Ceará, Maranhão e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

Com um estilo personalista (referia-se à empresa usando o pronome “eu”), Gabrielli alinhou a publicidade da estatal à propaganda do partido, exibindo-se na televisão com a estrela-símbolo do partido na lapela do paletó.

Alérgico à crítica, reagia com agressividade aos jornalistas que iam à Petrobras em busca de explicações sobre a partilha da estatal entre aliados do governo: “Você não é bem-vindo aqui.” Avesso à fiscalização, fez do sigilo uma rotina. Gracejou do Tribunal de Contas que lhe pediu as memórias dos custos de duas plataformas, enviando ao TCU uma montanha de papel — planilhas Excel impressas.

Metade da sua diretoria está no alvo de investigações por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça. Na semana passada, virou recordista em prejuízos na administração pública: sob o seu comando, as perdas patrimoniais cresceram à média de R$ 12,1 mil por minuto durante seis anos e sete meses. Estabeleceu um novo paradigma em gestão temerária.

José Casado

Maricá resolve (?) questão indígena

Dançando com as ratazanas políticas
Desde o início do primeiro mandato, em 2009, o governo petista de Maricá tentava resolver um problema crucial para o município em direitos humanos e turismo: não havia índios em Maricá. Impensável que em local de tanta importância histórica nacional não houvesse unzinho a quem o governo pudesse servir em defesa de seus direitos e ainda lucrar em propaganda como atração turística.

O insigne sociólogo Quaquá, em estando prefeito, como era de se esperar, encontrou a "solucionática" para o problema com a expulsão de um grupo indígena de Camboinhas, nas proximidades. Importaram-se os indígenas com toda a pompa devida no cumprimento petista de mais um caso de direitos humanos. Com os índios, também se criava um polo turístico! Como se tratar gente como atração, em local improvisado, para inglês ver, não fosse um descaso com os próprios direitos humanos.

Há seis anos, depois de peregrinar por um cantinho aqui e outro acolá, o grupo foi instalado numa área do Parque Estadual da Serra da Tiririca, onde no fim de semana houve uma festança com dinheiro público para saudar o prefeito e a mulher, agora deputada estadual. Foi uma avant-premiére para a grande festa que Quaquá pretende promover no próximo ano com representantes de todas as tribos brasileiras, quiçá internacionais, em um novo espaço. Afinal, nas palavras oficiais "a presença indígena enriquece o município (sic)".

Mas seria muito pouco enriquecimento para a tão brilhante inteligência do presidente do PT fluminense. Apesar de já contar a aldeia com ocas, Casa de Reza e um módulo educacional com isolamento térmico-acústico e ar-condicionado - instalação única no ensino municipal -, Quaquá ainda amplia o desenvolvimento indígena na região. Disposto a dar exemplo ao país, onde ainda muito se briga por questões de terras indígenas, o insigne sociólogo mais uma vez sai na frente na solução dos problemas nacionais. Maricá vai comprar uma grande área para abrigar a aldeia e continuar a incentivar o turismo indígena. É a primazia de um projeto único no país em que índio virou sinônimo de atração e suporte eleitoreiro. Não mais ganha bugigangas e espelhinhos, mas terras compradas (que beneficiados seriam?) com o dinheiro público.


* Sobre a aldeia, e as condições dos indígenas, recomenda-se a reportagem de O Dia, publicada em janeiro, mas que infelizmente teve o vídeo retirado

Discutir impeachment não é golpe nem desrespeito às instituições

O impeachment é um instrumento de defesa do regime democrático. Faz parte da nossa Constituição. Sua discussão, ou até mesmo sua propositura, desde que bem fundamentada, não é nenhum golpe ou desrespeito às instituições democráticas. Ao contrário: pode até ser um dever cívico contra um governante que prevarica no seu dever.

No regime presidencialista (embora hoje, na prática, estejamos vivendo em um regime parlamentarista...), o impeachment é um ato pelo qual se destitui, por deliberação do Legislativo, o ocupante de cargo governamental que pratica crime de responsabilidade. O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi objeto dele. Aliás, foi o primeiro da nossa história. O que enfim fortaleceu a tese defendida pela oposição – na qual, sobretudo, se destacava, na época, a bandeira do bravo PT – foi uma Elba – um veículo popular que se tornou o elo entre ele e seu tesoureiro. O remédio nem precisava ser ministrado pelo Congresso, pois, antes dele, houve a renúncia. E Collor, depois (durma-se com um barulho desses!), foi inocentado, no Supremo Tribunal Federal (STF), do crime pelo qual foi acusado. Só que, nessa altura, “Inês já era morta”...


