sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Pensamento do Dia

 


Trump x Trans

O déspota americano Donald Trump proibiu as atletas trans de competirem nas categorias femininas dentro dos EUA. As entidades de direitos civis já protestaram e os órgãos internacionais do esporte também. Se cada país tiver regras próprias não será possível haver eventos como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos —que, não por acaso, terão suas próximas versões sediadas nos EUA. Trump não quer saber da possibilidade de elas serem transferidas ou de os EUA serem banidos das competições. Confia em seu bullying à base de murros e ofensas.


Mas, nesta, ele pode se dar mal. A perseguição aos trans ameaça atingir uma instituição cara ao povo americano: a vida íntima de alguns de seus amados heróis dos quadrinhos e do cinema. Durante décadas, eles exerceram uma sexualidade ambígua, que as pessoas desconheciam. Com a estupidez de Trump, no entanto, ela pode sair do armário, e já não será sem tempo.

Quem diria, por exemplo, que Minnie Mouse, a rata de Walt Disney, é Mickey Mouse em travesti? É só observar: Minnie é Mickey de vestido de bolinhas, fita no cabelo e cílios postiços. As luvas de ambos têm quatro dedos e eles nunca aparecem juntos no mesmo quadrinho. E se o pato Donald não for um pato, mas um marreco, e, aliás, uma... marreca? Os patos têm uma membrana vermelha no bico, que Donald não tem. E só as marrecas têm aquele rabicho ondulante de Donald. Como se explica?

Fácil. Nos anos 1940, Walt era detestado pelos empregados de seu estúdio. Mau patrão, recusava-se a dar o crédito aos verdadeiros criadores de seus personagens para que todos pensassem que era ele quem os desenhava. O Mickey travesti pode ter sido uma vingança de seu desenhista, Ub Iwerks; o Donald-marreca, de Carl Barks.

E a Chita do Tarzan? O personagem era fêmea, mas o macaco-ator era macho. O bravo Rin-Tin-Tin era uma cadela e a doce Lassie, um cachorro. O que dirá o transfóbico Trump ao saber que Mickey, Minnie, Donald, Chita, Rin-Tin-Tin e Lassie pertencem ao grupo LGBTQIA+?

A estratégia de Trump é mais sistemática do que parece

Desde reformas radicais na imigração até o desmantelamento do Estado Profundo, Donald Trump busca transformar radicalmente os Estados Unidos sem se preocupar com oposição. Mas essa abordagem tem precedentes históricos, de acordo com o cientista político Thomas Greven, do Instituto Kennedy da Universidade Livre de Berlim, que a compara ao presidente Franklin D. Roosevelt e seu New Deal de 1933.

Roosevelt implementou uma enxurrada de leis e decretos para garantir que o governo federal liderasse a recuperação econômica, rompendo com as políticas de seus antecessores. Sua proposta enfrentou forte resistência da Suprema Corte, que bloqueou algumas de suas reformas.

Ao contrário de Roosevelt, Trump não enfrenta uma Suprema Corte hostil, tendo conseguido lotá-la de juízes conservadores que apoiam sua agenda. No entanto, o fator tempo é fundamental. Segundo Greven, Trump tem dois anos para implementar mudanças profundas antes das próximas eleições de meio de mandato. "Se as instituições democráticas continuarem a funcionar em 2026 ou 2028, é provável que haja uma correção, ou pelo menos a possibilidade de o eleitorado rejeitar sua agenda", prevê o cientista político.


Por enquanto, Trump tem forte apoio popular, beneficiando-se do desencanto com a democracia, um fenômeno que Greven diz não ser exclusivo dos EUA. A frustração surge porque constituições, tribunais e burocracia limitam o espaço de manobra dos governos eleitos. "Estamos vendo um apoio crescente a um modelo de democracia hipermajoritária, onde as barreiras institucionais ao poder executivo (os chamados freios e contrapesos nos Estados Unidos) são eliminadas", disse Greven.

