terça-feira, 5 de abril de 2016
Dilma, impeachment, golpe
É um país da América Latina, em recessão e com a inflação descontrolada. As denúncias de subornos em troca de favores políticos para empresários se multiplicam. Relutando a tomar parte de contratos ilícitos, o presidente do monopólio estatal de petróleo renuncia sob pressão de um assessor próximo do presidente. O caso chega ao Congresso, que inicia uma investigação. Vota-se a favor do julgamento político do próprio presidente da Nação. Este renuncia dois meses depois e assume o vice-presidente, um político de outro partido.
Parece algo conhecido? Trata-se do Brasil, claro, só que em 1992. Aquela história chegou ao Congresso por meio de investigações jornalísticas. O presidente Collor, da direita do Estado de Alagoas, alegou que a coerção da mídia e dos partidos de oposição –o paulista PT, entre eles– era um golpe de Estado. Foi um recurso discursivo para minimizar o protesto das ruas que pedia sua destituição. Foi em vão.
Qualquer semelhança com o presente não é coincidência. Aquele intelectual que dizia que a história sempre ocorre duas vezes estava errado: ambas as ocasiões podem ser trágicas. Alguém neste século plagiou o script de 1992 e o pôs diante do espelho. Nele, o que está à esquerda se vê à direita, e vice-versa; o resto é idêntico. Exceto as cifras da corrupção, claro, que vão dos 2,5 milhões de dólares (8,9 milhões de reais) do jardim de Collor, sua própria Babilônia em Brasília, aos 2 bilhões (7,1 bilhões de reais) da Petrobras sob o PT.
O Brasil modelo 2016 fala ao restante da América Latina. Os golpes militares são relíquias do passado, mas não a fragilidade institucional e sua consequente instabilidade. De fato, desde as transições dos anos oitenta, 20 presidentes da região não completaram o mandato, a maioria deles sem intervenção militar alguma. Somente dois foram vítimas de um golpe militar clássico.
Alguns foram depostos por impeachment, como Collor e Carlos Andrés Pérez na Venezuela. Outros por uma crise na coalizão de governo, como Lugo no Paraguai. Também há os que renunciaram ante revoltas da população contra a corrupção, como Pérez Molina na Guatemala, ou por uma profunda crise econômica, como De la Rúa, na Argentina. Para alguns especialistas essas crises seriam evitadas com um sistema parlamentar. Outros veem nesses presidencialismos menos rígidos uma capacidade autocorretiva própria da democracia.
“Se trata-se de um golpe, o golpe foi o próprio Lula quem deu, empurrando a presidenta ao precipício ao se fazer blindar com um cargo de ministro"
Em todos esses casos se vê o DNA da política latino-americana, essa incapacidade congênita de respeitar as regras do jogo. É uma região de presidentes que se vão antes do estipulado, impotentes para resolver as crises políticas que eles mesmos causam, ou então que ficam mais tempo do que o devido, bem capazes de transformar a Constituição em um traje feito sob sua medida. Cenários diferentes, são ambos igualmente propícios para a arbitrariedade, o abuso do poder e, quase inevitavelmente, a corrupção generalizada, sobretudo quando há abundantes recursos como durante o boom de preços, agora esgotado.
Por essa fossa escorre a institucionalidade democrática. Assim é a crise brasileira, apesar de toda a cacofonia sobre um suposto golpe institucional, constitucional e outros eufemismos oximorônicos. Miopia analítica ou ingenuidade, senão uma deliberada intencionalidade política, o argumento do golpe é funcional para um governismo posto contra as cordas por uma economia em crise, um furacão de denúncias e uma sociedade enfastiada.
Ocorre que, se trata-se de golpe, o golpe foi o próprio Lula quem deu, empurrando Dilma ao precipício ao se fazer blindar com um cargo de ministro. Falar de golpe é colocar um véu fictício na mais importante responsabilidade nesta crise: a do partido do Governo ante fraudes de bilhões de dólares contra o Estado. Se esta crise é um golpe, Marcelo Odebrecht seria um preso político. E para que o PT fale de golpe, antes deveria reconhecer sua participação naquele “golpe” –enfatizo as aspas– contra Collor, hoje, curiosamente, um aliado.
Só se trata de uma decomposição que se prolonga por tempo indefinido, o que é suficientemente grave. Não em vão o mais lúcido estadista de toda a América Latina, Fernando Henrique Cardoso, cobrou de Dilma um gesto de grandeza –a renúncia– ante sua evidente incapacidade de continuar governando. E por certo não se tratou da recomendação de um golpista de direita.
É a sétima economia do planeta, primeira da região. É a nação indispensável para o investimento e o comércio hemisférico, para mediar a crise venezuelana e para fortalecer o sistema interamericano. Com um Brasil instável, além disso, a mudança de ciclo de preços internacionais causará estragos em todas as economias da região. Resolver a crise do Brasil é uma prioridade para toda a América Latina.
Parece algo conhecido? Trata-se do Brasil, claro, só que em 1992. Aquela história chegou ao Congresso por meio de investigações jornalísticas. O presidente Collor, da direita do Estado de Alagoas, alegou que a coerção da mídia e dos partidos de oposição –o paulista PT, entre eles– era um golpe de Estado. Foi um recurso discursivo para minimizar o protesto das ruas que pedia sua destituição. Foi em vão.
Qualquer semelhança com o presente não é coincidência. Aquele intelectual que dizia que a história sempre ocorre duas vezes estava errado: ambas as ocasiões podem ser trágicas. Alguém neste século plagiou o script de 1992 e o pôs diante do espelho. Nele, o que está à esquerda se vê à direita, e vice-versa; o resto é idêntico. Exceto as cifras da corrupção, claro, que vão dos 2,5 milhões de dólares (8,9 milhões de reais) do jardim de Collor, sua própria Babilônia em Brasília, aos 2 bilhões (7,1 bilhões de reais) da Petrobras sob o PT.
Alguns foram depostos por impeachment, como Collor e Carlos Andrés Pérez na Venezuela. Outros por uma crise na coalizão de governo, como Lugo no Paraguai. Também há os que renunciaram ante revoltas da população contra a corrupção, como Pérez Molina na Guatemala, ou por uma profunda crise econômica, como De la Rúa, na Argentina. Para alguns especialistas essas crises seriam evitadas com um sistema parlamentar. Outros veem nesses presidencialismos menos rígidos uma capacidade autocorretiva própria da democracia.
“Se trata-se de um golpe, o golpe foi o próprio Lula quem deu, empurrando a presidenta ao precipício ao se fazer blindar com um cargo de ministro"
Em todos esses casos se vê o DNA da política latino-americana, essa incapacidade congênita de respeitar as regras do jogo. É uma região de presidentes que se vão antes do estipulado, impotentes para resolver as crises políticas que eles mesmos causam, ou então que ficam mais tempo do que o devido, bem capazes de transformar a Constituição em um traje feito sob sua medida. Cenários diferentes, são ambos igualmente propícios para a arbitrariedade, o abuso do poder e, quase inevitavelmente, a corrupção generalizada, sobretudo quando há abundantes recursos como durante o boom de preços, agora esgotado.
Por essa fossa escorre a institucionalidade democrática. Assim é a crise brasileira, apesar de toda a cacofonia sobre um suposto golpe institucional, constitucional e outros eufemismos oximorônicos. Miopia analítica ou ingenuidade, senão uma deliberada intencionalidade política, o argumento do golpe é funcional para um governismo posto contra as cordas por uma economia em crise, um furacão de denúncias e uma sociedade enfastiada.
Ocorre que, se trata-se de golpe, o golpe foi o próprio Lula quem deu, empurrando Dilma ao precipício ao se fazer blindar com um cargo de ministro. Falar de golpe é colocar um véu fictício na mais importante responsabilidade nesta crise: a do partido do Governo ante fraudes de bilhões de dólares contra o Estado. Se esta crise é um golpe, Marcelo Odebrecht seria um preso político. E para que o PT fale de golpe, antes deveria reconhecer sua participação naquele “golpe” –enfatizo as aspas– contra Collor, hoje, curiosamente, um aliado.
Só se trata de uma decomposição que se prolonga por tempo indefinido, o que é suficientemente grave. Não em vão o mais lúcido estadista de toda a América Latina, Fernando Henrique Cardoso, cobrou de Dilma um gesto de grandeza –a renúncia– ante sua evidente incapacidade de continuar governando. E por certo não se tratou da recomendação de um golpista de direita.
É a sétima economia do planeta, primeira da região. É a nação indispensável para o investimento e o comércio hemisférico, para mediar a crise venezuelana e para fortalecer o sistema interamericano. Com um Brasil instável, além disso, a mudança de ciclo de preços internacionais causará estragos em todas as economias da região. Resolver a crise do Brasil é uma prioridade para toda a América Latina.
O Brasil dá adeus a Lula
Assistimos aos últimos dias do projeto criminoso no poder. O país padeceu durante treze anos de uma forma de ação política que associou o velho coronelismo tupiniquim ao leninismo — e com toques de um stalinismo tropical, mais suave, porém mais eficaz. Ainda não sabemos — dada a proximidade histórica — quais os efeitos duradouros deste tipo de domínio que levou à tomada do aparelho de Estado e de seus braços por milhares de funcionários-militantes, que transformaram a ação estatal em correia de transmissão do projeto petista, criminoso em sua ação e devastador na destruição do patrimônio nacional.
Ainda na esfera do STF, causa preocupação o seu protagonismo em um processo estritamente político como é o impeachment. Não cabe à Suprema Corte decidir o andamento interno e o debate congressual do impeachment. O STF não pode, em nenhuma hipótese, se transformar no Poder Moderador — de triste memória, basta recordar os artigos 98-101 da Constituição de 1824. E nem desempenhar o papel que o Exército teve nas crises políticas desde a proclamação da República até a promulgação da Constituição de 1988. Em outras palavras, o STF não pode ser a carta na mão de golpistas, que a colocam na mesa quando estão correndo risco de derrota. Judicializar o impeachment é agravar ainda mais a crise e jogar o país no caos social e político.
A solução do impasse político é no Parlamento — e com a participação das ruas. A manifestação de 13 de março — a maior da história do Brasil — impediu uma saída negociada do projeto criminoso do poder. O sinal das ruas foi claro: fora Dilma e Lula na cadeia. A estas duas palavras de ordem, as ruas reforçaram ainda mais a necessidade imperiosa de continuidade da Lava-Jato até o final. O impulso popular levou o PMDB a mudar radicalmente de posição, basta recordar a dúbia decisão tomada a 12 de março — de independência — e a meteórica reunião de 29 de março, quando rompeu com o governo.
A participação das ruas na política brasileira inaugurou um novo momento na nossa história. É incrível o desinteresse da universidade em estudar o fenômeno representado, entre outros, pelos movimentos Vem pra Rua e Brasil Livre. Ao invés de enfrentar este desafio interpretativo, os docentes das instituições públicas organizam atos e manifestos em defesa de um governo corrupto, antibrasileiro e criminoso. É a apologia ao crime — e paga com dinheiro público.
A resposta do projeto criminoso de poder foi pífia. Tentou de todas as formas organizar manifestações para demonstrar que ainda domina as ruas e tem apoio popular. Fracassou. Mesmo utilizando-se de fartos recursos públicos, de partidos políticos, centrais sindicais pelegas e contando com setores da imprensa para inflar o número de participantes. Pior foram os comícios realizados no Palácio do Planalto. Nunca a sede do Executivo Federal assistiu aos tristes espetáculos de incitação à violência, de ameaça à propriedade privada e ao rompimento da ordem legal. E contando com a conivência de Dilma. Lula, o presidente de fato, optou por permanecer em uma suíte de hotel, em Brasília, de onde governa o Brasil, como se a ficção dos clássicos da literatura latinoamericana — “A hora do bode”, de Mário Vargas Llosa, entre outros — fosse transformada em realidade.
Neste momento decisivo da vida nacional é necessário evitar cair nas armadilhas produzidas à exaustão pelo projeto criminoso de poder. Num dia insinuam que adotarão o Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição), noutro que vão antecipar a eleição presidencial, depois que contam com um número confortável de deputados para impedir a abertura do processo de impeachment, ou que o Senado vai rejeitar a decisão da Câmara. E mais: que a saída de Dilma vai produzir uma grave crise social. Falácias. É o desespero, pois se avizinha — ainda neste mês — a derrota acachapante do petismo.
A hora do acerto de contas político está chegando. Manter o respeito à lei, à ordem e à Constituição é essencial. Lula — que é quem, de fato, vai ser “impechado” — agirá para desestabilizar o processo democrático, como se fosse um general abandonando território conquistado. Destruirá o que for possível destruir. Não deixará pedra sobre pedra — daí a necessidade da sua prisão, pois solto coloca em risco a ordem pública, desrespeita as instituições e ameaça o país com uma guerra civil. Quer transformar a sua derrota em um cataclismo nacional. Não vai conseguir. A desmoralização da política não pode chegar ao ponto de dar a ele o direito de decidir que vai incendiar o país. Ele sabe que, desta vez, como se diz popularmente, a crise não vai acabar em pizza — ou na rota do frango com polenta, em São Bernardo do Campo. Vai terminar em sushi.
