quinta-feira, 20 de agosto de 2015
O Brasil está no 'curé'
Em “baianeiro”, a expressão “estar no curé” significa estar sem saída. E, no jogo de damas, que se está esticado no carreirão. Estou ciente de que perco cada vez mais a riqueza vocabular da linguagem baianeira do Norte de Minas. Fico mais pobre quando sinto que não mais me rebuço, apenas me cubro com o cobertor... E à medida que me afasto dos meus costumes, das minhas tradições, da minha vida ingênua, sinto o vazio da modernidade que me maltrata.
Esse tipo de modernidade que me força a aceitar os desvios de políticos que deveriam estar no ostracismo ou na cadeia, como Renan, Jader Barbalho, Jucá, Lula e a cambada que está chafurdada na lama da Lava Jato, mas que, na verdade, evacua normas de procedimentos para uma sociedade ávida de sinceridade, honestidade e cidadania. Gente que deveria estar presa por todo o mal que faz ao povo brasileiro...
Nem falo dos que roubaram e roubam materialmente o povo. A matéria é recuperável, diferente do sentimento de vergonha que nossa nacionalidade experimenta diante das outras nações, que passam a entender que o povo brasileiro, além de desonesto, gosta dos que são assim. E tanto é verdade que elege esses energúmenos para representarem nossa sociedade. Cruz credo dessa gente, assessorada por Marco Aurélio Poc Poc, por esse tal de Stédile, que só pensa em desorganizar a sociedade em que vive; por Gilberto de Carvalho, homem de confiança de todo mundo que não merece confiança, que sabe tudo sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel e que, por esse seu tesouro, tem a proteção dos governos do PT; por um Franklin Martins, jornalista terrorista que só pensa em acabar com a liberdade de imprensa e, ao final, uma presidenta (sic) que, no meu entendimento, precisa urgentemente de uma interdição. Veja bem: interdição, não intervenção. Sinceramente, acho que o problema dessa senhora é patológico. Não é comum nem normal uma mulher de 22 anos sair pelo mundo assaltando bancos, de metralhadora em punho. Sou contra o tal de impeachment. Afinal, diz um dito popular que “quem pariu Mateus que o balance”. Eu não votei nela, mas o povão “votaram”.
Algumas declarações ou alguns pronunciamentos de Dona Dilma dão-nos a certeza de que alguma coisa está fora do lugar. Por exemplo: “A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e sustenta tudo isso abrindo o negócio.” Obviedades como: “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.” Engraçado... pensei que todo mundo que disputa eleições para presidente, no fundo, no fundo, quer ser é maquinista de trem ou padre comuna... Ou confissões verdadeiras: “Eu quero adentrar pela questão da inflação e dizer para vocês que a inflação foi uma conquista desses dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo”.
Eu sempre achei que os ladrões da Petrobras, do BNDES, dos fundos de pensão e dos fundos de alguns políticos é que formataram esse Brasil restante. Pobres de nós...Sylo Costa
Esse tipo de modernidade que me força a aceitar os desvios de políticos que deveriam estar no ostracismo ou na cadeia, como Renan, Jader Barbalho, Jucá, Lula e a cambada que está chafurdada na lama da Lava Jato, mas que, na verdade, evacua normas de procedimentos para uma sociedade ávida de sinceridade, honestidade e cidadania. Gente que deveria estar presa por todo o mal que faz ao povo brasileiro...
Nem falo dos que roubaram e roubam materialmente o povo. A matéria é recuperável, diferente do sentimento de vergonha que nossa nacionalidade experimenta diante das outras nações, que passam a entender que o povo brasileiro, além de desonesto, gosta dos que são assim. E tanto é verdade que elege esses energúmenos para representarem nossa sociedade. Cruz credo dessa gente, assessorada por Marco Aurélio Poc Poc, por esse tal de Stédile, que só pensa em desorganizar a sociedade em que vive; por Gilberto de Carvalho, homem de confiança de todo mundo que não merece confiança, que sabe tudo sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel e que, por esse seu tesouro, tem a proteção dos governos do PT; por um Franklin Martins, jornalista terrorista que só pensa em acabar com a liberdade de imprensa e, ao final, uma presidenta (sic) que, no meu entendimento, precisa urgentemente de uma interdição. Veja bem: interdição, não intervenção. Sinceramente, acho que o problema dessa senhora é patológico. Não é comum nem normal uma mulher de 22 anos sair pelo mundo assaltando bancos, de metralhadora em punho. Sou contra o tal de impeachment. Afinal, diz um dito popular que “quem pariu Mateus que o balance”. Eu não votei nela, mas o povão “votaram”.