Os petistas, numa época em que eram opositores ferrenhos, fartaram-se de falar nele. As estatísticas estão aí para quem quiser conferir: contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, propuseram o impeachment 14 vezes. Em compensação, contra o ex-presidente Lula, seus adversários propuseram 34; e, contra a presidente Dilma, 17. Os pedidos foram todos recusados. Em alguns deles, pela ausência de legalidade e/ou legitimidade, os motivos apresentados chegaram a ser ridículos.

A corrupção não começou com os governos do PT. Ela é “velha como a sé de Braga”, tanto no setor público quanto no privado. Mas hoje, com certeza, é muito mais grave, além de envolver muito mais dinheiro. Esse montante, absurdo, é que a torna mais intolerável ainda. O que falta, então, à propositura do duro remédio é uma prova contra a presidente. Um elo que a ligue aos malfeitores. É a prova – só ela – que definirá se haverá ou não impedimento da presidente. Logo, é bom lembrar que “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

Por outro lado, defender ou falar em intervenção militar em nosso país (como lamentavelmente tem ocorrido), se não é equívoco, é má intenção. Essa defesa advém, sem nenhuma dúvida, de pequena parcela da sociedade. E isso, infelizmente, só faz crescer a preocupação dos que defendem a liberdade neste país. Pedir intervenção dos militares é desprezar o presente e dar adeus ao futuro, além de homenagear um trágico passado que, pela vontade esmagadora da maioria do povo brasileiro, exposta recentemente nas ruas de todo o país, não voltará. E não voltará, além de tudo, porque hoje os militares brasileiros estão mais do que conscientes de que essa não é mais (se é que algum dia foi) a sua função. Como disse Cora Rónai, em sua crônica em “O Globo” sobre as manifestações do dia 12 de abril, “os idiotas e desmemoriados que pedem intervenção militar estão apenas contaminando as passeatas”.

Enfim, o que tiver de ser, será. Ninguém segura mais o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Está com razão, portanto, o ex-presidente Fernando Henrique quando afirma que não faz sentido um partido pedir impeachment antes de um fato concreto: “Impeachment não pode ser tese. Ou houve razão objetiva, ou não”. 

Nem só lá!

Em Espanha, o mérito não se premia. Se premia o roubo e a falta de vergonha. Na Espanha, se premia todo o mal 
Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936)

Roubar, só na medida certa

Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre a honestidade do governo do PT, alguém que sabe o que está falando esclareceu o assunto: "A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram". É o que garante um dos principais aliados do PT, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que foi ministro do Trabalho de Lula e por indicação deste permaneceu à frente da pasta no início do primeiro mandato de Dilma, até ser forçado a demitir-se pela "faxina" que atingiu vários outros ministros sob suspeita da prática de "irregularidades". As declarações de Lupi foram gravadas durante encontro com correligionários na última quinta-feira, em São Paulo, e confirmadas ao Estado pelo próprio. Não obstante, o presidente do PT, Rui Falcão, declarou na segunda-feira que Lupi desmentiu essas declarações, alegando que "foram pinçadas" fora do contexto. E o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), reagiu acusando Lupi de ser "boquirroto".

A declaração de Lupi, na verdade, não revela segredo nenhum, mas é alarmante pela falta de pudor que demonstra. Das palavras do ex-ministro do Trabalho a seus liderados, pode-se inferir que roubar até que pode, desde que não se roube "demais", com exagero. É mais um exemplo cínico da relativização dos valores éticos que passou a predominar ostensivamente na cena política a partir da chegada do lulopetismo ao poder.

Como não podem contestar o fato de que estão envolvidos até o pescoço no assalto aos cofres públicos, os petistas argumentam em defesa própria que seus antecessores, em governos federais e estaduais, também são alvos de acusações de corrupção. Invertem o senso comum, querem fazer crer que um erro justifica outro. Invertem também a proposta original de serem "um partido diferente", para se eximir de culpas sob o argumento de que o PT "faz apenas o que os outros também fazem". A mais recente manifestação nesse sentido coube ao ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, em entrevista ao Estado publicada no domingo.

