quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Politicamente incorreto
Numa de suas viagens imaginárias Gulliver visita a Academia de Lagado; nela várias experiências eram feitas para se encontrar a felicidade plena. Os sábios, convictos de suas certezas, tinham abolido a linguagem. Cansados dos equívocos que as palavras encerram – apenas travestiam a realidade –, resolveram comunicar-se através dos objetos a que se referiam. Andavam com sacos e carroças repleto de coisas e, ao serem interpelados, as mostravam para dizer exatamente aquilo que desejavam exprimir. Entretanto, dizem os linguistas, mesmo se fosse possível reunir em único lugar um número expressivo de baleias, seria impossível dizer “todas as baleias”. O significado de “todas” transcende a materialidade empírica daquilo que denota. Há uma longa história do devaneio da língua perfeita, idioma do Paraíso (Umberto Eco se dedicou a decifrá-la); sua estrutura celestial seria capaz de apreender o mundo com justeza e precisão, entre as palavras e as coisas não existiria o hiato da inexatidão. A cada objeto ou ideia haveria um único termo para denominá-los; assim, qualquer ambiguidade de sentido seria eliminada.
Porém, a língua é uma representação, ela não se esgota na mensagem que enuncia. O politicamente correto acredita que os termos de um idioma contêm a essência daquilo a que se refere, entre as palavras e o mundo haveria uma conjunção harmônica e íntegra. Assim, dizer algo errado é equivocar-se em relação à essência, a correção é necessária para ajustar o desvio pressuposto entre linguagem e realidade. O “cancelamento” decorre desta intenção: isolar o verdadeiro do falso.
Nada há de novo nisso, existem vários exemplos de disciplinarização da língua; é o caso da Revolução Francesa. Os revolucionários procuraram extirpar todos os traços da tradição cristã da vida francesa, a reforma do calendário gregoriano tinha justamente esse objetivo. Os doze meses do ano foram rebatizados (Brumário, mês das brumas; Nivoso, da neve; Pluvioso, das chuvas; Florial, das flores; etc.), os dias da semana redefinidos (primidi, duodi, tridi, quartidi, etc.) e não mais seriam dedicados a nomes de santos (foram trocados por elementos da terra: açafrão, uva, castanha, etc.). Algumas palavras foram também banidas do vocabulário quotidiano, “senhor” e “senhora” sendo substituídos por “cidadão”, manifestação do espírito de igualdade entre as pessoas. Entretanto, o “terror linguístico” (assim foi denominado na época) tinha uma amplitude maior, a emergência do Estado-nação republicano exigia a manifestação da unicidade da língua; os vários dialetos existentes no país foram, portanto, censurados e perseguidos, todos deveriam se expressar em um único idioma: o francês. Afirmava-se a totalidade da nação para se contrapor ao diverso que a ameaçava; como no mito de Babel, a diversidade era uma maldição. No caso do politicamente correto tem-se algo irônico: o ideal da diversidade exige o controle da língua, porém, o diverso é o fundamento da homogeneidade almejada.
Jakobson dizia que uma língua se define pelo que pode e não pelo que permite ou deve dizer, por isso nenhum idioma é superior ou inferior aos outros (muito se escreveu sobre a superioridade do inglês, ele seria capaz de expressar coisas que outras línguas desconheceriam). Na verdade, os idiomas representam o mundo à sua maneira, cada um deles contém uma verdade na qual a linguagem se assenta. Entretanto, toda língua se realiza em contexto (essa é a diferença entre linguagem e língua); nela, o significado das palavras se transforma e se desdiz. A entonação da voz, indicando suavidade ou rispidez, a ironia, a expressão facial de quem fala, constituem elementos que modificam o sentido expresso do que é dito. O contexto é a situação na qual as palavras (diz-se que uma frase foi retirada de contexto) ou os indivíduos se encontram. A linguagem, enquanto estrutura, não garante imediatamente a inteligibilidade da fala (ou da escrita), é necessário que ela se insira numa determinada rede de interação social. A mesma coisa dita em lugares distintos, com entonação distinta, tem significado diferente. Imaginar a existência de um manual da utilização correta das palavras, reduzindo-as a um determinismo militante, é uma quimera. O contexto é história e a história é um destino coletivo, não o monopólio da definição das boas intenções. A riqueza de uma língua exprime-se na multiplicidade de sentidos que ela possibilita dizer, a ternura ou o ódio, a frustração ou a tristeza, a dominação ou a liberdade.
