sexta-feira, 26 de maio de 2023

Atraso do Brasil dá tristeza

O que pensa o governo Lula? A pergunta é importante. Qual sua ideia de Brasil? Em grande parte, o presidente foi eleito por suas credenciais democráticas. Fez durante a campanha um discurso vago, sem grandes compromissos, na essência prometendo que não seria Jair Bolsonaro. A esta altura de maio, alguns sinais deveriam preocupar. Tudo indica que ele não acredita na ideia de economia verde, o caminho mais fácil para a inserção do país no século XXI. Também há sinais de que ele não percebe como fomentar uma indústria digital. O noticiário desta semana deixa tudo isso alarmantemente claro.

Na edição de quinta-feira do Estadão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um artigo com seu vice, Geraldo Alckmin, afirmando o compromisso com a reindustrialização. O cheiro que deixa é, embora nunca dito, de que ainda procura empregos bons para operários. Eles não existem mais. Insinua o sonho de exportar motores a combustão de etanol para a África. É sonhar pequeno. Aposta na indústria de semicondutores — aí é sonhar grande. Será que deseja competir com Taiwan, algo que Estados Unidos e China batalham para conseguir? No rastro, deixa um mísero parágrafo no pé para educação. E fala só de educação de base.

Os exemplos de China e Coreia do Sul mexem, realmente, com os sonhos de boa parte dos economistas desenvolvimentistas no Brasil. Lá houve dirigismo estatal, pesados investimentos, e criou-se num par de décadas uma indústria digital moderna e sofisticada, capaz de competir de igual para igual com qualquer potência.

Dois fatores raramente são comentados. O primeiro é que esses países têm poupanças internas formidáveis. Nós não temos. A Coreia é uma democracia, porém não oferece um Estado de Bem-Estar Social. É cada um por si, sem férias pagas ou aposentadoria garantida. A China, bem, a China é uma ditadura barra-pesada. O segundo ponto nunca mencionado é outra característica que ambos os países têm de estupendo: educação. Criança pequena aprende as quatro operações, e engenheiros são formados em vastas quantidades ano após ano.

O Brasil não terá indústria de semicondutores, não desenvolverá software em quantidade, não será digital enquanto tivermos dificuldade de ensinar as quatro operações. Uma indústria do século XXI não precisa só de dinheiro, seja privado ou estatal. É movida a cérebros. Se a conversa sobre reindustrialização é séria, deveria começar pelo MEC. Nas duas pontas: ensino de base e superior.

À jornalista Mônica Bergamo, um ministro palaciano explicou que a negociação com Arthur Lira, na Câmara dos Deputados, vem sendo difícil. E que, por isso, o governo precisou abrir mão de “pautas simbólicas, como o Ministério do Meio Ambiente”, para produzir crescimento econômico.

Pautas simbólicas.

Ficou nítida, para quem quis ver, a irritação de Lula e do Planalto com a teimosia do Ibama em encarar tecnicamente o problema da exploração de petróleo próximo à foz do Amazonas. Pois é. “O petróleo é nosso”, o fetiche que não morre. A indústria verde, créditos de carbono, exploração científica da biodiversidade, as patentes que podem surgir. Ao que parece, “indústria verde”, no Planalto, é um termo de marketing. Não enxergam. Manter intacto o ministério de Marina Silva não é prioritário.

Prioritário é conseguir vender carro zero a menos de R$ 60 mil para uma classe média endividada. Mas quem quer comprar carro em 2023? Será possível que, no Brasil, a gente ainda se move com base na imaginação criada entre Getúlio e JK? Grande oportunidade é vender motor a combustão para países africanos...

O discurso de campanha, falando de transição energética, de o BNDES investir em startups, de particular atenção para a causa indígena, na prática está se desmontando. Nos momentos em que o Planalto precisa fazer escolhas perante um Congresso reacionário com sede pelo Orçamento, as prioridades reais se apresentam. Investir numa indústria automobilística velha, cavar poços de petróleo. Ninguém teve a ideia de circular o mundo pintando as possibilidades de um Brasil potência verde. Mas se propondo a encabeçar uma negociação de paz entre Rússia e Ucrânia, aí sim. Isso teve. Enquanto isso, o MEC só apareceu quando houve uma ofensiva contra a reforma do ensino médio. Uma ofensiva para deixar tudo como está.