Marco Antonio Villa
É nesta conjuntura — a mais grave da história do Brasil republicano — que as nossas instituições vão ser efetivamente testadas. Até o momento, uma delas, o Supremo Tribunal Federal, ainda não passou no exame. Muito pelo contrário. Inventou um rito de impeachment que viola a Constituição. Sim, viola a Constituição. Deu ao Senado o “direito” de votar se aceita a abertura de processo aprovada pela Câmara, o que afronta os artigos 51 e 52 da Constituição. E interferiu até na composição da comissão processante da Câmara. Pior deverá ser a concessão de foro privilegiado e, mais ainda, do cargo de ministro Chefe da Casa Civil a Luís Inácio Lula da Silva. Caso isso ocorra — e saberemos nesta semana — o STF deixará de ser um poder independente e passará a ser um mero puxadinho do Palácio do Planalto, uma Suprema Corte ao estilo da antiga URSS.
Ainda na esfera do STF, causa preocupação o seu protagonismo em um processo estritamente político como é o impeachment. Não cabe à Suprema Corte decidir o andamento interno e o debate congressual do impeachment. O STF não pode, em nenhuma hipótese, se transformar no Poder Moderador — de triste memória, basta recordar os artigos 98-101 da Constituição de 1824. E nem desempenhar o papel que o Exército teve nas crises políticas desde a proclamação da República até a promulgação da Constituição de 1988. Em outras palavras, o STF não pode ser a carta na mão de golpistas, que a colocam na mesa quando estão correndo risco de derrota. Judicializar o impeachment é agravar ainda mais a crise e jogar o país no caos social e político.
A solução do impasse político é no Parlamento — e com a participação das ruas. A manifestação de 13 de março — a maior da história do Brasil — impediu uma saída negociada do projeto criminoso do poder. O sinal das ruas foi claro: fora Dilma e Lula na cadeia. A estas duas palavras de ordem, as ruas reforçaram ainda mais a necessidade imperiosa de continuidade da Lava-Jato até o final. O impulso popular levou o PMDB a mudar radicalmente de posição, basta recordar a dúbia decisão tomada a 12 de março — de independência — e a meteórica reunião de 29 de março, quando rompeu com o governo.
A participação das ruas na política brasileira inaugurou um novo momento na nossa história. É incrível o desinteresse da universidade em estudar o fenômeno representado, entre outros, pelos movimentos Vem pra Rua e Brasil Livre. Ao invés de enfrentar este desafio interpretativo, os docentes das instituições públicas organizam atos e manifestos em defesa de um governo corrupto, antibrasileiro e criminoso. É a apologia ao crime — e paga com dinheiro público.
A resposta do projeto criminoso de poder foi pífia. Tentou de todas as formas organizar manifestações para demonstrar que ainda domina as ruas e tem apoio popular. Fracassou. Mesmo utilizando-se de fartos recursos públicos, de partidos políticos, centrais sindicais pelegas e contando com setores da imprensa para inflar o número de participantes. Pior foram os comícios realizados no Palácio do Planalto. Nunca a sede do Executivo Federal assistiu aos tristes espetáculos de incitação à violência, de ameaça à propriedade privada e ao rompimento da ordem legal. E contando com a conivência de Dilma. Lula, o presidente de fato, optou por permanecer em uma suíte de hotel, em Brasília, de onde governa o Brasil, como se a ficção dos clássicos da literatura latinoamericana — “A hora do bode”, de Mário Vargas Llosa, entre outros — fosse transformada em realidade.
Neste momento decisivo da vida nacional é necessário evitar cair nas armadilhas produzidas à exaustão pelo projeto criminoso de poder. Num dia insinuam que adotarão o Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição), noutro que vão antecipar a eleição presidencial, depois que contam com um número confortável de deputados para impedir a abertura do processo de impeachment, ou que o Senado vai rejeitar a decisão da Câmara. E mais: que a saída de Dilma vai produzir uma grave crise social. Falácias. É o desespero, pois se avizinha — ainda neste mês — a derrota acachapante do petismo.
A hora do acerto de contas político está chegando. Manter o respeito à lei, à ordem e à Constituição é essencial. Lula — que é quem, de fato, vai ser “impechado” — agirá para desestabilizar o processo democrático, como se fosse um general abandonando território conquistado. Destruirá o que for possível destruir. Não deixará pedra sobre pedra — daí a necessidade da sua prisão, pois solto coloca em risco a ordem pública, desrespeita as instituições e ameaça o país com uma guerra civil. Quer transformar a sua derrota em um cataclismo nacional. Não vai conseguir. A desmoralização da política não pode chegar ao ponto de dar a ele o direito de decidir que vai incendiar o país. Ele sabe que, desta vez, como se diz popularmente, a crise não vai acabar em pizza — ou na rota do frango com polenta, em São Bernardo do Campo. Vai terminar em sushi.
Marco Antonio Villa
O PT e o governo legitimaram "o golpe". Ou melhor: o impeachment
Quem decide se Dilma deverá permanecer no cargo ou se afastar dele até ser julgada pelo Senado? A Câmara dos Deputados. Está escrito na Constituição.
Como pode ser chamada de golpe uma eventual decisão da Câmara a favor do afastamento de Dilma, e uma posterior decisão do Senado que casse os direitos políticos dela e o mandato?
Tanto não é golpe o que está em curso no Congresso que a defesa de Dilma foi apresentada, ontem, na Comissão Especial do Impeachment da Câmara pelo Advogado-Geral da União, o ministro José Eduardo Cardoso, ex-ministro da Justiça.
Ninguém se defende de golpe no ambiente em que ele foi tramado e aonde será decidido. De resto, não existe golpe, golpe digno de ser chamado por esse nome, se feito às claras, com regras definidas pelo Supremo Tribunal Federal, com direito a manifestações de ruas favoráveis ou contrárias a ele, e acompanhado em tempo real por todos os meios.
Esse é o principal ponto fraco, o que na verdade desmoraliza a tese de golpe esgrimida por todos os que defendem um governo paralisado por seus erros e pelos efeitos dos seus erros. Um governo que já não governa.
Quem primeiro, digamos assim, legitimou o “golpe” foi o PT e seus aliados quando aprovaram a composição da Comissão Especial do Impeachment da Câmara e indicaram seus representantes para fazer parte dela.
Naquela ocasião poderiam ter se recusado a aprovar a composição – mas, não, avalizaram-na pela unanimidade dos seus votos. Não perderiam o direito de indicar depois o mesmo número de representantes para integrá-la e defender o governo.
Indiretamente, Dilma também legitimou o impeachment ao convocar Lula para ser ministro da Casa Civil e impedir a sua queda.
Dilma e Lula legitimam o que apontam como golpe ao oferecer cargos, liberação de emendas parlamentares ao Orçamento da União e outras sinecuras a deputados que os ajudem a enterrar o impeachment.
Cardozo valeu-se de todos os recursos de um bom advogado para negar que “pedaladas fiscais” configurem crime de responsabilidade como está previsto na Constituição. E para apresentar as “pedaladas” como se, no máximo, não passagem de um “desrespeito tangencial” à Constituição, não um atentado contra o que está escrito na Constituição.
Em resumo, o que Cardozo disse com outras palavras: o processo de impeachment só não será um golpe se acabar arquivado pela Câmara. Ou pelo Senado mais tarde. Se dele resultar a deposição de Dilma, terá sido um golpe.
Ora, ora, ora...
Mais respeito pela inteligência alheia!
Como pode ser chamada de golpe uma eventual decisão da Câmara a favor do afastamento de Dilma, e uma posterior decisão do Senado que casse os direitos políticos dela e o mandato?
Tanto não é golpe o que está em curso no Congresso que a defesa de Dilma foi apresentada, ontem, na Comissão Especial do Impeachment da Câmara pelo Advogado-Geral da União, o ministro José Eduardo Cardoso, ex-ministro da Justiça.
Esse é o principal ponto fraco, o que na verdade desmoraliza a tese de golpe esgrimida por todos os que defendem um governo paralisado por seus erros e pelos efeitos dos seus erros. Um governo que já não governa.
Quem primeiro, digamos assim, legitimou o “golpe” foi o PT e seus aliados quando aprovaram a composição da Comissão Especial do Impeachment da Câmara e indicaram seus representantes para fazer parte dela.
Naquela ocasião poderiam ter se recusado a aprovar a composição – mas, não, avalizaram-na pela unanimidade dos seus votos. Não perderiam o direito de indicar depois o mesmo número de representantes para integrá-la e defender o governo.
Indiretamente, Dilma também legitimou o impeachment ao convocar Lula para ser ministro da Casa Civil e impedir a sua queda.
Dilma e Lula legitimam o que apontam como golpe ao oferecer cargos, liberação de emendas parlamentares ao Orçamento da União e outras sinecuras a deputados que os ajudem a enterrar o impeachment.
Cardozo valeu-se de todos os recursos de um bom advogado para negar que “pedaladas fiscais” configurem crime de responsabilidade como está previsto na Constituição. E para apresentar as “pedaladas” como se, no máximo, não passagem de um “desrespeito tangencial” à Constituição, não um atentado contra o que está escrito na Constituição.
Em resumo, o que Cardozo disse com outras palavras: o processo de impeachment só não será um golpe se acabar arquivado pela Câmara. Ou pelo Senado mais tarde. Se dele resultar a deposição de Dilma, terá sido um golpe.
Ora, ora, ora...
Mais respeito pela inteligência alheia!
Lula quer Judiciário, Congresso, imprensa, empresários e sociedade de joelhos
O investigado Luiz Inácio Lula da Silva comandou nesta segunda-feira mais um ato golpista no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Aquele que é chamado, pela imprensa internacional, de presidente “de facto” — sinônimo de ditador — atacou o vice-presidente da República, Michel Temer, falou como chefe de governo e criticou a imprensa e os mercados.
Lula decidiu, em suma, chantagear todo o processo político. Caiu nos braços de suas milícias e acha que, com elas, vai emparedar a Câmara, o Senado, o Judiciário, o empresariado, a esmagadora maioria dos brasileiros que quer o impeachment e a imprensa. Agora, é Lula contra o Brasil.
Referindo-se ao vice, afirmou: “Não tenho nada contra Michel Temer. A única coisa que poderia falar é ‘companheiro Temer, se você quer ser presidente, dispute a eleição, meu filho'”. E mais: “Vai para rua pedir voto para você. Esse negócio de pensar em encontrar o caminho para chegar lá não dá certo”.
É um boquirroto. Eis o homem que, hoje, de um quarto de hotel em Brasília, como se o país fosse um lupanar, vai comprando os serviços daqueles e daquelas que passam lá para se oferecer. É um troço asqueroso. Comecemos pelo óbvio: Temer foi eleito. Suceder a presidente é uma disposição constitucional. Cabe a pergunta: e ele próprio, Lula, foi eleito por quem? Que se saiba, é hoje um dos campeões da rejeição, não é mesmo?
Um pouco antes, Vagner Freitas, aquele que, dentro do Palácio do Planalto, afirmara que se entrincheiraria, de arma na mão, se houvesse impeachment, havia chamado Temer de “golpista”.
Notem, então, para onde Lula e Dilma estão empurrando as instituições: o vice eleito, segundo as regras da Constituição, é tratado e chamado de golpista, e aquele que comanda a patuscada, sem ter sido eleito por ninguém, é o dono hoje de centenas de cargos da República para distribuí-los entre aqueles que lá comparecem para se vender.
Lula deixou claro que passará a ser, se ministro, o comandante também da economia: “Eu disse para companheira Dilma: ‘Venho para cá [para o governo], mas temos que saber que é preciso dar uma certa consertada na política econômica’.
No mesmo dia em que afirmou que pretende propor uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, hostilizou os mercados: “É importante conversar com mercado. Mas nosso mercado é povo trabalhador. Não adianta agradar. Quanto mais a gente agrada, mais a capa da revista bate. Mais sai porrada na TV e nos jornais”.
Entenderam? O discurso é da mais pura extração chavista. Caso o Brasil perca a batalha para Lula, dá para imaginar o que vem. Mesmo sabendo que há manifestações já marcadas pelos defensores do impeachment para o dia da votação na Câmara, provavelmente 15 de abril, convocou manifestações de rua.
Lula, este irresponsável, acha que ainda está nos estertores da ditadura, quando seus adversários de rua praticamente inexistiam, a não ser as forças militares, ou no impeachment de Collor, em 1992, quando, mais uma vez, só havia um lado se manifestando. Agora ele decidiu intimidar também o povo brasileiro.