Respondendo a perguntas sobre o escândalo do petrolão, Berzoini, que priva da intimidade tanto de Lula como de Dilma, insinuou que o PT é perseguido pela mídia, pela PF e pelo Ministério Público: "As notícias existem, não há invenções. Mas há, evidentemente, uma seletividade da divulgação ou uma seletividade na investigação". E acrescentou: "O curioso é que ninguém se pergunta: será que isso acontece só na Petrobrás? Será que grandes estatais estaduais de governos de outros partidos não estiveram envolvidas também nisso? Será que não cabe um paralelo entre o que aconteceu no Metrô de São Paulo, o que aconteceu no governo de Minas em anos anteriores?". Cabe, então, perguntar ainda: caso as investigações em curso venham a comprovar corrupção no Metrô de São Paulo ou no governo de Minas, isso eximirá ou diminuirá a responsabilidade do governo do PT pelo assalto de mais de R$ 6 bilhões aos cofres da Petrobrás? Definitivamente, um erro não justifica outro.

Enquanto isso, Lula continua agindo como se não tivesse nada a ver com a corrupção no governo, cuja existência chega a negar em ocasiões e ambientes propícios. Muito bem protegido em espaços blindados contra vaias e preocupado em vender saúde com exibições de halterofilismo, Lula prefere cuidar de sua escancarada ambição de voltar à Presidência da República em 2018, exercitando sua conhecida habilidade de dizer o que as pessoas querem ouvir. Falando a correligionários reunidos no 3.º Congresso de Direções Zonais do PT-SP, na sexta-feira em São Paulo, Lula reiterou o mantra de que o governo precisa se dedicar a uma "agenda positiva": "Nós temos de dizer em alto e bom som para a companheira Dilma ouvir (...) que nós precisamos começar a dizer o que nós vamos fazer neste segundo mandato". Faz sentido, já que aquilo que prometeu na campanha Dilma renegou até mesmo antes da posse.

Abusando da imodéstia, Lula proclamou em tom triunfante: "Se Dilma fracassar é o PT quem fracassa (...) e eu não vim ao mundo para fracassar". Como diria Carlos Lupi: menos, Lula! 

terça-feira, 28 de abril de 2015

Impossível não ser o amanhecer doutra era

É impossível que o tempo atual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprometera no início dela. Além disso heroica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê, esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colôia de bichos que sentem a umidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave. 
Miguel Torga (1907 - 1995), in "Diário (1942)" 

O exterminador do futuro

A democracia sitiada

Petistas merecem ser presos pelo simples fato de serem petistas.” Vou repetir: “petistas merecem ser presos pelo simples fato de serem petistas.” Não é fácil escrever isso, não é fácil acreditar nisso e é, mais difícil ainda, acreditar que uma frase assim possa ser verdadeira. Escrever algo assim significa, afinal de contas, o abandono da presunção da inocência, a negação do direito ao devido processo...enfim: a instituição do próprio Estado Policial e da Ditadura.

Quando pensei nessa frase, não pude deixar de me lembrar de uma das cenas finais de um filme de 1998 que sempre me impressionou muito e que se chama “Nova York Sitiada”. O título correto em inglês é simplesmente “The Siege”. Em Portugal recebeu uma tradução melhor: “Estado de Sítio”. Depois que o exército assume o controle total da cidade com o objetivo de encontrar terroristas, trava-se uma violenta discussão entre o general William Deveraux (Bruce Willis) e o agente do FBI Anthony Hubbard (Denzel Washington) em função das arbitrariedades e das barbaridades cometidas pelo Exército. Argumenta o general que tudo aquilo era necessário para que o “terror não tivesse vencido” e o sujeito do FBI responde: “pois é general, será que eles JÁ não venceram? Será que não era isso (colocar pessoas presas em estádios de futebol) que eles queriam???

Deixo agora o filme de lado para recordar um outro fato marcante do passado recente. Um famoso filósofo brasileiro, numa crítica ao Programa Mais Médicos, afirmou que esses eram os “novos judeus do PT” e alguém escreveu na internet que isso tratava-se de uma “jogada ensaiada”..de uma bola “levantada na área” para que judeus se mostrassem indignados com a comparação e o PT saísse, dessa acusação, mais forte. Observem o seguinte: tanto no caso do filme quanto no caso filósofo a crítica é: não podemos nos “adiantar”….nós não podemos “pressupor”...não podemos, combatendo o terror, fazer aquilo que ele, terror, quer prendendo todas as pessoas nos estádios e não podemos, de maneira alguma, acreditar que o PT traz uma ideologia que seja comparável, do ponto de vista moral, ao nazismo.