Em que o Brasil do século XXI será diferente do Brasil do século XX? Que visão temos de possibilidades? Como pode ser tão pequena a imaginação de nossos políticos? Nem com criança que sabe fazer conta, parece, podemos sonhar.

Cobrar dos pobres para beneficiar os ricos

Não, não defendo que se deva taxar os pobres em benefício dos ricos. Pelo contrário procuro, mais uma vez, mostrar que é assim que funciona a estrutura tributária de muitos países, em especial a do Brasil. Tomo o exemplo dos aviões particulares.

Essa maneira caríssima e extremamente poluente de viajar é ruim para o planeta e para 99,999% da população; no entanto, recebe subsídios governamentais de diversas maneiras. Estima-se que os jatos privados emitam 10 vezes mais poluentes por passageiro que a já extremamente poluente aviação comercial. Estima-se, também, que o patrimônio líquido médio dos proprietários de jatos privados supere os US$100 milhões! No planeta, há cerca de 70 mil pessoas com patrimônio tão grande, o que faz com que os proprietários de jatos particulares representem 0,0008% da população global. Esses pouquíssimos exercem mais poder e influenciam mais as políticas públicas – inclusive a tributária! – que 99,99% da população, o que é razão suficiente para indagar se “democracia” teria se tornado uma fake word!

No Canadá existe, desde 2018, um imposto de 10% sobre o valor de jatos privados novos. Lá, assim como nos EUA, há a obrigação de a empresa proprietária justificar seu uso, para evitar que sirvam, com frequência, para o lazer de seus dirigentes e para fazer lobby. No Brasil inexiste exigência similar; assim, o lazer e o lobby desses ricaços reduzem o lucro tributável da empresa proprietária, diminuindo o imposto a pagar; ou seja, os custos são divididos pelo conjunto da população!


Em nosso país não se cobra o IPVA sobre jatinhos, mas sim sobre um carro barato e bem usado, assim como sobre o caminhão e o ônibus, mais uma vez onerando a população pobre em benefício dos muito ricos! Triste Brasil onde, apesar desses fatos, falar em elevar a tributação sobre os muito ricos tornou-se anátema!

Na União Europeia, e mesmo nos EUA, a estrutura tributária é progressiva – apesar de muitos “furos” que permitem esconder grana, inclusive em paraísos fiscais – enquanto, aqui, ela é regressiva. Dizer que taxar os muito ricos fará com que eles abandonem o país é balela: eles até poderão levar seus jatos, mas como levar os bois, as fazendas e as fábricas?

A “proibição” do debate sobre taxar os muito ricos se tornou tão forte que até o atual governo parece temer mencionar tal possibilidade de forma clara! Deve-se, porém, lembrar que a maioria dos congressistas brasileiros integra ou representa o grupo dos muito ricos; assim, falar em elevar impostos sobre essa pequeníssima faixa da população pode, sim, criar mais dificuldades no relacionamento entre Executivo e Legislativo! Sutilezas da democracia, que resguarda interesses dominantes de diversas e pouco claras maneiras!

No Brasil, a aviação privada – dita “aviação geral” embora seja tão exclusiva! – realizou, em 2020, 280 mil pousos e decolagens, contra 466 mil das companhias aéreas. No entanto, os aeroportos são construídos e mantidos, principalmente, pelo Estado, o que configura outro tipo de subsídio aos mais ricos, pagos pelos mais pobres.

Com o atual Congresso é difícil inverter a pirâmide tributária, mas essa inversão é essencial para o bem-estar da maioria dos brasileiros! Considerando que a frota brasileira de jatos privados é tida como a terceira maior do mundo, a questão é relevante e poderia contribuir para o equilíbrio das contas públicas, além de tornar o país menos desigual!

Pensamento do Dia

 

Musa GUMUS

Antigamente era

Antigamente era o eu-proscrito
Antigamente era a pele escura-noite do mundo
Antigamente era o canto rindo lamentos
Antigamente era o espírito simples e bom

Outrora tudo era tristeza
Antigamente era tudo sonho de criança

A pele o espírito o canto o choro
eram como a papaia refrescante
para aquele viajante
cujo nome vem nos livros para meninos

Mas dei um passo
ergui os olhos e soltei um grito
que foi ecoar nas mais distantes terras do mundo

Harlem
Pekim
Barcelona
Paris
Nas florestas escondidas do Novo Mundo

E a pele
o espírito
o canto
o choro
brilham como gumes prateados

Crescem
belos e irresistíveis
como o mais belo sol do mais belo dia da Vida.

