Nani Humor |
domingo, 5 de outubro de 2014
É preciso mudar.Pelo voto
Não é só pelos 20 centavos. Não é só pela Petrobras. Quem vive um dia normal sabe do que o Brasil precisa
Falta educação política ao eleitor brasileiro. Faltam
consciência, razão, atitude. O programa partidário na televisão, que de
gratuito não tem nada, é uma idiossincrasia de país subdesenvolvido. Beneficia
quem está por cima. É nocivo, antidemocrático e enganador por dar mais tempo na
televisão a qualquer partido que esteja no poder. É um bombardeio de
telenovelas eleitorais com efeitos especiais e personagens montados.
Às vésperas do voto de 5 de outubro, o eleitor no Brasil
parece suscetível à influência das máquinas partidárias, das mentiras e da
hipocrisia de candidatos a todos os cargos. É só observar as tendências do mapa
nacional com as múmias e os
ladrões, vivinhos e populares.
Exterminadores da razão
O desejo de mudança se transformou na liderança folgada dos
situacionistas Dilma (PT), Alckmin (PSDB) e Pezão (PMDB). Vai entender.
No Brasil, como ensina o professor Pedro Malan, até o
passado é incerto. Há três meses, 75% dos brasileiros se diziam insatisfeitos
com o país e exigiam mudanças urgentes, mas hoje, quando todos os indicadores
econômicos, que já eram ruins, pioraram ainda mais, o desejo de mudança se
transformou na liderança folgada dos situacionistas Dilma (PT), Alckmin (PSDB)
e Pezão (PMDB). Vai entender. Será que eles mentiram aos pesquisadores? Ou eram
felizes e não sabiam? Ou gostavam de sofrer? Ou o medo do desconhecido é maior
que a esperança no futuro?
Mas como mudar, se nenhum governante municipal, estadual ou
federal jamais reconhece seus erros, atribuindo-os sempre a outros, a
conspirações políticas ou a circunstâncias adversas? Sem reconhecê-los, como
corrigi-los?
Quem está na chuva é para se queimar, dizia o folclórico
presidente corintiano Vicente Matheus, mas na fogueira eleitoral, além de
sonhos e reputações, a razão é a primeira a arder. Mentiras, golpes baixos e
jogo sujo são o motor das campanhas, um vale-tudo sem limites na luta pelo
poder que deve envergonhar a todos que não acreditam, como Lula, que vergonha é
perder eleição.
Leia mais o artigo de Nelson Motta
Em quem voto e por quê
Poucas vezes o refrão de estarmos em uma encruzilhada terá
sido tão verdadeiro. Neste domingo os eleitores carregam para a votação o peso
de uma responsabilidade histórica. E o mais grave é que, dadas as condições do
debate eleitoral e as formas prevalecentes de manipulação da opinião pública,
boa parte do eleitorado nem atina qual seja a bifurcação diante da qual o país
está.
Em uma das mais mistificadoras campanhas dos últimos tempos,
a máquina publicitária e corruptora do PT e aliados espalhou boatos de que
Aécio acabaria com os programas sociais (em grande parte criados pelo próprio
PSDB!) e Marina seria a expressão dos interesses dos banqueiros, tendo nas mãos,
com a independência do Banco Central, a bomba atômica para devastar os
interesses populares. Por mais ridículas, falsas e primárias que sejam as
imagens criadas (também eram simplificadoras as imagens do regime nazista ou do
estalinista para definir os “inimigos”), elas fizeram estragos no campo
opositor.
A guerra de acusações descabidas escondeu o tempo todo o que
a candidata à reeleição deixou claro nos últimos dias: suas distorções
ideológicas. Fugindo aos scripts dos marqueteiros, que a pintam como uma
risonha e bonachona mãe de família, e do PAC, a presidenta vem reafirmando
arrogantemente que tudo que fez foi certo; se algo deu errado foi, como diria
Brizola, por conta das “perdas internacionais”. Mais ainda, disse com convicção
espantosa ser melhor dialogar com os degoladores de cabeças inocentes do que
fazer-lhes a guerra, coisa que só os “bárbaros” ocidentais pensam ser
necessária.
E o que é isso: socialismo? populismo? Não: capitalismo de
estado, sob controle de um partido (ou do chefe do Estado). Um governo
regulamentador, soberbo diante da sociedade, descrente do papel da opinião
pública (“não é função da imprensa investigar”, outra pérola dita recentemente
por Dilma), com apetite para cooptar o que seja necessário, desde empresários
“campeões nacionais” até partidos sedentos de um lugar no coração do governo.