Colocado de uma maneira mais resumida e, talvez, mais acadêmica: não estamos autorizados a tirar lições da História, a nos basearmos em eventos anteriores, para tomarmos atitudes que afrontam as liberdades fundamentais, as garantias individuais e a própria base do Estado de Direito. Não podemos, diria eu, tampouco fazer comparações entre um regime que, de fato, construiu um genocídio na Europa, e um partido político latino-americano eleito democraticamente, não é?? Nós não podemos, maquiavelicamente, afirmar que “os fins justificam os meios.” É isso? Muito bem, então vamos adiante:

Tenho testemunhado discussões violentas nas redes sociais cujo tema é sempre o mesmo: “Nós não podemos, no desespero de derrubar o PT do Poder, agir como eles mesmos – os petistas – já que, se assim o fizermos, estamos jogando a água da banheira fora mas com o bebê (Democracia) dentro”. Gosto muito dessa comparação mas agora vou, eu mesmo, fazer o papel do agente do FBI na discussão com o General Deveraux e perguntar a todos vocês: E se o PT já venceu?? E se a Democracia já se foi??? Alguém há que esteja disposto a discutir isso comigo? Só leio pessoas que escrevem: “a liberdade de imprensa ainda está garantida, os poderes ainda são independentes”…

As pessoas me dizem: “com todas as imperfeições, ainda é uma democracia”. Será mesmo? Enquanto as pessoas não forem colocadas em gulags tropicais, enquanto a Rede Globo não for estatizada, enquanto não houver cadernetas de racionamento e a religião não for proibida é uma democracia?? É esse o conceito de democracia?? Qual (pergunto eu em desespero para não me tornar uma pessoa que defende a prisão de petistas sem motivo) deve ser o fato histórico que venha a nos provar a natureza do PT ? O que pode, ainda, o PT fazer para nos provar que não estamos mais numa democracia?

Por que podemos colocar pessoas que raspam a cabeça e andam com a camisetas estampadas com suásticas na cadeia? Porque apologia ao nazismo é crime, respondo eu mesmo. E apologia ao comunismo? Aí não é?? Nós precisaremos viver um holocausto no Brasil para que só depois, legalmente, sejamos autorizados a colocar petistas e comunistas na cadeia? É isso ? O partido escreve que ele, partido, está em “tempos de guerra” e isso não é suficiente?

Este texto foi escrito para mostrar que não existe, entre aqueles que querem derrubar o PT, consenso sobre aquilo que esse partido representa, ele mesmo, em termos de ruptura com a ordem institucional e com as liberdades individuais que tantos temem perder numa intervenção militar. Não é, em hipótese alguma, uma defesa da intervenção. Se fosse, eu o deixaria claro desde o início. Trata-se apenas de um convite à reflexão no sentido de saber se, afinal de contas, vivemos ou não, ainda, numa “democracia”.

O que é “democracia”? Quais são seus fundamentos? Quando ela está ameaçada? Quando ela deixa de existir e – talvez mais importante do que qualquer pergunta – o que estamos (em função da experiência histórica) autorizados a fazer do ponto de vista moral para preservá-la? Todas estas perguntas eu garanto a vocês que o PT já respondeu; quem quer derrubar o PT, não - prova mais do que suficiente para concluirmos: se é verdade que vivemos numa democracia, ela é uma Democracia Sitiada.

Reforma política da CNBB? Não assine


Sou leigo católico. Não faz parte de meus deveres de batizado seguir a orientação da CNBB para uma reforma política no Brasil. Reforma política é tema político e quem entra na pauta vai, necessariamente, para o contraditório. Ao se comprometer tanto com o assunto, a CNBB se envolve em algo que não lhe diz respeito e onde, mesmo entre juristas e cientistas políticos, as opiniões divergem. Como leigo, sou membro do Corpo Místico de Cristo (que é a própria Igreja, cuja unidade defendo e integro), mas quando a Conferência envereda no campo político, é ela que desliza para o espaço das opiniões e para os conflitos inerentes a essa atividade, desligando-se do que deve ser unitário. Nem fica bem invocar a unidade para eximir-se do contraditório, ou para fazer um tipo de crítica que tenta desqualificar a crítica.