Suas delinquências intelectuais não pouparam, mais uma vez, FHC. Contou: “Fomos tirados pela polícia em 1979 [do sindicato em São Bernardo]. Fui deitar às 2 horas. Quem veio me fazer uma visita foi o cientista político Fernando Henrique Cardoso. Ele me disse: ‘Não tem como a polícia invadir aqui’. Foi embora, e a polícia invadiu. Significa que nem todo cientista político tem a precisão das palavras. Eu poderia falar como Tite: fala muito, Fenando”.
É nojento! Até porque é bom que se saiba: FHC correu bem mais riscos do que Lula no período do golpe e teve punição mais severa: foi cassado pelo AI-5. A história, como a conta o petista, faz supor que FHC fez corpo mole diante da ditadura. Trata-se de uma mentira abjeta.
Ao lado de chefão do PT, que falava como presidente “de facto”, Gilmar Mauro, líder do MST, ameaçou o país com o caos caso haja impeachment.
Eis a democracia segundo a entende Luiz Inácio Lula da Silva.
Atenção! Quem viveu sabe, e eu vivi. Lula não falou essa linguagem nem nos estertores do regime militar. Este senhor, para ameaçar a democracia, está tendo a coragem que não teve para ameaçar a ditadura.
Reitero o que já escrevi: ou Lula se verga ao Estado de Direito, ou o Brasil se ajoelha diante do seu tirano.
Lula decidiu, em suma, chantagear todo o processo político. Caiu nos braços de suas milícias e acha que, com elas, vai emparedar a Câmara, o Senado, o Judiciário, o empresariado, a esmagadora maioria dos brasileiros que quer o impeachment e a imprensa. Agora, é Lula contra o Brasil.
Referindo-se ao vice, afirmou: “Não tenho nada contra Michel Temer. A única coisa que poderia falar é ‘companheiro Temer, se você quer ser presidente, dispute a eleição, meu filho'”. E mais: “Vai para rua pedir voto para você. Esse negócio de pensar em encontrar o caminho para chegar lá não dá certo”.
Um pouco antes, Vagner Freitas, aquele que, dentro do Palácio do Planalto, afirmara que se entrincheiraria, de arma na mão, se houvesse impeachment, havia chamado Temer de “golpista”.
Notem, então, para onde Lula e Dilma estão empurrando as instituições: o vice eleito, segundo as regras da Constituição, é tratado e chamado de golpista, e aquele que comanda a patuscada, sem ter sido eleito por ninguém, é o dono hoje de centenas de cargos da República para distribuí-los entre aqueles que lá comparecem para se vender.
Lula deixou claro que passará a ser, se ministro, o comandante também da economia: “Eu disse para companheira Dilma: ‘Venho para cá [para o governo], mas temos que saber que é preciso dar uma certa consertada na política econômica’.
No mesmo dia em que afirmou que pretende propor uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, hostilizou os mercados: “É importante conversar com mercado. Mas nosso mercado é povo trabalhador. Não adianta agradar. Quanto mais a gente agrada, mais a capa da revista bate. Mais sai porrada na TV e nos jornais”.
Entenderam? O discurso é da mais pura extração chavista. Caso o Brasil perca a batalha para Lula, dá para imaginar o que vem. Mesmo sabendo que há manifestações já marcadas pelos defensores do impeachment para o dia da votação na Câmara, provavelmente 15 de abril, convocou manifestações de rua.
Lula, este irresponsável, acha que ainda está nos estertores da ditadura, quando seus adversários de rua praticamente inexistiam, a não ser as forças militares, ou no impeachment de Collor, em 1992, quando, mais uma vez, só havia um lado se manifestando. Agora ele decidiu intimidar também o povo brasileiro.
Suas delinquências intelectuais não pouparam, mais uma vez, FHC. Contou: “Fomos tirados pela polícia em 1979 [do sindicato em São Bernardo]. Fui deitar às 2 horas. Quem veio me fazer uma visita foi o cientista político Fernando Henrique Cardoso. Ele me disse: ‘Não tem como a polícia invadir aqui’. Foi embora, e a polícia invadiu. Significa que nem todo cientista político tem a precisão das palavras. Eu poderia falar como Tite: fala muito, Fenando”.
É nojento! Até porque é bom que se saiba: FHC correu bem mais riscos do que Lula no período do golpe e teve punição mais severa: foi cassado pelo AI-5. A história, como a conta o petista, faz supor que FHC fez corpo mole diante da ditadura. Trata-se de uma mentira abjeta.
Ao lado de chefão do PT, que falava como presidente “de facto”, Gilmar Mauro, líder do MST, ameaçou o país com o caos caso haja impeachment.
Eis a democracia segundo a entende Luiz Inácio Lula da Silva.
Atenção! Quem viveu sabe, e eu vivi. Lula não falou essa linguagem nem nos estertores do regime militar. Este senhor, para ameaçar a democracia, está tendo a coragem que não teve para ameaçar a ditadura.
Reitero o que já escrevi: ou Lula se verga ao Estado de Direito, ou o Brasil se ajoelha diante do seu tirano.
Qual dos males é o pior?
Eu tenho um pesadelo. Sonho que esta crise não vai passar nunca, que ela se estenderá para além de impeachment ou não impeachment. A resistência do atraso é uma força da natureza. Eu tenho o pesadelo de que nós vamos continuar assim: “Com anestesia, mas sem cirurgia”. Eu tenho o pesadelo que, depois das mãos limpas, voltem as mãos sujas. Eu tenho a impressão de que estamos apenas cumprindo nosso destino traçado há 500 anos. Eu tenho medo que esta primavera de verdades da Lava Jato seja apenas uma utopia. Tenho medo de que toda essa crise política seja uma porta aberta para o nada.
Tenho muito medo de que nós não tenhamos a capacidade de nos regenerar; com que forças poderemos reverter os estragos já feitos? Teremos capacidade de regeneração? Será que vai se cumprir a conhecida (e terrível) profecia de Claude Lévi-Strauss, que aqui estudou nossas doenças, de que “o Brasil vai sair da barbárie para a decadência, sem conhecer a civilização”?
O patrimonialismo, esse adultério secular entre o privado e o público, a corrupção endêmica e o Estado como caverna de ladrões estão entranhados em nossas almas como um tumor inoperável.
Tenho medo. Todos os nossos problemas arcaicos estão vindo à tona provocados pela esculhambação que o PT produziu com dedicação e método. Eles são seculares e contam com a profunda maré de estupidez e oportunismo que nos move há séculos.
Estamos diante do sim e do não. Se Dilma sair deixando em seu lugar o Temer e seu PMDB, é quase certo de que, em curto prazo, não conseguirão melhorar a situação do Brasil. Quem vai fazer a reforma da Previdência, a tributária, quem vai atacar a burocracia, quem despedirá os milhares de vagabundos aparelhados no governo, quem vai segurar a inflação que está voltando?
O estrago deixado pelos utópicos ladrões criou um emaranhado de incógnitas que se embaralham num nó de cama de gato, nó que espada alguma corta.
E diante desse nó histórico, o PMDB se posta, trêmulo de orgulho e poder. Se o Temer entrar, talvez tenhamos um brevíssimo progresso ético. Mas, logo, logo, depois das emoções de calouros, eles se dedicarão a tomar medidas que voltarão a impedir o Brasil de melhorar. E vejam bem, (como dizem os petistas), vejam bem: depois de impeachment, o PMDB, com seus inúmeros indiciados e culpados, vai jogar todas suas forças para arrasar a operação Lava Jato, nosso único motivo de orgulho. Então descobriremos que assim como o atraso era um pretexto para o PT, para o PMDB o atraso é um desejo. Quando acabará esse pesadelo que percorre os céus de Brasília, esse grande comboio de cafajestes portando a bandeira brasileira, com sua feiura, seus rostos cobiçosos, egoístas e caretas, seus podres desejos, suas barrigas, suas gargalhadas infinitas, como zumbis de cabelo acaju e pretos flutuando em torno dos Três Poderes?
Meu Deus, que desgraça nos aconteceu!
O PT e aliados tiveram condições perfeitas para melhorar o país: dinheiro entrando para os emergentes, apoio total no Congresso, apoio da população, e nada – não fizeram porra nenhuma. Só agiram para ficar no poder. Eles não foram propriamente “eleitos”. Eles “tomaram” o país. Isso foi um crime histórico.
Qual dos males é o pior?
Se houver o impeachment, o PT empunhará gostosamente a bandeira do “quanto pior, melhor”.
Como a tragédia que criaram se arrastará por anos, a situação pós-impeachment será o paraíso do Lula. Ele e o PT serão os mártires (como chamam) da “direita-neoliberal-fascista da mídia-imperialista e conservadora dos coxinhas do mal que querem a fome do povo”. Seus guerreiros infernizarão o país contra qualquer ajuste na economia. Vão ignorar o abismo contábil em que caímos e voltar os chifres contra o “capitalismo”, apoiados por nossos intelectuais que nunca entenderam que o capitalismo não é um regime político, mas um modo de produção. Artistas, teóricos, cães de guarda da fé preferem que o país acabe a esquecer a religião que os absolve e justifica. E Lula vai deitar e rolar nessa condição que ele ama: vítima, pobre operário do bem que foi destruído pela burguesia.
E se bobear será eleito em 2018 como pai da pátria, o salvador dos aflitos e dos desempregados que ele mesmo criou, o salvador da República que ele mesmo arrasou.
Isso acontecerá, a menos que haja fatos novos graves como parece ser a exumação do cadáver de
Celso Daniel (aliás, ato falho de Edinho Silva quando disse que, se não houver entendimento, vai aparecer um cadáver?). Nesse sentido talvez seja melhor não haver impeachment, porque talvez o Brasil precise se ferrar ainda mais antes de melhorar. Com Dilma até o fim do mandato, em dois anos e meio apodrece tudo, e a verdade imunda que montaram aparecerá. Vejam aonde chegamos: talvez precisemos de mais desgraça ainda para nos salvar em nossa “jornada de imbecis até o entendimento”. As classes médias já estão politizadas mais do que eram, mas os canalhas contam com a absoluta ignorância do povo, sua base eleitoral.
No tempo de FHC, foram construídas pontes e ajustes para regenerar o país. Isso foi destruído, em nome de um comunismo de galinheiro.
Tenho medo de que o Brasil vire uma república desértica, com pouca ilhas de progresso, sem rumo histórico, com tribos soltas, perdidas como na África ou na solidão asiática. Temo que a União se desfaça e se crie um país sem identidade, sem orgulho, sem projeto. Talvez fique um país no eterno pântano em que estamos hoje.
Espero que nossas desilusões nos mostrem que o Brasil tem uma história que anda de costas, evoluindo pelo que perde, não pelo que ganha. Espero, ao menos, isso.
O Brasil se revelará por subtração; não por soma. Chegaremos a uma ideia de país quando as desilusões chegarem ao ponto zero. E então descobriremos que esse resto somos nós.
Tenho muito medo de que nós não tenhamos a capacidade de nos regenerar; com que forças poderemos reverter os estragos já feitos? Teremos capacidade de regeneração? Será que vai se cumprir a conhecida (e terrível) profecia de Claude Lévi-Strauss, que aqui estudou nossas doenças, de que “o Brasil vai sair da barbárie para a decadência, sem conhecer a civilização”?
O patrimonialismo, esse adultério secular entre o privado e o público, a corrupção endêmica e o Estado como caverna de ladrões estão entranhados em nossas almas como um tumor inoperável.
Estamos diante do sim e do não. Se Dilma sair deixando em seu lugar o Temer e seu PMDB, é quase certo de que, em curto prazo, não conseguirão melhorar a situação do Brasil. Quem vai fazer a reforma da Previdência, a tributária, quem vai atacar a burocracia, quem despedirá os milhares de vagabundos aparelhados no governo, quem vai segurar a inflação que está voltando?
O estrago deixado pelos utópicos ladrões criou um emaranhado de incógnitas que se embaralham num nó de cama de gato, nó que espada alguma corta.
E diante desse nó histórico, o PMDB se posta, trêmulo de orgulho e poder. Se o Temer entrar, talvez tenhamos um brevíssimo progresso ético. Mas, logo, logo, depois das emoções de calouros, eles se dedicarão a tomar medidas que voltarão a impedir o Brasil de melhorar. E vejam bem, (como dizem os petistas), vejam bem: depois de impeachment, o PMDB, com seus inúmeros indiciados e culpados, vai jogar todas suas forças para arrasar a operação Lava Jato, nosso único motivo de orgulho. Então descobriremos que assim como o atraso era um pretexto para o PT, para o PMDB o atraso é um desejo. Quando acabará esse pesadelo que percorre os céus de Brasília, esse grande comboio de cafajestes portando a bandeira brasileira, com sua feiura, seus rostos cobiçosos, egoístas e caretas, seus podres desejos, suas barrigas, suas gargalhadas infinitas, como zumbis de cabelo acaju e pretos flutuando em torno dos Três Poderes?
Meu Deus, que desgraça nos aconteceu!