Algumas declarações ou alguns pronunciamentos de Dona Dilma dão-nos a certeza de que alguma coisa está fora do lugar. Por exemplo: “A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e sustenta tudo isso abrindo o negócio.” Obviedades como: “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.” Engraçado... pensei que todo mundo que disputa eleições para presidente, no fundo, no fundo, quer ser é maquinista de trem ou padre comuna... Ou confissões verdadeiras: “Eu quero adentrar pela questão da inflação e dizer para vocês que a inflação foi uma conquista desses dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo”.
Eu sempre achei que os ladrões da Petrobras, do BNDES, dos fundos de pensão e dos fundos de alguns políticos é que formataram esse Brasil restante. Pobres de nós...Sylo Costa
Advertência
Os políticos, em lugar de se ajudarem entre si e uns aos outros nesta tarefa difícil que é administrarem um país, em que se tem ao mesmo tempo que olhar o presente com todo o cuidado objetivo, e ter a maior confiança no que se pode concretizar de futuro; em lugar de os políticos se ajudarem uns aos outros, se auxiliarem, a realmente levar essa tarefa por diante, tantas vezes se entretêm, em todos os países, a lutar uns com os outros, a desacreditarem-se uns aos outros, como se isso pudesse fazer avançar seja o que for.Agostinho Silva
O Youtube e a 'imprensa golpista'
Assista ao vídeo |
Mais de uma vez já chamei a atenção dos leitores do Vespeiro para isso: nada pode ser mais enfático e fidedigno para desmascarar a fraude que são o PT e a dita “esquerda” brasileira do que deixar que eles próprios o demonstrem e expliquem com suas próprias palavras pondo lado a lado as de hoje e as de ontem, expediente obrigatório, de tão óbvio, de um jornalismo sem aspas neste mundo onde tudo fica gravado e arquivado para sempre.
O Youtube é uma mina infindável de tais registros históricos a espera apenas de quem os garimpe e edite. O fato da “old mídia” — impessa/online ou da TV — não considerar esses registros como material jornalístico não os faz menores nem menos contundentes. Quem fica menor a cada segundo perdido é só quem os ignora.
Assim como o PT, o antigo “rei das ruas“, já não consegue mobilizar mil gatos pingados na cidade em que nasceu, nem a troco de ônibus, sanduíches e “pixulecos“, para se opor aos milhões de manifestantes que atendem a cada convocação pelas redes sociais onde tais “auto-denuncias” devidamente editadas circulam às centenas, a imprensa que seguir insistindo nessa forma de mentira que é a omissão sistemática também vai acabar falando sozinha.
De Guimarães Rosa@edu para Dilma@gov
Presidenta,
No seu primeiro discurso de posse, vosmicê me chamou de "poeta da minha terra" e lembrou umas linhas que escrevi ("O correr de vida embrulha tudo. [...] O que ela quer da gente é coragem"). Não mencionou meu nome. No Itamaraty, cansei de escrever para os outros sem que me lembrassem. Era meu ofício. De qualquer forma, obrigado pelo "poeta". Chamo-me João, há quem diga Guimarães, ou mesmo Rosa.