Um grupo de 112 entidades uniu-se em torno de um projeto de reforma política para o país. Seguindo a velha cartilha da mobilização, iniciaram coleta de assinaturas, em busca do mínimo constitucionalmente exigido para os projetos de iniciativa popular - 1,5 milhão de adesões. O projeto foi amplamente divulgado em outubro de 2014 pelo movimento Eleições Limpas (www.eleicoeslimpas.com.br) e hoje é acionado por uma certa Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas (procure no Google por esse nome e clique em "Quem somos").

Examine a lista e depois me responda: qual o partido ou tendência ideológica que lhe vem à mente quando lê MST, CUT, Via Campesina, CONTAG, UNE, FENAJ? Em meio a uma batelada de ONGs que vivem às nossas custas, com acesso franqueado a verbas públicas, também integram a tal Coalizão: o MMC (Movimento das Mulheres Camponesas, aquelas que destruíram os laboratórios da Aracruz em 2006 e atacaram recentemente, em Itapetininga, um laboratório da Suzano Papel e Celulose), a UBM (entidade de mulheres pró-aborto), a RFS (Rede Feminista de Saúde, pró-aborto), a REBRIP (rede de ONGs e movimentos sociais com propostas "alternativas"), a Liga Brasileira de Lésbicas, o Movimento Evangélico Progressista, a Articulação Mulheres Brasileiras (pró-aborto e contra os direitos dos nascituros). Que interesses em comum podem ter com a CNBB?

Qualquer pessoa minimamente informada percebe que "tem PT nesse negócio". E tem. A proposta é um espelho das questões centrais do projeto petista de reforma política: voto em lista (acrescentando um segundo turno com voto nominal); financiamento exclusivamente público, ou seja, custeado pelos pagadores de impostos; um reforço aos instrumentos de democracia direta (bebendo água no Decreto Nº 8243, aquele dos sovietes). Agora, uma diferença. Enquanto a proposta petista falava em igual número de candidaturas masculinas e femininas aos cargos legislativos, a proposta da CNBB é mais moderninha e fala em igualdade de "gênero". Pode? Pode. É a CNBB. Enfim, a concepção do projeto é tão petista que o site do PT, em 26 de fevereiro, comemorou o manifesto da CNBB, conforme pode ser lido em (http://www.pt.org.br/cnbb-e-oab-lancam-manifesto-em-apoio-a-reforma-politica/).

Os católicos já foram solicitados pela CNBB, em 2002, a assinar por um calote da dívida externa (chamado de "auditoria") que absolutamente não era necessário; convidados a assinar por um plebiscito e uma nova constituinte que a ninguém interessou; convencidos de que a salvação moral da política viria da lei da ficha limpa (uma lei boa, aliás) que precedeu a maior ladroagem da história. Agora estão escaldados, e as assinaturas pela Reforma Política patinam, distantes do 1,5 milhão de adesões. Por isso, surgiu um formulário suprimindo do cabeçalho os nomes das entidades que revelam a vinculação da iniciativa aos já desacreditados interesses petistas. Desculpem-me, mas isso não se faz. Parece coisa de, digamos assim, petistas.

Percival Puggina

Na política do Brasil, o importante não é 'ser', mas apenas 'aparecer'


No Distrito Federal, o governo petista de Cristovam Buarque foi considerado o pior durante muitos anos, até a chegada do outro petista Agnelo Queiroz ao Palácio Buriti. Na época de Cristovam, a justificativa era que o PSDB estava no poder e não colaborava. O então governador era ótimo nas teorias inaplicáveis; péssimo na prática.

Com Cristovam, o DF ficou “em ponto morto” por quatro anos, com a economia se movimentando apenas pelo impulso de governos anteriores. Vivia com aquela história que “é melhor construir escola do que construir cadeia”. Depois de quatro anos, não construiu nem escola, nem cadeia. Não sei por que os governos do PT têm tanta afinidade com bandidos e tanta ojeriza à segurança pública!

Depois do desgoverno dele, ficou fácil para a população sentir saudades do Joaquim Roriz, velha raposa, e colocá-lo no poder novamente.

Posteriormente, a população do DF, por falta absoluta de candidatos, quis dar uma nova chance ao PT de gerir alguma coisa. Na disputa final, entre Agnelo Queiroz e uma idosa que nunca tinha se candidatado a nada, o petista elegeu-se. Afinal, desta vez o governo do Distrito Federal era do mesmo partido que o governo federal, haveria facilidades. O governador teria que ser muito incompetente para fazer uma má administração. Não tinha como fracassar.