O PT e aliados tiveram condições perfeitas para melhorar o país: dinheiro entrando para os emergentes, apoio total no Congresso, apoio da população, e nada – não fizeram porra nenhuma. Só agiram para ficar no poder. Eles não foram propriamente “eleitos”. Eles “tomaram” o país. Isso foi um crime histórico.
Qual dos males é o pior?
Se houver o impeachment, o PT empunhará gostosamente a bandeira do “quanto pior, melhor”.
Como a tragédia que criaram se arrastará por anos, a situação pós-impeachment será o paraíso do Lula. Ele e o PT serão os mártires (como chamam) da “direita-neoliberal-fascista da mídia-imperialista e conservadora dos coxinhas do mal que querem a fome do povo”. Seus guerreiros infernizarão o país contra qualquer ajuste na economia. Vão ignorar o abismo contábil em que caímos e voltar os chifres contra o “capitalismo”, apoiados por nossos intelectuais que nunca entenderam que o capitalismo não é um regime político, mas um modo de produção. Artistas, teóricos, cães de guarda da fé preferem que o país acabe a esquecer a religião que os absolve e justifica. E Lula vai deitar e rolar nessa condição que ele ama: vítima, pobre operário do bem que foi destruído pela burguesia.
E se bobear será eleito em 2018 como pai da pátria, o salvador dos aflitos e dos desempregados que ele mesmo criou, o salvador da República que ele mesmo arrasou.
Isso acontecerá, a menos que haja fatos novos graves como parece ser a exumação do cadáver de
Celso Daniel (aliás, ato falho de Edinho Silva quando disse que, se não houver entendimento, vai aparecer um cadáver?). Nesse sentido talvez seja melhor não haver impeachment, porque talvez o Brasil precise se ferrar ainda mais antes de melhorar. Com Dilma até o fim do mandato, em dois anos e meio apodrece tudo, e a verdade imunda que montaram aparecerá. Vejam aonde chegamos: talvez precisemos de mais desgraça ainda para nos salvar em nossa “jornada de imbecis até o entendimento”. As classes médias já estão politizadas mais do que eram, mas os canalhas contam com a absoluta ignorância do povo, sua base eleitoral.
No tempo de FHC, foram construídas pontes e ajustes para regenerar o país. Isso foi destruído, em nome de um comunismo de galinheiro.
Tenho medo de que o Brasil vire uma república desértica, com pouca ilhas de progresso, sem rumo histórico, com tribos soltas, perdidas como na África ou na solidão asiática. Temo que a União se desfaça e se crie um país sem identidade, sem orgulho, sem projeto. Talvez fique um país no eterno pântano em que estamos hoje.
Espero que nossas desilusões nos mostrem que o Brasil tem uma história que anda de costas, evoluindo pelo que perde, não pelo que ganha. Espero, ao menos, isso.
O Brasil se revelará por subtração; não por soma. Chegaremos a uma ideia de país quando as desilusões chegarem ao ponto zero. E então descobriremos que esse resto somos nós.
Perdas graves
A crise política – cujo complicador maior é o processo de impeachment em andamento na Câmara dos Deputados – e a inédita crise moral estampada no grande número de operações policiais e judiciais, das quais a Lava Jato é apenas a maior delas, são duas catástrofes sociais fabricadas internamente e que respondem por parte substancial do caos econômico que o Brasil vive. A essência maior da crise é o Produto Interno Bruto (PIB) terminar 2016 sendo 7,2% menor que o PIB de 2013, para uma população que terá crescido 5,4 milhões de habitantes nos últimos três anos.
A primeira perda grave é o declínio do PIB no geral e o declínio no PIB por habitante, cuja recuperação não é fácil. Quando uma empresa reduz a produção, seja pela desativação de um turno diário de trabalho ou pela desativação de máquinas e equipamentos, a recuperação mais adiante é penosa. Muitas organizações, principalmente no setor industrial, não conseguem retomar o nível anterior de produção: algumas vão à falência (é o caso das fábricas endividadas que, em face da redução da produção e vendas, não conseguem sobreviver); outras simplesmente não têm capacidade de remontar os setores desativados durante a crise; e há aquelas que não conseguem recuperar o mercado perdido com seu próprio encolhimento.
A segunda perda relevante está na infraestrutura física que, no caso do Brasil, segue envelhecendo e ficando obsoleta do ponto de vista tecnológico. Esse mesmo processo da infraestrutura física ocorre, ainda que em menor escala, na infraestrutura empresarial – o chamado parque produtivo –, em razão da suspensão dos projetos de reposição e modernização de máquinas e equipamentos. No caso da indústria de transformação brasileira, a crise tem feito um estrago de alta proporção e fará que a estrutura produtiva nesse setor termine 2016 com menor produtividade (produto por hora de trabalho).
A terceira perda está no nível de emprego e nos salários médios recebidos pelos trabalhadores. Os sindicalistas esclarecidos têm demonstrado preocupação com o retorno de milhões de trabalhadores à classe D, sobretudo aqueles que haviam ascendido à classe C, e sabem que a solução desse problema está longe de vir por mera vontade de conceder reajustes salariais. Nos anos de bonança, o setor industrial concedeu reajustes salariais reais acima do crescimento da produtividade e diminuiu sua capacidade competitiva internacional. Desde a instalação da atual crise, os salários médios caíram, o desemprego aumentou e a recuperação não é uma simples volta ao passado.
Embora haja outras perdas relevantes, essas três bastam para mostrar o tamanho do problema que o Brasil vive e com o qual terá de lidar no futuro – seja quem for que vá governar o país.
Nenhuma ideologia e nenhum regime político são capazes de distribuir riquezas que o país não produziu – constatação que, apesar de simples, parece não ser entendida por boa parte da esquerda. O declínio do PIB enquanto a população aumenta provoca ampliação da distância negativa entre a renda por habitante hoje e aquela existente quando a recessão teve início. O Brasil terminará 2016 mais pobre do que era ao fim de 2013, medida a pobreza com base no PIB por habitante ou na renda per capita, que significam a mesma coisa. O aspecto trágico que atinge o Brasil neste momento vai além da queda do PIB. Uma coisa é a redução do produto por habitante em um país com PIB per capita de US$ 30 mil/ano. Bem mais grave é um processo equivalente em um país com menos de US$ 12 mil/ano de PIB per capita, como é o caso do Brasil.
A primeira perda grave é o declínio do PIB no geral e o declínio no PIB por habitante, cuja recuperação não é fácil. Quando uma empresa reduz a produção, seja pela desativação de um turno diário de trabalho ou pela desativação de máquinas e equipamentos, a recuperação mais adiante é penosa. Muitas organizações, principalmente no setor industrial, não conseguem retomar o nível anterior de produção: algumas vão à falência (é o caso das fábricas endividadas que, em face da redução da produção e vendas, não conseguem sobreviver); outras simplesmente não têm capacidade de remontar os setores desativados durante a crise; e há aquelas que não conseguem recuperar o mercado perdido com seu próprio encolhimento.
A segunda perda relevante está na infraestrutura física que, no caso do Brasil, segue envelhecendo e ficando obsoleta do ponto de vista tecnológico. Esse mesmo processo da infraestrutura física ocorre, ainda que em menor escala, na infraestrutura empresarial – o chamado parque produtivo –, em razão da suspensão dos projetos de reposição e modernização de máquinas e equipamentos. No caso da indústria de transformação brasileira, a crise tem feito um estrago de alta proporção e fará que a estrutura produtiva nesse setor termine 2016 com menor produtividade (produto por hora de trabalho).
A terceira perda está no nível de emprego e nos salários médios recebidos pelos trabalhadores. Os sindicalistas esclarecidos têm demonstrado preocupação com o retorno de milhões de trabalhadores à classe D, sobretudo aqueles que haviam ascendido à classe C, e sabem que a solução desse problema está longe de vir por mera vontade de conceder reajustes salariais. Nos anos de bonança, o setor industrial concedeu reajustes salariais reais acima do crescimento da produtividade e diminuiu sua capacidade competitiva internacional. Desde a instalação da atual crise, os salários médios caíram, o desemprego aumentou e a recuperação não é uma simples volta ao passado.
Embora haja outras perdas relevantes, essas três bastam para mostrar o tamanho do problema que o Brasil vive e com o qual terá de lidar no futuro – seja quem for que vá governar o país.
Contagem regressiva
Começou a contagem regressiva para a queda de Dilma. Abril será um mês terrível para o governo que, por sua vez, tentará transformá-lo em terrível para todo o Brasil. Foi uma semana intensa de trabalho. Presenciei alguns dos principiais episódios: saída do PMDB, entrega de dois milhões de assinaturas pedindo dez medidas contra a corrupção e, sobretudo, as audiências da Comissão do Impeachment.
Nela, os dados estão lançados. Há uma expressiva maioria a favor da queda de Dilma. Só um milagre, desses bem poderosos, poderá mudar o jogo. Sabendo previamente do resultado, os deputados jogam para cumprir tabela, preocupados apenas em agradar sua plateia. Eles se enfrentam com cartazes, contra ou a favor do impeachment. Quando isso acontece, de um modo geral, eles querem dizer que não há muita discussão possível, nem grandes esperanças na troca de argumentos. Se a vitória do impeachment é quase certa na comissão, a contagem dos votos no plenário ainda não autoriza uma previsão tão nítida. O governo sempre poderá atrair deputados não para o voto contra, mas para a abstenção. É mais fácil negociar esta saída com eles. Não se desgastam tanto com a opinião pública, podem apresentar uma desculpa.
Em quase todas as votações decisivas, um grande número de deputados fica em seus gabinetes, à espera dos momentos finais. Os deputados que vendem sua abstenção são mais sutis que os defensores abertos do governo. Alguns deputados da base, sobretudo os do PT, não têm outro caminho, exceto votar por Dilma. O máximo que pode acontecer é perder alguns votos, sem contudo contrariar aquele núcleo para quem o voto pelo impeachment é uma traição. Estive na reunião do PMDB que rompeu com o governo. Em cinco minutos acabaram com cinco anos de relação. Não houve uma análise sobre o que os unia no passado e o que os separa no presente.
Eles gritaram: “Brasil urgente, Temer presidente e fora PT”. Na verdade, ninguém parecia preocupado com a saída do governo mas com seu lugar no que seria instalado com a queda de Dilma. Estavam felizes como se não houvesse amanhã, nem os novos passos da Lava-Jato. Na plateia, figuras controvertidas como Newton Cardoso, ex-governador de Minas; na mesa, Eduardo Cunha, cuja liberdade me faz duvidar da Justiça brasileira. O amanhã será complicado. Os políticos tradicionais que pensam em se aproveitar do desastre do PT para retomar o governo como se o Brasil fosse o mesmo do tempo de Sarney vão levar um susto. De um lado, enfrentarão o próprio PT e movimentos sociais ligados a ele, algo que me parece possível, se a democracia for usada com inteligência. Mas o Brasil que emerge desse processo, com intensos debates nas redes sociais, muito mais atento às peripécias da política, pode varrê-los do cenário, sem piedade.
As pessoas amadureceram para compreender a tática, a necessidade de organizar os passos intermediários para se alcançar um objetivo a mais longo prazo. No momento, o foco é o governo do PT, suas pedaladas fiscais, o rombo na Petrobras, a corrupção que se espraiou, o cinismo e a cara de pau de seus líderes. Um governo de transição só pode ser estável se equacionar bem suas relação com a Lava-Jato. Se escolher nomes de gente sob investigação, vai demonstrar que pensa como o PT e o desalojou do poder apenas para não partilhar com ele as benesses da mamata federal.
Não ter gente investigada é pouco. Será preciso também definir, publicamente, sua norma para o futuro. Aliás, voltar a uma norma do passado, quando existiam ainda vestígios de decência: no governo Itamar, as pessoas investigadas saíam para se defender. Volto para a casa cansado, escrevendo um pouco espremido no avião. O discurso da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, aponta, entre outras, duas realidades interessantes para mim. A primeira delas é a de que há uma conexão entre as pedaladas fiscais, decretos secretos, rombo no orçamento e a corrupção que corroía o país. O dinheiro fantasiado nos planos de Dilma, era, de alguma forma, o dinheiro que se roubava ou, simplesmente, se dilapidava com a incompetência. Um outro ponto que me comoveu foi sua mensagem ao Parlamento: somos apenas parte de um povo que, na realidade, sofreu um golpe, pois analisava a realidade a partir do falso quadro desenhado pelo governo. A missão das ruas é clara: descrever aos parlamentares uma situação em que o povo foi roubado e enganado com fantasias eleitorais. O país sofreu um golpe. Sua única saída é responder ao golpe com uma medida constitucional de autodefesa, que é o impeachment.
Senti que grande parte dos parlamentares compreendeu o cenário. Mesmo os que parecem não ter compreendido, caso de Renan Calheiros, estão apenas fazendo cálculos sobre sua própria salvação. Não creio que exista salvação para figuras como Cunha e Renan. A própria Justiça, cheia de dedos com gente como eles, terá de levar a sério a tese de que a lei vale para todos. Ninguém sai às ruas apenas para trocar de bandidos no poder.