Estive ontem com o Raul de Vincenzi, diplomata como eu, mas homem bonito. Lustrava o governo do Juscelino porque o acompanhava como chefe do cerimonial. Ele foi embaixador no Chile do general Pinochet. Nessa função, em janeiro de 1980 defendia o interesse do nosso país para que empreiteiras nacionais construíssem a hidrelétrica de Colbun-Machicura. Os amigos do Planalto queriam que a obra fosse entregue sem licitação, pelo sistema de porteira fechada, que os americanos chamam de turn-key. Os ministros civis de Pinochet não gostavam da ideia, e o chanceler disse ao Raul que a norma chilena era a da licitação, mas sabia que o presidente João Batista Figueiredo tinha "interesse especial" pela escolha de uma empresa brasileira. Não lembrava o nome, mas saiu da sala e voltou com a informação: "Engesa/Odebrecht". (A Engesa, a senhora sabe, fabricava armas e já faliu.) No mesmo dia, o Raul encontrou-se com o general-chefe do gabinete pessoal de Pinochet, mencionou o assunto e ele lhe disse: "Vocês não estão dando nome aos bois". Raul pôs tudo isso no papel. O chanceler Ramiro Guerreiro, que também está aqui mas não fala, só mexe a cabeça, acrescentou outra informação durante um despacho com Figueiredo: "O coronel Sérgio Arredondo, ex-adido militar do Chile em Brasília, teria aludido que a preferencia de Vossa Excelência recairia sobre o consórcio Engesa/Odebrecht, dada a tradição mantida no Chile e o estrito relacionamento da primeira empresa com autoridades militares chilenas".
Deu redemoinho no Planalto. As coisas eram como eram, mas não deveriam ser ditas. Figueiredo contou que o coronel Arredondo tratou do assunto com ele, mas tinha dito apenas que a Odebrecht era uma empresa de confiança. Um embaixador que contou o que lhe disseram e um chanceler que mostrou o que sabia desarmaram os poderes do mundo. Os chilenos licitaram a hidrelétrica e a manobra da porteira fechada falhou. Digo-lhe que esse Arredondo, antes de montar cavalos com Figueiredo, estivera na "Caravana da Morte", uma tropa de jagunços que saiu pelo Chile matando gente.
Fazem falta gente como o Raul e o Guerreiro? Sinais a senhora teve, mas mandaram que calassem a boca. Sei mas não digo.
A senhora sabe que eu escrevi: "O diabo na rua, no meio do redemoinho". Não faça mau juízo do redemoinho da rua que a senhora viu no domingo. No meio dele não estava o Tinhoso. O Capeta, Coxo, Capiroto, Coisa Ruim, finge que está, mas não está. No meio do redemoinho da rua estavam o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público. Entre nesse espetáculo. Proclame por uma vez que não tem diabo nenhum, não existe, não pode. Viver é negócio muito perigoso, mas as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas. Tenha coragem, é tudo o que a vida lhe pede.
Respeitosamente,
João Guimarães Rosa
No seu primeiro discurso de posse, vosmicê me chamou de "poeta da minha terra" e lembrou umas linhas que escrevi ("O correr de vida embrulha tudo. [...] O que ela quer da gente é coragem"). Não mencionou meu nome. No Itamaraty, cansei de escrever para os outros sem que me lembrassem. Era meu ofício. De qualquer forma, obrigado pelo "poeta". Chamo-me João, há quem diga Guimarães, ou mesmo Rosa.
Estive ontem com o Raul de Vincenzi, diplomata como eu, mas homem bonito. Lustrava o governo do Juscelino porque o acompanhava como chefe do cerimonial. Ele foi embaixador no Chile do general Pinochet. Nessa função, em janeiro de 1980 defendia o interesse do nosso país para que empreiteiras nacionais construíssem a hidrelétrica de Colbun-Machicura. Os amigos do Planalto queriam que a obra fosse entregue sem licitação, pelo sistema de porteira fechada, que os americanos chamam de turn-key. Os ministros civis de Pinochet não gostavam da ideia, e o chanceler disse ao Raul que a norma chilena era a da licitação, mas sabia que o presidente João Batista Figueiredo tinha "interesse especial" pela escolha de uma empresa brasileira. Não lembrava o nome, mas saiu da sala e voltou com a informação: "Engesa/Odebrecht". (A Engesa, a senhora sabe, fabricava armas e já faliu.) No mesmo dia, o Raul encontrou-se com o general-chefe do gabinete pessoal de Pinochet, mencionou o assunto e ele lhe disse: "Vocês não estão dando nome aos bois". Raul pôs tudo isso no papel. O chanceler Ramiro Guerreiro, que também está aqui mas não fala, só mexe a cabeça, acrescentou outra informação durante um despacho com Figueiredo: "O coronel Sérgio Arredondo, ex-adido militar do Chile em Brasília, teria aludido que a preferencia de Vossa Excelência recairia sobre o consórcio Engesa/Odebrecht, dada a tradição mantida no Chile e o estrito relacionamento da primeira empresa com autoridades militares chilenas".