Segundo o especialista, Trump busca desmantelar os controles democráticos para estabelecer estruturas autoritárias. A questão é até que ponto isso será possível.

Para levar adiante sua agenda, Trump usa uma tática conhecida como "inundar a zona com merda", conforme definido por seu ex-assessor Steve Bannon. Consiste em saturar o espaço midiático com uma avalanche de anúncios, declarações e escândalos, dificultando a reação da oposição.

Diante dessa estratégia, os democratas optaram por não cair em todas as provocações de Trump e, em vez disso, concentrar seus esforços na arena judicial. "Os democratas decidiram não responder a todos os ataques, pois isso enfraqueceria sua estratégia. Em vez disso, eles estão confiando na justiça e em uma possível correção eleitoral em 2026", explica Greven.

Trump está apostando em decretos executivos maximalistas, que incluem cláusulas de salvaguarda para que, mesmo que algumas partes sejam derrubadas na justiça, o restante permaneça em vigor.

O presidente republicano está se concentrando nas prioridades clássicas do partido: reduzir a burocracia, endurecer as políticas de imigração e fortalecer o controle de fronteiras. O que não tem precedentes, no entanto, é o radicalismo com que ele tenta implementar essas mudanças.

Segundo Sascha Lohmann, especialista norte-americano da Fundação Ciência e Política (SWP) em Berlim, essa abordagem visa promover uma transformação estrutural do país. "Trump não quer apenas reformas, mas uma revolução reacionária que enfraqueça os mecanismos de controle democrático e estabeleça um sistema mais autoritário", alerta Lohmann.

O resultado da estratégia de Trump dependerá não apenas dos tribunais, mas também da dinâmica política dos próximos anos. Um exemplo semelhante ocorreu na França, quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy lançou uma série de reformas simultâneas em 2007 para superar seus oponentes.

No entanto, a tática criou confusão e muitas reformas ficaram inacabadas ou foram revertidas. A questão é se a agenda de Trump seguirá o mesmo destino ou se alcançará uma transformação duradoura e estrutural da democracia americana.

Extrema-direita: o retorno ao neandertal

A atual ascensão dessa extrema direita troglodita mundo afora vem sendo explicada das mais diversas maneiras por cientistas políticos, economistas e sociólogos. De modo geral, alguns entendem que se trata de um processo cíclico normal na história, como se fosse um vaivém periódico de valores morais e políticos. Nesse caso, estaria acontecendo um retorno temporário do pensamento reacionário e autoritário em todos os estratos das sociedades humanas, espalhando-se por todos os cantos do planeta. Mas, com o tempo, passaria.

Outra hipótese frequentemente considerada é a de que o consumismo descontrolado, estimulado pelo capitalismo moderno, turbinado pelo uso das redes digitais sem fronteiras nem pudores, teria criado uma geração de pessoas fúteis, com princípios rasos e portadoras de uma espécie de conservadorismo anarquista. Essa geração, menos atenta à realidade, seria mais suscetível às ideias retrógradas da extrema direita que julgávamos superadas.


Já no campo da política conservadora tradicional há uma resistência à opinião comum de que essa extrema direita no estilo Trump e Bolsonaro seja farinha do mesmo saco que a direita histórica da francesa Marine Le Pen ou do Partido Novo aqui no Brasil, por exemplo. Ou seja, não misturar a direita limpinha com os seguidores do marketeiro Steve Benon e do astrólogo Olavo de Carvalho. Deixemos de fora o Javier Milei que parece ser um caso à parte, levando-se em conta uma certa sintomatologia que envolve as atitudes e gestos do argentino.

Contudo, para quem enxergar alguma semelhança entre essas lideranças desvairadas da direita de hoje em dia e os homens das cavernas, não seria exagero considerar uma possibilidade alternativa, com fundamentação antropológica. Estudos biológicos avançados detectaram recentemente que não existe homo sapiens puro entre nós, que somos humanos modernos! Ao mapearem a composição genética de fósseis humanos, cadáveres recentes e pessoas vivas de diferentes partes do mundo, os cientistas estão descobrindo que o tipo europeu, de pele branca, com olhos e cabelos claros, ainda preserva até 2% de DNA neandertal. Ou seja, quando o homo sapiens (o hominídeo mais desenvolvido) migrou da África para outras regiões, encontrou os neandertais que se originaram nas áreas mais geladas do planeta, como a Europa, e houve cruzamento entre as duas espécies.