Mas não é que deu errado, e Agnelo Queiroz se tornou o pior governo da história do Distrito Federal? Foram mais quatro anos perdidos. Ficou a impressão que o PT é formado, totalmente, por pessoas fracassadas e que tiveram como única opção se tornar ativistas/sindicalistas e depois políticos, para conseguirem alguma coisa na vida.

Na política brasileira, o importante não é ser. O importante é apenas parecer. Existe um Brasil imaginário coexistindo ao lado do Brasil real. Dá a impressão que esse Brasil imaginário é governado por drogados, que se impõe ao Brasil real como se governassem e tivessem mais lucidez do que as pessoas sóbrias.

Por favor, digam o nome de algum país que multa quem joga ponta de cigarros no chão e que ofereça educação, saúde, segurança e transporte no nível do Brasil. Eu não conheço nenhum.

O Brasil que multa quem joga ponta de cigarro no chão é o mesmo que joga milhares de toneladas de esgoto, lixo e resíduos industriais nos rios – inclusive no Rio de Janeiro, onde não se sabe em que ponto começam as lagoas e finda o esgoto.

Outro exemplo: os moradores de Brasilia se gabam de serem os primeiros do Brasil a implantar a faixa de pedestres, apontando que são mais civilizados do que os moradores outros estados, que ainda não faziam uso desse artifício, etc. e tal.

Mas era só preocupação para os “intelectuais” do Plano Piloto, habitantes do Brasil imaginário, pois na maioria das cidades-satélites (Brasil real), onde também foram implantadas as faixas de pedestres, a preocupação das pessoas não era atravessar as ruas, mas chegar em casa vivo, uma vez que moram em um dos lugares mais perigosos do país.

Para os intelectuais de barriga cheia e apreciadores de uma picanha da chapa, isso não importava, nem importa. O que vale é ter a faixa, multar motoristas e dar provas de civilidade para a Europa, mesmo que as pessoas sejam assaltadas ou mortas após atravessá-la. As autoridades não falam que a quantidade de pessoas que são assassinadas na periferia é infinitamente maior do que as que morrem atropeladas. Mas como moram no Brasil imaginário, a faixa foi considerada mais prioritária do que pôr fim à mortandade.

A mesma coisa acontece com os radares móveis que abundam em Brasília: tecnologia do Século XXI, em meio a rodovias do Século XIX e buracos da Idade Média.

Francisco Vieira

Corrupção e falta de transparência


Assim que tomaram posse, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciaram novos tempos na economia. Além de medidas fundamentais para arrumar a casa e reverter todo o estrago provocado nos quatro primeiros anos do governo de Dilma Rousseff, como a meta de superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), comprometeram-se com um valor fundamental para um país que, dia após dia, vem sem deparando com denúncias de corrupção: dar transparência à administração pública.

Depois de quase cinco meses no cargo, nem Levy nem Barbosa dão demonstrações claras de que vão cumprir o que prometerem no quesito transparência. As pastas que comandam continuam funcionando como verdadeiras caixas-pretas. Conseguir informações relevantes à sociedade é quase impossível, sobretudo se os dados desvendarem mamatas e o descalabro em várias áreas do governo.

Tente, por exemplo, saber da Fazenda e do Planejamento quantos são os assentos que o governo tem em empresas estatais, cargos que são repartidos entre um grupo restrito de servidores públicos e indicados políticos selecionados pelo Palácio do Planalto. Cobre do Departamento de Controle das Estatais (Dest), órgão vinculado a Barbosa, informações sobre as empresas que vêm colocando em risco o ajuste fiscal. No máximo, receberá respostas genéricas, que desrespeitam a inteligência.

É inaceitável que seja assim. O mais assustador, porém, é que não há perspectiva de mudança. A máquina pública foi construída para facilitar malfeitos, viabilizar grupos com o objetivo claro de enriquecer às custas dos contribuintes. Transparência não combina com esses interesses escusos. Pode ser que até Levy e Barbosa venham a surpreender ao romper com esse modelo nefasto. Os dias estão correndo. Enquanto mantiverem os olhos fechados, os malfeitos prevalecerão e milhões de reais continuarão escorrendo diariamente pelos ralos da corrupção.