Nela, os dados estão lançados. Há uma expressiva maioria a favor da queda de Dilma. Só um milagre, desses bem poderosos, poderá mudar o jogo. Sabendo previamente do resultado, os deputados jogam para cumprir tabela, preocupados apenas em agradar sua plateia. Eles se enfrentam com cartazes, contra ou a favor do impeachment. Quando isso acontece, de um modo geral, eles querem dizer que não há muita discussão possível, nem grandes esperanças na troca de argumentos. Se a vitória do impeachment é quase certa na comissão, a contagem dos votos no plenário ainda não autoriza uma previsão tão nítida. O governo sempre poderá atrair deputados não para o voto contra, mas para a abstenção. É mais fácil negociar esta saída com eles. Não se desgastam tanto com a opinião pública, podem apresentar uma desculpa.
Eles gritaram: “Brasil urgente, Temer presidente e fora PT”. Na verdade, ninguém parecia preocupado com a saída do governo mas com seu lugar no que seria instalado com a queda de Dilma. Estavam felizes como se não houvesse amanhã, nem os novos passos da Lava-Jato. Na plateia, figuras controvertidas como Newton Cardoso, ex-governador de Minas; na mesa, Eduardo Cunha, cuja liberdade me faz duvidar da Justiça brasileira. O amanhã será complicado. Os políticos tradicionais que pensam em se aproveitar do desastre do PT para retomar o governo como se o Brasil fosse o mesmo do tempo de Sarney vão levar um susto. De um lado, enfrentarão o próprio PT e movimentos sociais ligados a ele, algo que me parece possível, se a democracia for usada com inteligência. Mas o Brasil que emerge desse processo, com intensos debates nas redes sociais, muito mais atento às peripécias da política, pode varrê-los do cenário, sem piedade.
As pessoas amadureceram para compreender a tática, a necessidade de organizar os passos intermediários para se alcançar um objetivo a mais longo prazo. No momento, o foco é o governo do PT, suas pedaladas fiscais, o rombo na Petrobras, a corrupção que se espraiou, o cinismo e a cara de pau de seus líderes. Um governo de transição só pode ser estável se equacionar bem suas relação com a Lava-Jato. Se escolher nomes de gente sob investigação, vai demonstrar que pensa como o PT e o desalojou do poder apenas para não partilhar com ele as benesses da mamata federal.
Não ter gente investigada é pouco. Será preciso também definir, publicamente, sua norma para o futuro. Aliás, voltar a uma norma do passado, quando existiam ainda vestígios de decência: no governo Itamar, as pessoas investigadas saíam para se defender. Volto para a casa cansado, escrevendo um pouco espremido no avião. O discurso da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, aponta, entre outras, duas realidades interessantes para mim. A primeira delas é a de que há uma conexão entre as pedaladas fiscais, decretos secretos, rombo no orçamento e a corrupção que corroía o país. O dinheiro fantasiado nos planos de Dilma, era, de alguma forma, o dinheiro que se roubava ou, simplesmente, se dilapidava com a incompetência. Um outro ponto que me comoveu foi sua mensagem ao Parlamento: somos apenas parte de um povo que, na realidade, sofreu um golpe, pois analisava a realidade a partir do falso quadro desenhado pelo governo. A missão das ruas é clara: descrever aos parlamentares uma situação em que o povo foi roubado e enganado com fantasias eleitorais. O país sofreu um golpe. Sua única saída é responder ao golpe com uma medida constitucional de autodefesa, que é o impeachment.
Senti que grande parte dos parlamentares compreendeu o cenário. Mesmo os que parecem não ter compreendido, caso de Renan Calheiros, estão apenas fazendo cálculos sobre sua própria salvação. Não creio que exista salvação para figuras como Cunha e Renan. A própria Justiça, cheia de dedos com gente como eles, terá de levar a sério a tese de que a lei vale para todos. Ninguém sai às ruas apenas para trocar de bandidos no poder.
Tanto ideologia quanto fisiologia
Não passa deste mês a decisão da Câmara dos Deputados de autorizar ou não a abertura do processo de afastamento da presidente Dilma do palácio do Planalto. Autorizado o impeachment, caberá ao Senado a palavra final, sendo que nos 180 dias entre a manifestação dos deputados e a dos senadores, sob a direção do presidente do Supremo Tribunal Federal, Madame reassumirá ou estará definitivamente afastada do cargo.
Hoje, ninguém, em sã consciência, será capaz de prever o resultado. Num, dia parece certa a defenestração. No outro, não se duvida da permanência.
Por esse vai-e-vem conclui-se não ser coisa séria o debate sobre o futuro do país. No fundo situa-se o jogo de interesses rasteiros e espúrios a respeito do controle do poder. Os mesmos de sempre digladiam-se em torno do controle das nomeações, das propinas e da ocupação dos ministérios e penduricalhos. Ficando Dilma, haverá uma varredura em seus adversários, com as óbvias consequências relativas ao aproveitamento da coisa pública. Assumindo o vice Michel Temer, será a mesma coisa, só que ao contrário.
Enquanto isso, senão parou antes, o Brasil encontra-se parado. Ignoram-se os rumos do governo. Fazer o quê diante do desemprego em massa? Do aumento de impostos, taxas e tarifas? Do custo de vida? Da paralisação da atividade econômica e das atenções à educação e à saúde pública? Da segurança da população entregue à bandidagem, não se fala. Muito menos do combate à corrupção, que deixou faz muito de constituir-se em problema do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Recompor a Federação, com a salvação dos Estados e Municípios, tornou-se sonho de noite de verão.
Resta o vazio como solução para o embate entre Dilma, Lula, os sindicalistas, o PT e adjacências, de um lado, e Michel, o PMDB, os tucanos e o empresariado, de outro. A verdade é que dando estes por aqueles, não sobra nada. Não há necessidade de volta, assiste-se a uma refrega entre os seis e o meia-dúzia.
Uma nação dividida como hoje, raras vezes se viu. Há quem fale na necessidade de usar o apagador e começar tudo de novo. Eleições gerais, amplas e irrestritas? Pouco adiantaria, porque as duas correntes permaneceriam as mesmas.
Não dá para imaginar que as definições previstas para este mês, no Congresso, resolverão alguma coisa. Qualquer que seja o resultado entre a presidente Dilma, se puder manter-se, ou o vice Temer, se conseguir assumir, revelará o mesmo racha. Aliás, menos ideológico do que fisiológico.
Vale repetir história já apresentada. Um turista brasileiro alugou um automóvel em Portugal, para deliciar-se com as belezas do interior luso. Acabou perdendo-se, quando estacionou perto de um camponês. Indagou se aquela estrada ia para Lisboa. Diante da negativa, seguiu adiante, mas logo depois deparou-se com imensa placa: “Lisboa: quinze quilômetros”. Irritado, deu marcha-a-ré e cobrou do patrício a péssima informação. Resposta: “Quem vai para Lisboa é o senhor. A estrada fica aqui...”
Hoje, ninguém, em sã consciência, será capaz de prever o resultado. Num, dia parece certa a defenestração. No outro, não se duvida da permanência.
Por esse vai-e-vem conclui-se não ser coisa séria o debate sobre o futuro do país. No fundo situa-se o jogo de interesses rasteiros e espúrios a respeito do controle do poder. Os mesmos de sempre digladiam-se em torno do controle das nomeações, das propinas e da ocupação dos ministérios e penduricalhos. Ficando Dilma, haverá uma varredura em seus adversários, com as óbvias consequências relativas ao aproveitamento da coisa pública. Assumindo o vice Michel Temer, será a mesma coisa, só que ao contrário.
Enquanto isso, senão parou antes, o Brasil encontra-se parado. Ignoram-se os rumos do governo. Fazer o quê diante do desemprego em massa? Do aumento de impostos, taxas e tarifas? Do custo de vida? Da paralisação da atividade econômica e das atenções à educação e à saúde pública? Da segurança da população entregue à bandidagem, não se fala. Muito menos do combate à corrupção, que deixou faz muito de constituir-se em problema do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Recompor a Federação, com a salvação dos Estados e Municípios, tornou-se sonho de noite de verão.
Resta o vazio como solução para o embate entre Dilma, Lula, os sindicalistas, o PT e adjacências, de um lado, e Michel, o PMDB, os tucanos e o empresariado, de outro. A verdade é que dando estes por aqueles, não sobra nada. Não há necessidade de volta, assiste-se a uma refrega entre os seis e o meia-dúzia.
Uma nação dividida como hoje, raras vezes se viu. Há quem fale na necessidade de usar o apagador e começar tudo de novo. Eleições gerais, amplas e irrestritas? Pouco adiantaria, porque as duas correntes permaneceriam as mesmas.
Não dá para imaginar que as definições previstas para este mês, no Congresso, resolverão alguma coisa. Qualquer que seja o resultado entre a presidente Dilma, se puder manter-se, ou o vice Temer, se conseguir assumir, revelará o mesmo racha. Aliás, menos ideológico do que fisiológico.
Vale repetir história já apresentada. Um turista brasileiro alugou um automóvel em Portugal, para deliciar-se com as belezas do interior luso. Acabou perdendo-se, quando estacionou perto de um camponês. Indagou se aquela estrada ia para Lisboa. Diante da negativa, seguiu adiante, mas logo depois deparou-se com imensa placa: “Lisboa: quinze quilômetros”. Irritado, deu marcha-a-ré e cobrou do patrício a péssima informação. Resposta: “Quem vai para Lisboa é o senhor. A estrada fica aqui...”
Complexo de pobre
Vou fazer uma afirmação aqui no mínimo polêmica. Não sem antes discorrer algumas considerações sobre escrúpulos. Por incrível que pareça, o primeiro grupamento que registrou o uso da falta de escrúpulos como arma de guerra foi justamente a Igreja Católica, na Idade Média.
Era nobre ver dois exércitos se digladiando, ao som das suas espadas espocando solenes. Mas era mais eficiente arregimentar um bando de corsários para ir até a sua tribo, roubar sua comida, esquartejar seus filhos e estuprar suas mulheres, difundindo o terror psicológico entre os oponentes. Com esse método, o menor tenta vencer o maior na base da deslealdade e da periculosidade dos golpes desferidos.
O que foi o 11 de Setembro senão uma demonstração da falta de escrúpulos do menor sobre o maior? E o Estado Islâmico? Que me desculpem – e entendam minha comparação como meramente proporcional – os sergipanos, mas é possível um Sergipe aterrorizar o mundo sem recorrer a ações desprovidas de limites e valores? E o que dizer, então, da gangue do PT? Não são iguaizinhos os dez por cento que aterrorizam os outros noventa? E que roubam a nossa própria grana para financiar o que fazem?
Pensemos na Operação Lava Jato. As ligações tornadas públicas pelo juiz Sergio Moro só demonstram – num golpe de mestre que escancara a falta de escrúpulos da quadrilha toda – que a coisa ainda é muito pior do que parece. O festival de “hams” e “hums” mostra que eles sabiam que estavam sendo gravados, exceto pelos chefes do bando, que se achavam inimputáveis. Por isso vociferavam ameaças à operação como um todo.
Alguém aqui duvida que se a coisa fosse parar no Supremo, pelas vias oficiais, seria devidamente – melhor: indevidamente – escondida da plebe rude por aqueles ilustres togados, tentando mais uma anistia para os bandidos? Os supostos abusos do juiz foram em muito superados pelos investigados. Vai ser difícil entortar o jogo agora com esse escore gigantesco a favor de Sergio Moro. Veremos.
Aqui vai minha afirmação polêmica: desconsiderando a atuação administrativa do prefeito carioca – apenas tomando sua fala no episódio – eu diria que foi o único com coragem para peitar o cachorro louco. E com uma das raras estratégias que dão resultado com esses vigaristas: usar da própria linguagem de morro para achincalhá-los. Funciona assim: petistas vagabundos tentam constranger alguém para forçá-lo a fazer algum juízo de valor. Cair na armadilha é a deixa para que a vítima do golpe seja achincalhada, menosprezada, desqualificada pela atitude “fascista”.
Cansei de ver pastores mentindo diante de seus “bispos”. E não me fazia de rogado: berrava perguntas que desconcertavam o meliante. “Você não é um homem de Deus? Não tem um compromisso com a verdade? Por que está mentindo na frente do seu superior?” Meus embates chegaram a valer um comentário do próprio Macedão: disse que eu “não era um deles, mas valia mais que muitos dos que ali eles arrebanhavam e subvertiam”. Pois meu esporte predileto é achincalhar petralhas justamente onde mais lhes dói: no cérebro manco e limitado.
Tal como o antagonista Diogo, que cravou certeiro uma “estética de jeca” no meliante que fez o que fez só para ter um sítio vagabundo com pedalinhos ridículos e um triplex remediado com elevador privativo, o prefeito infeliz da cariocada lascou um “Complexo de Pobre” no chefe da camorra que me lavou a alma, descontados todos os outros quesitos.