Agostinho Neto

O berço do futuro

A proposta de exploração do petróleo na foz do rio Amazonas pode ser um desastre político ou a nascente para um novo conceito de desenvolvimento. Mesmo que os resultados econômicos sejam incertos e poucos benefícios fiquem na região, optar pelo Ibama, a ecologia e o futuro, descontentará aos eleitores da região. A opção pela Petrobras contra a recomendação do Ibama abalará o prestígio da ministra Marina Silva e do presidente Lula no cenário mundial como zeladores da Amazônia, comprometidos com o desenvolvimento sustentável. Não faltarão aqueles que façam a comparação com ministro anterior que defendia “deixar passar a boiada” por cima dos órgãos técnicos relacionados ao meio ambiente.


Esta indecisão ideológica mostra que o governo Lula não está preparado politicamente para enfrentar o dilema entre necessidades presentes e sustentabilidade futura, até porque não há conhecimento científico para saber exatamente o que acontecerá social e ecologicamente, nem conhecimento técnico para evitar os riscos decorrentes. Neste cenário, a decisão deve ser adiada para evitar riscos e aprofundar o debate relacionado à relação entre crescimento, meio ambiente e pobreza.

Nenhum outro país tem, ao mesmo tempo: o desafio de explorar petróleo em um santuário natural, governo comprometido com o respeito à Amazônia e uma massa crítica intelectual para aprofundar este debate que aflige a humanidade: como compatibilizar as necessidades sociais e econômicas do momento com as limitações e os riscos do futuro. Responder perguntas como: justifica deixar a riqueza do petróleo debaixo da terra, com milhões de pessoas pobres caminhando sobre ela? a exploração de petróleo já em marcha no território amazônico reduziu a pobreza da população local? deixou benefícios sociais marcantes para os habitantes das cidades com royalties no litoral carioca? investir centenas de bilhões de reais na exploração do petróleo é a melhor forma de atender às necessidades sociais dos pobres locais? o petróleo será fonte de renda por quantas décadas ainda, antes de seu uso ficar obsoleto, devido às mudanças climáticas e outras fontes de energia? quais as consequências econômicas se o Brasil voltar a ser pária mundial por executar este projeto, sobretudo se ocorrer possível vazamento no oceano?

Estas dúvidas são maiores do que a avaliação do projeto específico na foz do Amazonas. Para o Brasil, a questão é escolher entre o desenvolvimento apenas para o presente ou sustentável no futuro; para o Presidente e a Ministra, saber se desejam os votos locais ou serem os líderes políticos mundiais de um novo rumo para o desenvolvimento. Outros dilemas surgirão como buscar ouro ou construir estradas em terras indígenas; proteger patrimônios culturais ou investir na produção.

Com o adiamento da decisão e a promoção do debate, o atual governo estaria transformando a crise da Foz do Amazonas na Nascente de um novo rumo do desenvolvimento.

Foi uma pena que antes mesmo de promover este debate, políticos locais preferiram vender ilusões para o presente, olhando a próxima eleição. Eles teriam ajudado na reflexão sobre o futuro e no apoio para termos a ministra Marina Silva e o presidente Lula como líderes mundiais de um novo desenvolvimento econômico sustentável e com responsabilidade social: um berço do futuro.

A estupidificação digital

Os números são inquietantes. Uma criança de 3 anos está cerca de três horas diárias em frente a um ecrã; aos 8 anos, está cinco horas; na adolescência, sete. Entre a infância e os 18 anos, os miúdos de hoje, pequenos “junkies” eletrónicos, passam o equivalente a 32 anos letivos em frente do ecrã. As contas são do neurocientista francês Michel Desmurget, que estuda o fenómeno há quase duas décadas e que põe as coisas de forma crua mas clarividente: os ecrãs são uma “fábrica de cretinos digitais”. No livro que escreveu com este nome, explica as inúmeras razões pelas quais os nativos digitais – ou seja, as nossas crianças – serão os primeiros a ter um QI inferior ao dos pais, e documenta-o bem: apresenta 45 páginas de bibliografia em que cita centenas de estudos científicos que atestam porque esta tendência é preocupante.