O custo da falta de transparência para o país é elevado. Em seminário, Cristiano Herckert, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, foi enfático: “Abrir dados é uma forma de gerar desenvolvimento econômico e social para nosso país”. Pena que nem mesmo os colegas de trabalho dele acreditem nisso. Se acreditassem, contribuiriam para a grande revolução que todos anseiam: um governo que não tem medo de se mostrar.

Esquerda tinha ditaduras como modelo

Durante a ditadura, a oposição de esquerda transformou a experiência dos países socialistas em referência de democracia. A ditadura do proletariado foi exaltada como o ápice da liberdade humana e serviu como contraponto ao regime militar. A falácia tinha uma longa história. Desde os anos 1930 brasileiros escreveram libelos em defesa do sistema que libertava o homem da opressão capitalista.


Tudo começou com URSS, Um Novo Mundo, de Caio Prado Júnior, publicado em 1934, resultado de uma viagem de dois meses do autor pela União Soviética. Resolveu escrevê-lo, segundo informa na apresentação, devido ao sucesso das palestras que teria feito em São Paulo descrevendo a viagem. À época já se sabia do massacre de milhões de camponeses (a coletivização forçada do campo, 1929-1933) e a repressão a todas os não bolcheviques.
Prado Júnior justificou a violência, que segundo ele “está nas mãos das classes mais democráticas, a começar pelo proletariado, que delas precisam para destruir a sociedade burguesa e construir a sociedade socialista”. A feroz ditadura foi assim retratada: “O regime soviético representa a mais perfeita comunhão de governados e governantes”. O autor regressou à União Soviética 27 anos depois. Publicou seu relato com o título O Mundo do Socialismo. Logo de início escreveu que estava “convencido dessa transformação (socialista), e que a humanidade toda marcha para ela”.

Em 1960, Caio Prado não poderia ignorar a repressão soviética. A invasão da Hungria e os campos de concentração stalinistas estavam na memória. Mas o historiador exaltava “o que ocorre no terreno da liberdade de expressão do pensamento, oral e escrito”, acrescentando: “Nada há nos países capitalistas que mesmo de longe se compare com o que a respeito ocorre na União Soviética”. E continua escamoteando a ditadura: “Os aparelhos especiais de repressão interna desapareceram por completo. Tem-se neles a mais total liberdade de movimentos, e não há sinais de restrições além das ordinárias e normais que se encontram em qualquer outro lugar.”

Seguindo pelo mesmo caminho está Jorge Amado, Prêmio Stalin da Paz de 1951. Isso mesmo: o tirano que ordenou o massacre de milhões de soviéticos dava seu nome a um prêmio “da paz”. Antes de visitar a União Soviética e publicar um livro relatando as maravilhas do socialismo – o que ocorreu em 1951 -, Amado escreveu uma laudatória biografia de Luís Carlos Prestes. A União Soviética foi retratada da seguinte forma: “Pátria dos trabalhadores do mundo, pátria da ciência, da arte, da cultura, da beleza e da liberdade. Pátria da justiça humana, sonho dos poetas que os operários e os camponeses fizeram realidade magnífica”.

A partir dos anos 1970, o foco foi saindo da União Soviética e se dirigindo a outros países socialistas. Em parte devido aos diversos rachas na esquerda brasileira. Cada agrupamento foi escolhendo a sua “referência”, o país-modelo. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) optou pela Albânia. O país mais atrasado da Europa virou a meca dos antigos maoistas, como pode ser visto no livro O Socialismo na Albânia, de Jaime Sautchuk. O jornalista visitou o país e não viu nenhuma repressão. Apresentou um retrato róseo. Ao visitar um apartamento escolhido pelo governo, notou que não havia gás de cozinha. O fogão funcionava graças à lenha ou ao carvão. Isso foi registrado como algo absolutamente natural.

O culto da personalidade de Enver Hoxha, o tirano albanês, segundo Sautchuk, não era incentivado pelo governo. Era de forma natural que a divinização do líder começava nos jardins de infância onde era chamado de “titio Enver”. As condenações à morte de dirigentes que se opuseram ao ditador foram justificadas por razões de Estado. Assim como a censura à imprensa.

Com o desgaste dos modelos soviético, chinês e albanês, Cuba passou a ocupar o lugar. Teve papel central neste processo o livro A Ilha, do jornalista Fernando Morais, que visitou o país em 1977. Quando perguntado sobre os presos políticos, o ditador Fidel Castro respondeu que “deve haver uns 2 mil ou 3 mil”. Tudo isso foi dito naturalmente – e aceito pelo entrevistador.