Deu redemoinho no Planalto. As coisas eram como eram, mas não deveriam ser ditas. Figueiredo contou que o coronel Arredondo tratou do assunto com ele, mas tinha dito apenas que a Odebrecht era uma empresa de confiança. Um embaixador que contou o que lhe disseram e um chanceler que mostrou o que sabia desarmaram os poderes do mundo. Os chilenos licitaram a hidrelétrica e a manobra da porteira fechada falhou. Digo-lhe que esse Arredondo, antes de montar cavalos com Figueiredo, estivera na "Caravana da Morte", uma tropa de jagunços que saiu pelo Chile matando gente.
Fazem falta gente como o Raul e o Guerreiro? Sinais a senhora teve, mas mandaram que calassem a boca. Sei mas não digo.
A senhora sabe que eu escrevi: "O diabo na rua, no meio do redemoinho". Não faça mau juízo do redemoinho da rua que a senhora viu no domingo. No meio dele não estava o Tinhoso. O Capeta, Coxo, Capiroto, Coisa Ruim, finge que está, mas não está. No meio do redemoinho da rua estavam o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público. Entre nesse espetáculo. Proclame por uma vez que não tem diabo nenhum, não existe, não pode. Viver é negócio muito perigoso, mas as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas. Tenha coragem, é tudo o que a vida lhe pede.
Respeitosamente,
João Guimarães Rosa
A morte de uma narrativa
Ao ouvi-lo, lembrava-me de meu pai, que dizia ser Lula um típico vendedor de feira do Nordeste. Uma retórica simples e, ao mesmo tempo, emocionante, que atingia o objetivo. Lula foi capaz de levar adiante seus dois governos com sua poderosa narrativa. E, com ela, convenceu a maioria da população de que Dilma Rousseff seria a candidata ideal para o país. Foi seu êxito final. Depois de eleger Dilma, Lula está no volume morto, tal como Dilma e o PT.
De modo paradoxal, a morte da narrativa lulista se deu pelas mãos de Dilma. Sua forma de governar foi profundamente antagônica à adotada pelo “lulismo” quando no governo. Ironicamente, a aprendiz está matando o mestre em uma lenta agonia caracterizada por alguns detalhes. Quase sempre a orientação do mestre foi ignorada. Alguns dos pilares do lulismo, como a gestão política eficiente da base no Congresso e o diálogo com formadores de opinião, foram abandonados e/ou praticados de forma ineficiente. O diálogo regular realizado no Conselhão foi esquecido.
O antigo software de fazer política foi deixado de lado e o novo não funciona. Enquanto o gasto público foi capaz de blindar a popularidade do governo, correu tudo bem. A farra fiscal acabou e com ela o brilho artificial do governo. A narrativa lulista morreu de morte “matada”. E nada assumiu o seu lugar. O governo não tem uma narrativa e se envergonha dos caminhos escolhidos. Ainda que, patrioticamente, Dilma tenha aceitado sacrificar sua popularidade para tentar promover o ajuste fiscal.
Porém, o problema é mais grave do que fazer um ajuste. Dilma deve tentar construir uma nova narrativa que englobe o ajuste fiscal, suas razões e os caminhos a serem perseguidos. Até mesmo uma séria autocrítica deveria ser feita como ponto de partida. Não é o que ocorre. Dilma não construiu sua narrativa. Nem mesmo quando tinha mais de 60% de aprovação, no início de 2013. Naquela época, o governo estava embalado pelo final da era Lula. Quando o impulso acabou, revelou-se a face do insucesso. Foi uma época de fracassos assintomáticos.
Como disse o jornalista José Roberto Toledo, Dilma Rousseff perdeu a agenda social e a agenda econômica. Só lhe restou o cargo. Apegada a ele, tenta ensaiar uma resistência.