Se este livro foi lido em São Bento e no Ministério da Educação, terá sido depois posto de lado. É caso para dizer que valores mais altos se levantam. O Governo está apostado numa rápida digitalização da educação, que pode ter os resultados inversos ao que se propõe, que é melhorar o ensino. Este caminho vem dar seguimento a um processo que se acelerou, por força das circunstâncias, na pandemia, e que é estimulado agora pelo objetivo do aproveitamento das verbas do PRR, com uma forte componente obrigatória de digital.

É preciso separar as águas. Há, claro, uma parte deste percurso que faz sentido, como a entrega de computadores a alunos e professores, a instalação nas escolas de laboratórios de educação digital para robótica e multimédia e a distribuição de painéis interativos para sala de aula. Tudo isto permite um acesso a ferramentas de trabalho complementares, importantes no século XXI. O problema está em fazer do digital o principal recurso de ensino, com a prevista digitalização dos manuais escolares e dos testes de avaliação, o que inevitavelmente leva a que as crianças passem a estar ainda mais horas em frente a ecrãs do que aquelas que já passam fora da escola. Nesta semana, o tema impõe-se, porque as provas de aferição do 2º, 5º e 8º anos, sob protesto de pais e professores, começaram a decorrer digitalmente. Estamos a falar de crianças que fazem testes eletrónicos mal sabendo reconhecer as teclas. O Governo quer que, em 2025, todas as provas e exames nacionais sejam neste suporte. O que se ganha na redução da burocracia perde-se na apreciação efetiva. A questão essencial, quanto a mim, é um ponto de partida errado. Está longe de estar provado que uma desmaterialização integral dos recursos educativos traga vantagens inequívocas para as crianças no longo prazo, e muitos estudos dizem precisamente o contrário. Um cérebro digital tende a ser mais disperso e impaciente e, por isso, tem mais dificuldade em acionar os circuitos de leitura profunda, que são fundamentais para a inferência, análise crítica e reflexão. Não é por acaso que muitos cérebros de Silicon Valley recusam dar tecnologia aos filhos pequenos. Como explica a neurociência, tudo o que não for usado e estimulado perde-se em anos críticos de formação. O resultado é já notório: as competências linguísticas e a capacidade de concentração estão a diminuir. Sim, estamos mesmo, como espécie, a ficar mais estúpidos.

Tudo isto acontece numa altura em que se vive uma revolução no mercado de trabalho, quando mentes brilhantes discutem os perigos da Inteligência Artificial (IA), que vem substituir funções até agora exclusivas dos humanos. Certo é que cada vez teremos mais máquinas a desempenhar mais tarefas diferentes – não se trata apenas dos trabalhos mecânicos ou repetitivos, mas de todos os que possam ser relacionáveis ou programáveis, inclusive através de machine learning. Sabe-se que 60% dos trabalhadores estão, hoje, em ocupações que não existiam em 1940, mas estima-se que a IA possa vir a substituir 300 milhões de empregos.

Neste mundo digital, as escolas têm de apostar naquilo que nos distingue verdadeiramente das máquinas. O saber escolástico e os métodos expositivos já não fazem sentido. É preciso mudar tudo. O ensino deve estimular a interação humana, a criatividade, a empatia, a experiência. A sua tarefa principal não pode ser debitar informação – essa está por todo o lado –, mas criar cidadãos que reflitam, que relacionem, que acrescentem, que idealizem, que se mexam. Tudo o que um ensino feito através de ecrãs não oferece.

P.S.: Há dois anos, partiu-se o tablet lá de casa, que era usado pela minha filha mais nova. Para seu desespero, optámos por não lhe dar outro. Hoje, com 9 anos, é ela a primeira a agradecer-nos: devora livros, pinta, pensa e está sempre a inventar coisas para fazer. Foi a melhor decisão educativa que tomei na vida.

O mundo não ficou chato, o mundo melhorou

"O mundo está muito chato. Não posso nem fazer piada que logo vem esse pessoal do mimimi reclamar." Você já deve ter se deparado com frases assim, que inundam as redes sociais e os comentários em portais, onde muitas pessoas manifestam nostalgia do que para elas foram "bons tempos". No caso, décadas atrás, quando muita coisa errada era considerada "de boa".