Sempre me intrigou a obra de Botero, com suas gordas e gordos. Não entendia sua intuição estética até visitar o museu de Medellin. Nele existem várias esculturas, mulheres gordas, padres gordos, gatos gordos, burgueses gordos, mesas e cadeiras com bordas arredondadas, vasos redondos, etc. Percebe-se que seu interesse é pelas curvas, o volume das coisas, enfim, aquilo que é esférico, roliço. O universo de Botero é sem arestas, tudo está sinteticamente integrado na sinuosidade das formas. Diante das agruras do real, das contradições, da amargura, o artista imagina uma configuração de elementos que idealmente contrasta sua aspereza. Porém, como todo artista, ele sabe que sua ficção é distinta daquilo que o cerca, o real é ponto de partida para sua imaginação. O politicamente correto padece da tentação do Bem e de uma certa ilusão de ótica, aspira a um mundo no qual a sombra dos objetos se projeta sobre sua própria essência. Suprime-se, assim, o hiato entre a verdade e a dúvida, ser e estar.
Renato Ortiz
Porém, a língua é uma representação, ela não se esgota na mensagem que enuncia. O politicamente correto acredita que os termos de um idioma contêm a essência daquilo a que se refere, entre as palavras e o mundo haveria uma conjunção harmônica e íntegra. Assim, dizer algo errado é equivocar-se em relação à essência, a correção é necessária para ajustar o desvio pressuposto entre linguagem e realidade. O “cancelamento” decorre desta intenção: isolar o verdadeiro do falso.
Fernando Botero |
Nada há de novo nisso, existem vários exemplos de disciplinarização da língua; é o caso da Revolução Francesa. Os revolucionários procuraram extirpar todos os traços da tradição cristã da vida francesa, a reforma do calendário gregoriano tinha justamente esse objetivo. Os doze meses do ano foram rebatizados (Brumário, mês das brumas; Nivoso, da neve; Pluvioso, das chuvas; Florial, das flores; etc.), os dias da semana redefinidos (primidi, duodi, tridi, quartidi, etc.) e não mais seriam dedicados a nomes de santos (foram trocados por elementos da terra: açafrão, uva, castanha, etc.). Algumas palavras foram também banidas do vocabulário quotidiano, “senhor” e “senhora” sendo substituídos por “cidadão”, manifestação do espírito de igualdade entre as pessoas. Entretanto, o “terror linguístico” (assim foi denominado na época) tinha uma amplitude maior, a emergência do Estado-nação republicano exigia a manifestação da unicidade da língua; os vários dialetos existentes no país foram, portanto, censurados e perseguidos, todos deveriam se expressar em um único idioma: o francês. Afirmava-se a totalidade da nação para se contrapor ao diverso que a ameaçava; como no mito de Babel, a diversidade era uma maldição. No caso do politicamente correto tem-se algo irônico: o ideal da diversidade exige o controle da língua, porém, o diverso é o fundamento da homogeneidade almejada.
Jakobson dizia que uma língua se define pelo que pode e não pelo que permite ou deve dizer, por isso nenhum idioma é superior ou inferior aos outros (muito se escreveu sobre a superioridade do inglês, ele seria capaz de expressar coisas que outras línguas desconheceriam). Na verdade, os idiomas representam o mundo à sua maneira, cada um deles contém uma verdade na qual a linguagem se assenta. Entretanto, toda língua se realiza em contexto (essa é a diferença entre linguagem e língua); nela, o significado das palavras se transforma e se desdiz. A entonação da voz, indicando suavidade ou rispidez, a ironia, a expressão facial de quem fala, constituem elementos que modificam o sentido expresso do que é dito. O contexto é a situação na qual as palavras (diz-se que uma frase foi retirada de contexto) ou os indivíduos se encontram. A linguagem, enquanto estrutura, não garante imediatamente a inteligibilidade da fala (ou da escrita), é necessário que ela se insira numa determinada rede de interação social. A mesma coisa dita em lugares distintos, com entonação distinta, tem significado diferente. Imaginar a existência de um manual da utilização correta das palavras, reduzindo-as a um determinismo militante, é uma quimera. O contexto é história e a história é um destino coletivo, não o monopólio da definição das boas intenções. A riqueza de uma língua exprime-se na multiplicidade de sentidos que ela possibilita dizer, a ternura ou o ódio, a frustração ou a tristeza, a dominação ou a liberdade.