É assim que se abate um vagabundo dessa espécie. Desqualificando-o. Usando e abusando da falta de escrúpulos que o meliante escancara no trato com terceiros. A linguagem de morro, que ele invoca para parecer perigoso. É o “sabe com quem você está falando”. Ou o “meu nome é Zé Pequeno, p(*) !!!
Pois é isso. Petista tem complexo de pobre. Pode roubar tudo o que encontrar pela frente e continuará exatamente o que sempre foi: um pobre, encostado em alguma teta do serviço público e cacarejando essa goma rala que os une na vigarice. Um pobre de espírito. Um mortadela. Isso, nenhuma igreja inescrupulosa resolve.
Era nobre ver dois exércitos se digladiando, ao som das suas espadas espocando solenes. Mas era mais eficiente arregimentar um bando de corsários para ir até a sua tribo, roubar sua comida, esquartejar seus filhos e estuprar suas mulheres, difundindo o terror psicológico entre os oponentes. Com esse método, o menor tenta vencer o maior na base da deslealdade e da periculosidade dos golpes desferidos.
O que foi o 11 de Setembro senão uma demonstração da falta de escrúpulos do menor sobre o maior? E o Estado Islâmico? Que me desculpem – e entendam minha comparação como meramente proporcional – os sergipanos, mas é possível um Sergipe aterrorizar o mundo sem recorrer a ações desprovidas de limites e valores? E o que dizer, então, da gangue do PT? Não são iguaizinhos os dez por cento que aterrorizam os outros noventa? E que roubam a nossa própria grana para financiar o que fazem?
Alguém aqui duvida que se a coisa fosse parar no Supremo, pelas vias oficiais, seria devidamente – melhor: indevidamente – escondida da plebe rude por aqueles ilustres togados, tentando mais uma anistia para os bandidos? Os supostos abusos do juiz foram em muito superados pelos investigados. Vai ser difícil entortar o jogo agora com esse escore gigantesco a favor de Sergio Moro. Veremos.
Aqui vai minha afirmação polêmica: desconsiderando a atuação administrativa do prefeito carioca – apenas tomando sua fala no episódio – eu diria que foi o único com coragem para peitar o cachorro louco. E com uma das raras estratégias que dão resultado com esses vigaristas: usar da própria linguagem de morro para achincalhá-los. Funciona assim: petistas vagabundos tentam constranger alguém para forçá-lo a fazer algum juízo de valor. Cair na armadilha é a deixa para que a vítima do golpe seja achincalhada, menosprezada, desqualificada pela atitude “fascista”.
Cansei de ver pastores mentindo diante de seus “bispos”. E não me fazia de rogado: berrava perguntas que desconcertavam o meliante. “Você não é um homem de Deus? Não tem um compromisso com a verdade? Por que está mentindo na frente do seu superior?” Meus embates chegaram a valer um comentário do próprio Macedão: disse que eu “não era um deles, mas valia mais que muitos dos que ali eles arrebanhavam e subvertiam”. Pois meu esporte predileto é achincalhar petralhas justamente onde mais lhes dói: no cérebro manco e limitado.
Tal como o antagonista Diogo, que cravou certeiro uma “estética de jeca” no meliante que fez o que fez só para ter um sítio vagabundo com pedalinhos ridículos e um triplex remediado com elevador privativo, o prefeito infeliz da cariocada lascou um “Complexo de Pobre” no chefe da camorra que me lavou a alma, descontados todos os outros quesitos.
É assim que se abate um vagabundo dessa espécie. Desqualificando-o. Usando e abusando da falta de escrúpulos que o meliante escancara no trato com terceiros. A linguagem de morro, que ele invoca para parecer perigoso. É o “sabe com quem você está falando”. Ou o “meu nome é Zé Pequeno, p(*) !!!
Pois é isso. Petista tem complexo de pobre. Pode roubar tudo o que encontrar pela frente e continuará exatamente o que sempre foi: um pobre, encostado em alguma teta do serviço público e cacarejando essa goma rala que os une na vigarice. Um pobre de espírito. Um mortadela. Isso, nenhuma igreja inescrupulosa resolve.
O público na privada
Lula não é flor que se cheire. Mostrou bem isso no caso Waldomiro Diniz, em 2002, quando o então presidente da Loterj aparecia extorquindo o bicheiro Carlinhos Cachoeira para o PT e o PSB. Era o estopim do mensalão. Quem se lembra do chavão que iria concretar? "Fui traído".
Dilma, agora um fantasma vagando pelas salas do Alvorada, devia saber bem disso quando aceitou ser poste por transbordamento de ego. Entrar para a História, quando foi figura inexpressiva na luta contra a ditadura, seria o máximo. Foi um desastre. Bateu todos os recordes negativos entre os presidentes, sucateou a maior empresa do país, colocou outras grandes empreiteiras nas cordas, e deixou todos com a corda no pescoço. Perda total para ela e um terreno minado para o país.
Lula não vai deixar por menos, enquanto puder. Prepara o troco ou a volta por cima dos despojos de Dilma. Teria conversado com o vice Temer sobre a "Nova Direção" com a bandeira de "Ponte para o futuro", que deve reunir as forças para a complementação do restante da governança. Se for para o bem da própria família e de sua cabeça, entrega anéis e dedos. Vira ficha limpa em um passe de mágica, com aval judiciário, e embala a sigla em papel celofane.
Dilma, agora um fantasma vagando pelas salas do Alvorada, devia saber bem disso quando aceitou ser poste por transbordamento de ego. Entrar para a História, quando foi figura inexpressiva na luta contra a ditadura, seria o máximo. Foi um desastre. Bateu todos os recordes negativos entre os presidentes, sucateou a maior empresa do país, colocou outras grandes empreiteiras nas cordas, e deixou todos com a corda no pescoço. Perda total para ela e um terreno minado para o país.
Lula não vai deixar por menos, enquanto puder. Prepara o troco ou a volta por cima dos despojos de Dilma. Teria conversado com o vice Temer sobre a "Nova Direção" com a bandeira de "Ponte para o futuro", que deve reunir as forças para a complementação do restante da governança. Se for para o bem da própria família e de sua cabeça, entrega anéis e dedos. Vira ficha limpa em um passe de mágica, com aval judiciário, e embala a sigla em papel celofane.
Quem sabe consiga até emplacar as "eleições" micareta, no meio do ano, o que já vem defendido por uns e outros aloprados como Marina Silva, que aparece para dar pitaco pró-PT. Seria a chance, segundo alguns, de recolocar Lula nos trilhos para outra reeleição. Sobre o túmulo do governo Dilma, reinaria como o libertador Simão Bolívar, quiçá..
Antes vai pintar e bordar enquanto estiver solto e as hostes mercenárias atenderem seu comando. Mesmo muito chamuscado, sem a mesma força do velho PT, está disposto a fazer estragos por todo lado. Nada que fizer deve ter efeito maior que bagunçar a casa já arrombada pela bandidagem. Mas será nefasto para o país por muitos anos. Não só recuperar a economia como a normalidade do ambiente político e o crédito dos poderes, hoje solapados por quem tudo pode sem prestar contas na terra.
Levar ao extremo essa maracutaia para garantir a permanência no poder resultou neste ciclone político varrendo o país não como vassoura para tirar a sujeira, mas como ventilador a misturar alhos e bugalhos. Nessa fossa generalizada, o PT nada como peixe na água, questão de DNA. Não à toa, reúne um ministério brancaleone, liderado pela sigla que mais reúne corruptos por metro quadrado. É essa a gangue que deverá enfrentar o impeachment dentro do governo, no comando de ministérios e estatais. O tempo será juiz deles com tanto processo em andamento e outros que surgirão para prestarem contas.
O fim do califado petista é determinante para por um freio no protecionismo político, sob capas como governo de coalizão, base aliada e outras arapucas. Não se quer acabar com o partido, que enquanto partido, não quadrilha, defendeu projetos de interesse e tinha propostas sérias. A canalha subverteu as metas de interesse do povo para interesse particular. Só podia dar no que deu.
O que está em jogo é a geral assepsia partidária para que a seriedade dos programas não seja corrompida pela ganância dos medíocres. E nisso tem que se concentrar cada um, independente de simpatias. Há que se cobrar seriamente, sem cafajestada, cada passo político no país. E nisso está indubitavelmente colocar o público acima do privado ou, na maioria dos casos, da privada.
Antes vai pintar e bordar enquanto estiver solto e as hostes mercenárias atenderem seu comando. Mesmo muito chamuscado, sem a mesma força do velho PT, está disposto a fazer estragos por todo lado. Nada que fizer deve ter efeito maior que bagunçar a casa já arrombada pela bandidagem. Mas será nefasto para o país por muitos anos. Não só recuperar a economia como a normalidade do ambiente político e o crédito dos poderes, hoje solapados por quem tudo pode sem prestar contas na terra.
Levar ao extremo essa maracutaia para garantir a permanência no poder resultou neste ciclone político varrendo o país não como vassoura para tirar a sujeira, mas como ventilador a misturar alhos e bugalhos. Nessa fossa generalizada, o PT nada como peixe na água, questão de DNA. Não à toa, reúne um ministério brancaleone, liderado pela sigla que mais reúne corruptos por metro quadrado. É essa a gangue que deverá enfrentar o impeachment dentro do governo, no comando de ministérios e estatais. O tempo será juiz deles com tanto processo em andamento e outros que surgirão para prestarem contas.
O fim do califado petista é determinante para por um freio no protecionismo político, sob capas como governo de coalizão, base aliada e outras arapucas. Não se quer acabar com o partido, que enquanto partido, não quadrilha, defendeu projetos de interesse e tinha propostas sérias. A canalha subverteu as metas de interesse do povo para interesse particular. Só podia dar no que deu.
O que está em jogo é a geral assepsia partidária para que a seriedade dos programas não seja corrompida pela ganância dos medíocres. E nisso tem que se concentrar cada um, independente de simpatias. Há que se cobrar seriamente, sem cafajestada, cada passo político no país. E nisso está indubitavelmente colocar o público acima do privado ou, na maioria dos casos, da privada.
Leilão do futuro
As agências de notícias sempre falam de leilões em Nova York em que concorrem objetos dos filmes dos anos 30, 40, 50 –tempo em que Hollywood era o Parnaso, habitado por deuses tão poderosos quanto os das lendas gregas. Alguns itens que já estrelaram esses leilões foram o trenó Rosebud de "Cidadão Kane" (1941), o piano em que Sam toca "As Time Goes By" em "Casablanca" (1942) e as luvas de Rita Hayworth em "Gilda" (1945).
Quanto valerão o guarda-chuva de Gene Kelly em "Cantando na Chuva" (1952), um vestido de Marilyn Monroe em "Os Homens Preferem as Louras" (1952), Robby, o robô de "Planeta Proibido" (1956), o retrato a óleo de Carlota Valdez em "Um Corpo que Cai" (1958) ou mesmo a ceroula de Batman usada por Adam West no seriado de TV (1966)? Um dia, esses itens irão a leilão –os americanos sempre foram de conservar tudo.
No Brasil, como não somos de guardar nada, nossos leilões dependem de material mais recente, que ainda não teve tempo de desaparecer. Daí que um leilão inevitável e em breve será o de objetos oriundos da história que estamos vivendo hoje. Exemplos?
Os pedalinhos dos netos de Lula, recuperados no seu sítio que não lhe pertence em Atibaia. Garrafas da adega do mesmo sítio e que o ex-presidente não teve tempo de consumir. Os pixulecos portáteis vendidos nas manifestações anti-PT.
Um jogo de caçarolas comprado pela ex-primeira-dama dona Marisa para a cozinha do seu tríplex que não lhe pertence no Guarujá. A bicicleta com que a presidente Dilma dava suas pedaladas matinais. A blusa de florões com que ela vivia aparecendo na TV. Uma mecha do cabelo do senador Delcídio do Amaral. Etc.
E, claro, a peça de maior valor do leilão é sempre a mais difícil de conseguir: o vídeo de uma das palestras milionárias do ex-presidente Lula pagas pela Odebrecht.
Quanto valerão o guarda-chuva de Gene Kelly em "Cantando na Chuva" (1952), um vestido de Marilyn Monroe em "Os Homens Preferem as Louras" (1952), Robby, o robô de "Planeta Proibido" (1956), o retrato a óleo de Carlota Valdez em "Um Corpo que Cai" (1958) ou mesmo a ceroula de Batman usada por Adam West no seriado de TV (1966)? Um dia, esses itens irão a leilão –os americanos sempre foram de conservar tudo.
Os pedalinhos dos netos de Lula, recuperados no seu sítio que não lhe pertence em Atibaia. Garrafas da adega do mesmo sítio e que o ex-presidente não teve tempo de consumir. Os pixulecos portáteis vendidos nas manifestações anti-PT.