Nesse suposto "idílio", era comum andar com crianças no banco da frente do carro (sem cinto!) e fumando ao lado delas, chamar mulheres de "piranhas", e por aí vai. Ou seja, era um horror. Éramos muito ignorantes. E, mesmo assim, há quem tenha saudades.

Uma das grandes tristezas dos "nostálgicos do ódio" é o fato de que "hoje não podemos fazer piada com qualquer coisa". Essas pessoas sentem falta de quando era normal fazer "piada" racista, contra gays, contra mulheres ou contra pessoas com deficiência. Basicamente, sentem saudades de um tempo em que os preconceitos e o bullying eram liberados e nunca criticados. Era assim na minha escola nos anos 80 e acredito que em quase todas.


Hoje, as coisas mudaram. Racismo e piadas contra minorias não são mais aceitas. Acredito que a maioria de nós entendeu, finalmente, que rir da dor dos outros não tem graça, muito pelo contrário. É perigoso e leva a outros assédios.

Essa tomada de consciência faz com que algumas piadas, por exemplo, sejam consideradas inaceitáveis – também pela Justiça.

Foi o que aconteceu recentemente com o humorista politicamente incorreto Léo Lins, que faz muito sucesso com um humor baseado principalmente em piadas que envolvem racismo, pedofilia, mulheres, gays, pessoas com deficiência. Não vou reproduzi-las aqui, mas ele fez piada também com a morte de Marielle Franco e Isabella Nardoni, uma criança que foi assassinada. Um horror.

Não sou só eu que fiquei com enjoo ao assistir (por obrigação profissional) a seus vídeos no Youtube. A Justiça de São Paulo entendeu que seu conteúdo violava a lei e ordenou que o show "perturbador" fosse removido da plataforma.

A decisão causou polêmica. E, claro, logo se manifestaram os nostálgicos, os que sentem saudades do humor do bullying e da ofensa racial. "Que saudades da época em que podíamos chamar um negro de macaco sem sermos presos", devem pensar alguns.

E não, hoje não se pode, ainda bem. No Brasil, racismo é crime passível de prisão desde 1989. E, em janeiro deste ano, foi aprovada também uma lei que tipifica a injúria racial como crime de racismo. Ou seja, chamar de macaco pode (e deve) dar cadeia.

Isso não quer dizer, obviamente, que não existam mais racistas no Brasil e mundo afora. No último domingo, vimos as imagens tristes e revoltantes de torcedores de um estádio na Espanha chamando o jogador Vinicius Junior (o Vini Jr.) de "macaco", uma forma de racismo descarado, que não pode ser aceita de maneira alguma.

Muitos dos responsáveis pela partida, além de parte dos torcedores, devem fazer parte da turma dos racistas nostálgicos, já que Vini, a vítima, foi expulso de campo.

"Vou até o fim contra os racistas", disse o jogador, cheio de razão.

Apesar do absurdo ataque racista contra Vini Jr., muitas das reações a ele mostram que as coisas estão mudando. Enquanto na Espanha muitos diziam no Twitter que o jogador era "arrogante" e estava "fazendo drama", atletas e times do mundo todo apoiavam o brasileiro.

E, mais importante, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se manifestou, repudiou o caso e disse que entraria em contato com o governo espanhol. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participava de encontro do G7, repudiou o racismo contra o jogador. Ou seja, o caso virou uma questão, entre outras coisas, diplomática. Certíssimo.

Se fosse no passado, isso não teria acontecido. Sim, jovens, há não tanto tempo, chamar um negro de macaco era algo aceito.

Um exemplo: Mussum, dos Trapalhões, um dos personagens mais incríveis da infância de quem tem mais de 40 anos, era alvo de várias piadas racistas no programa.

Eu adorava os Trapalhões e nem me lembrava disso. Então, foi com certo choque que vi cenas antigas do seriado. Em uma delas, Didi e Dedé estão tentando consertar um carro quebrado, e, em certo momento, Didi fala: "Achei o macaco". Tratava-se de Mussum. Péssimo.

Esses tempos do passado eram bons? Sinto muito em dizer isso, mas só eram bons para os racistas. Espero que não seja o seu caso.