O governo existe para ser importunado
O negócio é o seguinte, o governo existe para ser importunado. É um direito do cidadão vasculhar os podres das autoridades e fazer campanha de difamação contra quem merece, seja ela chefe de estado ou um burocrata de bigode atrás de um balcão. Está no Manual do Bom Cidadão.
O dia em que não pudermos mais chamar um presidente de cabaço, um ministro de urubu, poderemos atirar a carteirinha de ser humano pela janela do trem.
Ao cidadão horrorizado com a agressividade toda, não há problema, pode trocar as palavras sujas por substitutos apropriados, desde que o faça com os dentes a mostra. No lugar de urubu, bobo, feio ou ladrão picareta. Se a religião não permitir, bolinha de papel amassado já está valendo (o efeito será mais cômico nos parlamentares carecas). O importante é mostrar quem é que manda: você.
A maior vantagem de morar num lugar aquém da civilização é essa, poder descer o cacete no governo e em seus representantes sem o menor sentimento de culpa. O histórico de canalhice é tamanho que não há nada que não justifique mandar qualquer partido político deste país para aquele lugar.
E quem disser o contrário, que um discurso cheio de perdigotos não resolve nada, que deve-se pegar mais leve com esse ou aquele governo - qualquer argumento que não mostre como o governo esfolia o cidadão para o seu projeto de poder é desprezível.
Sim, o governo existe para ser importunado. Sem a pressão popular, ele não vai parar de crescer. Na verdade, esse é o verdadeiro objetivo dele, ficar gigante e nos deixar pequenos - pequenos e em sua dependência.
Enfrentemos o bicho com a dignidade que ainda nos resta. Só assim para não cairmos nos discursos baratos e no populismo de quinta que empesteia os países falidos. E, mais importante, lembraremos que o cidadão não se dobra ao governo - pelo contrário, é o governo que deve nos servir.
Pedaladas que fazem mal à saúde
A saúde está relacionada a vários fatores e não apenas à medicina. Esta, por sua vez, não é sinônimo de mais médicos.
Medicina não é uma atividade só de médicos, mas não pode prescindir de competentes médicos. Para alcançar seu objetivo ‒ combater doenças ‒, necessita de uma equipe com enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e dezenas de outras profissões legalmente constituídas e que tenham conselhos federais atuantes.
Comparando a medicina com a aviação, cabe aos médicos ‒ pilotos ‒ exercerem uma específica função. Controladores de voo, mecânicos, comissários de bordo, engenheiros e dezenas de outras profissões permitem que viajemos com segurança. Não basta pilotos para uma viagem segura. Não basta médicos para uma medicina segura.
Enquanto voar é uma possibilidade para alguns, saúde é uma necessidade para todos e depende de diversos fatores.
As condições socioeconômicas são mais impactantes do que as genéticas, e o saneamento básico previne mais doenças, custando menos que ambulâncias - com as laterais pintadas com os nomes de caciques políticos - ou hospitais inacabados.
A educação diminui a pobreza, e o voto deixa de ser moeda barata de troca. Demagogos e caudilhos têm horror a um programa de educação básica obrigatório e duradouro.
Perdem-se muitas vidas com a violência das balas e das estradas, dois Vietnãs por ano, neste assimétrico gigante, que insiste em ficar deitado eternamente em berço esplêndido dominado por cartéis de pelegos.
Por tudo isso os pobres, só lembrados nos discursos, vivem menos.
O ministro da saúde deveria saber disso - está no discurso do governo -, e se entender com seus confrades da educação, cidades, infraestrutura e transporte, de um total de 39 ministérios.
Não o faz, criando com isso mais desgaste para sua chefe, que passa por momentos angustiantes com a economia, com congressistas e com sua popularidade.
O Decreto nº 8.497, de 5 de agosto de 2015, assinado por ela, mas elaborado por ele, interfere na especialização médica. Criou novos problemas com o Conselho Federal de Medicina ‒ CFM e a Associação Médica Brasileira ‒ AMB, órgãos máximos da medicina no Brasil, ao considerar como médicos especialistas habilitados para atuar no SUS somente aqueles cujas informações estiverem de acordo com o cadastro do Ministério da Saúde.