Um dos piores momentos do livro é quando Morais perguntou para um jornalista se em Cuba existia liberdade de imprensa. A resposta foi uma gargalhada: “Claro que não. Liberdade de imprensa é apenas um eufemismo burguês”. Outro jornalista completou: “Liberdade de imprensa para atacar um governo voltado para o proletariado? Isso nós não temos. E nos orgulhamos muito de não ter”. O silêncio de Morais, para o leitor, é sinal de concordância. O pior é que vivíamos sob o tacão da censura.

O mais estranho é que essa literatura era consumida como um instrumento de combate do regime militar. Causa perplexidade como os valores democráticos resistiram aos golpes do poder (a direita) e de seus opositores (a esquerda).

Que presidente é essa?

Que presidente da República é essa que temos, obrigada a delegar o comando político do governo ao vice-presidente, o comando da economia ao ministro da Fazenda, impedida de circular livremente por medo de ser vaiada, e que agora renuncia ao direito de falar ao país em cadeia nacional de rádio e da televisão no dia 1º de Maio só para driblar o risco de ser recepcionada com um estrepitoso panelaço?
Dilma Rousseff (Foto: Fernando Bezerra / EFE)

Esta presidente é Dilma Rousseff, a primeira mulher a governar o país, legítima invenção de Lula que imaginava sucedê-la depois de quatro anos, reeleita no ano passado com bem menos da metade dos votos válidos, acusada de mentir muito durante a campanha eleitoral, suspeita aos olhos da maioria dos brasileiros de nada ter feito para impedir a corrupção na Petrobras, e por isso mesmo rejeitada por pouco mais de 60% deles.

Mentira pega - e constrangido por dever de ofício a defender tudo o que Dilma disser e fizer, Edinho Silva, o novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, apressou-se em declarar que o cancelamento do discurso à Nação no dia 1º de Maio nada teve a ver com panelaços, vaias ou coisas parecidas, nada mesmo, devendo-se apenas ao desejo da presidente de, este ano, falar diretamente com seus governados por meio das redes sociais.

Nada mais natural, pois, se fato fosse verdade, mas esse não é o caso, e a novidade só servirá para fazer sobressair o estado de fragilidade emocional em que Dilma vive, acuada dentro do seu próprio país, isolada nos palácios que lhe servem de abrigo, rodeada por pessoas que mais a temem do que a amam, assediada por políticos que só a procuram para arrancar favores, e como se não bastasse, monitorada por um tutor que não vê a hora de herdar-lhe a faixa presidencial.

Que mulher é essa a merecer tamanha desdita? Torturada por algozes interessados em esmagar seus sonhos e convicções, relegada a uma posição subalterna dentro da organização política à qual pertenceu na época da ditadura, e burocrata sem brilho de uma administração que não deixou saudades em Porto Alegre, de repente ela se viu alçada à condição de segunda pessoa mais importante da República e, em seguida, de primeira. Quis Deus? Não. Quis Lula.

E o que lhe resta agora? Torcer para que dê certo a receita de Levy destinada a pôr em ordem as contas públicas. Se der, o mérito será dele – quando nada porque ela discorda da receita. E torcer para que Temer demonstre a capacidade que ela nunca teve de aparar arestas, construir consensos, e garantir a estabilidade de um governo que quase desmoronou mal havia recomeçado. Depois... Bem, depois, é recolher-se à vida pachorrenta de um bairro de Porto Alegre.

Acordos e omissão

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Será uma trágica omissão e uma reiteração da impunidade dos poderosos que marca a nossa História, firmar acordos de leniência que ignorem a responsabilidade dos acionistas controladores das empreiteiras, não apenas na Lava-Jato, mas na evolução das praticas que vêm contaminando a vida politica do país há décadas.

Outra questão suscitada pelos apelos por acordos que preservem as construtoras é avaliar em que medida o país depende delas. A julgar pelas declarações dos defensores destes acordos, sem elas o país é incapaz de concluir investimentos de porte.

Mas quem sabe seja mais lúcido postular o contrário. Que o Brasil não vai parar sem as empresas condenadas na Lava-Jato e que, na verdade, precisa se libertar delas e de seus mentores e parceiros para avançar.

Seja como for, estas são questões que a presidente Dilma, o ministro Cardozo e o presidente da Firjan deveriam considerar quando propõem acordos de leniência para preservar obras, empregos e empreiteiras.