Algo parecido com o que o lema do velho PRI mexicano expressava: fora do
orçamento, não há salvação; nem para as empresas, nem para os partidos, nem
para os sindicatos, para ninguém. Crony capitalism, dizem os americanos.
Capitalismo para a companheirada, diríamos nós.
Pega na (enésima) mentira
Ônibus da empresa municipal que virou autarquia estão acautelados para não serem usados neste domingo gratuitamente para levar eleitores |
Em discurso de campanha para eleger a mulher e o companheiro
presidente da Câmara, Quaquá apelou para nova mentira a fim de enganar e
aparecer como o grande administrador coisa que nunca foi nem será. O prefeito
de Maricá em mais uma farofada anunciou que o município será o primeiro do país
a contar com transporte gratuito nos ônibus, através da autarquia de
transportes que criou e 13 veículos estacionados e mofando no aeroporto interditado.
Como é um costumeiro mentiroso, sempre se passando por
melhor prefeito, quando lidera a lista do mais desastrado e corrupto, esqueceu
que a lista de cidades brasileiras com transporte gratuito já existe desde
2011, entre elas, Silva Jardim, Mount Carmel, Potirendaba, Paulínia,
Muzambinho, Pitanga e Ivaiporã.
Águas de São Pedro, em São Paulo, com o segundo IDH do país,
é uma estância hidromineral, que não recebe um pingo de royalties, mas vivendo
apenas do turismo consegue índices fabulosos, inclusive com transporte
gratuito.
Porto Real, no Rio de Janeiro, não apenas aboliu a tarifa de
R$ 0,50 por trajeto, em 2011, como aumentou as linhas de ônibus que atendem o
município. Outra cidade brasileira a adotar o sistema é Agudos, no interior de
São Paulo, próxima a Bauru. A gratuidade também foi implantada em 2011, quando
se extinguiu a tarifa de R$ 2,40 e, desde então, o uso dos ônibus aumentou em
mais de 60%.
Os brasileiros,entre a esperança e o medo
Basta sair por estes dias na rua e falar com as pessoas –algo muito simples
entre os brasileiros, sempre dispostos a contar sua vida– para perceber que o
Brasil se movimenta nestas eleições entre dois sentimentos contrapostos: a
esperança e o medo. Esperança de melhorar a vida, como ficou claro na última
pesquisa do Datafolha, que revela que 74% dos brasileiros desejam que as coisas
mudem. Não se conformam com o que têm.
Esse sentimento traz implícito um forte desejo de melhoria
em todos os níveis, não só material, mas, por exemplo, também a ampliação da
democracia. É como se dissessem que "é possível melhorar nossa qualidade
de vida". Significa também que os brasileiros se tornaram mais exigentes
com seus governantes. Já não aceitam tudo passivamente, como no passado,
aprisionados por uma atávica resignação, triste herança da escravidão.
A esse sentimento, a esse grito por melhorias e de esperança
em um futuro imediato –que os pais de milhões de brasileiros desejam para os
filhos– se opõe uma sensação de amargura e desencanto, como se perguntassem:
"Quem nos oferece hoje essa esperança de algo melhor?" Ou o terrível
e não verdadeiro "todos são iguais".
Até agora o debate eleitoral estava
mais centrado justamente no que os brasileiros não queriam: a briga entre os
candidatos; aquilo do "e você é mais" (ou seja, mais corrupto, mais
mentiroso), que dava uma sensação mais de medo do que de esperança.
Não é nenhum segredo que os brasileiros –incluindo os
milhões de famílias que saíram da miséria e não só não passam mais fome, mas
têm até televisão de plasma– estão insatisfeitos com seus governantes. Não que
sejam ingratos, que não reconheçam que o Brasil melhorou nos últimos 20 anos,
mas não são bobos e sabem que neste país rico se desperdiçam bilhões que são
diluídos nos rios sujos da corrupção; que as pessoas ganham mais do que ontem,
mas que a inflação galopante chegou até elas como um autêntico assaltante que
lhes exige voltar a repensar a compra ao ir ao mercado; que lhes dá medo de
pedir um novo empréstimo por medo dos juros, que estão entre os mais altos do
mundo e que já endividaram 50% das famílias.
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