O CFM e AMB foram ao Congresso Nacional para debater esse decreto, que abre brechas perigosas na formação dos médicos. Em seguida a tropa de choque de aliados do governo entrou em ação e conseguiu duas semanas para elaborar um novo texto, desta vez ouvindo as entidades médicas. Se fracassarem em empenar o voluntarioso ministro, o presidente da Câmara se comprometeu a colocar em votação um projeto de decreto legislativo que sustará os efeitos do decreto presidencial.
Será mais um desgaste para a governante, que busca hábitos de vida saudáveis, pedalando e perdendo peso, mas com um ministro que insiste em pedaladas que fazem mal à saúde.
#ForaPelegos
Nos últimos doze anos, centrais sindicais e movimentos sociais foram, paulatinamente, cooptados pelo Estado. Até as mais combativas passaram a ser tuteladas, mantidas por tributos compulsórios, aparelhadas e instrumentalizadas por interesses partidários e governamentais.
Nos dois mandatos de Lula, o bom mocismo sindical foi recompensado por benesses do governo, entre as quais a participação das Centrais na divisão do butim do imposto sindical e o pleno acesso à sala presidencial, nem que fosse para conversa fiada com o presidente.
O peleguismo sempre fez parte da cultura política brasileira. No modelo lulista, ele foi exacerbado e sindicalistas também passaram a fazer parte da máquina do estado por meio de um tremendo aparelhamento, com cargos públicos sendo loteados para servir aos propósitos do petismo.
O sindicalismo e os movimentos sociais se tornaram a tropa de choque que Lula ameaçava por nas ruas para enfrentar “a oposição e as elites golpistas”. Tivemos nestes anos as centrais defendendo o ex-presidente no caso do mensalão e a UNE fazendo manifestação contra CPIs constrangedoras ao governo.
Dessa forma se afastaram ainda mais dos vínculos com suas bases e com as aspirações emergentes da sociedade brasileira.
O amancebamento sindical cobrou o seu preço: nos últimos tempos, as manifestações convocadas pelas centrais governistas naufragaram, o braço esquerdo do lulopetismo perdeu musculatura.
Organizadas verticalmente, de forma burocratizada, e com uma pauta definida de cima para baixo, essas manifestações contaram, no máximo, com as camadas de sindicalistas, assessores e ativistas que orbitam em torno da máquina sindical ou do governo aparelhado.
Resumindo: passaram ao largo da grande massa de trabalhadores.
Caiu por terra também a fanfarronice dos dirigentes petistas de ameaçar colocar essas tropas nas ruas para defender Lula e o legado dos governos do PT.
A mais recente prova disto foi o melancólico manifesto, obviamente financiado com dinheiro público, de 600 uniformizados da CUT. Eles se reuniram em torno do Instituto Lula, levados por ônibus dos sindicatos, no último domingo.
Enquanto isto, mais de 800 mil pessoas em 204 cidades brasileiras protestavam espontaneamente pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em defesa do juiz Sérgio Moro da operação Lava Jato, pela prisão do ex-presidente Lula, considerado o grande responsável pela onda de corrupção no país nos últimos anos.
Claro está que, se não se reconciliarem com suas bases deixando de ser correias de transmissão do Planalto, as centrais e os movimentos sindicais se transformarão em peças ornamentais, com peso diminuto nos rumos políticos e sociais do país.
Os dirigentes sindicais que orbitam em torno do governo podem até conseguir reunir alguns milhares nesta quinta-feira, dia 20. Mas pouco têm a oferecer além de uma pauta esquizofrênica. De apoio à Dilma e, ao mesmo tempo, contra o ajuste fiscal que ela precisa emplacar e em defesa do que eles entendem por democracia.
O movimento sindical precisa passar à limpo sua maneira de atuação, seus ideais e suas bandeiras.
Precisa repensar como se inserir nas relações sociais, políticas e econômicas de forma digna, propositiva e consequente para o benefício dos trabalhadores e o desenvolvimento do Brasil.
Chega de pelegos.