Os neandertais eram mais fortes fisicamente do que o homo sapiens e, também, mais resistentes ao frio e às grandes altitudes. Porém, apesar de já disporem de algumas armas, ferramentas e vestuário rudimentar, a espécie neandertal pura foi extinta há uns 40 mil anos. O homo sapiens tinha maior sociabilidade, raciocínio mais complexo e maior resistência a determinadas doenças.

Sendo assim, no mais puro interesse da compreensão do atual cenário político mundial, e sem querer estimular nenhum tipo de supremacismo racial moreno (o que seria um racismo às avessas), fica aqui uma boa pergunta para os mais curiosos fazerem ao ChatGPT ou ao DeepSeek: Será que essas pessoas de mente pré-histórica, terraplanistas, antivacina, neofascistas, homofóbicas, misóginas e antidemocráticas estão nesse grupo de humanos brancos agalegados que detém maior percentual de DNA neandertal em sua genética? A questão é puramente científica.

Trump e os 12 trabalhos do autocrata

Não há receita rígida para desmontar a democracia. A ordem de fatores e a dose variam. Mas o roteiro contemporâneo combina 12 tarefas. Invariavelmente. Um programa de transferência de tecnologia da autocratização. Aqui um resumo temático.

1. O autocrata e o Povo. Induza confusão entre vitória eleitoral e mandato ilimitado. A identificação existencial entre povo genuíno e líder eleito apaga a distinção entre maiorias e minorias. Estas, ou se aliam, ou são excluídas. Não há diversidade: "povo" de um lado contra os moralmente depravados de outro.

2. O autocrata e a Verdade. Estigmatize e inviabilize instituições de produção de informação, ciência e imaginação crítica. Ataque universidades, vigie salas de aula, intimide cientistas, professores, jornalistas. Invoque intenções maliciosas no que fazem.


3. O autocrata e Deus. Explore o poder religioso. O líder não é só encarnação messiânica do povo, mas se relaciona com a vontade de Deus. De um Deus.

4. O autocrata e o Tempo. Administre a velocidade. Saiba os benefícios da tempestade ("shock and awe") e o momento de desacelerar. Alterne avalanche e calmaria para desnortear. Invente um passado e dali tire seu plano de futuro.

5. O autocrata e a Lei. Da lei se imponha como último intérprete. A linguagem jurídica oferece potente ferramenta de autolegitimação. Formal e informalmente, inunde cortes e as desafie a controlar seus atos ("shock and law"). Ignore ou desobedeça a ordens judiciais. Desgaste capital político de cortes e, na hora certa, capture juízes e juristas.

6. O autocrata e a Palavra. Bagunce a semântica, descole as palavras de seus conceitos enraizados. Torne as ideias de liberdade, democracia e direitos o seu contrário. Esvazie a possibilidade da comunicação a partir de conceitos compartilhados.

7. O autocrata e a Força. Demonstre ser um sujeito de força e explore a exibição de força. Militares, policiais e milícias sectárias são extensão de suas mãos. Infalíveis no combate a inimigos, não devem satisfação à lei, apenas à sua pessoa.

8. O autocrata e a Burocracia. Combata expertise e autonomia, rejeite atos de governo baseados em razão e evidência. Estigmatize burocratas profissionais e os substitua por lealistas e apologistas.

9. O autocrata e a Política. Quase todas as dimensões da vida devem se politizar. Combata instituição imparcial. Todo indivíduo e instituição deve assumir lado, critério primário de autoidentificação pública e privada.