Sempre me intrigou a obra de Botero, com suas gordas e gordos. Não entendia sua intuição estética até visitar o museu de Medellin. Nele existem várias esculturas, mulheres gordas, padres gordos, gatos gordos, burgueses gordos, mesas e cadeiras com bordas arredondadas, vasos redondos, etc. Percebe-se que seu interesse é pelas curvas, o volume das coisas, enfim, aquilo que é esférico, roliço. O universo de Botero é sem arestas, tudo está sinteticamente integrado na sinuosidade das formas. Diante das agruras do real, das contradições, da amargura, o artista imagina uma configuração de elementos que idealmente contrasta sua aspereza. Porém, como todo artista, ele sabe que sua ficção é distinta daquilo que o cerca, o real é ponto de partida para sua imaginação. O politicamente correto padece da tentação do Bem e de uma certa ilusão de ótica, aspira a um mundo no qual a sombra dos objetos se projeta sobre sua própria essência. Suprime-se, assim, o hiato entre a verdade e a dúvida, ser e estar.
Renato Ortiz
Luiz Inácio avisou: 'São 300 picaretas com anel de doutor'
Não basta ser bom de gogó para que se consiga governar. Getúlio Vargas era ruim de gogó e governou o Brasil de 1930 a 1945 como ditador, e de 1950 a 1954 como presidente eleito pelo voto popular. Matou-se com um tiro no peito para não ser derrubado mais uma vez por um golpe militar. O golpe só ocorreu 10 anos depois.
Mas Juscelino Kubitschek era bom de gogó, Jânio Quadros, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula também, cada um e suas circunstâncias. Nenhum dos generais-presidentes da ditadura foi bom de gogó, mas eles tinham a força ao seu lado. O voto e a anarquia militar puseram fim à ditadura.
Atribui-se a Fernando Henrique uma frase que ele nunca disse: a de que teria governado pela primeira vez com o gogó. Da segunda vez, o gogó não bastou. O Plano Real, que o elegeu em 1994, perdera o encanto, o país já não estava bem, e seu candidato a presidente em 2002, José Serra, acabou derrotado por Lula.
No último volume dos “Diários da Presidência”, obra que ditou para um gravador durante seus oito anos de governo, Fernando Henrique diz que para negociar com o Congresso foi preciso “botar a mão na lama”. E explicou, sem descer a detalhes:
– Há setores políticos da base que são uma podridão. Esse é o problema do Brasil. Não é a maioria, mas os mais espertos dominam parte importante da maioria, e eles são partes do jogo brasileiro.
– Não tenho preocupação com pessoas nem com o falso moralismo. Tenho que contar com o que existe aí. É botar a mão na lama para fazer adobe (tijolo) e construir uma casa. É complicado.
Lula sabe exatamente o que Fernando Henrique quis dizer. Nos seus primeiros dois governos, Lula também teve que pôr a mão na lama para governar com “o que existe aí”. Deu no que deu no Lula 1: o escândalo do mensalão do PT; e no Lula 2, o Petrolão. Pagou muito caro por isso. Pegou 580 dias de prisão.
Fernando Henrique sempre contou com a proteção do establishment; Lula, com a sua hostilidade. Em 2022, uma pequena fração do establishment votou em Lula para livrar-se de Bolsonaro, o pior presidente da história, a quem apoiara em 2018 acreditando que assim poria o último prego no caixão da esquerda.
Lula voltou por um sopro de votos. A esperança do establishment é que o prego possa ser batido em definitivo daqui a dois anos, sem Bolsonaro, mas com um nome da direita que tenta em se apresentar como civilizada, essa mesma direita que, hoje, boicota todos os esforços do governo para tirar o país do buraco.