Um jogo de caçarolas comprado pela ex-primeira-dama dona Marisa para a cozinha do seu tríplex que não lhe pertence no Guarujá. A bicicleta com que a presidente Dilma dava suas pedaladas matinais. A blusa de florões com que ela vivia aparecendo na TV. Uma mecha do cabelo do senador Delcídio do Amaral. Etc.
E, claro, a peça de maior valor do leilão é sempre a mais difícil de conseguir: o vídeo de uma das palestras milionárias do ex-presidente Lula pagas pela Odebrecht.
Caso de polícia
Quando os principais lances que dizem respeito a um governo se resolvem nos tribunais, não no ambiente do próprio Executivo e do Congresso, o país se transformou num caso de polícia, não de política
'A política morreu'
“A política morreu”, disse o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. A opinião pública esclarecida concorda com Barroso quando celebra a independência do Poder Judiciário nas figuras históricas de Joaquim Barbosa e Sérgio Moro.
Pois a classe política há muito nos deve uma forma decente de tratar a coisa pública. A ressurreição da política exige um comportamento transparente das instituições republicanas, e não uma amoralidade institucional cúmplice das degeneradas práticas atuais.
A concentração de poderes e recursos nas engrenagens de administração centralizada é o fator histórico de corrupção sistêmica. Sarney experimentou as exigências de “compartilhamento” de poderes e recursos recorrendo às inovadoras técnicas do “é dando que se recebe”.
Collor teria sido derrubado por sua notória incapacidade de “compartilhar”, e não pelo anedótico surrupio do Fiat Elba. Nem mesmo o único estadista entre os nossos ex-presidentes vivos teria escapado às tentações da gula pelo poder: houve acusações a seus correligionários de práticas não republicanas para a aprovação da emenda constitucional que favoreceu a reeleição de FHC.
Não creio que Lula pessoalmente tivesse um programa de socialismo bolivariano do século XXI para o Brasil. Como não creio que Dilma pessoalmente desejasse o controle da mídia, a compra do Legislativo e a asfixia do Judiciário, dando continuidade ao que seria um golpe contra nosso regime democrático.
Mas todo poder corrompe, e muito poder por muito tempo corrompe muito mais. FHC, que admite a degeneração do sistema político e o esgotamento das atuais práticas político-eleitorais, explica sua conversão ao pedido de impeachment: “O tempo revelou com nitidez o que antes era nebuloso”.
A suspeita de que “uma organização criminosa se apossou do Estado” emergiu no Mensalão. Para FHC, o Petrolão revela agora a corrupção sistêmica “visando à manutenção do poder... uma fraude à democracia, além de assalto ao Tesouro.
Endossando a trama de um golpe, e abrigando em seu governo pessoa suspeita de corrupção, a presidente incorre na dúvida de obstrução à Justiça”. Barroso viu a morte da política por “falta de alternativas” (pessoas). A opinião pública apoia Moro por acreditar que a impunidade matou a política.
Paulo Guedes
Pois a classe política há muito nos deve uma forma decente de tratar a coisa pública. A ressurreição da política exige um comportamento transparente das instituições republicanas, e não uma amoralidade institucional cúmplice das degeneradas práticas atuais.
Collor teria sido derrubado por sua notória incapacidade de “compartilhar”, e não pelo anedótico surrupio do Fiat Elba. Nem mesmo o único estadista entre os nossos ex-presidentes vivos teria escapado às tentações da gula pelo poder: houve acusações a seus correligionários de práticas não republicanas para a aprovação da emenda constitucional que favoreceu a reeleição de FHC.
Não creio que Lula pessoalmente tivesse um programa de socialismo bolivariano do século XXI para o Brasil. Como não creio que Dilma pessoalmente desejasse o controle da mídia, a compra do Legislativo e a asfixia do Judiciário, dando continuidade ao que seria um golpe contra nosso regime democrático.
Mas todo poder corrompe, e muito poder por muito tempo corrompe muito mais. FHC, que admite a degeneração do sistema político e o esgotamento das atuais práticas político-eleitorais, explica sua conversão ao pedido de impeachment: “O tempo revelou com nitidez o que antes era nebuloso”.
A suspeita de que “uma organização criminosa se apossou do Estado” emergiu no Mensalão. Para FHC, o Petrolão revela agora a corrupção sistêmica “visando à manutenção do poder... uma fraude à democracia, além de assalto ao Tesouro.
Endossando a trama de um golpe, e abrigando em seu governo pessoa suspeita de corrupção, a presidente incorre na dúvida de obstrução à Justiça”. Barroso viu a morte da política por “falta de alternativas” (pessoas). A opinião pública apoia Moro por acreditar que a impunidade matou a política.
Paulo Guedes
A carta aberta de Lobão a Caetano, Gil e Chico Buarque
Caros amigos,
Há uma semana escrevi uma carta aberta a vocês e ,como já poderia prever, não houve nenhum sinal significativo de resposta .
Saliento comovido e contente o meigo e solitário depoimento de Gil ao aceitar as minhas desculpas. Contudo, se Gil se dispusesse a ler o texto com atenção constataria que o cerne da questão gira em torno de um outro intento: uma convocação.
Chico deixou bem claro que sequer se interessara em ler a mensagem quanto mais respondê-la e Caetano adotou uma atitude evasiva eximindo-se de qualquer manifestação a respeito.
A que ponto chegamos, não é verdade? Entretanto, nutrido pelos sinceros sentimentos que me guiam somados a uma necessidade premente de esclarecimentos e mudanças, não somente na mentalidade como também nos desígnios políticos em que se enredou a nossa classe, retorno ao teclado do computador para redigir-vos mais um insistente apelo.
Optarei , como recurso didático e adequado para essa ocasião , adotar a abstrata condição de nada. Portanto, a partir de agora , me apresentarei assim: Muito prazer, meu nome é Nada .
Ser Nada muito me convém para que meus motivos se ergam das névoas da dúvida. Ser o Sub do Mundo é uma condição que muito me convém para ser mais bem sucedido em mostrar a vocês três os absurdos , discrepâncias e cacoetes comportamentais que doravante exporei.
Vou dividir meu carinhoso pito em duas partes: A primeira caberá a Caetano e Gil , a segunda a Chico. Prossigamos.
Querido Gil , você ocupou o cargo de ministro da Cultura durante os oito anos da administração Lula e prossegue , na administração Dilma com forte penetração no ministério , pois o atual ministro Juca Ferreira é homem de sua inteira confiança tendo atuado como seu subordinado no tempo em que você foi o titular da pasta.
Não sei se é apenas uma estranha coincidência, mas foi exatamente durante todo esse período que as perversidades e aberrações da Lei Rouanet começaram a pulular em total descontrole. Foi aí inaugurada a era em que artistas consagrados com grande nicho de público e mercado , começaram a pautar seus eventos , shows , projetos , discos e DVD por intermédio de subvenção de incentivos hospedados no bojo dessa lei , transformando o mainstream cultural num antro de parasitas , chapas-brancas e castrados de opiniões confiáveis.
Essa lei proporcionou que a criação artística decrescesse a níveis alarmantes pois os tais editais dos quais se extrai a grana dos medalhões privilegiam as enfadonhas comemorações de aniversários de carreira , reuniões insólitas entre aristas improváveis , homenagens pouco sinceras a astros falecidos , festas sem algum sentido real de se comemorar e outras chicanas lamentáveis para justificar o uso do dinheiro público.
Para piorar a situação , como se isso só não bastasse, essa camarilha de parasitas passa a atuar como um grupo de ardentes defensores do governo. É a Era do Artista Chapa-Branca. Uma era a ser esquecida.
Imagine você , Gil, faça um exercício de alteridade e experimente o meu espanto em saber um ministro da Cultura ter um camarote no carnaval de Bahia subvencionado com uma grana possante da lei Rouanet ! Isso , definitivamente não é bonito . E para agravar a situação , é de se prever que artistas periféricos sem a metade de seu talento se estimulem e muito em se lambuzar nesse mesmo estilo sem o menor prurido de consciência , não é mesmo?
Quanto a você , Caetano , pilotando uma outra desastrosa escaramuça temos o Procure Saber capitaneado por sua esposa , arregimentando algumas dezenas de artistas a impor goela abaixo , a toque de caixa , uma lei absurda que estatiza os direitos autorais aprovada com uma celeridade inexplicável extraída dos parlamentares diante daquele decadente espetáculo no Congresso Nacional protagonizado por nada mais nada menos que Roberto Carlos cercado de uma plêiade de artistas circunstantes . Roberto que aceitou ser anexado ao grupo em troca de vossas presenças , Caetano Gil e Chico na defesa a censura das biografias não autorizadas .
Isso também não é bonito.
E o resultado disso? Se vocês ainda não sabem, procurem saber! A lei que estatiza os direitos autorais designando ao ministério da Cultura o controle das entidades de arrecadação, provocou uma decréscimo dramático na arrecadação de mais de 350mil autores, compositores e músicos em todo o Brasil. Sem falar das demissões em massa de funcionários no ECAD e nas Associações de músicos e compositores.
Eu tenho aqui comigo os dados e se vocês tiverem maior interesse, posso mostrá-los com mais detalhes assim que vocês o desejarem.
E é como Nada que me dirijo a vocês, como um anônimo entre esses autores e músicos que tocam nos bares , botequins , churrascarias , quermesses , puteiros e coretos , como par desses artistas que estão apartados de grandes eventos , que não têm acesso a leis de incentivos , que não são residentes de trilhas de novelas de grande emissoras , que não contam com o beneplácito dos editorias de cultura dos jornais…É como um Nada amalgamado àqueles que não fazem parte de cortes de subservientes a posar como um entorno cenográfico de coronéis da canção que profiro um apelo angustiado : Seria plausível vocês reverem suas posições quanto a essa lei de direitos autorais e nos ajudar a revogá-la? Ainda é tempo . O STF está analisando nosso pedido de revisão e o relator é o Ministro Fux . Seria lindo nos aliarmos nesse momento de tamanha gravidade . Seria mais lindo ainda derrubar a Lei Rouanet como vigora e tentarmos direcionar seus benefícios àqueles que realmente dela precisam (Sou o Nada mas , mesmo nessa hipótese continuaria a não me incluir como beneficiário).
Seria muito triste vocês , que tanto fizeram pela música e a cultura brasileiras , se resumissem , se reduzissem já entrados nos seus setenta anos , como ícones de uma era vergonhosa , como defensores de um governo execrável , incompetente, corrupto , criminoso . É disso que estou falando . Ainda há tempo ! Só o perdão liberta ! Posso dizer de coração , uma vez que vim a público vos pedir o meu . O arrependimento lhes concederá uma verdadeira bênção , podem crer.
Chico , te deixei por último , longe de ser o menos , pois hei de fazer aqui uma ressalva em sua defesa por ter sabido através de uma amiga em comum ser você contrário a utilizar pessoalmente da Lei Rouanet e perceber , até onde posso conceber o que é justiça , não ser você responsável por aparentados seus nem mesmo o diretor que fez um filme sobre sua obra , todos estes , maiores de idade , serem beneficiários dos incentivos da dita-cuja. Se isso realmente procede , preciso de dar-lhe meus parabéns “localizados”.
Localizados sim , pois gostaria muito de ampliá-los ao resto de sua conduta , no entanto é na clave da tristeza e da angústia o diapasão que domina todo o restante da minha mensagem .
Caro Chico , você já tem 50 anos de vida pública , pelo menos . Com a sua inteligência e talento é de assustar sua impermeabilidade diante da falência absoluta de suas crenças ideológicas . E por isso mesmo , um exemplo vivo do modelo do intelectual brasileiro a viver na infâmia da delinquência intelectual .
Se todos nós concordamos que toda a ditadura é algo injustificável , mais injustificável ainda atacar uma ditadura defendendo outra e é exatamente assim que você agiu no período da ditadura militar e vem assim se jactando imune a dúvidas no transcorrer de todas essas décadas .
Para deixar escancarada a minha angústia , gostaria de invocar um Nelson Rodrigues descendo do céu em que atualmente habita , com seu olhar sampaco , suas bochechas ondulantes , com as mãos apoiadas nos cotovelos a dirigir-lhe entre baforadas de Caporal Amarelinho uma súplica daquelas , rodrigueanas…algo como:
Chico Buarque , só o perdão liberta ! Encha de ar vossos pulmões e brade forte e alto como jamais outrora ousara bradar dirigindo-se contrito ao povo brasileiro : Povo brasileiro , me perdoe. Me perdoe por ignorar seu descontentamento , suas desgraças e sua legitimidade em protestar contra esse governo criminoso. Me perdoe por aviltá-lo chamando de golpista toda uma nação genuinamente enfurecida.
Me perdoe povo brasileiro por ser um charlatão em posar contra uma ditadura militar e ser amigo durante todos esses anos de um dos maiores ditadores genocidas da história , Fidel Castro.