10. O autocrata e o Poder Econômico. Não deixe de trazer a oligarquia para o governo.

11. O autocrata e o Estrangeiro. Em nome da soberania, rejeite governança supranacional dos direitos humanos, da segurança internacional, sanitária e climática. E se credencie no consórcio global contra a democracia.

12. O autocrata e inimigos imaginários. Fabrique pânico moral permanente e legitime violência contra os grupos mais vulneráveis. Associe imigrantes, transgêneros, negros, indígenas, militantes sociais ao crime.

Na mitologia grega, o rei Euristeu impôs 12 missões a Hércules. Tarefas como matar o leão de Nemeia e roubar o cinturão de Hipólita. Parecia impossível aos cientistas políticos da época. Hércules foi lá e fez.

Trump e Bolsonaro se familiarizaram com a cartilha no primeiro mandato. Trump veio mais afiado e bem assessorado para efetivá-la no segundo.

Inversão é uma força poderosa

Se você acha que o tema é pedante — afinal, sou cancelado em alguns lugares —, experimente vestir uma roupa pelo avesso. Faça como eu, que vesti uma suéter pelo avesso nos Estados Unidos, país onde o mind your own business (cuide-se e não me encha o saco!) é dominante, e um colega que jamais me dera um humilde “bom-dia” parou-me no corredor para a advertir-me que eu estava com a veste pelo avesso!

— Você deve estar só... — disse em seguida, com voz tranquilizadora porque sabia o que significava estar sem o outro que nos ama, ajuda e desentorta...


O pai de um amigo foi internado com ataque cardíaco. Aos 88 anos, ele sofre de Alzheimer e foi socorrido num hospital público desenhado para mal atender pobre e preto. Depois dos rituais que Erving Goffman chamou de degradação e despersonalização, ficou ansioso e agressivo. Quando arrancou os acessos colocados em seus braços e tentou fugir, pois imaginou que havia sido preso, foi preciso amarrá-lo na cama — o que, obviamente, confirmou sua fantasia. Fantasia que se explicava porque a internação é uma poderosa inversão. Exige o controle e a neutralização dos elos emocionais rotineiros, produzindo o mesmo sentimento de vestir uma roupa pelo avesso. Não é banal substituir pessoas amadas por médicos e enfermeiros impessoais, que olham a doença mais que o doente, numa — reitero — poderosa inversão. A doença, como certos rituais de passagem, nos leva a um comportamento invertido.

Agitadíssimo, o pai de meu amigo ficou por três dias na emergência tentando escapar e dando imenso “trabalho” à mulher e aos filhos. Mas, quando sua única filha veio substituir os irmãos, ela promoveu um drama e apaziguou as aflições do pai que se considerava prisioneiro. A moça não usou remédio ou oração. Usou um poderoso mecanismo ritual que sociólogos comparativos como Goffman, Turner e Lévi-Strauss conhecem e estudam: a inversão que usa o isolamento obrigatório como agente de mudança, cura e transformação.

Assim que chegou ao quarto, a filha comunicou ao aflito pai que ela — e não ele — era a doente aprisionada e ele o livre visitante!

— Veja, papai. Estou amarrada depois do tombo que tomei. Sou grata por ter você ao meu lado, cuidando de mim...

O poder dos avessos — triviais nos ritos de passagem e nos cerimoniais de reversão político-social como o carnaval, conforme estudei em meu livro “Carnavais, malandros e heróis”, de 1979 — serve como solução para estados de angústia ou perigo, como revelam a literatura, o drama e os ritos.

Assim foi a noite dessa família aqui em Niterói. O mundo, entretanto, treme com as inversões de Donald Trump. Como um poderoso bruxo autocrático ranzinza, ele focaliza o lado perigoso e ambíguo das trocas. Pois, como revelou Marcel Mauss, trocar implica três, e não apenas as duas fases de dar e receber. Na reciprocidade de que tanto se fala sem saber, trocas de todo tipo implicam dar, receber e retribuir. Essa é a base da solidariedade que, paradoxalmente, nos obriga a retribuir os favores e obséquios que formam as cordas mais profundas da vida social. Dar, receber e retribuir com justiça constituem o cerne das sociabilidades e dessas misteriosas imposições do todo sobre as partes; da moralidade, do bem-estar e daquilo que chamamos de paz sobre a ansiedade, o primitivismo e a arrogância. Esses valores têm caracterizado as ações do presidente americano.