Em setembro de 1993, com a experiência de dois mandatos como deputado federal, Lula disse a respeito do Congresso:
– Há [ali] uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses.
Cobrado a se explicar, disse mais tarde que defendia o poder Legislativo: “O resto é gente boa […] que vota por convicção ideológica e não por fisiologismo.” A menção aos picaretas virou letra de música da banda Paralamas do Sucesso:
– Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou/São 300 picaretas com anel de doutor.
É com 300 ou mais picaretas que Lula 3 é obrigado a negociar, com a diferença de que o Congresso naquela época era muito menos poderoso e não votava apenas em troca de dinheiro.
Ricardo Noblat
Mas Juscelino Kubitschek era bom de gogó, Jânio Quadros, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula também, cada um e suas circunstâncias. Nenhum dos generais-presidentes da ditadura foi bom de gogó, mas eles tinham a força ao seu lado. O voto e a anarquia militar puseram fim à ditadura.
Atribui-se a Fernando Henrique uma frase que ele nunca disse: a de que teria governado pela primeira vez com o gogó. Da segunda vez, o gogó não bastou. O Plano Real, que o elegeu em 1994, perdera o encanto, o país já não estava bem, e seu candidato a presidente em 2002, José Serra, acabou derrotado por Lula.
No último volume dos “Diários da Presidência”, obra que ditou para um gravador durante seus oito anos de governo, Fernando Henrique diz que para negociar com o Congresso foi preciso “botar a mão na lama”. E explicou, sem descer a detalhes:
– Há setores políticos da base que são uma podridão. Esse é o problema do Brasil. Não é a maioria, mas os mais espertos dominam parte importante da maioria, e eles são partes do jogo brasileiro.
– Não tenho preocupação com pessoas nem com o falso moralismo. Tenho que contar com o que existe aí. É botar a mão na lama para fazer adobe (tijolo) e construir uma casa. É complicado.
Lula sabe exatamente o que Fernando Henrique quis dizer. Nos seus primeiros dois governos, Lula também teve que pôr a mão na lama para governar com “o que existe aí”. Deu no que deu no Lula 1: o escândalo do mensalão do PT; e no Lula 2, o Petrolão. Pagou muito caro por isso. Pegou 580 dias de prisão.
Fernando Henrique sempre contou com a proteção do establishment; Lula, com a sua hostilidade. Em 2022, uma pequena fração do establishment votou em Lula para livrar-se de Bolsonaro, o pior presidente da história, a quem apoiara em 2018 acreditando que assim poria o último prego no caixão da esquerda.
Lula voltou por um sopro de votos. A esperança do establishment é que o prego possa ser batido em definitivo daqui a dois anos, sem Bolsonaro, mas com um nome da direita que tenta em se apresentar como civilizada, essa mesma direita que, hoje, boicota todos os esforços do governo para tirar o país do buraco.
Em setembro de 1993, com a experiência de dois mandatos como deputado federal, Lula disse a respeito do Congresso:
– Há [ali] uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses.
Cobrado a se explicar, disse mais tarde que defendia o poder Legislativo: “O resto é gente boa […] que vota por convicção ideológica e não por fisiologismo.” A menção aos picaretas virou letra de música da banda Paralamas do Sucesso:
– Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou/São 300 picaretas com anel de doutor.
É com 300 ou mais picaretas que Lula 3 é obrigado a negociar, com a diferença de que o Congresso naquela época era muito menos poderoso e não votava apenas em troca de dinheiro.
Ricardo Noblat
Onde está a democracia?
Tinha dito que iria propor tirar a palavra utopia do dicionário. Mas, enfim, não vou a tanto. Deixe ela lá estar, porque está quieta. O que eu queria dizer, é que há uma outra questão que tem de ser urgentemente revista. Tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa: a democracia. Ela está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia seqüestrada, condicionada, amputada.
O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não se gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Onde está então a democracia?
José Saramago
O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não se gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Onde está então a democracia?
José Saramago
A alienação da humanidade
Chegamos ao fim do ano com más notícias sobre a crise climática. O Observatório Copernicus, da União Europeia, confirmou que 2024 foi o ano mais quente da história. Pela primeira vez, a temperatura média do mundo ultrapassará o limite climático de 1,5ºC, — desde que há registros —, acima da era pré-industrial, com uma anomalia positiva próxima de 1,6ºC, previsto apenas para 2025. Sem medidas urgentes para equacionar esse problema, com o corte drástico nas emissões de gases com efeito estufa, atingiremos um ponto de não retorno, ou seja, uma tragédia.