Hubert Alquéres
Nos dois mandatos de Lula, o bom mocismo sindical foi recompensado por benesses do governo, entre as quais a participação das Centrais na divisão do butim do imposto sindical e o pleno acesso à sala presidencial, nem que fosse para conversa fiada com o presidente.
O peleguismo sempre fez parte da cultura política brasileira. No modelo lulista, ele foi exacerbado e sindicalistas também passaram a fazer parte da máquina do estado por meio de um tremendo aparelhamento, com cargos públicos sendo loteados para servir aos propósitos do petismo.
O sindicalismo e os movimentos sociais se tornaram a tropa de choque que Lula ameaçava por nas ruas para enfrentar “a oposição e as elites golpistas”. Tivemos nestes anos as centrais defendendo o ex-presidente no caso do mensalão e a UNE fazendo manifestação contra CPIs constrangedoras ao governo.
Dessa forma se afastaram ainda mais dos vínculos com suas bases e com as aspirações emergentes da sociedade brasileira.
O amancebamento sindical cobrou o seu preço: nos últimos tempos, as manifestações convocadas pelas centrais governistas naufragaram, o braço esquerdo do lulopetismo perdeu musculatura.
Organizadas verticalmente, de forma burocratizada, e com uma pauta definida de cima para baixo, essas manifestações contaram, no máximo, com as camadas de sindicalistas, assessores e ativistas que orbitam em torno da máquina sindical ou do governo aparelhado.
Resumindo: passaram ao largo da grande massa de trabalhadores.
Caiu por terra também a fanfarronice dos dirigentes petistas de ameaçar colocar essas tropas nas ruas para defender Lula e o legado dos governos do PT.
A mais recente prova disto foi o melancólico manifesto, obviamente financiado com dinheiro público, de 600 uniformizados da CUT. Eles se reuniram em torno do Instituto Lula, levados por ônibus dos sindicatos, no último domingo.
Enquanto isto, mais de 800 mil pessoas em 204 cidades brasileiras protestavam espontaneamente pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em defesa do juiz Sérgio Moro da operação Lava Jato, pela prisão do ex-presidente Lula, considerado o grande responsável pela onda de corrupção no país nos últimos anos.
Claro está que, se não se reconciliarem com suas bases deixando de ser correias de transmissão do Planalto, as centrais e os movimentos sindicais se transformarão em peças ornamentais, com peso diminuto nos rumos políticos e sociais do país.
O movimento sindical precisa passar à limpo sua maneira de atuação, seus ideais e suas bandeiras.
Precisa repensar como se inserir nas relações sociais, políticas e econômicas de forma digna, propositiva e consequente para o benefício dos trabalhadores e o desenvolvimento do Brasil.
Chega de pelegos.
Hubert Alquéres
Corrupção como forma de poder
Nos últimos tempos a Operação Lava Jato tem marcado o ritmo da política brasileira. Quantas vezes partidos e atores se movem tendo em vista as fases do processo? Gostaria de levantar a hipótese de que ela mesma se tornou movimento político, embora sem participar do sistema representativo como tal.
Para distinguir o principado da república Maquiavel indica que no primeiro o poder ou é hereditário ou conquistado. A esquerda revolucionária sempre apostou na conquista do poder, que na tradição leninista é único e indivisível. A proposta de Lenin de conferir todo o poder aos sovietes implicava excluir da vida política quem não estava associado a essa organização de soldados, operários e camponeses. Essa orientação rachou a esquerda europeia do início do século 20, encontrando oposição ferrenha dos comunistas alemães, do “renegado” Karl Kautsky a Rosa Luxemburgo.
Se esses pregavam a ditadura do proletariado, esta era entendida como tarefa a ser entregue à classe total para instalar uma res publica.
A esquerda brasileira sempre se aproximou da linha leninista e o PT sofreu essa influência. É sintomático não ter-se comprometido com as fórmulas da República “burguesa” que se instalou depois da queda do sistema militar. Essa linha se aprofunda conforme o PT se aproxima e se infiltra no poder. Se a ele chega de forma republicana, desde logo trata de conquistar os aparelhos do Estado. Primeiramente, infiltrando neles militantes e sindicalistas, depois, com a vitória de Lula em 2002, ocupando novos postos, principalmente em comissão. A ideia inicial era politizar esses aparelhos, dando-lhes novo sentido histórico. E assim a máquina do partido se infla no Estado, tendendo a se confundir com ele.