Me perdoe , povo brasileiro por defender o indefensável , por interferir com o meu prestígio logrando a confiança que milhões de brasileiros depositaram em meu chamado , por defender uma presidente que beira a demência , por defender um psicopata que anseia se perpetuar no poder através do crime , do suborno e da falcatrua. Me perdoe , povo brasileiro por defender uma organização criminosa como nunca dantes na história da humanidade ocorreu aqui em terras brasileiras e que é dirigida pelo Foro de SP tendo como os irmãos Castro centro de todas as ações criminosas perpetradas em toda América Latina. Me perdoe por ser leniente com narco ditaduras como a Venezuela e a Bolívia , com seus milhares de assassinatos e presos políticos , por esse regime brega , retrógrado , autoritário e cafona que é o bolivarianismo.
Me perdoe , povo brasileiro por ser cúmplice de toda essa ignonímia , e por isso mesmo , carregar minhas mãos respingadas com o sangue desses incontáveis que tombaram sob o jugo de assassinos . Me perdoe , povo brasileiro por ser eu , um mimado por uma corte de intelectuais flácidos ao meu redor me tornando imune a qualquer drama de consciência e insistir em subscrever um ideário comunista que tem sob seu manto a opacidade dos medíocres , cujo o único brilho que emana de seus anseios é o da inveja , da revanche e do ódio . Enfim , povo brasileiro, me perdoe por te trair.”
Desincorporando Nelson e retornando a minha condição de Nada, de Sub-do-Mundo quero terminar essa carta ressaltando mais uma vez esse momento terrível que o Brasil está passando, as nossas responsabilidades diante desse momento e de nossa boa vontade independente de quais lados nos posicionemos, esperando que as linhas desse Nada que vos escreve possam fazer alguma diferença (para melhor) nesse impasse a nos envolver. E que elas tenham alguma chance real com a vossa determinante ajuda , em contribuir para um Brasil mais adulto , mais justo e mais unido.
Um forte abraço. LOVE , LOVE , LOVE
Lobão (SP, 3 de abril de 2016)
Há uma semana escrevi uma carta aberta a vocês e ,como já poderia prever, não houve nenhum sinal significativo de resposta .
Saliento comovido e contente o meigo e solitário depoimento de Gil ao aceitar as minhas desculpas. Contudo, se Gil se dispusesse a ler o texto com atenção constataria que o cerne da questão gira em torno de um outro intento: uma convocação.
Chico deixou bem claro que sequer se interessara em ler a mensagem quanto mais respondê-la e Caetano adotou uma atitude evasiva eximindo-se de qualquer manifestação a respeito.
Pois bem, apesar desse comportamento um tanto lacônico por parte de vocês três, sou forçado a constatar que a carta causou um forte impacto entre oposicionistas , governistas , populares , isentões e intelectuais dos mais variados sexos, feitios e tamanhos. Reações que variaram entre o rejúbilo, o amor, a compreensão do meu gesto (era essa a minha meta) ,e o repúdio, a indignação e o desprezo( para o meu espanto!) sendo que nessa segunda categoria de reações descontroladamente apaixonadas , expressaram seu veemente protesto , tanto alguns muitos oposicionistas me criticando por ter “amarelado “ diante de “artistas vendidos”, como governistas explodindo de indignação por acharem o cúmulo dos cúmulos um nada como eu pleitear uma conversa com o Olimpo “da nossa MPB.
A que ponto chegamos, não é verdade? Entretanto, nutrido pelos sinceros sentimentos que me guiam somados a uma necessidade premente de esclarecimentos e mudanças, não somente na mentalidade como também nos desígnios políticos em que se enredou a nossa classe, retorno ao teclado do computador para redigir-vos mais um insistente apelo.
Optarei , como recurso didático e adequado para essa ocasião , adotar a abstrata condição de nada. Portanto, a partir de agora , me apresentarei assim: Muito prazer, meu nome é Nada .
Ser Nada muito me convém para que meus motivos se ergam das névoas da dúvida. Ser o Sub do Mundo é uma condição que muito me convém para ser mais bem sucedido em mostrar a vocês três os absurdos , discrepâncias e cacoetes comportamentais que doravante exporei.
Vou dividir meu carinhoso pito em duas partes: A primeira caberá a Caetano e Gil , a segunda a Chico. Prossigamos.
Querido Gil , você ocupou o cargo de ministro da Cultura durante os oito anos da administração Lula e prossegue , na administração Dilma com forte penetração no ministério , pois o atual ministro Juca Ferreira é homem de sua inteira confiança tendo atuado como seu subordinado no tempo em que você foi o titular da pasta.
Não sei se é apenas uma estranha coincidência, mas foi exatamente durante todo esse período que as perversidades e aberrações da Lei Rouanet começaram a pulular em total descontrole. Foi aí inaugurada a era em que artistas consagrados com grande nicho de público e mercado , começaram a pautar seus eventos , shows , projetos , discos e DVD por intermédio de subvenção de incentivos hospedados no bojo dessa lei , transformando o mainstream cultural num antro de parasitas , chapas-brancas e castrados de opiniões confiáveis.
Essa lei proporcionou que a criação artística decrescesse a níveis alarmantes pois os tais editais dos quais se extrai a grana dos medalhões privilegiam as enfadonhas comemorações de aniversários de carreira , reuniões insólitas entre aristas improváveis , homenagens pouco sinceras a astros falecidos , festas sem algum sentido real de se comemorar e outras chicanas lamentáveis para justificar o uso do dinheiro público.
Para piorar a situação , como se isso só não bastasse, essa camarilha de parasitas passa a atuar como um grupo de ardentes defensores do governo. É a Era do Artista Chapa-Branca. Uma era a ser esquecida.
Imagine você , Gil, faça um exercício de alteridade e experimente o meu espanto em saber um ministro da Cultura ter um camarote no carnaval de Bahia subvencionado com uma grana possante da lei Rouanet ! Isso , definitivamente não é bonito . E para agravar a situação , é de se prever que artistas periféricos sem a metade de seu talento se estimulem e muito em se lambuzar nesse mesmo estilo sem o menor prurido de consciência , não é mesmo?
Quanto a você , Caetano , pilotando uma outra desastrosa escaramuça temos o Procure Saber capitaneado por sua esposa , arregimentando algumas dezenas de artistas a impor goela abaixo , a toque de caixa , uma lei absurda que estatiza os direitos autorais aprovada com uma celeridade inexplicável extraída dos parlamentares diante daquele decadente espetáculo no Congresso Nacional protagonizado por nada mais nada menos que Roberto Carlos cercado de uma plêiade de artistas circunstantes . Roberto que aceitou ser anexado ao grupo em troca de vossas presenças , Caetano Gil e Chico na defesa a censura das biografias não autorizadas .
Isso também não é bonito.
E o resultado disso? Se vocês ainda não sabem, procurem saber! A lei que estatiza os direitos autorais designando ao ministério da Cultura o controle das entidades de arrecadação, provocou uma decréscimo dramático na arrecadação de mais de 350mil autores, compositores e músicos em todo o Brasil. Sem falar das demissões em massa de funcionários no ECAD e nas Associações de músicos e compositores.
Eu tenho aqui comigo os dados e se vocês tiverem maior interesse, posso mostrá-los com mais detalhes assim que vocês o desejarem.
E é como Nada que me dirijo a vocês, como um anônimo entre esses autores e músicos que tocam nos bares , botequins , churrascarias , quermesses , puteiros e coretos , como par desses artistas que estão apartados de grandes eventos , que não têm acesso a leis de incentivos , que não são residentes de trilhas de novelas de grande emissoras , que não contam com o beneplácito dos editorias de cultura dos jornais…É como um Nada amalgamado àqueles que não fazem parte de cortes de subservientes a posar como um entorno cenográfico de coronéis da canção que profiro um apelo angustiado : Seria plausível vocês reverem suas posições quanto a essa lei de direitos autorais e nos ajudar a revogá-la? Ainda é tempo . O STF está analisando nosso pedido de revisão e o relator é o Ministro Fux . Seria lindo nos aliarmos nesse momento de tamanha gravidade . Seria mais lindo ainda derrubar a Lei Rouanet como vigora e tentarmos direcionar seus benefícios àqueles que realmente dela precisam (Sou o Nada mas , mesmo nessa hipótese continuaria a não me incluir como beneficiário).
Seria muito triste vocês , que tanto fizeram pela música e a cultura brasileiras , se resumissem , se reduzissem já entrados nos seus setenta anos , como ícones de uma era vergonhosa , como defensores de um governo execrável , incompetente, corrupto , criminoso . É disso que estou falando . Ainda há tempo ! Só o perdão liberta ! Posso dizer de coração , uma vez que vim a público vos pedir o meu . O arrependimento lhes concederá uma verdadeira bênção , podem crer.
Chico , te deixei por último , longe de ser o menos , pois hei de fazer aqui uma ressalva em sua defesa por ter sabido através de uma amiga em comum ser você contrário a utilizar pessoalmente da Lei Rouanet e perceber , até onde posso conceber o que é justiça , não ser você responsável por aparentados seus nem mesmo o diretor que fez um filme sobre sua obra , todos estes , maiores de idade , serem beneficiários dos incentivos da dita-cuja. Se isso realmente procede , preciso de dar-lhe meus parabéns “localizados”.
Localizados sim , pois gostaria muito de ampliá-los ao resto de sua conduta , no entanto é na clave da tristeza e da angústia o diapasão que domina todo o restante da minha mensagem .
Caro Chico , você já tem 50 anos de vida pública , pelo menos . Com a sua inteligência e talento é de assustar sua impermeabilidade diante da falência absoluta de suas crenças ideológicas . E por isso mesmo , um exemplo vivo do modelo do intelectual brasileiro a viver na infâmia da delinquência intelectual .
Se todos nós concordamos que toda a ditadura é algo injustificável , mais injustificável ainda atacar uma ditadura defendendo outra e é exatamente assim que você agiu no período da ditadura militar e vem assim se jactando imune a dúvidas no transcorrer de todas essas décadas .
Para deixar escancarada a minha angústia , gostaria de invocar um Nelson Rodrigues descendo do céu em que atualmente habita , com seu olhar sampaco , suas bochechas ondulantes , com as mãos apoiadas nos cotovelos a dirigir-lhe entre baforadas de Caporal Amarelinho uma súplica daquelas , rodrigueanas…algo como:
Chico Buarque , só o perdão liberta ! Encha de ar vossos pulmões e brade forte e alto como jamais outrora ousara bradar dirigindo-se contrito ao povo brasileiro : Povo brasileiro , me perdoe. Me perdoe por ignorar seu descontentamento , suas desgraças e sua legitimidade em protestar contra esse governo criminoso. Me perdoe por aviltá-lo chamando de golpista toda uma nação genuinamente enfurecida.
Me perdoe povo brasileiro por ser um charlatão em posar contra uma ditadura militar e ser amigo durante todos esses anos de um dos maiores ditadores genocidas da história , Fidel Castro.
Me perdoe , povo brasileiro por defender o indefensável , por interferir com o meu prestígio logrando a confiança que milhões de brasileiros depositaram em meu chamado , por defender uma presidente que beira a demência , por defender um psicopata que anseia se perpetuar no poder através do crime , do suborno e da falcatrua. Me perdoe , povo brasileiro por defender uma organização criminosa como nunca dantes na história da humanidade ocorreu aqui em terras brasileiras e que é dirigida pelo Foro de SP tendo como os irmãos Castro centro de todas as ações criminosas perpetradas em toda América Latina. Me perdoe por ser leniente com narco ditaduras como a Venezuela e a Bolívia , com seus milhares de assassinatos e presos políticos , por esse regime brega , retrógrado , autoritário e cafona que é o bolivarianismo.
Me perdoe , povo brasileiro por ser cúmplice de toda essa ignonímia , e por isso mesmo , carregar minhas mãos respingadas com o sangue desses incontáveis que tombaram sob o jugo de assassinos . Me perdoe , povo brasileiro por ser eu , um mimado por uma corte de intelectuais flácidos ao meu redor me tornando imune a qualquer drama de consciência e insistir em subscrever um ideário comunista que tem sob seu manto a opacidade dos medíocres , cujo o único brilho que emana de seus anseios é o da inveja , da revanche e do ódio . Enfim , povo brasileiro, me perdoe por te trair.”
Desincorporando Nelson e retornando a minha condição de Nada, de Sub-do-Mundo quero terminar essa carta ressaltando mais uma vez esse momento terrível que o Brasil está passando, as nossas responsabilidades diante desse momento e de nossa boa vontade independente de quais lados nos posicionemos, esperando que as linhas desse Nada que vos escreve possam fazer alguma diferença (para melhor) nesse impasse a nos envolver. E que elas tenham alguma chance real com a vossa determinante ajuda , em contribuir para um Brasil mais adulto , mais justo e mais unido.
Um forte abraço. LOVE , LOVE , LOVE
Lobão (SP, 3 de abril de 2016)
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