Há muito que o mundo sofre com a violência da crise climática. Embora nenhum país esteja imune às mudanças acarretadas pelo descuido com o meio ambiente, os mais atingidos, numa lista de 10 elaborada pela Norte Dame Global Adaptation Initiative, são as nações de mais baixa renda, nove delas no Continente Africano.
Sofremos secas na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiro, incêndios no Pantanal, inundações catastróficas no Sul, ondas de calor, desmoronamentos e enchentes nas periferias das cidades. São milhares os desabrigados, aumentando o contingente de refugiados do clima. A recente devastação causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul alerta, mais uma vez, lideranças políticas e governante, antes e depois, para providências capazes de conter esses desastres, o que é possível.
Os impactos climáticos são cada vez mais intensos e frequentes, devido aos aumentos voláteis de energia na atmosfera. Mas outras são as preocupações do Congresso do Brasil, onde uma maioria parlamentar permanece chantageando o Governo para a aprovação de emendas do seu interesse. É um vergonhoso toma lá dá cá. Ou o governo cede, ou não se votam projetos do interesse nacional, como é o caso do pacote fiscal.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) relata que as anomalias relacionadas às mudanças climáticas têm custado bilhões de dólares anualmente e vêm crescendo exponencialmente. Por enquanto, são danos calculados em moeda, mas, logo, surgirão as implicações nutricionais, ou seja, a comida pode rarear e não ser suficiente para alimentar populações em todo o mundo.
Nem os Oceanos, de onde retiramos parte da nossa alimentação, escapam das influências negativas do clima. Nos últimos 34 anos, metade dos corais e recifes em todo o mundo morreram, por causa do aumento da temperatura da água e da acidicação causada pela alta concentração de CO2 nos mares. A acidicação degrada a base da cadeia alimentar marinha, reduzindo em 50% a capacidade reprodutiva dos peixes no planeta. O aumento do nível dos mares indica que mais catástrofes se aproximam, representando risco para bilhões de habitantes das zonas costeiras.
É consenso entre os cientistas que estudam a trajetória climática que precisamos estar 2 graus abaixo das temperaturas que representam o aquecimento global. Será que vamos conseguir? Pouco provável. Ninguém quer pagar essa conta. Não se percebe na maioria dos países, onde se inclui o Brasil, esforços realísticos nessa direção. Lideranças de todo o mundo reúnem-se em congressos internacionais para deliberar sobre o assunto, mas as verbas que disponibilizam para evitar esses desastres são sempre inferiores ao necessário.
Agrava nossa preocupação o fato de Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos, desdenhar o problema negando sua existência. Trump estaria preparando-se para sair do Acordo de Paris. Ele já fez isso no mandato anterior. Os governadores de Califórnia, Nova York e Washington fundaram a Aliança Climática dos Estados Unidos (USCA), com a finalidade de manter os esforços para a redução de poluentes.
É óbvio que não sabemos ao certo como será o futuro, mas podemos enxergar as tendências. Infelizmente, as recentes inovações, investimentos e patentes indicam que a alienação da humanidade está crescendo e sendo canalizada para o consumismo e as engenharias financeiras.
Evidências anteriores a nós sugerem que iremos sofrer incontroláveis e perigosos níveis de alteração climática, que trará fome, destruição, migrações, doenças e guerras, como acontece atualmente. O tempo não está do nosso lado, já alertou o Secretário-geral da ONU, o português Antônio Guterres.
Há muito que o mundo sofre com a violência da crise climática. Embora nenhum país esteja imune às mudanças acarretadas pelo descuido com o meio ambiente, os mais atingidos, numa lista de 10 elaborada pela Norte Dame Global Adaptation Initiative, são as nações de mais baixa renda, nove delas no Continente Africano.