Não reside aí o germe da nova forma de corrupção que o lulopetismo instalou no País? Para que essa enorme massa de militantes pudesse ser tramada para agir politicamente, para que pudesse ajudar numa governabilidade que se fazia mediante alianças as mais variadas, foi necessário montar e financiar uma cara máquina política. Isso se evidencia muito cedo, quando do assassinato de Celso Daniel, em 2002. O prefeito de Santo André recusa-se a dar continuidade ao fluxo de arrecadação de propinas quando percebe que, antes de chegar ao seu destino, deixava rastros nos bolsos dos coletores. Removido o obstáculo, porém, o sistema se expande e se agiganta.
Corrupção sempre existiu, até mesmo no Paraíso. O diabo-cobra não corrompeu Eva? Mas em política importa sobretudo sua forma, na medida em que entranha formas de poder. A forma da corrupção praticada por César ou Augusto – as apropriações efetuadas para manter o pão e o circo – não se confunde com a praticada pelo papa Alexandre VI na reestruturação da burocracia vaticana. Nem a especificidade da corrupção tucana se iguala à forma da corrupção petista, mesmo se ambas bebem na mesma fonte. A primeira se concentra na alimentação de um grupo, a segunda passa do partido para o Estado, um e outro se apresentando como momento do universal da História. E a “ditadura” do Terror ou do partido é “incorruptível”.
A corrupção do próprio aparelho do Estado serve de paradigma para corromper toda a sociedade. Não é estranhável que hoje em dia encontremos um corruptor em cada esquina. Em contrapartida, nada mais natural que a bandeira contra a corrupção seja levantada por aqueles que, na luta profissional, se particularizam e sofrem diminuição de seus poderes.
Conforme os agentes do Estado atuam na base da corrupção, cada vez mais aqueles funcionários, que percebem suas próprias práticas serem corrompidas, enfraquecidas e negadas, ganham condições e argumentos para levantar a bandeira contra ela. Tratam de salvar o sentido de suas profissões. E assim, conforme os partidos do governo perdem a auréola da probidade, outras frentes, tratando de recuperá-la, configuram nova oposição. Não é desse modo que o Ministério Público, cuja independência depende dessa aura, assim como partes da polícia e do Judiciário, que igualmente precisam destacar-se na probidade para sobreviver publicamente, todos eles se juntam para que o exercício de suas profissões ganhe autenticidade e dimensão política?
Não foi assim que o julgamento do mensalão acentuou o lado político do STF? Não que tenha perdido seu fundo jurídico, mas me parece inegável que hoje sua imagem realça um Poder associado aos outros dois da República. É o que me parece estar igualmente acontecendo com a Operação Lava Jato, que, ao tratar de operar de forma mais efetiva e cuidadosa, procura mostrar-se publicamente como estando engajada na regeneração do País.
A maneira como seus membros se comportam e se associam entre si, o timing de suas decisões e seu relacionamento com a mídia, tudo caminha nessa direção. A leitura do texto do juiz Sergio Moro justificando a prisão de José Dirceu, acusando-o de organizar novo sistema de corrupção, impressiona tanto pela segurança da argumentação policial e jurídica quanto por sua forma midiática. Do mesmo modo, os promotores e os policiais vêm a público explicar no pormenor cada elo do processo de corrupção, ligando Estado, sociedade civil e empresas. E assim promovem a consciência política da necessidade da mudança.
Aí residem a grandeza e o perigo desse processo. A Operação Lava Jato está nos obrigando a ter vergonha do estado de corrupção em que nos encontramos. Mas somente terá repercussão política se forças políticas representativas, levando em conta todos esses processos não representativos, decidirem pelas reformas de que o País necessita. E a ilusão de uma democracia direta – lado inverso do Estado total – só perturba a compreensão de como a política nacional mergulhou numa indecisão que nos engolfa. Os escândalos pipocam no ar, as pessoas se manifestam e os partidos só lidam com os fogos de artifício.
José Arthur Giannotti
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