A brutalidade irmã de sangue da burrice, prima da ignorância e mãe do narcisismo promove a regressão ao isolamento num planeta interligado que sofre os efeitos da hiperconectividade. Brincar de transformar comércio em guerra acaba em guerra.

No nosso Brasil, que os políticos e juristas recriam dia a dia, a maior, a mais visível e a mais rotineira inversão é ficar rico, poderoso, isento de cumprir leis, dedicando-se ao santificado projeto político de cuidar dos pobres.

Atitudes de Trump atingem os pilares da ordem internacional

Analistas da política norte-americana se esforçam para distinguir, na enxurrada de decretos executivos expelidos pelo presidente Donald Trump, o que é para valer e o que é apenas para obter —pela intimidação— acordos mais vantajosos.

Seja qual for a intenção, o desastre é monumental e fere não apenas os habitantes do país, cuja grandeza passada o novo ocupante da Casa Branca prometeu ressuscitar —seja lá o que ele quis dizer.

No plano externo, palavras e atos do presidente atingem igualmente pilares da chamada ordem internacional baseada em regras —ou ordem liberal. Obra lapidada do Ocidente democrático, depois da Segunda Guerra Mundial, seu objetivo era reduzir o risco de novos conflitos generalizados e estabelecer limites à pura política de poder e ao exercício da força bruta nas relações entre países. Além de buscar soluções negociadas para problemas que ignoram fronteiras ­—como a crise ambiental ou as pandemias. Seu instrumento foram os numerosos organismos e arranjos multilaterais que se multiplicaram em torno das Nações Unidas e de entidades como o FMI e o Banco Mundial.

Eis por que as primeiras decisões de política externa de Trump foram a retirada dos EUA do Acordo de Paris e da Organização Mundial da Saúde. O primeiro, a duras penas, visa construir um caminho comum para lidar com as mudanças climáticas. O segundo, integrado ao sistema da ONU, sempre ficou aquém dos desafios criados pelas epidemias globais e pela abissal desigualdade de recursos entre nações, malgrado sua gritante importância.

Logo a seguir vieram as decisões de retirar a América do Conselho de Direitos Humanos da ONU; do Tribunal Penal Internacional; e do Conselho Interamericano de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). Sem dúvida, a parte mais vulnerável do sistema internacional baseado em regras, pelas dificuldades de fazer cada país cumprir suas decisões, esses organismos expressam também suas aspirações mais elevadas de um mundo respeitoso da dignidade das pessoas e da sua proteção contra toda forma de violência.

O abandono dessas organizações multilaterais soma-se aos golpes ao livre comércio, às ameaças de anexação de territórios, como a Groenlândia, ou de ocupação, como no monstruoso projeto para Gaza. Em conjunto, anunciam uma concepção que faz lembrar a política de áreas de influência e de equilíbrio de poder características das grandes potências europeias no século 19, às quais os estudiosos atribuem a instabilidade internacional que teria desembocado na Grande Guerra de 1914.

É obvio que, hoje, o mundo é outro e a existência mesma de entidades multilaterais é disso uma prova —e, felizmente, um obstáculo ao agressivo nacionalismo de Trump, que, de resto, também enfrentará resistências internas. Mas não há dúvida de que suas políticas de caos e destruição aumentam a crise pré-existente das regras do jogo internacional e o risco de catástrofes globais.

"O velho mundo está morrendo e o novo mundo luta para nascer: agora é o tempo dos monstros." A frase é do notável pensador italiano Antonio Gramsci, falecido em 1937 depois de oito anos nos cárceres fascistas. Nunca pareceu tão atual.

Maria Hermínia Tavares