Sofremos secas na Amazônia e no Centro-Oeste brasileiro, incêndios no Pantanal, inundações catastróficas no Sul, ondas de calor, desmoronamentos e enchentes nas periferias das cidades. São milhares os desabrigados, aumentando o contingente de refugiados do clima. A recente devastação causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul alerta, mais uma vez, lideranças políticas e governante, antes e depois, para providências capazes de conter esses desastres, o que é possível.
Os impactos climáticos são cada vez mais intensos e frequentes, devido aos aumentos voláteis de energia na atmosfera. Mas outras são as preocupações do Congresso do Brasil, onde uma maioria parlamentar permanece chantageando o Governo para a aprovação de emendas do seu interesse. É um vergonhoso toma lá dá cá. Ou o governo cede, ou não se votam projetos do interesse nacional, como é o caso do pacote fiscal.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) relata que as anomalias relacionadas às mudanças climáticas têm custado bilhões de dólares anualmente e vêm crescendo exponencialmente. Por enquanto, são danos calculados em moeda, mas, logo, surgirão as implicações nutricionais, ou seja, a comida pode rarear e não ser suficiente para alimentar populações em todo o mundo.
Nem os Oceanos, de onde retiramos parte da nossa alimentação, escapam das influências negativas do clima. Nos últimos 34 anos, metade dos corais e recifes em todo o mundo morreram, por causa do aumento da temperatura da água e da acidicação causada pela alta concentração de CO2 nos mares. A acidicação degrada a base da cadeia alimentar marinha, reduzindo em 50% a capacidade reprodutiva dos peixes no planeta. O aumento do nível dos mares indica que mais catástrofes se aproximam, representando risco para bilhões de habitantes das zonas costeiras.
É consenso entre os cientistas que estudam a trajetória climática que precisamos estar 2 graus abaixo das temperaturas que representam o aquecimento global. Será que vamos conseguir? Pouco provável. Ninguém quer pagar essa conta. Não se percebe na maioria dos países, onde se inclui o Brasil, esforços realísticos nessa direção. Lideranças de todo o mundo reúnem-se em congressos internacionais para deliberar sobre o assunto, mas as verbas que disponibilizam para evitar esses desastres são sempre inferiores ao necessário.
Agrava nossa preocupação o fato de Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos, desdenhar o problema negando sua existência. Trump estaria preparando-se para sair do Acordo de Paris. Ele já fez isso no mandato anterior. Os governadores de Califórnia, Nova York e Washington fundaram a Aliança Climática dos Estados Unidos (USCA), com a finalidade de manter os esforços para a redução de poluentes.
É óbvio que não sabemos ao certo como será o futuro, mas podemos enxergar as tendências. Infelizmente, as recentes inovações, investimentos e patentes indicam que a alienação da humanidade está crescendo e sendo canalizada para o consumismo e as engenharias financeiras.
Evidências anteriores a nós sugerem que iremos sofrer incontroláveis e perigosos níveis de alteração climática, que trará fome, destruição, migrações, doenças e guerras, como acontece atualmente. O tempo não está do nosso lado, já alertou o Secretário-geral da ONU, o português Antônio Guterres.
Financiadores do assassinato político
O agronegócio brasileiro é mesmo um grande sucesso – de marketing. Criou o slogan “o agro é pop” e fez todo mundo acreditar que ele é o motor da economia brasileira. Na verdade, ele corresponde a apenas 7% do PIB brasileiro e infla sua participação colocando na conta todos os insumos que usa, equipamentos etc.
O retorno para o país em termos de impostos é irrisório, já que seu mercado principal está no exterior e suas exportações são isentas de tributação. São os pequenos proprietários, da agricultura familiar, que produzem 70% do alimento que nós comemos.
Entre a mecanização, por um lado, e a superexploração da mão-de-obra, incluindo condições análogas à escravidão, por outro, gera bem poucos empregos decentes.
Na mídia, é de rigueur dizer que o agronegócio brasileiro é um grande parceiro da conservação ambiental, não importa que todas as evidências mostrem o contrário.
Na verdade, o sucesso do agro brasileiro começa com o estranho desaparecimento da palavra “latifúndio” do nosso vocabulário. Parece que o latifúndio acabou. Mas o fato é que 15.686 propriedades rurais, 0,3% do total, somam 25% das terras do país.
O dinheiro que economiza nos impostos o agro gasta financiando campanhas e comprando políticos. Sua bancada no Congresso é imbatível. A “Frente Parlamentar da Agropecuária”, isto é, a bancada ruralista, conta com quase dois terços dos deputados federais e mais de 60% dos senadores.
Como um pingo de gente na população pode ter tanta força parlamentar? A resposta é simples. Vou dar uma dica pra vocês: começa com “di” e termina com “nheiro”.
Daí a isenção tributária para a carne foi aprovada por 477 votos a favor e apenas três contra, apesar do óbvio impacto ambiental da medida. Daí o Brasil é campeão mundial de veneno na comida. Tem até um bizarro projeto que retira da Anvisa e passa para o Congresso a atribuição de liberar o uso de classes de agrotóxicos.
Enquanto isso, a Contag, que representa 15 milhões de trabalhadores rurais (pequenos proprietários e assalariados agrícolas), comemorou que em 2022 conseguiu eleger cinco deputados federais e um senador, com outros 11 parlamentares considerados aliados…
Essa disparidade na representação é uma das (muitas) evidências de que o capitalismo mutila a democracia.
Pois o “pessoal do agro” não está satisfeito, mesmo com todo o poder que tem. Eles querem resistência zero. Um governo que fala em direito do trabalhador ou que combate trabalho escravo já é ruim demais.
Bom é ditadura. Por isso, segundo consta, foi o “pessoal do agro” que mandou grana para o general Braga Netto pôr na rua o plano de matar Lula, Alckmin e Moraes.
A gente quer saber o nome desses financiadores do assassinato político. E o que vai acontecer com eles.
Prisão e expropriação de suas empresas é o mínimo.
Luis Felipe Miguel
O retorno para o país em termos de impostos é irrisório, já que seu mercado principal está no exterior e suas exportações são isentas de tributação. São os pequenos proprietários, da agricultura familiar, que produzem 70% do alimento que nós comemos.
Entre a mecanização, por um lado, e a superexploração da mão-de-obra, incluindo condições análogas à escravidão, por outro, gera bem poucos empregos decentes.
Na mídia, é de rigueur dizer que o agronegócio brasileiro é um grande parceiro da conservação ambiental, não importa que todas as evidências mostrem o contrário.
Na verdade, o sucesso do agro brasileiro começa com o estranho desaparecimento da palavra “latifúndio” do nosso vocabulário. Parece que o latifúndio acabou. Mas o fato é que 15.686 propriedades rurais, 0,3% do total, somam 25% das terras do país.
O dinheiro que economiza nos impostos o agro gasta financiando campanhas e comprando políticos. Sua bancada no Congresso é imbatível. A “Frente Parlamentar da Agropecuária”, isto é, a bancada ruralista, conta com quase dois terços dos deputados federais e mais de 60% dos senadores.
Como um pingo de gente na população pode ter tanta força parlamentar? A resposta é simples. Vou dar uma dica pra vocês: começa com “di” e termina com “nheiro”.
Daí a isenção tributária para a carne foi aprovada por 477 votos a favor e apenas três contra, apesar do óbvio impacto ambiental da medida. Daí o Brasil é campeão mundial de veneno na comida. Tem até um bizarro projeto que retira da Anvisa e passa para o Congresso a atribuição de liberar o uso de classes de agrotóxicos.
Enquanto isso, a Contag, que representa 15 milhões de trabalhadores rurais (pequenos proprietários e assalariados agrícolas), comemorou que em 2022 conseguiu eleger cinco deputados federais e um senador, com outros 11 parlamentares considerados aliados…
Essa disparidade na representação é uma das (muitas) evidências de que o capitalismo mutila a democracia.
Pois o “pessoal do agro” não está satisfeito, mesmo com todo o poder que tem. Eles querem resistência zero. Um governo que fala em direito do trabalhador ou que combate trabalho escravo já é ruim demais.
Bom é ditadura. Por isso, segundo consta, foi o “pessoal do agro” que mandou grana para o general Braga Netto pôr na rua o plano de matar Lula, Alckmin e Moraes.
A gente quer saber o nome desses financiadores do assassinato político. E o que vai acontecer com eles.
Prisão e expropriação de suas empresas é o mínimo.
Luis Felipe Miguel
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